planadouro 05
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Magazine do Centro Internacional de Voo à Vela de MogadouroTRANSCRIPT
JANTAR STANDARD 3URA ERFORMANCE OLACAP P P
RADIOTELEFONIA DOSHUMANOS
DA RÉGUA DE CÁLCULOAO COMPUTADORDE VOO
TUDO SOBRE O VELOCÍMETROE AS VELOCIDADES
CENTRO INTERNACIONAL DE VOO À VELA DE MOGADOURO
Nº05
CENTRO INTERNACIONAL DE VOO À VELA DE MOGADOURO
Nº05
ESCOLA DO CENTRO INTERNACIONAL DE VOO À VELA DE MOGADOURO
Curso de Piloto de Planador
www.vooavela.mogadouro.pt aeró[email protected] www.facebook.civvmm.com
Jornadas de Iniciação ao Voo à Vela
Curso de Conversão de Piloto de Avião e de ULM para Planador
VEM VOAR COM AS ÁGUIAS
GANHA ASAS
EDITORIAL A necessidade de intervenção coordenada num
setor em forte crescimento, sujeito às leis da
concorrência internacional, dividido pelo crivo
das fronteiras nacionais e a afirmação de um
agente com voz e capacidade de influência, estão na
base da criação da Agência Europeia de Segurança Aero-
náutica, a EASA, agência que, em termos de estatuto, é o
braço da União Europeia dedicado à aviação.
Sendo a Europa um mosaico de nações com tradições em
todas as áreas da aviação, deve, desde logo, perceber-se
que este processo de construção de uma estrutura euro-
peia não é fácil. De um lado da equação estão os ganhos
na liberdade de circulação e trabalho, no crescimento do
mercado e na promoção de melhores condições de segu-
rança em toda a esfera aeronáutica. Do outro lado, os
riscos de centralização, burocratização e de falta de sensi-
bilidade para as especificidades de setores com menos
força organizativa e representatividade.
Estamos precisamente no meio do vortex gerado por esta
difícil equação. O processo de implementação dos nor-
mativos emitidos pela EASA, carece de um cuidado que
tem estado completamente ausente. Todos sentimos os
efeitos dessa falta de cuidado no respeitante à transição
das licenças ICAO para as licenças europeias, na certifica-
ção das escolas de pilotagem, na abertura de novos cur-
sos, nas alterações aos procedimentos de renovação de
certificados de aeronavegabilidade e na aproximação da
aplicação da exigência de equipamentos de radiocomu-
nicações com espaçamento de 8,33 kHz. Acresce ainda o
facto de estar a decorrer um processo de transformação,
com os desafios que tal alteração envolve, da entidade
reguladora (INAC) em autoridade (ANAC), aqui no nosso
país. Voar nesta conjuntura, implica uma atenção e um
esforço financeiro acrescido que está a ser suportado pela
presente geração de pilotos. Esta realidade está a ser
transmitida, com veemência, às entidades responsáveis
pelos representantes das bases das diversas especialida-
des, num processo participativo e cooperativo que terá
que dar os seus frutos.
A realização da primeira ação de formação EASA PART-
FCL, dinamizada pela Escola Nacional de Aviação Despor-
tiva do Aeroclube de Torres Vedras, permitiu, para além
dos conteúdos e objetivos em jogo, o encontro de muitos
pilotos de planador, dando-nos uma noção objetiva da
escala e da força do voo à vela em Portugal. Num encon-
tro realizado sob um pretexto europeu, afirmou-se uma
realidade nacional, que é agora mais multigeracional.
Pilotos do Aeroclube de Portugal, Aeroclube de Torres
Vedras, Centro de Voo Livre de Montemor-o-Novo, Aero-
clube do Porto e do núcleo de voo à vela do Aeroclube de
Bragança, para além do Centro Internacional de Voo à
Vela de Mogadouro, marcaram presença. Há já muito
tempo que não se viam tantas estruturas dinamizadoras
da atividade em Portugal. Uma fase de reanimação e
revitalização atravessa o panorama nacional.
Ao conhecer os projetos destas estruturas em mais deta-
lhe, constatamos que estão mais ajustadas à conjuntura
do que no passado, são mais estruturantes para o futuro
da modalidade, recorrem a apoios diversificados e funcio-
nam de forma mais sustentada. Os intervenientes estão
agora mais focados nos objetivos, na construção e no
crescimento dos seus projetos.
É neste contexto que damos nota da entrada em funcio-
namento de um núcleo de voo à vela do aeroclube de
Bragança, capital do distrito onde se localiza o CIVVM,
numa região com condições excecionais como o provam
os voos épicos que, há anos, vêm ali sendo realizados
pelo Bohdan Sebestik. A cooperação do CIVVM com este
núcleo vizinho tem sido a tónica dominante, convergindo
para a meta de afirmação do voo à vela como um motor
de desenvolvimento e animação social.
Esta fase de desenvolvimento da atividade tem que ser,
cada vez mais, acompanhada pela constante atenção à
segurança operacional. A experiência e regulamentação
vão apurando as boas práticas, num processo em que o
erro é sistematicamente combatido. A formação, o treino,
o sentido de responsabilidade, o envolvimento na cultura
aeronáutica, devem ser uma prioridade de todo o ser
humano que tem o privilégio de pilotar um planador.
Caros, o melhor de todos os voos é o voo em segurança.
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Sumário
VHF 05
60 anos a voar Camilo Miranda, detentor do “brevet” mais antigo de Portugal
U ma festa com um pretexto extraordinário.
Representantes do Município de Mogadouro,
dirigentes do Aeroclube do Porto, pilotos, alu-
nos do CIVVM e amigos da aviação, juntaram-
se a Camilo Miranda em Mogadouro, para comemorar a
data em que passaram exatamente 60 anos sobre o dia
em que, no ano de 1954, recebeu o documento que lhe
concedia os privilégios de ser piloto particular de aviões.
Amizade e admiração, foram estes os sentimentos que os
presentes destacaram face à especial longevidade do
sonho de voar de Camilo. Só pelo sonho e pela determi-
nação no constante aperfeiçoamento é que se entende tal
constância.
Camilo Miranda, uma lenda da aviação portuguesa, con-
tinua a voar magistralmente.
Votos de muitos mais anos de brevet!
Da esquerda para a direita:
- Desenho comemorativo de Artur Ferreira, oferecido a C. Miranda.
- O homenageado ladeado pela Vereadora da Câmara Municipal de
Mogadouro, Srª Virgínia Vieira, o Presidente da Assembleia Municipal,
Ilídio Granjo Vaz e o Presidente do Aeroclube do Porto, Sr. Domingos
Rosinha.
- Camilo Miranda junto o Piper J3 Cub do Aeroclube do Porto
“O mais antigo piloto privado de aviões tem 81 anos e
licença para voar há seis décadas. Camilo Miranda conti-
nua a pilotar, fazendo atualmente o reboque de planado-
res no Centro Internacional de Voo à Vela de Mogadouro.
No Domingo, dia 5 de outubro de 2015, foi homenageado
por ser detentor do "brevet" mais antigo do país.
Aos 81 anos Camilo Miranda ainda mantém a vitalidade e
o desempenho necessário para a pilotagem. Este vetera-
no da aviação começou aos 21 anos e nunca mais parou.
Voar foi um desejo de infância de Camilo, influenciado
pelo papel que a aviação desempenhou na 2ª guerra
mundial. Sonho que acabaria por concretizar, quando
deixou a aldeia de Baião onde nasceu e foi morar para o
Porto, onde exerceu a profissão de bancário e o hobby de
piloto aviador.
Nessa altura eram raros os que tiravam o brevet de piloto
particular. Daí para cá, Camilo testemunhou a alucinante
evolução das máquinas voadoras.
Camilo tem uma licença que o habilita a pilotar aviões até
10 lugares, como é o caso do MS 893 A Rallye, que é utili-
zado para reboque de planadores, atividade a que atual-
mente se dedica, no Centro Internacional de Voo à Vela
de Mogadouro.
E o ritmo com que desempenha a atividade é a melhor
prova de como ainda se mantém em forma.
Durante a sua já longa passagem pela aviação, Camilo
reconhece ter tido alguns sobressaltos que, nem por isso,
o fizeram desistir de voar. Assim continuará, até ao dia
em que a sua licença, a mais antiga do país, deixe de ser
renovada.”
SIC notícias, 5/10/2014
www.vooavela.mogadouro.pt
J. Corredeira
06 VHF
A participação dos planadores em
festivais aéreos portugueses, não é
comum. É uma atividade que implica
algum planeamento, recursos huma-
nos para colocar em prática e, indu-
bitavelmente, uma gigantesca dose
de voluntarismo.
A viagem
No início de 2014, o Aeroclube de Viseu, lançou o desafio
ao Centro Internacional de Voo à Vela de Mogadouro
(CIVVM) para participar no seu Festival Aéreo. Após vários
meses de preparação e com as devidas autorizações,
descola a 17 de Agosto, o Rallye e o Twin Astir II do CIVVM,
com destino ao aeródromo de Viseu para se integrarem
nas demonstrações aéreas do evento.
No CIVVM, para além da formação básica de um piloto de
planadores, pretende-se proporcionar aos alunos-piloto a
experiência de efetuarem um voo de ferry (voo de ligação
O CIVVM no Festival Aéreo de Viseu de 2014 Por João Corredeira
entre 2 ou mais aeródromos), por forma a aprimorar a
técnica de reboque e permitir que experimentem com a
segurança de um instrutor no lugar de trás, a oportunida-
de de utilizar outro aeródromo que não o habitual e apli-
car os conhecimentos teóricos e práticos já adquiridos.
Assim, Domingo por volta das 8:00 começam os prepara-
tivos no aeródromo para saída às 10:00. Meteorologia
para viagem de ida e volta, cartas de aproximação ao
aeródromo, aeródromo alternativos, checklists, plano de
voo, planos de contingência e ferramentas indispensáveis
para substituição dos fusíveis do cabo de reboque (caso
seja necessário). A equipa composta pelo piloto reboca-
dor, dois alunos-piloto do curso de planadores PP01/13
“Águias” e um instrutor descolam, cumprindo o planea-
mento, cinco minutos antes da hora estimada.
A viagem teve uma duração que superou a estimativa em
7 minutos, devido a ventos frontais em altitude, ligeira-
mente superiores às previsões meteorológicas. De qual-
quer das formas fazia já prever que a viagem de regresso
João Corredeira
Agradecimentos ao Aero Clube de Viseu pela convite e parabéns pela magnífica organização do evento.
Agradecimentos ao Carlos Miguel Seabra e Rafael Vieira pela disponibilização das fotografias.
teria uma duração inferior já que teríamos vento de cau-
da, como de facto se veio mais tarde a verificar.
À chegada a Viseu, contacto efetuado com a torre de
controle na qual está a voz familiar que tem apoiado
incondicionalmente o Red Burros Fly-In todos os anos! Esta
altura foi uma excelente oportunidade de aprendizagem
para o aluno-piloto operar num aeródromo com serviço
de AFIS (Aerodrome Flight Information Service) e vários
tipos de aeronaves no circuito de aeródromo.
Já no chão, é altura de deixar o planador em segurança,
colocar as coberturas e confraternizar com a comunidade
aeronáutica que já se encontrava no hangar do Aeroclube
de Viseu prestes a iniciar o almoço.
Apresentação em voo
Seguiu-se o briefing de segurança com todos os pilotos
das aeronaves participantes e eis que é altura de prepa-
rar as máquinas para as exibições.
A exibição consistiu numa passagem baixa em reboque,
subida para 600 metros acima do solo (AGL). Após larga-
da de cabo, entrada na caixa de exibição iniciando com
looping, stall turn à direita, volta apertada com 45º à
esquerda e direita, novamente stall turn mas à esquerda
e é altura para regressar ao solo. Entretanto e já com o
Twin Astir no chão, começam as evoluções de acrobacia,
com os Comandantes Pedro Cunha Pereira, Luís Garção,
Marinho Pereira, Marco Rodrigues, Jorge Fachadas.
Regresso
O dia passa a correr, e é hora de regressar à base após
finalização do festival. O planador e avião rebocador são
preparados para a viagem que será feita com o segundo
aluno-piloto aos comandos pelas razões mencionadas no
inicio do texto. É uma tarefa com dificuldade acrescida
pelo facto de ser feita depois de um dia debaixo de um
sol tórrido, o que implica mais cansaço e uma dose extra
de atenção. É algo que os pilotos de planador estão sujei-
tos num dia típico de voo à vela, a regressar ao campo de
partida após largas horas nos céus. Cansaço instalado e
necessidade de atenção redobrada para colocar “o estojo
no chão” em perfeitas condições.
A viagem foi calma, e com vento de cauda, demorou sen-
sivelmente 42 minutos, com o aluno a comportar-se
exemplarmente. À vertical do campo e para perder altura,
foi tempo de demonstrar algumas manobras de forma a
completar mais conteúdos do syllabus do curso.
Foi uma primeira participação do Centro Internacional de
Voo à Vela de Mogadouro em eventos deste género, ten-
do-se revelado extremamente positivo que r do ponto de
vista de divulgação do voo à vela, quer para os instrutores
e alunos que muito se dedicaram para que estes voos
fossem possíveis.
Carlos Seabra Rafael Vieira Carlos Seabra
08 VHF
CVL
No centro da ascendente
Por João Marques
O CVL – Centro de Voo Livre, é uma associação
privada sem fins lucrativos, sedeada em Mon-
temor-o-Novo.
Iniciou a sua atividade de promoção do voo à
vela em planador em Évora, no decorrer do ano 2010.
No desenvolvimento dessa atividade, sentiu a necessida-
de de criar um projeto autónomo. Assim, em parceria com
o Município de Montemor-o-Novo, e com o apoio do PRO-
DER, o CVL trabalhou para o objetivo de criar um Centro
de Desporto Aeronáutico, com base no renovado Aeró-
dromo da Amendoeira.
As obras decorreram desde Janeiro, de 2013, envolvendo
a construção de uma nova pista, de um hangar de e um
edifico para formação e gabinetes técnicos.
A pista e o hangar ficaram prontos e são utilizados desde
Abril de 2014, sendo que o edifico de apoio só no final de
2014 é que foi concluído.
Com esta intervenção, foram criadas as condições para
que o voo à vela em planador encontre o seu espaço no
sul do pais, permitindo, desta forma, o seu desenvolvi-
mento com todo o potencial que lhe está inerente.
Para alcançar esta meta, o CVL – Centro de Voo Livre,
desenvolve cursos Ab Initio, cursos de conversão e reno-
vações de licenças, estando neste momento em fase final
Na pág. da esquerda:
- Vista aérea do aeródromo da Amendoeira e área envolvente
- Jornada de sensibilização de jovens para o voo à vela
Nesta pág.
- Colocação de para-quedas antes de embarcar no PW6
- Piper PA 18 Super Cub, avião rebocador e PW6 alinhados na
pista 21, prontos para o reboque
- Hangar e edifício técnico e de formação.do CVL
Imagens da coleção de João Marques
o processo de certificação para se constituir como Centro
de Formação.
Tem também estabelecida uma parceira com o Centro
Internacional de Voo à Vela de Mogadouro (CIVVM), voca-
cionada para a formação de pilotos, parceria que se pre-
tende estratégica para o futuro do voo à vela a nível
nacional, criando desta forma dois pólos do voo em Portu-
gal, com objetivos semelhantes, que pela sua localização
geográfica, se potenciam e complementam.
Numa lógica de promover a prática do voo à vela e de
criar oportunidades de experimentar este tipo de voo, o
CVL está a aplicar, em parceria com o Município de Mon-
temor-o-Novo, um programa de sensibilização aos jovens
do Concelho, que lhes proporciona um primeiro contacto
com a modalidade, com uma formação teórica básica, e
a realização de vários voos de iniciação. Pretende-se,
desta forma, desmistificar alguns preconceitos existentes
sobre o voo à vela, assim como potenciar as vocações de
novos e futuros pilotos.
Iniciativa “Cross Country no Alentejo”
Também este ano, irá decorrer uma primeira iniciativa de
promoção do voo de cross country, em parceira com o
Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal, deno-
minada Cross Country no Alentejo.
Destina-se a qualquer piloto com licença FCL, ou seja, que
tenha iniciado a experiencia em "cross country", mesmo
que ainda não se sinta apto para fazer voos de grande
distancia. Passar de um voo casual, no qual navegamos
ao sabor da altura, para um voo em que nos temos de
organizar, escolher objetivos e tentar superá-los, melhora
não só o nível individual como coletivo. Este tipo de com-
petição permite melhorar a proficiência de voo para voo e
tirar partido dos dias com meteorologia mais favorável.
Esta “competição” decorre entre junho e setembro, sendo
que a classificação será o melhor voo por piloto, em cada
tarefa existente. Os pilotos poderão fazer quantos voos
quiserem, com objetivo de superar o seu próprio resulta-
do. Link a consultar para mais informações: http://www.centrovoolivre.com/index.php?
mact=News,cntnt01,detail,0&cntnt01articleid=24&cntnt01returnid=64
Estão assim lançadas as bases para que o voo à vela no
Alentejo volte novamente a ter o destaque que o seu
potencial permite. Fica também o convite a todos os que
queiram apreciar as paisagens alentejanas, num voo
onde as térmicas são generosas e os caminhos indicados
pelo companheiros alados.
10 VHF
Phoebus chega a Mogadouro
E m 2013 chegou mais um planador da classe stan-
dard a Mogadouro, o Bolkow Phoebus B1, matrícu-
la D-8633. Este planador deixou os céus da Ale-
manha de Leste, perto da cidade de Dresden para
iniciar um novo capítulo do seu historial em terras lusas
tendo à chegada sido prontamente batizado de “Devil’s
Delight”.
É um planador desenhado e projetado por uma equipa
de luxo no campo do voo à vela; Dr. Richard Eppler,
Rudolph Lindner e Hermann Nägele. Destaca-se por ser o
primeiro planador de “plástico” a ser construído em série.
Para um “velhinho” da sua idade, este Phoebus B1 apre-
senta-se em excelente forma física, mecanicamente irre-
preensível e com potencial de horas de voo bastante alar-
gado. Como qualquer planador nas mãos de um novo
proprietário, há melhoramentos a fazer que vão permitir
aprimorar as performances e manter o bom estado de
conservação.
- O Phoebus B1, D-8633, na final curta em LPMU, com João
Corredeira aos comandos
- Vista do Phoebus, destacando-se a sua asa média/alta.
- Pormenor da “mascote” do planador
EVENTOS CIVVM 11
A s edições de 2013 e 2014 do Red
Burros Fly-In marcam a contínua pro-
gressão do impacto do conceito lan-
çado em 2009.
As ações de divulgação do evento, o envolvi-
mento da imprensa e das redes sociais, conju-
gadas com a notoriedade que tem conquista-
do, explicam a crescente atração de público
que, no último sábado do mês de julho, ano
após ano, se desloca ao aeródromo municipal
de Mogadouro para vivenciar a atmosfera
aeronáutica e assistir ao festival aéreo.
Dentro da comunidade de pilotos, tanto em
Portugal como em Espanha, o entusiasmo e a
presença não param de crescer, atingindo-se
em 2014, o número fantástico de 150 aerona-
ves, tripuladas por mais de 320 pessoas
Apaixonados pela fotografia a pela aviação,
acorrem a Mogadouro para captar a ambiên-
cia vibrante e as belíssimas imagens proporcio-
nadas pelas aeronaves em exibição de voo,
tudo isso sob uma luz única que é marca do
planalto transmontano.
Para as crianças e não só, a mascote do festi-
val – o burro, constitui uma atração irresistível, e
continua a estar presente, não só como símbo-
Fig. 1
12 EVENTOS CIVVM
lo, mas como protagonista.
Com a presença do protótipo da aeronave
“Crossover” na edição de 2013, modelo inovador
no campo da aviação ultraleve a motor, , a
empresa Eurosport Aircraft deu ao público a
possibilidade de constatar a consistência do seu
projeto que tem despertado admiração geral.
O Sr. Presidente da Câmara Minicipal de Moga-
douro, Francisco Guimarães, marcou presença
na edição de 2014, tendo-se envolvido, pessoal-
mente, na coordenação de segurança e nas
funções sociais e representativas inerentes à
entidade promotora,
Foi com muito agrado que recebemos a visita
do Sr. Bispo de Bragança, D. José Cordeiro, no
Red-Burros Fly-In 2014. O interesse e curiosidade
que demonstrou são sinal do seu envolvimento
na vida das populações e do seu apoio aos
novos projetos de desenvolvimento que despon-
tam na região.José Rocha e Pedro Batista sur-
preendem com a contínua entrega à missão de
informação de voo durante o fly-in. Um papel
fundamental para a segurança das operações .
Neste mesmo sentido tem pontuado a inestimá-
vel participação dos Bombeiros Voluntários de
Mogadouro.
14 RED BURROS FLY-IN
Red Burros Fly-in 2013
Galeria de José Loureiro
joseloureirophotography.blogspot.com
16 Eventos CIVVM
M ais duas edições do encontro amigável de
voo à vela, o Red Burros Fly-In TÉRMICAS, se
realizaram com sucesso.
Nestas semanas de intensa atividade de
voo de planadores vem-se consolidando um conceito
próprio de evento, em que o ambiente descontraído e
cooperativo imperam entre os participantes. Cada vez
mais pilotos se aventuram a deslocar-se até ao CIVVM e a
conhecer as famosas condições aerológicas da região.
Mais pilotos portugueses e estrageiros, e mais planado-
res, incluindo a nova geração com dispositivo de lança-
mento autónomo, consolidam a nota de diversidade e
cosmopolitismo que se tem afirmado nestes encontros.
Há uma outra faceta fundamental deste evento que é a
divulgação da atividade junto da população local e junto
dos turistas que gozam as suas férias na região. Efetiva-
mente o CIVVM tem na sua origem uma missão de ani-
mação desportiva e turística, agindo para esse efeito num
plano duplo de captação de novas “vocações” e pratican-
tes e de realização de voos de descoberta.
A procura pelas experiências de voo em planador têm
crescido de forma consistente, e as indicações que che-
gam continuam a apontar nesse sentido. Faz por isso
muita falta um segundo planador bilugar que, apoiando a
intensa utilização do TWIN Astir, substitua o saudoso Bla-
nik, que tão bons serviços prestou ao CIVVM.
Momentos Red Burros Fly-In
TÉRMICAS
Na pág. da esquerda:
- Participantes no TÉRMICAS 2013 na cabeceira da pista 21 Imagem de P.Castanheira
- últimas recomendações antes de um voo de descoberta Imagem de P.Castanheira
- O impressionante SLMG DG808B de Luís Ynat Imagem de J. Corredeira
Nesta pág.:
- Voo de descoberta do Sr. Presidente da Câmara de Moga-douro, Francisco Guimarães, no Twin Astir do CIVVM.
- A locomotiva do TÉRMICAS, o avião MS893 Rallye - Rui Aguiar, no cockpit do Pilatus B4, pronto para descolar.
Imagens de P. Ferreira
- Ruy Câmara Cabral, lenda viva V.V., no TÉRMICAS Imagem de P.Castanheira
18 DOSSIER JANTAR STANDARD 3
Jantar Standard 3 Pura Performance Polaca Por João Corredeira J.
Co
rre
de
ira
O campeonato do mundo de planadores de
1968 em Leszno demonstrou que a era dos
planadores “pau e tela” tinha chegado ao
exponencial máximo, uma vez que as perfor-
mances destes planadores sofriam alterações considerá-
veis com o passar dos anos derivado ao envelhecimento
das estruturas e consequentemente alterações no perfil
aerodinâmico das asas.
A implementação de uma nova tecnologia de construção
não foi um processo fácil. O mundo das resinas de poliés-
ter e laminados obrigou as empresas a equiparem-se
com o material, maquinaria adequada e sobretudo fun-
cionários com conhecimentos avançados sobre o tema.
Assim, na década de 50, os fabricantes começaram a
explorar outros materiais, para a construção de planado-
res, particularmente na República Federal da Alemanha,
foram desenvolvidos protótipos em fibra-de-vidro, tais
como o Akaflieg (Akademische Fliegergruppe – Grupo de
Voo Académico) Stuttgart FS-24 Phönix bem no centro da
Universidade de Estugarda tendo como mentores, o Dr.
Richard Eppler e Dr. Hermann Nägele.
Na conceção de um planador há que ter em considera-
ção, manter a massa da aeronave baixa e ao mesmo
tempo uma estrutura com elevada resistência, pelo que a
relação entre este fator e o número de camadas de lami-
nado a aplicar são decisivas na massa total da aeronave.
Ao mesmo tempo uma planador muito leve tem menor
penetração aerodinâmica na massa de ar o que prejudi-
ca a performance, e por outro lado terá mais facilidade de
subir em térmicas fracas. Assim, tenta-se atingir um equi-
líbrio para obter a melhor relação massa-estrutura-
segurança-aerodinâmica para se obter uma máquina
com boas performances.
PZL (Państwowe Zakłady Lotnicze)
A história da PZL remonta ao ano de 1910, mais propria-
mente a 21 de Março. Em menos de um ano após a tra-
vessia do canal da mancha por Louis Blériot, e numa altu-
ra em que a indústria aeronáutica se encontrava numa
fase muito embrionária, surge a empresa AWIATA
(Companhia aeronáutica de Varsóvia) no aeródromo
Mokotów, desta cidade polaca.
Até ao ano de 1928 a empresa produziu sob licença
várias aeronaves, e expandiu o seu património bem como
modernização das instalações, tendo o estado Polaco
tomado conta do negócio formando assim a PZL.
A PZL (Państwowe Zakłady Lotnicze – Trabalhos de Avia-
ção do Estado), sedeada em Okęcie, distrito de Varsóvia
(Polónia), foi o principal construtor aeronáutico polaco
entre 1928 e 1939. Entre 1940 e 1945, as instalações da
empresa foram utilizadas pelos alemães para trabalhos
de manutenção e reparação das suas aeronaves.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, um grupo de
entusiastas de voo à vela, em Bielsko-Biala, estabelece-
ram um centro de treino de planadores, que em Janeiro
de 1946 passou a designar-se de Instituto para o Voo à
Vela sem no entanto estar diretamente ligado à PZL.
Desde o seu nascimento, a PZL projetou e produziu em
série 22 modelos diferentes de aviões e quase 6000 aero-
naves saíram da linha de montagem distribuídos por cer-
ca de 30 países.
Em 1979, produziu sob licença, o PZL-110 Koliber, Koliber
150, 160 e o PZL-111 Koliber 235, cópias do S.O.C.A.T.A
893A Rallye com motorizações de 116 cv, 150 cv, 160 cv e
235 cv respetivamente.
Ao longo da década de 80 e 90, lançou-se no mercado
da pulverização agrícola, adaptando algumas das suas
aeronaves e produzindo novos modelos dedicados a este
mercado. A simplicidade de construção, mecânica e
manutenção fizeram destes modelos grandes sucessos
no mercado internacional.
Em 2001 a PZL foi vendida pelo governo polaco à EADS (a
multinacional europeia que produz os Airbus). A EADS
detém 78% das ações, mantendo o governo 18% e ficando
os restantes 4% na posse de funcionários.
A EADS PZL é uma das subsidiárias encarregues de pro-
duzir as asas, portas e cadeiras da aeronave EADS C-295,
bem como produção das armações das portas de carga
e tratamento de revestimento do Airbus A-320.
20 DOSSIER JANTAR STANDARD 3
A PZL e o voo sem motor
Para além de aeronaves auto-propulsionadas, a PZL pro-
jetou e produziu em série vários planadores que se torna-
ram muito populares entre a comunidade de voo à vela.
Entre eles contam-se os modelos monolugar como o SZD-
12 Mucha standard, SZD-19 Zefir, SZD-30 Pirat, SZD-24
Foka, SZD-36 Cobra, Jantar 1,2 e 3; SZD-55 Diana I e II.
Teve também grande sucesso ao produzir planadores bi-
lugares perfeitamente adaptados à formação e treino de
pilotos, dos quais se destaca o SZD-9 Bocian, SZD-50-3
Puchacz e mais recentemente o SZD-54-2 Perkoz, todos
eles ainda hoje a formar pilotos um pouco por todo o
mundo.
Compósitos no primeiro “Jantar”
O primeiro planador da PZL totalmente construído em
materiais compósitos foi o SZD-37X “Jantar”, do qual
foram produzidos dois protótipos. O primeiro, com a
matrícula SP-2636 de 17,5m de envergadura e o segundo,
com a matrícula SP-2637 de 19m de envergadura. A 14 de
Fevereiro de 1972 voou pela primeira vez o modelo de
17,5m e a 13 de Maio de 1972 foi a vez do SP-2637 de 19
metros subir aos céus da Polónia pela primeira vez.
Após os voos de testes, os protótipos foram apresentados
aos pilotos da equipa nacional polaca, Stanislaw Kluk e
Henry Muszczyński, no centro de planadores em Leszno
para que pudessem avaliar as performances e sugerir
melhoramentos para o campeonato mundial FAI de pla-
nadores na Jugoslávia.
O SZD-37X participou no campeonato polaco nas mãos
de Stanislaw Kluk, tendo ficado em terceiro lugar da clas-
sificação geral. Ao mesmo tempo este teste serviu para
demonstrar que o projeto estava à altura dos planadores
ocidentais da época.
Ambos os protótipos foram usados no centro de planado-
res de Leszno durante vários anos. O SZD-37X, matrícula
SP-2637, acabou por ser vendido para o aeroclube de
Pomeranin, em Torun (Polónia), onde no final da década
J. Corredeira
Diagrama de 3 vistas por João Corredeira
de 80 acabou por ser danificado num acidente e recupe-
rado para estado de voo. Em 1999 foi vendido para um
privado. Quanto ao SZD-37X de 19 metros de envergadu-
ra não foi possível obter qualquer informação.
Após esta fase inicial de testes, a PZL iniciou a produção
em série do protótipo SZD-37X “Jantar”, tendo passado a
designar-se SZD-38 “Jantar” sendo assim o patriarca da
longa família “Jantar” produzindo-se 57 unidades. Segui-
ram-se os modelos SZD-41 “Jantar Standard”, SZD-42-2 e
SZD-42-2B “Jantar 2”, SZD-48-1 “Jantar Standard 2”, SZD-
48-3 “Jantar Standard 3”, SZD-48-3M “Brawo”, SZD-52
“Jantar 15 Krokus”, SZD-59 “Acro” que essencialmente
diferem na envergadura de asa, componentes mecânicos
bem como alguns melhoramentos aerodinâmicos.
Um “Jantar” na classe Standard
O modelo de série SZD-41 “Jantar Standard”, efetuou o
primeiro voo em Outubro de 1973, tendo um ano mais
tarde participado no Campeonato Mundial de Planadores
em Waikirie (Austrália), ficando em terceiro lugar na classe
standard com o piloto Franciszek Kepka ao comandos. A
fuselagem era a mesma usada no segundo protótipo SZD
-37X mas com envergadura de 15 metros, sem flaps e
tanques de lastro com capacidade para 80 litros. No
entanto o sucesso atingido nos campeonatos, não se
voltaria a repetir devido a alterações na própria resina
que fez com que alterasse o perfil das asas penalizando
as performances. Por outro lado os Alemães tinham já
mais experiência no campo das fibras-de-vidro e resinas
pelo que os avanços tecnológicos originaram planadores
de maior performance.
Entretanto na Polónia, e dadas as excelentes provas pres-
tadas pelo modelo, a PZL continuou a produção do tercei-
ro “Jantar Standard” o qual é alvo de alterações estruturais
como redução de peso, aumento da capacidade dos
tanques de lastro, reforço das longarinas e trem-de-
aterragem entrando em produção com a designação de
SZD-41-1B.
Ainda com margem para mais desenvolvimento, o projeto
N. Jourdain
J. Corredeira
22 DOSSIER JANTAR STANDARD 3
continuou, e a 10 de Dezembro de 1977, o SZD-42 “Jantar
2” efetuou o primeiro voo. Tal como o “Jantar Standard”,
manteve a canopy de dois componentes (“para-brisas”
fixo e parte móvel) tendo sido produzido nesta configura-
ção até 1983. A alteração mais visível é claramente a
envergadura de 20,5 metros, aumento da capacidade
dos tanques de lastro para 150 litros, o leme de profundi-
dade do tipo cruciforme e flaps “elásticos”.
Entra em cena o “Jantar Standard 2” e seus derivados...
Em Março de 1978 foi apresentado o SZD-42-2B “Jantar
Standard 2” com pequenas alterações. As asas foram
posicionadas 125mm mais alto em relação aos modelos
anteriores; o ângulo de incidência reduzido para 1,5 graus
de forma a melhorar o alinhamento com o fluxo do ar a
altas velocidades. Foram produzidos 175 exemplares
estando muitos deles ainda em condições de voo. Apesar
das ótimas performances, até aqui todos os “Jantar” apre-
sentavam o mesmo problema de alteração do perfil aero-
dinâmico das superfícies sustentadoras ao fim de algum
tempo, provavelmente devido à retração resinas epoxy e/
ou técnicas de disposição das camadas de fibras.
Com a FAI (Federação Aeronáutica Internacional) a intro-
duzir em 1978 a classe 15 metros sem restrições, com
exceção dos freios aerodinâmicos terem capacidade de
manter a velocidade do planador abaixo da VNE
(Velocidade a nunca exceder), Wladyslaw Okarmus
pegou na fuselagem do “Jantar Standard 2” e adicionou
um novo conjunto de asas com o perfil NN8 e flaps sendo
designado por SZD-49 “Jantar Standard K”, tendo ficado
com o registo SP-2583, o voo inaugural foi realizado a 10
de Outubro de 1978. Logo nos primeiros voos de teste
verificaram que não houve melhorias significativas e o
projeto foi abandonado. O único exemplar acabou por ser
usado como base de testes para alunos de engenharia
aeronáutica tendo ainda sido modificado duas vezes por
alunos da Universidade Tecnológica de Varsóvia.
A 18 de Fevereiro de 1981, voou pela primeira vez o SZD-
52 “Jantar 15”. A secção dianteira deste planador foi rede-
senhada, mantendo a cauda do "Jantar 2B". Mais tarde
com o segundo protótipo, o SZD-52-1 “Jantar 15 SI”, e
usando a fuselagem inicial, foram aplicadas as primeiras
asas Polacas construídas em fibra de carbono. Mudando
a cauda para o habitual tipo “T”, e usando as asas em
fibra de carbono, passou a designar-se SZD-52-2
“Krokus”. Há registos do SZD-52-3 “Krokus S” e SZD-4
“Krokus C”, sobre os quais não foi possível obter qualquer
informação mais detalhada.
Finalmente o terceiro “Jantar Standard”
O SZD-48 “Jantar Standard 3”, foi o culminar de anos de
desenvolvimento e mantém as linhas do “Jantar Standard
2” se bem que mais refinadas. Wladyslaw Okarmus foi o
responsável pelas modificações, sendo as que saltam
mais à vista, o regresso à configuração da cauda em “T”,
plano vertical ligeiramente mais baixo; aumento da área
do leme direcional, canopy monopeça e sistema de lastro
redesenhado, passando as bocas de descarga para o
intradorso das asas, junto à raíz e com sistema individual
de abertura/encerramento das mesmas. Voou pela pri-
meira vez a 9 de Fevereiro de 1983. Mais recentemente a
PZL introduziu a opção de aplicar winglets, através de um
STC (Supplemental Type Certificate) aprovado, o que vem
conferir melhores performances em dias de atividade
térmica mais fraca. Foi o modelo com mais exemplares
produzidas, totalizando 348 unidades.
Numa tentativa de melhorar as performances do SZD-48-
3 “Jantar Standard 3” em condições mais desfavoráveis
para o voo à vela, foi desenvolvido o SZD-48-3M “Brawo”.
Esta variante foi concebida e preparada para o Campeo-
nato Mundial em Rieti (Itália) no ano de 1985. As altera-
ções consistiram em reduzir o peso do planador, eliminar
os freios aerodinâmicos (spoilers) no intradorso das asas,
alterar a ponta das asas e bordo de fuga das superfícies
sustentadoras. Efetivamente houve uma melhoria consi-
derável, no entanto as performances a grandes velocida-P. Castanheira
des foram sacrificadas quando comparadas às do “Jantar
standard 3”. Apenas 3 exemplares chegaram a ser pro-
duzidos, e sobre os quais foi impossível obter mais infor-
mações.
Entre 1990 e 1991, sob a direção de Jan Knapik, a PZL ini-
ciou mais um projeto baseado no “Jantar”. Essencialmente
foi pegar na fuselagem do “Jantar” e tornar o planador
totalmente acrobático. Desta forma a 9 de Setembro de
1991 voou o primeiro protótipo do SZD-59 Acro, sendo
produzidas 24 unidades até 1996, mantendo os freios
aerodinâmicos (spoilers) do tipo Schemmp-Hirth, trem-de-
aterragem retráctil, lastro com capacidade para 150 litros
e pontas das asas amovíveis para configuração de 13,2 e
15 metros. Na configuração acrobática (13,2 metros) está
certificado até +7g e -5g, enquanto na configuração 15
metros, estava limitado a +5.3g e -2.65g.
Entre 1972 e 1986 foram produzidos um total de 1041 pla-
nadores da família “Jantar”, dos quais 846 foram exporta-
dos um pouco por todo o mundo.
Em 2012, um SZD-41-1 foi equipado com um motor esca-
moteável, passando a designar-se SZD-41AT “Moto-
Jantar”, estando ainda operacional com a matrícula D-
KAZF e a voar nas mãos de Christoph Klein, mentor do site
www.travelbyglider.eu .
O SZD-48-3 “Jantar Standard 3”, é um planador com excelentes performan-ces, estando à altura de planadores como o ASW-19, Schemmp-Hirth Nim-bus 2 e Standard Cirrus, ficando ape-nas ligeiramente aquém destes em condições de térmicas fracas. É ainda um dos planadores produzidos em série com a VNE (Velocidade a Nunca Exceder) mais elevada – 285 Km/h. É sem sombra de dúvida um planador feito para “correr”.
Especificações técnicas do SZD-48-3 Jantar Std. 3
J. Corredeira
J. Corredeira
Comprimento 6.85 m
Envergadura 15.00 m
Área Alar 10.66 m2
Alongamento 21.1
Massa em vazio 274 Kg
Massa máxima à descolagem 540 Kg
Velocidade máxima (VNE) 285 Km/h
Velocidade de perda 82 Km/h
Diedro 1.5º
Perfil aerodinâmico NN-8
Lastro de água 150 l
Carga alar 36.6 Kg/m2 - 50.6 Kg/m2
Coeficiente de planeio máx. 40
Razão de afundamento min. 0.77 m/s
Polar
SZD-48-3 Jantar Standard 3
24 DOSSIER JANTAR STANDARD 3
Jantar Uma história planeada
“Tudo começou porque, mais do que os meus amigos
pilotos de planador, sempre gostei de voar em campos
diferentes, ou seja, mudar de territórios e espaços
aéreos. Ver o mundo! “
Por Angel Martinez Blanco
Tradução de Pedro Castanheira
Acima: Primeira montagem do Jantar D-5353 JT no jardim da casa de amigos Suny e Jesus.
Na pág. seguinte: Angel e Peter, à volta dos documentos e Angel com Osório posando diante do Jantar
E m setembro de 2002 iniciei a pesquisa com vista à
aquisição de um novo planador particular, baliza-
da em termos de orçamento pelas minhas possi-
bilidades económicas, tendo analisado vários
modelos alternativos, tais como ASW19 (um pouco caro),
Libelle, Pik, Pegasus, etc. Já dispunha, à partida, de algu-
ma experiência de pilotagem de planadores monolugares
“plásticos”, incluindo o Astir Jeans, o Speed Astir e, claro, o
ASW15 de que eu era coproprietário.A opção final foi defi-
nida com a ajuda inestimável dos Berger (Michael e
Evelyn), casal alemão com residência em Carreço, na
região de Viana dos Castelo, que realizava as inspeções
anuais em planadores registados na LBA. De três alterati-
vas possíveis e com base nos documentos das inspeções,
o conselho que deram foi para optar pelo SZD 48-3 Jantar
Standard 3, construído em 1983.
Ida, compra e volta
No final de maio de 2003, Adriano Osório, eu e a
“Carrinha”, estávamos em marcha rumo à Alemanha,
onde nos certificamos da veracidade das informações de
que dispunha. O Jantar de matrícula D-5353 afirmou-se,
com grande destaque, como o melhor, com a observa-
ção, ao vivo, do seu estado impecável num campo de voo
à vela perto de Bremen, no norte do país teutónico.
Em suma, fez-se a compra do planador, mas não sem
antes discutir detalhes do preço e, atenção que isto não é
uma piada, termos, por nossa culpa, provocado a prisão
de uma companhia de infantaria do exército alemão. O
contrato de compra e venda do D-5353 foi assinado no
dia 5 de junho de 2003.
A viagem de regresso daria, por si só, para uma outra
história. Levamos três ou quatro dias, nos quais acontece-
ram inúmeras situações anedóticas e, finalmente, no nos-
so último dia, no trajeto de Benavente para a localidade
galega de Gondomar, exaustos e a cair de sono, vimo-
nos forçados a alternar condutores a cada 50 km para
alcançar nosso destino às 03:30 da manhã.
No dia seguinte, após umas horas de sono retemperador,
procedeu-se à montagem do planador no jardim da casa
dos meus amigos, Suny e Jesus, na presença de uma
"multidão" que integrava, de forma destacada, os colegas
pilotos Artur Gonçalves e José Carlos Fernandes. Um
momento de enorme celebração e alegria!
Voos no Jantar
Baseado na memória algo gasta, passo a relatar o pri-
meiro voo de duração significativa que realizei com o Jan-
tar. Foi em Lugo (Galiza), que tal aconteceu, com um voo
de 3:30 H de duração, que deixou perplexos muitos
observadores. "Como é que ele fez isso”, foi a questão
que colocaram. Ora, a verdade é que os que ficaram per-
plexos eram pilotos daqueles que levam um ventilador à
frente que, quando para, deixa a situação aquecer bas-
tante! Este foi um voo em que tive de porfiar muito, pois
não consegui ultrapassar os 900 m QFE.
Entretanto fui ganhando confiança com o Jantar, desfru-
tando da sua perfeita obediência aos comandos, da
prontidão das suas reações e da sua estabilidade, supe-
rior, em minha opinião, ao ASW15, dos freios efetivíssimos,
fator que provavelmente contribuiu para o infeliz acidente
que ocorreu em Évora, no mês de julho de 2004.
Este acidente acontece na etapa final de um voo de mais
de 4 horas, no qual, e pela primeira vez, utilizei o compu-
tador de voo LX5000, equipamento que me ajudou a per-
correr uma distância muito respeitável no setor norte da
cidade alentejana, coisa que nunca tinha realizado antes.
A reparação foi confiada à fábrica na Polónia, tendo-se
aproveitado a ocasião para, entre outras melhorias, dar
cumprimento a uma diretiva que obrigava à mudança
dos rolamentos internos dos mecanismos em que se
apoiam os tirantes dos comandos.
Voando e tratando do Jantar, fui obrigado a modificar as
rotinas aeronáuticas, tanto de pilotagem como de operar
os equipamentos eletrónicos e de tudo o que se refere a
peças sobressalentes, manutenção geral da aeronave e
de resolução de problemas burocráticos de todos os tipos.
Uma das virtudes do Jantar é a sua fiabilidade na aterra-
26 DOSSIER JANTAR STANDARD 3
gem com vento cruzado, situação deveras comum, pois,
mantendo as velocidades adequadas, não acentua o
efeito de catavento, proporcionando um excelente rola-
mento na pista. Outra virtude é a facilidade com que ace-
lera, a boa penetração, pedindo, em voo retilíneo, veloci-
dades acima dos 110 km/h, nas quais este planador se
sente muito confortável.
Recordando um voo especial, vem-me à memória um que
fiz na companhia do Nimbus pilotado pelo Emílio Iglesias
em Fuentemilanos, no qual me mantive ombro a ombro
na ligação a Ávila. Foi um voo numas condições difíceis,
que exigiam muita entrega, especialmente nessa etapa
de ida. No regresso, Ávila – Fuentemilanos, fiquei para
trás, com o Nimbus a vencer a distância numa única tira-
da, enquanto eu tive que me conformar com a realidade e
“meter gasolina”.
Outro voo inesquecível foi quando ultrapassamos os 4000
m QFE em Mogadouro. Neste voo dava para fazer tudo o
que se queria, exceto respirar, o que me obrigava, de vez
em quando, a descer aos 3000 m para repor os níveis
vitais de O2.
Há ainda outra memória especial, de um voo em que
percorri a maior distância na região de Mogadouro, até
essa data. Do aeródromo rumei a Mirandela e, aí chega-
do, apontei na direção de Bragança, que alcancei, finali-
zando-o com o regresso à base. Foi um voo bastante
rápido para os meus hábitos conservadores. Era a primei-
ra vez que via Bragança do ar! Avancei atento ao terreno
e às estradas, conferindo cuidadosamente a rota e, de
repente, zás! A cidade e o seu aeródromo. Confirmado.
Consegui! Agora era preciso regressar… Vamos lá a isso!
Resumindo: Vida longa para o Jantar Standard 3!
Acima: Grupo de amigos espanhóis e portugueses feste-jando a aquisição do Jantar Ao lado: Angel junto ao Jantar numa ação de divulgação do voo à vela na Universidade de Vigo. Na pág. seguinte: Um dos primeiro voos em LPMU, 2007
J. Corredeira
Fator Erro Humano
Axioma - “Os humanos erram”
Por José Carlos Fernandes
É um facto que grande parte dos acidentes, de
pequena ou grande dimensão têm como causa
principal o erro humano.
Este é um assunto muito estudado cientificamente
pois o erro humano assume uma importância crucial em
diversas atividades, desde a aviação, à indústria petroquí-
mica, nuclear, da ação dos bombeiros, à medicina, etc.
A aviação tem um excelente desempenho em termos de
segurança, com a ocorrência de um acidente fatal por
cada dois milhões de voos (1). No entanto é importante
que este indicador continue a melhorar, pois é essa a
exigência da sociedade.
Existem três aspetos essenciais a considerar quando se
analisam os fatores humanos do erro: A TAREFA, O INDÍVI-
DUO e a ENVOLVENTE. Para minimizar a probabilidade de
erro é por isso necessário atuar em três vetores principais,
respetivamente; os procedimentos, o estado psicológico e
o ambiente envolvente.
Nas últimas décadas tem existido grande evolução na
cultura da segurança, tendo muitas organizações reduzi-
do os índices de incidentes para níveis tão baixos que
parecem não ser possível melhorar. No entanto, aconte-
cem por vezes, de forma muito inesperada, acidentes de
proporções relevantes, incongruentes com os níveis de
segurança existentes. O ponto comum neste casos é o
ERRO HUMANO.
Existem várias metodologias para identificar e avaliar os
riscos do fator humano. Uma das principais metodologias
é a investigação de incidentes. Por outro lado, atualmente
é possível calcular a probabilidade do erro humano em
cada tarefa e, desta forma, estabelecer uma taxa global
de falha para uma determinada atividade. A metodologia
HEART – Human Error Assessment and Reduction Techni-
que, por exemplo, é conhecida por ser uma técnica rápi-
da e simples de usar para determinar a probabilidade do
erro humano acontecer. O seu ponto de partida é a análi-
se detalhada das sub-tarefas e o cálculo da probabilida-
de de erro humano de forma cumulativa, tendo em conta
o enquadramento de ambiente e da pessoa ou pessoas
intervenientes. A validação destes resultados pode ser * - Human Error – Causes and Control
(1) - Boeing, Statistical Summary Of Commercial Airplane Accidents
feita comparando este cálculo com os registos existentes
em várias bases de dados de organizações de supervisão
da aviação civil.
Segundo Gesoges A. e Barbara J. Peters* existem 12 con-
tra medidas para os Erros Humanos. Por ordem decres-
cente de efetividade são:
1. Eliminar a possibilidade de erro através do design do
processo.
2. Evitar a ocorrência do erro através de meios físicos limi-
tando o acesso à causa do erro (proteções , barreiras);
3. Mitigar as consequências do erro (reduzindo a severi-
dade do risco);
4. Assegurar a deteção dos erros antes de acontecerem
danos (permitindo a correção atempada);
5. Definir procedimentos de encaminhamento restringin-
do campo de atuação;
6. Manter supervisão e monitorização dos erros
(observação dos erros, fornecimento de indicações
orais, possibilidade de “shutdown” manual);
7. Fornecer instruções escritas, simples e imediatas;
8. Formação para fornecer informação, contexto, cultura,
regras de segurança;
9. Existirem manuais técnicos com respostas e que sir-
vam para aprendizagem;
10. Alertas e alarmes;
11. Providenciar equipamento de proteção e segurança
em caso de necessidade;
12. Assumir intencionalmente o risco e assegurar cobertu-
ra de seguros para as consequências previsíveis.
Qualquer processo com intervenção humana, seja na aviação ou noutra qualquer atividade considerada crítica, deve ser sempre avaliado sob o ponto de vista da probabilidade de ocorrência de falha, e deve ser redesenhado com o objetivo de minimizar a Probabilidade de Erro Humano. Esta lógica está em gran-de medida ao alcance de qualquer pro-fissional da aviação e em geral de qual-quer decisor experiente e conhecedor dos processos, analisando estes sob o ponto de vista dos principais fatores do erro humano: a tarefa, o indivíduo e a envolvente.
SEGURANÇA 29
A probabilidade de errar pode variar de 1:1000 até
1:10 em função de diversos fatores
Para minimizar o erro é necessário atuar segundo
essencialmente três aspetos fundamentais:
- Procedimentos
- Estado psicológico
- Ambiente envolvente
30 COMUNICAÇÕES
L i recentemente uma noticia sobre uma ocorrência
em Atlanta nos Estados Unidos em que um Boeing
777 da Delta borregou (para alguns leigos...e todos
os pilotos de planador, isto significa que interrom-
peu a sua aproximação) depois de um controlador de
trafego aéreo "brincalhão" lhe dizer que em vez de ater-
rar, devia sobrevoar o aeroporto. O meu primeiro pensa-
mento foi que na Europa, a mesma situação seria bastan-
te improvável.
Em matéria de radiotelefonia aeronáutica somos, na Euro-
pa, geralmente mais rigorosos e disciplinados do que nos
Estados Unidos. Os motivos são diversos. Nos EUA, tal
como na Europa, a aviação é vasta e variada, mas a lín-
gua é comum e existe uma forte cultura de pragmatismo.
Generalizou-se nos "states" uma prática de radiotelefonia
aeronáutica funcional que se assemelha por vezes a uma
conversa telefónica, rica em linguagem comum, e pobre
em termos "standard". Na Europa, por outro lado, a avia-
ção é praticada em 32 países membros da EASA, cada
um com a sua língua própria, a sua variante de "mau
inglês", a sua regulamentação especifica, cultura e tradi-
ção aeronáutica. Na Europa encontramos conforto no
cumprimento rigoroso e disciplinado das regras da radio-
telefonia porque reconhecemos que não fazê-lo envolve
um risco significativo.
Não pretendo com este artigo abordar as particularidades
técnicas de radiotelefonia aeronáutica que podem ser
encontradas no ICAO anexo 10 volume 2, no PANS-ATM
Doc 4444, exemplificados no Doc 9432 AN/925 e ainda
em inúmeras publicações de diversas autoridades aero-
náuticas. Em vez disso, prefiro alertar para a facilidade
que temos, nesta disciplina, de nos desviarmos da regula-
mentação e das melhores praticas, simplesmente por-
que somos criaturas de (nem sempre os melhores) hábi-
tos e porque esse desvio é muitas vezes generalizado e
aparentemente inconsequente. Prefiro igualmente aler-
tar para o potencial de melhoria do nosso desempenho
enquanto Aviadores.
A comunidade aeronáutica utiliza irrepreensivelmente o alfabeto fonético: "Alpha" em vez de "A", "Romeo" em vez de "R", etc. mas a sua verdadeira razão de ser, e com a qual devemos ser coerentes sempre que praticamos radiotele-fonia aeronáutica. é por vezes esquecida: a de assegurar a clare-za, eficiência e ausência de ambi-guidade da nossa transmissão. Embora tecnicamente simples, o tema da radiotelefonia aeronáutica é complexo na concretização pela sua natureza intrinsecamente humana.
Radiotelefonia dos Humanos
Por Mathieu Neuforge
Radiocomunicações no voo à vela
No voo à vela onde é comum a partilha do espaço aéreo
entre vários planadores, estes podem sentir a necessida-
de de trocar informações táticas uns com os outros e com
a base. Esta realidade é incontornável e parte integrante
da atividade, no entanto, para esse fim, deve ser evitado o
uso de frequências destinadas a comunicações aeronáu-
ticas. Para não apontar um problema sem também apre-
sentar uma possível solução, deixo a sugestão do uso de
"walkie-talkies" para as transmissões que possam ser
inadequadas via radio.
Saber estar, saber comunicar
A componente humana da radiotelefonia aeronáutica é
simultaneamente a sua fraqueza e a sua força. O conhe-
cimento e cumprimento da regulamentação, "disciplina
radio" e pratica orientada para a excelência contribui, não
só para que a Aviação seja mais segura como também
revela muito sobre a nossa postura aeronáutica enquanto
indivíduos. Para aqueles com quem partilhamos o espaço
o aéreo a qualidade da nossa radiotelefonia resulta inevi-
tavelmente numa projeção mais alargada da nossa for-
ma de estar no ar.
SAFETYCOM e 123.450 MHz
Foi recentemente publicado no manual VFR a disponibili-
zação da frequência 122.500 MHz denominada SAFETY-
COM. Esta frequência destina-se a aumentar a segurança
das aeronaves que operam na vizinhança de aeródromos
sem frequência atribuída (excluindo assim o aeródromo
de Mogadouro). À semelhança da anterior e internacio-
nalmente atribuída à comunicação entre aeronaves, a
frequência 123.450 MHz destina-se a trocas de informa-
ções operacionais e "safety-related" nomeadamente em
áreas remotas contudo, nenhuma destas frequências
deve ser utilizada para fins desenquadrados com as práti-
cas estabelecidas para comunicações aeronáuticas.
Na era do espaçamento 8.33 kHz...
Associado ao aumento contínuo do trafego aéreo mundial
está um crescente congestionamento do espectro de fre-
quências VHF atribuídas às comunicações aeronáuticas
(117.975 a 137.000 MHz). Numa tentativa de aliviar esse
congestionamento, o espaçamento entre canais utilizáveis
tem sido continuamente reduzido (de 200 para 100 kHz
nos anos 50, para 50 kHz nos anos 60, para 25 kHz em
1972 e em 1999 para 8.33 kHz aumentando assim os
canais disponíveis para 2280). Efetivamente o uso de
equipamento radio com capacidade para sintonizar
canais espaçados por 8.33 kHz é obrigatório em todo o
espaço aéreo europeu acima de FL195 desde 2007 e,
segundo o Eurocontrol, deverá abranger todo o espaço
aéreo europeu a partir de 2018. Isto significa que todos os
rádios deverão ter a capacidade de selecionar frequên-
cias com este espaçamento de canais. Para a aviação
geral incluindo os planadores, os custos associados à
mudança dos equipamentos radio e a "discutibilidade"
dos benefícios desta medida fazem com que este assunto
seja problemático. Reconhecendo isso, o Eurocontrol ofe-
receu flexibilidade às autoridades aeronáuticas euro-
peias:
"It is acknowledged that the deployment of 8.33 kHz in the
airspace below FL 195 and notably the widespread deploy-
ment expected in 2018 will have a significant impact on
General Aviation in terms of equipage costs with very limi-
ted direct benefits. To take this into account it is proposed
to allow the Member States to take local measures and to
grant carriage exemptions for the benefit of GA; these
measures cannot be generalised and included in the draft
rule because they must be tailored to the airspace structu-
re and the population of general aviation aircraft of each
State."
Com o avanço da tecnologia, as comunicações aeronáuti-
cas por voz via radio VHF e HF estão gradualmente a ser
substituídas pelo envio e receção de dados por satélite.
Não se prevê, no entanto que haja
um declínio significativo do uso de
comunicações aeronáuticas por voz
até 2030. Ainda temos tempo para
melhorar...
Na pág. da esquerda:
- Ilustração de capa do livro “O meu segundo livro de
aviação e pilotagem”, de autoria do Comandante Sousa
Machado, Editorial Verbo, Lisboa, 1972
Abaixo:
- Verificação radio no check de descolagem
32 TÉCNICA
Da régua de cálculo aos computadores de voo
1. No início, era assim…
Todos os pilotos da minha geração tiveram como bíblia o
livro de Reichmann Cross-Country Soaring. Recordem-se
do que eram os equipamentos de voo na altura, em que
já havia variómetros eletrónicos, mas não computadores
eletrónicos de voo:
- Barómetro com registador;
- Câmara fotográfica;
- Instrumentação clássica + variómetro eletrónico
- Réguas e discos de cálculo, quer para navegação quer
para cálculo de planeio.
Não se nega a importância do conhecimento e do saber
planear sem recorrer a computadores. Mesmo hoje ainda
se realizam provas Retro, nas quais nem GPS se pode
usar. Mas é indiscutível que se tivermos instrumentos e
computadores que nos dão as informações importantes,
que antes tínhamos que perder tempo a calcular, a nossa
concentração vai centrar-se no essencial – a observação
do exterior, a estratégia e a pilotagem. Há claros ganhos
potenciais na performance e na segurança de voo.
Há 25 anos a Informática começou a popularizar-se e a entrar, a pouco e pouco, nas nossas vidas. Mas estávamos longe de imaginar quanto iria invadir o nosso quotidiano e mudar radicalmente os nossos hábitos e exigências. Sem dúvida que o tema se repete, há 40 anos ninguém imaginava a possibili-dade de ter um computador profissional em sua casa. Tal como quando os tele-móveis se entranharam nas nossas vidas, ninguém diria que hoje seriam um computador com telefone, câmara, disco de memória e ligação à Internet. A revolução tecnológica é permanente. Aquilo que inicialmente é considerado um gadget, em pouco tempo converte-se em ajudas que rapidamente se tor-nam indispensáveis. E dentro dum cock-pit dum planador também.
2. Dos variómetros eletrónicos à pri-
meira geração de computadores de
voo
Os primeiros computadores de voo surgem a meio da
década de 80, considerando-se como tal equipamentos
controlados por microprocessador.
É nos anos 90 que aparecem os primeiros aparelhos que
integram GPS. Instrumentos como o LX4000 surgem com
funções verdadeiramente revolucionárias para a época,
tais como navegação a Aeroporto, Turnpoint ou a ponto
de TASK (tarefa). Fatores como a polar do planador, lastro,
McReady, TE Compensation ou Bugs eram igualmente
variáveis a introduzir e que fariam parte do cálculo do
planeio.
Por João Pedro Rosa
Representante em Portugal da LX Navigation
Ainda nos anos 90 surgem os loggers, registadores de
voo com GPS, sensor barométrico e Engine Noise Level. O
seu aparecimento veio substituir o uso do barómetro e da
câmara fotográfica.
Loggers como o LX20 continham ainda funções adicionais
de navegação semelhante aos computadores de bordo
da altura. É o primeiro passo para criar um aparelho por-
tátil juntamente com o logger, que desta vez podia ser
colocado no painel ou fora dele. E isto para além de poder
ser levado de um para outro planador, dado ser portátil
Mas o primeiro grande marco nos computadores de voo
acabaria por ser o LX5000, que apareceu em 1995, que
contou com mais de 2.000 unidades vendidas e ainda
hoje se mantém como uma referência dessa geração.
Agregava num instrumento, composto por duas unidades
(computador e ecrã vário), um variómetro eletrónico, nave-
gação GPS a Aeroporto, Turnpoint ou Task, visualização
de espaço aéreo e logger IGC. Ou seja: calculador de voo,
barógrafo e câmara fotográfica substituídos por um único
instrumento.
Ao mesmo tempo produziram-se outras unidades mais
simples, com ligação a GPS, mas sem IGC. O LX 160 tam-
bém foi muito popular e, quando ligado a um PDA que
entretanto também começaram a ser utilizados, permitia
ter adicionalmente um mapa em tempo real, recorrendo a
programas como o Winpilot (quem se lembra dele?).
O hardware que caracterizava estes computadores era
normalmente controlado por software, baseavam-se em
microprocessadores de 8 bits, gestão digital dos sinais,
mas com sensores de captação analógicos.
Unidades como as referidas da LX Navigation, ou outras
da Cambridge, Zander, Westerboeder ou Peschges fize-
rem parte da oferta, colocando no mercado as primeiras
gerações de varióme-
tros eletromecânicos.
Em 2004, surge ainda
um outro aparelho, o
Flarm, destinado a ser um localizador e avisador anti coli-
são, que rapidamente se desenvolveu e possibilitou a sua
integração com outros instrumentos: Para além de disso,
introduziu a função de logger e hoje tem versões que são
igualmente recetoras de ADS-B.
Várias evoluções se seguiram até aos instrumentos
modernos, nos quais o primeiro marco surge com o apa-
recimento dos ecrãs policromáticos de grande luminosi-
dade. Em 2008 a LX Navigation lançou as 100 unidades
que produziu do LX 8000 (a partir de 2009 este aparelho
passou a ser produzido por outra companhia).
3. Os computadores de voo modernos
Não foi só nos ecrãs que se verificou a evolução. Todo o
hardware foi alterado e o software tornou-se substancial-
mente mais simples, intuitivo, fiável e abrangente.
Começando no que concerne aos referidos ecrãs, passá-
mos a ter dimensões que vão das 2.8” até às 7”. Para
além da sua luminosidade ser bastante superior ao que
encontramos num vulgar PDA ou PNA, a unidade é um
Na página da esquerda:
- Calculador tipo Reichmann
À esquerda:
- Logger LX20-2000
À direita:
- Zeus 2.8 instalado num ASW20 CL
Em baixo:
- Primeiras gerações de computadores de voo
34 TÉCNICA
verdadeiro computador, no qual o processador assegura
o controlo de todos os componentes embebidos e respeti-
vas funções, tal como o controlador gráfico, o cálculo e as
comunicações.
Os processadores têm agora 32 bits e as comunicações
são efetuadas através dum Bus tipo CAN, utlizado na
indústria automóvel e aeronáutica, para garantir a exis-
tência duma rede rápida e eficaz de comunicação entre
todos os componentes.
Os sensores são agora digitais, o que torna o sistema
robusto e fiável, mesmo com as variações de temperatu-
ra. As entradas de pressão nas unidades vão produzir
diretamente sinais digitais, dispensando amplificadores
ou conversores.
Os variómetros tornam-se mais sofisticados, incluindo
acelerómetros e giroscópios. Passa igualmente a existir
interface de voz.
O hardware sem dúvida que torna tudo mais eficaz. Mas
que podemos hoje esperar dum computador de voo
moderno?
Em primeiro lugar, modularidade. Não interessa voltar ao
tempo em que temos muitos instrumentos e outros apare-
lhos a que dar atenção. Interessa antes ter um único com-
putador a bordo, com funções complementares, o qual
reúne a informação de vários instrumentos, de forma a ter
o essencial numa só unidade.
Mas por sua vez também interessa que a modularidade
exista no próprio investimento. Ou seja: hoje compro Um
Zeus IGC, para o ano junto-lhe um Flarm e outro ano o
módulo de horizonte artificial. Assim, o sistema vai evo-
luindo à medida das necessidades e das possibilidades
do porta-moedas. Tal como se for voar noutro planador,
desligo o Colibri II e levo o meu próprio logger.
E o que se deve visualizar no ecrã? Para além do moving
map, ter sempre dados da nossa navegação para Turn-
point ou Task, mas poder ter igualmente anemómetro,
variómetro, sensor de flaps, de trem, freios aerodinâmi-
cos, ou poder controlar o rádio.
Vamos então abordar os modernos computadores de
voo, baseando-nos em duas unidades com filosofias dife-
rentes, mas complementares: o LZ Zeus e o LX Eos. Este
último vem agora de série no primeiro.
4. LX Zeus
Com um hardware de última geração, inclui dois micro-
processadores ARM Cortex e um ecrã que pode ser de
2.8”, 4.3”, 5.5” e 7”. Através das portas CAN e outras voca-
cionadas, vai ligar a outras unidades e periféricos, entra
as quais se destaca:
Flarm
Vário ou computador Eos (na versão IGC)
Possibilidade de incluir o Colibri II como logger de
backup e único componente que sai para a cali-
bração exigida pela regulamentação
Segunda unidade para bilugares (é um segundo
computador, não um repetidor)
Módulo de voz
Módulo de bússola
Módulo de horizonte artificial
Sensor de flaps
Dado que inclui o Eos, ligação através deste de
sensores múltiplos (trem, aerofreios, etc.)
Joystick no manche
Bluetooth no Eos
Destaca-se no Zeus a sua modula-
ridade. Conforme já referido, o sis-
tema pode ir ganhando os periféri-
cos à medida da necessidade, per-
mitindo um investimento inicial mais
moderado.
O interface é feito por botões de pressão e botões rotati-
vos multifunção. Comunica com o exterior através duma
porta USB, na qual se usa uma pen drive, a qual permite
carregar ficheiros, descarregar voos e fazer upgrade do
sistema. Programando uma tarefa no Zeus, a mesma
será automaticamente transferida para o Eos e o Colibri II.
Falemos agora no software, que corre em Linux, foi total-
mente desenvolvido pela equipa e apresenta as seguintes
características:
O interface é personalizável. Page Layout, outras
informações que aparecem, infoboxes, cores e
transparências são facilmente modificados con-
soante a preferência do utilizador
Navegar para ponto? É o mais simples. Selecionar
Turnpoint ou Aeroporto e escolher por lista
Vem com a cartografia de todo o mundo e opcio-
nalmente pode-se adquirir cartografia ICAO
Necessita mais informação sobre a pista? O forma-
to Cupx é suportado
Ao navegar pode também visualizar o corte do
Na página da esquerda:
- Zeus 5.5 instalado no painel de instrumentos
- LX Zeus: Três exemplos de personalização do Layout
Em cima, da esquerda para a direita:
- Cartografia ICAO opcional
- Formato CUPX
- Idem
- Modo PAN de seleção
Em baixo:
- Família de computadores de voo Zeus, juntamente
com o Colibri II, Flarm Mobile, comando de punho e
ecrã Flarm.
36 TÉCNICA
terreno até ao ponto selecionado
Quer uma lista de turnpoint ou aeroportos na vizi-
nhança? O botão Near dá acesso quase direto às
listas por proximidade. Se for um ponto no mapa, a
opção Pan permite descolar o cursor e selecioná-lo
Task? Para além de importar uma criada com o
formato Cup, permite a sua criação rápida na pró-
pria unidade. A sua edição mesmo ao longo do
voo está ao alcance, tal como um otimizador de
tarefas tipo AAT
O Flarm pode ser gerido a partir do Zeus
Qual o nosso cone de segurança? O mesmo pode
ser mostrado, tendo em conta a topografia local
O vento é calculando em linha reta e em volta
Claro está que um assistente térmico está presente
É possível ter em simultâneo 3 ficheiros de turnpoint
e 3 ficheiros de espaço aéreo
O espaço aéreo não só estará presente, como
serão personalizáveis os níveis e modos de visuali-
zação, bem como os respetivos alertas
Pilotos, polares e configurações de voo são grava-
das, bastando selecionar a pretendida no início do
voo.
Finalmente opções de estatísticas, otimização OLC,
barograma e histórico de térmicas estão igualmen-
te disponíveis.
Tenho um instalado no ASW20 CL, com a sensação de ter
um sistema completo e fácil.
5. LX Eos
O LX Zeus é assim uma das unidades mais completas e
versáteis do mercado. Mas muitos pilotos preferem um
sistema mais simples, muitas vezes até ligando um PDA a
um computador de voo com variómetro, GPS e logger IGC.
Sendo um PDA (hoje alargado ao universo dos PNA, E-
reader e dispositivos Android) uma opção de baixo custo,
é possível obter um conjunto de valor mais moderado. O
LX Eos, sendo que tem, em configuração stand-alone
menos funções que o Zeus, não deixa de ser um compu-
tador e variómetro extremamente avançado e fiável.
O LX Eos foi concebido para um funcionamento individual,
sem outros instrumentos adicionais, mas ao mesmo tem-
po tem porta para essa ligação. Ele tem um poderoso
variómetro, conjuga um GPS e logger IGC com certificação
para todos os voos, navegação básica, integração a
outros equipamentos, receção de vários sensores do pla-
nador e assistente térmico.
Com um hardware de última geração, inclui sensor de Gs,
giroscópios e acelerómetros 3D para além das tomadas
de pressão digitais, resultando num variómetro com aqui-
sição e resposta extremamente rápidos. Inclui portas de
comunicação com PDA, bus CAN com a respetiva porta
para comunicação com o Zeus ou outras unidades, porta
de PDA, porta Flarm, sensor de temperatura e porta para
coletor de sensores diversos como Speed Command,
freios, flaps ou trem.
O seu ecrã, embora de reduzida dimensão, é extrema-
mente brilhante. A unidade inclui leitor de cartões micro
SD, interface Bluetooth, módulo de voz e bateria interna,
tem 57mm de diâmetro e pode ser usado com o LX Zeus,
ou em stand-alone.
As sua funções, obtidas com o rodar ou pulsar dum único
botão, permitem as seguintes facilidades:
1. Variómetro, com compensação TE por sonda ou
eletrónica
2. Calculador de final glide
3. Navegação simples a Turnpoint ou Task. Selecionar
os mesmos ou criar e editar a tarefa é muito fácil e
intuitivo
4. Ligado a um Flarm pode ser o seu tráfico no ecrã
5. Tem modo gráfico de assistente térmico
6. Múltiplos alertas, desde os que provêm dos senso-
res ligados à respetiva porta, até à velocidade de
perda ou VNE
7. Suporta configuração de múltiplos pilotos
8. Disponível unidade repetidora para bilugares
9. Tem porta Bluetooth
10. Tem cálculo de vento em linha reta e em volta.
11. Inclui logbook, análise de voo e barograma
Tenho instalado um no Janus, com repetidor para bilugar
e as impressões, bem como a facilidade de manejo são
excelentes.
6. Os temas não ficam por aqui…
Tentei abordar neste artigo a mais recente tecnologia em
computadores de voo.
Outros temas seriam igualmente interessantes, tais como
a utilização dos PDA, PNA, E-readers ou outros dispositi-
vos Android como calculadores e moving map vocaciona-
dos para o voo à vela.
Tal como a localização eletrónica dos planadores em voo,
através dos trackers ou simplesmente por um telefone
com acesso 3G, permitindo o seu seguimento e localiza-
ção num mapa em tempo real.
Mas estes serão temas a desenvolver noutros artigos.
Bons voos a todos
Na página da esquerda:
- Otimização AAT numa tarefa
- Gestão do espaço aéreo
- LX Eos em modo de navegação em Task
- Eos em modo vario
À esquerda:
- Eos em ecrã Flarm
- Eos em modo de assistente térmico
À direita:
- Primeiros voos com o Eos, aqui em modo assis-
tente de térmica
38 TÉCNICA
A ntes de mergulhar de forma mais objetiva no
tema a que me proponho nesta edição do
magazine Planadouro, gostaria de partilhar
convosco a experiência do meu 1º voo solo em
planador.
É uma experiência que partilho com todos os meus alunos
de Piloto Comercial de Avião, mas que, confesso, me sinto
muito mais à vontade e motivado em partilhar com o
público-alvo desta já mítica revista: A comunidade de voo
à vela. Não só pela gratidão de tudo o que aprendi nos
meus primeiros passos no mundo da aviação, mas tam-
bém por estar certo de ser melhor, e mais abrangente-
mente, compreendido.
Já na fase final do voo, quando já estava no vento de
cauda da pista 34 da Maia, ouvi o reporte de um avião
que estava na final. Eu, que tinha tido um excelente Mes-
tre em Legislação Aérea, sabia que a prioridade era
minha. No entanto, fruto da inexperiência e insegurança
de um novato, preferi não “incomodar” os “Senhores dos
Aviões”.
Tendo avaliado visualmente a minha razão de planeio,
que me pareceu excelente, optei por não impor a minha
prioridade. Acontece que me “esqueci” que estava com
um vento de cauda razoavelmente forte. Surpresa das
surpresas, quando voltei para a final, a razão de planeio
já não era a mesma… Como um azar nunca vem só,
entrei numa zona de descendente orográfica tão típica de
um aeródromo implantado numa elevação do terreno,
quando estamos perante vento moderado e sensivelmen-
te alinhado com a pista. Começo a observar, incrédulo, o
planador a descer sem progredir significativamente no
terreno. Sinto suores frios… um aperto no estômago… os
batimentos cardíacos a dispararem… Então, ouço uma
voz na minha mente. Era a voz do meu instrutor: velocida-
de, velocidade, velocidade!
Contrariei os instintos mais básicos. Apesar de me estar a
sentir baixo, acentuei a descida, transformando a pouca
energia potencial que me restava em mais energia cinéti-
ca, por forma a passar pela descendente o mais rapida-
Velocímetro Por Pedro Cavadas Dias
mente possível. Levei o velhinho Blanik a uns estonteantes
150km/h, ficando assustadoramente baixo. Quando senti
ter livrado a zona descendente, transformei aquele exces-
so de velocidade em altura e… ufa… desta já me livrei! A
manobra resultou na perfeição. Acabei até por ficar ligei-
ramente alto na final curta, o que me levou a brindar os
presentes com uma belíssima glissagem, sem evitar, ain-
da assim, uma longa caminhada empurrando o planador
de volta à cabeceira da pista.
Como tão bem sabem, um dos principais desafios de
um Piloto de Planador é a gestão de energias
(potencial e cinética), seja no planeamento de um
circuito, seja no voo à vela propriamente dito. Trans-
formar aquele excesso de velocidade em altura após
a largada de cabo; converter potencial em cinética
para rapidamente atravessarmos uma descendente;
transformar velocidade em altura quando atingimos
ou cruzamos uma ascendente.
Por esta razão, uma vez que na última edição da Pla-
nadouro fui desafiado para falar do Altímetro, nesta
edição, não poderia falar de outro instrumento que
não o Velocímetro.
Velocímetro Na verdade, o nome em inglês é bem mais feliz: Air Speed
Indicator. Como veremos mais afrente, velocidades há
mais que muitas. A denominação ASI, torna muita mais
claro qual a velocidade fornecida: Indicated Airspeed.
Por esta razão, e porque as equações aerodinâmicas que
encontramos nos compêndios usam expressões e siglas
em inglês, também neste artigo encontrarão alguns angli-
cismoss bem intencionados.
A performance aerodinâmica de uma aeronave está dire-
tamente ligada à Equivalent Air Speed (EAS). Para um
determinado peso e fator de carga, a uma EAS correspon-
de um, e só um, ângulo de ataque, independentemente
da altitude e da temperatura. Podemos então dizer que a
EAS define a performance aerodinâmica do avião. De
facto, a 1G, para uma determinada massa, as EASs de
perda, melhor razão de planeio relativamente ao Ar, des-
colagem, etc. são imutáveis, independentemente da alti-
tude densidade.
Assumindo que o instrumento está bem calibrado e que
os erros de compressibilidade são negligenciáveis para
as velocidades típicas da aviação ligeira, podemos dizer
que a EAS é sensivelmente igual à IAS. Assim, é razoável,
na aviação ligeira, dizermos que a IAS define a perfor-
mance aerodinâmica da máquina.
Velocidade da aeronave, relativamente ao Ar Como já referido, o ASI indica uma velocidade do Ar muito
específica: IAS
No entanto, há mais três velocidades do Ar com relevân-
cia aeronáutica: CAS, EAS e TAS. Partindo da IAS, e fazen-
do a correção de determinados erros, chegamos às res-
tantes velocidades:
Mnemónica: I C E – T (Ice tea)
Indicated Air Speed (IAS)
Equivalent Air Speed (EAS)
Calibrated Air Speed (CAS)
True Air Speed (TAS)
± Erros de Instrumento: Erros de manufatura do ins-
trumento, descalibração, folgas, empenos, histerese,
etc.
± Erros de Posição: Erros resultantes de distúrbios do
fluxo aerodinâmico, junto das tomadas de pressão,
dependendo da velocidade, ângulo de ataque, confi-
guração e manobra.
- Erros de Compressibilidade: Negligenciáveis a velo-
cidades inferiores a 300 kts, em regime subsónico.
Acima destas velocidades, a compressibilidade do
fluxo aerodinâmico passa a ser significativa, tornando
o erro apreciável nas suas repercussões práticas.
± Erros de Densidade: Erros que ocorrem sempre que
estejamos a voar numa altitude densidade diferente
da standard ao nível médio das águas do mar.
Abreviaturas:
TP: Total Pressure
DP: Dynamic Pressure
TAS: True Air Speed
EAS: Equivalent Air Speed IAS: Indicated Air Speed ρ: Air density
ρMSL: Air density at Mean Sea Level
Fig. 1
40 TÉCNICA
Um pouco de matemática... A teoria de Aerodinâmica diz-nos que:
E ainda que:
Substituindo, na 1ª equação, a variável TAS resultante da
2ª equação, temos:
Assumindo que assumindo negligenciáveis erros instru-
mento, posição e compressibilidade, teremos
EAS = IAS, pelo que:
Resolvendo esta equação em ordem a IAS, temos:
Então…
Havendo esta relação bem definida entre IAS e DP, se
conseguirmos medir DP, conseguimos determinar a IAS.
Nasce assim o Air Speed Indicator, pelas mãos do enge-
nheiro francês Henri Pitot em 1732. O instrumento não é
mais do que um barómetro que mede DP e cujo ponteiro
indicador se move sobre uma escala de velocidade, atra-
vés de uma engrenagem não-linear.
Sistema Pitot-Estática
O ASI é um dos “Instrumentos de Pressão” que encontra-
mos no painel de instrumentos. Como o próprio nome
deixa adivinhar, o ASI usa pressões para determinar a
velocidade de numa aeronave relativamente ao Ar.
De facto, como já referido, a velocidade de um fluido tem
uma relação bem conhecida com a Dynamic Pressure
(DP).
Mas, o que é isso de Dynamic Pressure? Existe um paralelismo muito nítido entre a energia de um
planador e a energia do fluxo de um fluido. Da mesma
forma que uma aeronave em voo tem dois tipos de ener-
gia (cinética e potencial), também um fluido em movimen-
to tem:
Static Pressure (SP): Energia de estado (comparável à
energia potencial de uma aeronave
Dynamic Pressure (DP): Energia de movimento
(comparável à energia cinética de uma aeronave)
A SP é uma força por unidade de área, atuando em todas
as direções, a qual representa pressão atmosférica na
posição da aeronave. É, p. ex., a força que comprime o
corpo de um mergulhador à medida que vai descendo
em profundidade
A DP é uma força por unidade de área, que atua na dire-
ção do movimento do fluxo, resultante do choque das
moléculas do Ar contra uma superfície em repouso relati-
vo. É, p. ex., a força que sentimos quando colocamos a
mão fora da janela num veículo a velocidades elevadas.
Podemos então dizer que um fluido em movimento é
caracterizado por uma Total Pressure (TP), que resulta da
soma:
TP = SP + DP
A fonte de pressões que alimenta todos os Instrumentos
de Pressão é o Sistema Pitot-Estática.
Ver Fig.1
Ao contrário do que, infelizmente, vou ouvindo de alguns
alunos (com muita tristeza minha, até porque fui o docen-
te de “Instrumentos de voo” de todos eles), o velocímetro
não é alimentado unicamente pela sonda de Pitot, mas
também pela tomada estática (Fig 2).
Como referido anteriormente, se conseguirmos medir a
DP, conseguimos determinar uma IAS.
Uma vez que o Pitot apresenta TP, torna-se necessário
subtrair a SP, por forma a ter um instrumento sensível a
DP. Esta é a razão pela qual o velocímetro tem as duas
entradas: SP e TP.
O Instrumento
A SP é alimentada a todo o interior do instrumento. A TP
(DP+SP) é direcionada para o interior de uma cápsula
expansível. Uma vez que a SP está presente no exterior da
cápsula, vai anular a componente estática da TP contida
no interior da cápsula. É um sistema simples, mas eficien-
te, que resulta numa subtração mecânica de TP-SP, tor-
nando assim a cápsula sensível a DP (Fig. 3 e 4)
Tomada de estática
Bloqueio
Tubo de Pitot
Velocímetro Variómetro Altímetro
Fig. 2
Ao aumentarmos de velocidade numa dada altitude, a TP
vai aumentar, provocando uma extensão da cápsula. Os
movimentos da cápsula são então transmitidos ao indica-
dor de velocidade, através de uma engrenagem não
linear.
Curiosidade: O invólucro do velocímetro instalado em
aviões pressurizados terá que ser completamente hermé-
tico, por forma a que não haja passagem de pressão de
cabine para o interior do instrumento.
Bloqueios e fugas no sistema Pitot-Estática
Sendo a fonte dos Instrumentos de Pressão o sistema Pitot
-Estática, naturalmente que, qualquer bloqueamento nas
tomadas ou tubagens do sistema terá implicações nas
indicações destes instrumentos (Altímetro, velocímetro e
variómetro). Estes bloqueios podem ocorrer, entre outras
razões, devido a:
Formação de gelo externo nas tomadas de pressão;
Formação de gelo nas zonas baixas das tubagens,
que acontece quando há água nas tubagens a qual
congelará a temperaturas negativas;
Tubagens dobradas;
Insetos;
Esquecimento de retirar as coberturas das tomadas de
Pitot ou Estática!!!
Bloqueamento de Pitot
Se o bloqueamento ocorrer no sistema de Pitot, a TP ficará
imutável no interior da cápsula expansível do velocímetro.
Se o bloqueio acontecer durante o voo, o velocímetro irá
manter a velocidade que apresentava no momento em
que o sistema de Pitot ficou obstruído. É importante perce-
ber que, caso a fonte de estática esteja operacional, o
velocímetro irá comportar-se como se fosse um altímetro!
Se iniciarmos uma subida, a correspondente diminuição
da pressão atmosférica (estática), levará a uma expansão
da cápsula do instrumento, levando a uma falsa indica-
ção de aumento de velocidade e vice-versa.
Como identificar? Se, na corrida de descolagem, o velocí-
metro se mantiver teimosamente a zero, devemos suspei-
tar de um bloqueamento de Pitot, o que é uma excelente
razão para abortar a descolagem, fazendo uma largada
de cabo no caso de planadores em reboque. Esta é a
principal razão daquele “call out” tão conhecido: “Speed
Alive”.
Se em voo, a velocidade se mantiver constante durante
um período razoável de tempo, não fiquem deslumbra-
dos com a vossa excecional técnica de pilotagem tão
típica dos pilotos de planadores! Suspeitem, isso sim, de
um bloqueamento de Pitot. Por forma a dissipar a dúvida,
podemos passar para uma atitude de mais nariz em bai-
xo. Se a velocidade aumentar, afinal era o Piloto que era
mesmo fantástico. Se pelo contrário, se mantiver no mes-
mo valor, devemos suspeitar de um bloqueio de Pitot ou
de uma prisão no ponteiro de indicação. Se a aeronave
estiver equipada com uma fonte alternativa de PT, devere-
mos aciona-la. Caso contrário, teremos que desconside-
rar por completo o ASI e voar por atitude. É importante não
esquecer que, se a estática se mantiver operacional, o
velocímetro mostrará uma falsa indicação de diminuição
de velocidade durante a descida, uma vez que se com-
portará como se de um altímetro se tratasse. Não se
assustem, continuem a voar por atitude. Arranjar uma
forma de tapar o instrumento é uma boa forma de evitar a
tendência natural de olhar para o velocímetro, o que
poderá levar confusões momentâneas perigosas.
Fuga de Pitot
Se houver uma fuga na tubagem de Pitot, a pressão no
interior da cápsula será inferior à TP real. Por esta razão, a
cápsula estará mais contraída, pelo que teremos um
under read na indicação de velocidade. Se, em voo, nos
apercebemos de uma velocidade indicada inferior à velo-
cidade espectável para aquela atitude, devemos suspeitar
de uma fuga no sistema de Pitot. A partir deste momento,
é um bom procedimento desconsiderar o velocímetro e
voar por atitude. Este under read será tanto maior, quanto
mais extensa for a fuga. Se houver uma rutura, o velocí-
metro indicará zero.
Ar da Estática
Ar do Pitot
Fig. 3 Fig. 4
42 TÉCNICA
Bloqueio de Estática
Uma vez que o velocímetro também é alimentado pela
fonte de estática, caso esta fique bloqueada, teremos
erros na indicação de velocidade.
Com o bloqueamento da fonte de estática, o interior do
instrumento irá manter a SP que tinha no momento do
bloqueio. Se a aeronave iniciar uma descida, a pressão
atmosférica irá aumentar. Uma vez que o interior do ins-
trumento mantém uma pressão correspondente a uma
altitude mais elevada, o instrumento irá fazer um over
read (e vive versa).
Como identificar? Se a altitude indicada se mantiver cons-
tante e o variómetro normal se mantiver teimosamente a
zero durante um período razoável de tempo, dificilmente
será porque encontramos uma térmica com uma intensi-
dade exatamente igual à razão de descida do planador.
Por forma a despistar um eventual bloqueio no sistema de
estática, podemos colocar a aeronave numa atitude de
mais nariz em baixo. Se não houver uma diminuição de
altitude, teremos todas as razões para suspeitar de um
bloqueamento de estática.
Caso a aeronave esteja equipada com um sistema alter-
nativo de estática, deveremos aciona-la. Caso contrário,
podemos ainda parir o vidro, ou arrancar a tubagem de
estática, do instrumento que tenha SP no seu interior e
que menos falta faça para o restante voo. O variómetro é
uma boa solução. Assim, estaremos a fornecer pressão
de cabine (muito idêntica à atmosférica), a todo o sistema
de estática.
Vendo goradas estas tentativas de resolução do proble-
ma, devemos ter em atenção os erros de indicação. Natu-
ralmente que, se tivermos um bloqueio de estática em
voo, não teremos disponibilidade mental para visualizar o
funcionamento do instrumento e perceber se o instrumen-
to está em over read ou under read. Até porque o mais
provável é que, se a estática bloqueou, talvez tenhamos
uma série de outros problemas que nos consumirão os
nossos recursos mentais (formação de gelo, perda de
altímetro e variómetro, etc.). Uma forma de “decorar” que
eu costumo aconselhar aos meus alunos é:
“Um bloqueamento de estática é algo de muito perigoso”,
levando a que o velocímetro faça um:
- Under read a altitudes acima da altitude de bloqueio,
fase do voo onde provavelmente usaremos velocidades
mais elevadas, correndo o risco de exceder velocidades
limites superiores, tais como VA, VFE, VNO, VNE, etc.
- Over read a altitudes abaixo da altitude de bloqueio,
fase do voo em que necessitaremos de velocidades mais
baixas, nomeadamente para a aterragem.
Na realidade, não é assim tão perigoso como isso. É ape-
nas um truque para memorizar os efeitos. Basta-nos des-
considerar o velocímetro e voar por atitude, sem esquecer
que também o altímetro e variómetro estão afetados.
Se o bloqueamento da estática ocorrer no chão, antes do
voo (esquecimento de retirar a cobertura de estática, p.
ex.), o problema torna-se ainda mais simples. Durante a
perna de descolagem, se nos apercebermos que o altí-
metro não indica um ganho de altitude e o variómetro se
mantém a zero, o piloto deverá, com toda a calma do
mundo, terminar o voo aterrando logo que possível. Uma
vez que o bloqueio se deu na altitude do aeródromo, a
pressão que está à volta da cápsula será a pressão do
aeródromo, pelo que velocidades normais de aproxima-
ção e aterragem serviriam bem o propósito. No entanto,
prevendo que o sistema de estática possa eventualmente
ter uma pressão correspondente a um dia com um QNH
significativamente diferente, ou qualquer outra diferença
desta situação académica, o piloto deverá voar por atitu-
de.
Nota: Se eu tivesse que escolher uma máxima na aviação
seria: Voar por Atitude. Só neste artigo, já a usei por diver-
sas vezes. Enquanto instrutor de voo, já o disse segura-
mente alguns milhares de vezes. De facto, sempre que
posso, faço por enfatizar aquilo que considero ser o mais
importante no voo: Voar por atitude/potência. Infelizmen-
te, apesar de todos os pilotos o saberem em teoria, nem
todos têm este conceito devidamente interiorizado. Muitas
vezes, principalmente em situações de stress, fica apenas
na componente cognitiva, não dando o pequeno grande
paço para o automatismo reativo. Seja na aviação de
lazer ou profissional, esta falha tem levado a inúmeras
vidas perdidas. Conhecer bem os settings de potência,
posição do compensador e atitudes de voo para as dife-
rentes velocidades, configurações e perfil de voo são de
uma ajuda inestimável.
Mostradores Apesar de ter a noção de me estar à alongar (perdoem-
me os leitores), não poderia terminar sem falar da repre-
sentação gráfica de indicação do velocímetro.
Pese embora, na esmagadora maioria das aeronaves, a
indicação seja apresentada em nós (milhas náuticas por
hora), poderá ser apresentada noutras unidades de medi-
da de velocidade, tais como mph (milhas terrestres por
hora) ou Km/h (esta última tão usual no voo à vela). (Fig.5)
Os velocímetros (pelo menos os mais recentes) têm um
código de cores universal que alertam o piloto para algu-
mas velocidades importantes.
O mostrador apresenta três arcos de gamas de velocida-
des. O início de cada arco representa uma velocidade
mínima, enquanto o fim do arco representa uma velocida-
de máxima:
Arco Branco: Velocidade de operação de flaps (de VS0 a
VFE)
Arco Verde: Arco de operação normal (de VS1 a VNO)
Arco Amarelo: Arco de cautela (de VNO a VNE)
VS0 - Stall Speed in Landing configuration (1G) - Velocidade
de perda em configuração de aterragem
VS1 - Stall Speed in clean configuration (1G) - Velocidade de
perda em configuração limpa (flaps, slats, trém, Spoilers,
freios aerodinâmicos, etc)
VMCA – Minimum control Speed in the Air.(aplicável a
bimotores). Velocidade de voo mínima em que aeronave
ainda é controlável caso falhe o motor crítico.
VYSE – Best Rate of Climb in Single Engine flight (aplicável a
bimotores). Velocidade de melhor razão de subida, caso
falhe o motor crítico.
VFE – Flaps Extended Maximum Speed – Velocidade máxi-
ma com Flaps extendidos para cada setting de Flaps.
VNO – Maximum Normal Operating Speed – Velocidade a
não exceder, exceto em condições atmosféricas sem tur-
bulência, e com muita suavidade e cautela na atuação
dos comandos, uma vez que estamos acima da VA
VNE – Never Exced Speed - Velocidade a não exceder em
qualquer circunstância.
O construtor, tem o cuidado de ser conservador na mar-
cação das velocidades, assumindo sempre a situação
mais crítica. A título exemplificativo, as velocidades de
perda são as mais elevadas possíveis de acontecer, ou
seja, com o peso máximo e CG no limite da frente. Se o
aviador estiver a contar com uma determinada velocidade
de perda, estará dentro da segurança se a perda ocorrer
a uma velocidade inferior. No entanto, por imprevisibilida-
de, estas velocidades são a 1G. Se aumentarmos o fator
de carga (numa volta apertada ou na recuperação de
uma atitude de nariz em baixo, por exemplo) naturalmen-
te que a perda ocorrerá a uma velocidade superior.
Em jeito de resumo de toda esta teoria de velocímetros:
Voem sempre por atitude! Mesmo que os instrumentos
falhem, tudo correrá bem.
Bons Voos!
Fig. 5
P rosseguindo com a rubrica “Planadores de Esco-
la em Portugal”, eis-nos na década de 90, onde
se destacam particularmente dois modelos, o
ASK 21 e o Blanik L-23, os planadores escolhidos
pelos militares para as suas atividades de voo à vela.
Os planadores da Força Aérea ASK 21
Quando o fabricante de planadores alemão Alexander
Schleicher (AS), reconheceu que era necessário fabricar
um modelo de treino bilugar para substituir o “reinante”
ASK 13, a primeira sugestão de Rudolf Kaiser, o projetista,
foi para uma estrutura tubular em aço, a fuselagem
coberta com tela, e os assentos em “tandem”, sendo ape-
nas a carenagem do nariz em fibra de vidro. As asas e a
cauda, seriam também em fibra.
Por esta altura, a fábrica AS começava a ser moderniza-
da, para produzir planadores em fibra, e uma produção
simultânea de planadores em fibra e de estrutura mista
(metálica + fibra), não seria facilmente acomodada. Tam-
bém nesta altura, se começa a perceber, que não é ver-
dade afirmar, que uma estrutura tubular em aço, é mais
barata e mais fácil de construir, que uma em fibra.
Em consequência, quando o ASK 21 saiu do estirador, era
um planador completamente moldado em fibra, tal como
os outros planadores de treino, fabricados pelas outras
marcas. Para Kaiser, foi uma estreia no domínio da fibra
de vidro, mas depressa se percebeu, que ele estava bem
Planadores de escola em Portugal Por Jorge Lima Guedes Diagramas 3V por P. Castanheira
44 HISTÓRIA VV
J. Corredeira
preparado para lidar com esta tecnologia, e criar plana-
dores neste novo material.
Muitos especialistas, foram de opinião, quando tiveram
oportunidade de o testar, que se estava perante um
modelo cuja conceção tinha nota de excelente. A amplitu-
de de visão do habitáculo era boa de ambos os assentos,
e o planador era fácil de pilotar, sem vícios. No entanto,
alguns reparos foram feitos, nomeadamente ao habitácu-
lo, que seria apertado para pilotos altos.
Em Portugal, a atividade aérea na Academia da Força
Aérea (AFA), foi iniciada na década de 80, com a prática
de voo a ser garantida por motoplanadores “Fournier
RF10”. Com o passar do tempo, a atividade excedeu todas
as expectativas, quer pelo interesse dos alunos, quer no
progresso do ensino das técnicas de pilotagem sem
motor. Houve então necessidade de evoluir nesta modali-
dade de voo, e no ano de 1987, a Força Aérea adquiriu
quatro planadores ASK 21, recebidos em Sintra dois anos
depois, para treino dos alunos pilotos.
No final da primeira década do presente século, um pro-
tocolo de colaboração entre o Aero Clube de Portugal e a
FA, coroando uma longa e profícua tradição de escola de
voo à vela na base de Sintra, permitiu a operação dos
ASK 21, num programa de formação e treino conjunto.
BLANIK L-23, SUPER BLANIK - A evolução do Blanik
Depois do sucesso que foi para as escolas de pilotagem o
Blanik L-13, e após 25 anos de produção deste modelo, o
fabricante LET, decidiu produzir uma nova versão deste
planador em 1984.
O modelo original, o L-13, foi um planador de alta perfor-
mance, com capacidade acrobática, e muitos recordes de
distância, altitude, e velocidade no seu palmarés. No
entanto, ultimamente, a sua utilização era quase inteira-
mente dedicada á instrução.
A procura por esta classe de planadores bilugares conti-
nua, em particular, porque existe o sentimento de que a
nova geração de planadores de instrução em fibra de
vidro, não é a ideal para os primeiros voos de treino. Sen-
do estes considerados muito bons, aerodinamicamente
“limpos”, um pouco pesados, e por esta razão, com ten-
dência a ganhar velocidade muito rapidamente, se o alu-
no for algo desajeitado.
Com base na experiência adquirida com o L-13, a LET no L
-23, aposta numa simplificação global da estrutura, e em
outros melhoramentos, como por exemplo a cauda em
“T”, sendo o estabilizador horizontal, montado sobre uma
deriva vertical com ligeira flecha positiva, em vez do ante-
rior estabilizador, composto por duas partes e com diedro.
O habitáculo foi também modificado, com o objetivo de
melhorar a amplitude de visão do lugar traseiro, e conferir
-lhe mais espaço. A canopy traseira, passou a ser supor-
tada por uma estrutura deslizante, articulada, para poder
ser aberta para cima e para trás de modo a facilitar o
acesso. A canopy do cockpit dianteiro, é articulada do
lado direito.
Para um piloto leve poder voar a solo, este modelo, podia
vir com um assento especial incorporando lastro.
Outro melhoramento importante foi a fadiga metálica. Este
novo planador vê a sua vida útil aumentada para 6000
horas, em vez das 3000 do L-13.
No L-23 foram mantidas as características que deram
Na pág. da esquerda: - Cadetes da AFA dando apoio aos planadores em pista,
na primeira edição do encontro Red Burros Térmicas - “Patch” da Esquadra 802 - Águias, AFA À direita: - Trabalho de equipa na montagem do ASK– 21 na placa
do aeródromo de Mogadouro - Piloto de Blanik L-23 aguardando a conexão do cabo de
reboque - Blanik L-23 no extremo da pista 03 do aeródromo de
Mogadouro
J. Corredeira
J. Corredeira
P. J. Ferreira
modelo, para aqueles que pretendiam melhorar a sua
performance, era possível montar extensões nas extremi-
dades das asas, que aumentavam a envergadura de 16,2
para 18,2 metros.
Fácil de pilotar, estável, e adaptado ao treino de mano-
bras como o “spin” e recuperação de “spin”, não podendo
o mesmo ser afirmado sobre alguns dos novos planado-
res em fibra.
Entretanto, após um estudo comparativo entre modelos
de diversos fabricantes, e dado o crescente número de
alunos piloto, a Força Aérea Portuguesa decide aumentar
46 HISTÓRIA VV
a frota de planadores, e assim, em 16 de Março de 1996,
é recebido o primeiro Super Blanik, sendo os outros dois
recebidos a 29 de Março.
Estes planadores foram entregues ao Centro de Voo do
Departamento de Atividades Aéreas da AFA e incluídos na
esquadra 802 “Águias”. A sua utilização é para a inicia-
ção do voo á vela, na realização de circuitos entre a larga-
da de reboque e a aterragem. Possuem equipamento e
instrumentação completa em ambos os habitáculos. São
pintados em branco, com as pontas das asas e leme
vertical em vermelho fluorescente.
provas no L13, como sejam as asas com flecha negativa,
os freios aerodinâmicos, e o trem de aterragem semi
retráctil. O patim traseiro foi substituído por uma roda de
cauda comandada. As extremidades originais das asas,
em forma de torpedo, intencionalmente montadas para
reduzir o “vortex” e arrasto das extremidades, e que para
isto provavelmente pouco contribuíram, mas foram de
grande utilidade para evitar o contacto dos ailerons com
o solo. No L-23, as extremidades das asas, produzidas
em fibra de vidro, foram simplificadas e voltadas para
baixo, para conferir idêntica proteção aos ailerons. Neste
ESCOLA 47
Novo desafio
Por Pedro Mesquita, Diretor de Escola do CIVVM
O Sr. Presidente do Município de Mogadouro,
Accountable Manager da escola, e os restan-
tes instrutores desafiaram-me a assumir a
direção da escola de voo à vela do CIVVM.
Decidi aceitar essa missão.
O mandato anterior chegou ao fim (sim, já passaram 3
anos!!!) e eu... sabem todos a paixão que tenho pelo voo
à vela, principalmente pelo voo à vela em Mogadouro. O
nosso projeto de Mogadouro é a minha segunda casa.
Tenho consciência que não me espera tarefa fácil. Os
desafios que vivemos em Mogadouro, em particular, e
nas restantes comunidades de voo à vela do país na glo-
balidade, são enormes. Eis alguns dos que considero
mais prementes: As alterações recentes que transforma-
ram o INAC em ANAC, o revés que temos assistido por
parte da EASA quanto à exigência de ATOs para peque-
nas entidades como nós, o vazio legal em que esta situa-
ção deixa os novos projetos como o nosso, a necessidade
de aprovação de novos cursos, protocolos de cooperação
que tem vindo a ser alinhavados, a necessidade que sen-
timos de um novo planador bilugar de modo a aumentar
a atividade, a necessidade de aumentar o numero de
entusiastas e visitantes de Mogadouro...
Ao mesmo tempo tenho convicção profunda de que uma
Escola de Voo à Vela é um espaço com um potencial par-
ticularmente amplo para se limitar às suas atividades
curriculares. Ao cumprimento dos seus sylabus. Só com
um plano de desenvolvimento e alargamento das ativida-
des extra curriculares conseguiremos criar na nossa esco-
la um verdadeiro espirito e cultura aeronáuticos.
Desejo assim que a Escola do CIVVVM seja muito mais do
que uma mera organização de formação de pilotos. Num
centro de voo à vela, uma escola deve ser, em si, o pilar
de toda a atividade. Da promoção da atividade, captação
e e receção de novos adeptos da modalidade, ao patrocí-
nio e intervenção nos grandes assuntos do voo à vela
como por exemplo a segurança, a escola deve estar sem-
pre presente e ter um papel ativo.
Porque a paixão que nos une é a mesma. Porque somos
todos apaixonados pelo voo sem motor. Porque todos já
provamos o encanto de voar à vela nos céus do planalto
transmontano. Conto com todos para me ajudar nesta
tarefa, e digo a todos que podem contar comigo para
juntos fazermos sempre melhor, para juntos irmos sem-
pre mais longe.
Bons Voos. Sempre em segurança, claro.
48 ESCOLA
4 LARGADAS 4 EXAMES 3 LICENÇAS 1 QUALIFICAÇÃO Por Pedro Castanheira
M érito da escola, dos instrutores, do pilotos
rebocadores, do CIVVM em geral e do Muni-
cípio de Mogadouro que mantém o seu
apoio ao projeto, mas, sobretudo mérito dos
alunos que, jornada após jornada, instrução teórica e
instrução prática, se focaram no objetivo de se formarem
como pilotos de planador. A constância, a determinação e
a garra evidenciadas na aquisição de conhecimentos e
no aperfeiçoamento das práticas, aliadas ao empenho e
entrega às tarefas que garantem o funcionamento do
centro de voo à vela, bem assim como o orgulho que
evidenciaram em vestir a camisola do CIVVM, levaram os
instrutores a “conceder-lhes a honra” de adotarem a mís-
tica da Águia, essa nobre ave planadora com a qual par-
tilhamos o céu da região de Mogadouro, como símbolo
do seu curso.
Os momentos do primeiro voo solo, a “largada”, e do exa-
me final são os pontos mais marcantes da formação. Na
hora de os enfrentar sobressai o trabalho feito. Aí, há que
Os astros alinharam-se de tal forma
que, na Primavera de 2015, quatro alu-
nos da escola do CIVVM, concluíram os
seus cursos. Atingiu-se assim, com
sucesso, a fase final do primeiro curso
de pilotos de planador, iniciado após a
reestruturação da escola, ocorrida em
2012/13.
Fig. 1
testar os alunos e examinados, observar e avaliar o seu
desempenho. Tal papel tem que ser desempenhado por
alguém com uma larga experiência, um instrutor sénior e
um examinador. A credibilidade da formação é garantida
por uma supervisão externa à escola, capaz de um juízo
rigoroso e de uma aplicação serena da autoridade. Cou-
be ao Comandante Sá Correia o desempenho desses
papéis, desempenho inexcedível que cimenta a sua inter-
venção como uma das mais decisivas na defesa e no
progresso do voo à vela em Portugal na atualidade.
Quatro dos “Águias” são agora
pilotos de planador e membros
empenhados da equipa do CIVVM
A formação de pilotos não pode ser apenas um processo
burocrático de transmissão de conhecimentos e compe-
tências. Pilotar é uma arte muito jovem na História da
Humanidade, que exige coragem e, sobretudo, humilda-
de. Cem anos de cultura aeronáutica permitiram, benefi-
ciando do desenvolvimento científico e tecnológico geral
que se deu no séc. XX e neste início do séc. XXI, realizar
progressos espantosos no domínio da eficiência e da
segurança voo. Por um lado as máquinas nas quais voa-
mos beneficiaram de saltos tecnológicos dificilmente ima-
gináveis pelas gerações do passado. No outro lado da
questão está na constante evolução da qualidade da
formação dada aos novos pilotos, como uma autêntica
decantação dos melhores saberes, procedimentos, e
valores da pessoa humana. É este o papel decisivo de
uma escola de pilotos - Fazer passar a riqueza da expe-
riência e da cultura aeronáuticas aos seus alunos. Aliar o
melhor conhecimento existente às capacidades, particula-
ridades, diria até, ao génio dos novos alunos piloto.
No contexto atual do voo à vela em Portugal, tal formação
exige planeamento, meios, sacrifício, mas também de um
elemento basilar que é o tempo. Tem que haver tempo
para aprender, para consolidar, para aperfeiçoar e para
partilhar as experiências.
É isso que uma escola, integrada num centro de voo à
vela, proporciona a todos, alunos, instrutores e pilotos:
Um contexto social vivo e rico, focado na qualidade e na
segurança do voo.
Atingidos os objetivos, os quatro “Águias” não deixaram
de passar pelas bárbaras praxes e “iniciações” reserva-
das aos novíssimos pilotos, que constam de uma sub-
cultura aeronáutica que a uniformização europeia ainda
não conseguiu extinguir.
Parabéns aos quatro Águias:
Cláudio Figueiredo
Gabriel Perez Hernandez
Jorge Lima Guedes
José Carlos Fonseca
www.vooavela.mogadouro.pt
Da esquerda para a direita: - Os quatro “Águias” alinhados,
tomando um duche frio, depois do primeiro voo solo.
Imagem de P. Castanheira - Jorge Lima Guedes assistindo
Gabriel Perez que se instala no cockpit do TWIN.
Imagem de P. Mesquita - Cláudio Figueiredo assiste José
Carlos Fonseca que se prepara para mais um voo de instrução.
Imagem de P. Ferreira
50 NÃO TENHO NADA MAIS SENÃO AS ASAS...
Milhafre-real Por Paulo Cabral
Distribuição:
Global: Prefere zonas e mediterrâneas mas marginal-
mente pode ocorrer na zona boreal e de estepe, e em
ilhas oceânicas em concentrações dispersas sugerindo
reincidência. Espécie cuja área de distribuição se encontra
atualmente confinada ao Paleártico Ocidental. Na Europa
compreende a Alemanha, Áustria, Bélgica, Bielorrússia,
Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, França, Holan-
da, Hungria, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Moldá-
via, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Rús-
sia, Suécia, Suíça e Ucrânia.
As populações da Europa Setentrional e Central são
essencialmente migradoras, invernando ao longo da
bacia mediterrânica, enquanto as populações meridionais
são residentes ou dispersivas. A invernada da espécie na
Península Ibérica pode considerar-se relativamente
importante. Segundo diversos autores, a maior parte dos
milhafres-reais que invernam na Península serão originá-
V oar lado a lado na companhia das aves plana-
doras dá-nos a sensação efémera de fazermos
parte do seu Reino. Contudo, para que tal conti-
nue a acontecer temos que conhecer melhor a
sua natureza e que estar conscientes que existem alguns
perigos potenciais, para a minimização dos quais pode-
mos contribuir pela nossa intervenção cívica. Proponho assim nesta terceira edição deste artigo “Não
tenho nada mais senão as asas” que conheçamos um
pouco melhor uma das espécies de aves planadoras
mais frequentes em Mogadouro – o Milhafre-real.
Nome científico:
Milvus milvus
Dimensões:
58-64 cm (comp.), 160 cm (envergadura)
Fenologia:
Residente e parcialmente migratório (invernante)
Fig. 1
rios da Europa Central, particularmente da Alemanha.
Nacional: Em Portugal é pouco abundante e a sua popu-
lação nidificante distribui-se ao longo da faixa fronteiriça
oriental, distritos de Bragança, Guarda, Castelo Branco,
Portalegre, Évora e Beja. A população invernante ocorre
nessas mesmas áreas mas também de uma forma dis-
persa por todo o sul do país.
Tendência Populacional:
A população de milhafre-real tem vindo sistematicamente
a decrescer desde meados do século XX, altura em que
era comum e, em vários locais, seria mesmo mais comum
que o seu congénere milhafre-preto. Esse declínio é já
mencionados a partir de 1960, e sobretudo depois de 65,
com um “enorme declínio” do milhafre-real em resultado
do aumento do uso de pesticidas e da perseguição movi-
da por caçadores e pastores. A informação proveniente
dos dois atlas nacionais juntamente com os dados dos
censos efetuados em 2001 e 2002, indica que ocorreu
uma redução substancial da área de distribuição da
população nidificante pelo desaparecimento ou rarefação
da espécie da metade atlântica e região centro do territó-
rio nacional. Em termos de efetivo a escassez de informa-
ção não permite estimar a escala da rarefação durante
esse período, sendo de supor que nas áreas onde outrora
era comum Nordeste Transmontano, Beiras e Alentejo) o
declínio tenha sido elevado à semelhança das regiões
vizinhas de Espanha.
Em termos de população invernante é de supor que o
efetivo se tenha mantido constante durante os últimos 10
anos devido à estabilidade das populações nidificantes
no norte e centro da Europa, sendo a espécie observada
com alguma regularidade nos tradicionais quartéis de
invernada.
Abundância:
Em termos populacionais o Iº censo nacional da espécie,
promovido pelo ICN em 2001 permitiu contabilizar a popu-
lação nacional em 50 a 100 casais nidificantes.
Requisitos ecológicos:
Habitat: O Milhano-real está associado a zonas de relevo
suave (planaltos, planícies, baixa montanha) com voca-
ção/utilização agro-silvo-pastoril. Em Portugal essa paisa-
gem corresponde essencialmente a áreas de aproveita-
mento cerealífero com criação de ovinos e bovinos em
regime extensivo e presença de maciços arbóreos disper-
sos, de espécies do género Quercus, Fraxinus e Pinus.
Trata-se de uma ave de rapina florestal, que nidifica em
árvores, geralmente de grande porte, integradas em
pequenos maciços ou mesmo isoladas, como bosques
ribeirinhos, lameiros, pinhais, montados de sobro e azi-
nho. O método de prospeção de alimento baseado em
voos de baixa altitude permite-lhe obter alimento em ter-
renos abertos, como campos agrícolas e pastagens per-
manentes, mas também nas imediações de explorações
agropecuárias, povoações, estradas e lixeiras.
Durante a nidificação, o macho dorme de noite nas ime-
diações do ninho, como a fêmea após as crias deixarem
o ninho. Por vezes dormem em ninhos de rapinas durante
o Inverno. Os grupos de indivíduos não reprodutores ou
durante o Inverno forma por vezes bandos em dormitórios
localizados em árvores.
Alimentação: A dieta reflete a sua aptidão simultanea-
mente como predador e como necrófago, dividindo-se
entre os animais silvestres de pequeno porte
(micromamíferos, aves, peixes e invertebrados), os cadá-
veres de animais (principalmente domésticos e silvestres
vítimas de doença ou atropelamento) e os restos e des-
perdícios urbanos.
Reprodução: Espécie monogâmica. Provavelmente o casal
mantém-se constituído durante todo o Inverno. Cada
casal ocupa em geral um território mas em zonas de ele-
vada disponibilidade trófica pode formar colónias desa-
gregadas. Os ninhos são feitos em bifurcações nas árvo-
res, a 7-15m acima do solo, usualmente a 1km de distân-
Fig. 2
espécie em diversos pontos da sua área de distribuição;
A redução da disponibilidade alimentar devido ao cumpri-
mento das exigências higieno-sanitárias, nomeadamente
a obrigação de enterrar os cadáveres dos animais de
criação e também devido ao encerramento/selagem de
lixeiras a céu aberto onde as aves buscavam alimento;
O corte de maciços florestais ou de árvores isoladas de
grande porte (lameiros, carvalhais, azinhais, pinhais) para
produção de madeira e lenha;
O abandono da agricultura tradicional e consequente
perda do mosaico agro-florestal.
A instalação de parques eólicos em corredores importan-
tes para a migração e dispersão de aves pode constituir
uma importante fator de mortalidade da espécie através
da colisão nas pás dos aerogeradores. A instalação de
parques eólicos nas proximidades dos locais de nidifica-
ção da espécie está considerada como uma ameaça
importante devido à perturbação provocada quer durante
a fase de construção (ao nível da abertura de acessos e
colocação de infraestruturas), quer durante a fase de
exploração, dada a possibilidade de aumento da presen-
ça humana associada à abertura de acessos.
Essas unidades de produção de energia elétrica, depen-
dendo da tipologia e localização dos aerogeradores
podem ainda, durante a fase de exploração, constituir
uma causa de mortalidade desta espécie devido à colisão
nas pás dos aerogeradores. Em especial, se estes forem
instalados nas zonas importantes em termos de nidifica-
ção e dispersão de juvenis, ou ainda nas zonas de ali-
mentação situadas nas cumeadas das serras. Os traça-
dos elétricos que estão associados aos parques eólicos
constituem outro problema importante devido aos subse-
quentes riscos de colisão e eletrocussão.
A competição com outras rapinas florestais;
Objetivos de Conservação:
Assegurar o incremento e manutenção, a longo prazo, do
efetivo nidificante e invernante de Milhafre-real no territó-
rio nacional. Melhorar as condições de habitat.
52 NÃO TENHO NADA MAIS SENÃO AS ASAS...
cia uns dos outros. Ocupa ninhos de outras aves de rapi-
na florestais e também reutiliza ninhos de anos anteriores.
O processo nidificante inicia-se em Março com a ocupa-
ção de um ninho, entre vários alternativos, ocorrendo a
postura durante Abril (1-3 ovos). A incubação dura 31 a 32
dias e a criação dos juvenis no ninho aproximadamente
50 dias. Ambos os progenitores cuidam das crias. Crias
nidícolas. Os juvenis (em geral 2) dependem dos progeni-
tores durante as primeiras semanas após saída do ninho.
O processo de nidificação está mal conhecido no nosso
país, sabendo-se que na região de Trás-os-Montes se
inicia em meados de Abril e finaliza em princípios de
Julho.
Ameaças:
O abate a tiro por caçadores/proprietários de explorações
agropecuárias. O abate direto através do uso de armas
de caça constitui, com base nos dados recolhidos no país,
a principal causa de mortalidade da espécie, afetando
tanto a população sedentária como a invernante;
O uso de veneno. Os hábitos necrófagos desta ave e a
capacidade deteção de pequenos cadáveres ou dos seus
restos, fazem com que seja bastante vulnerável ao uso de
veneno nas campanhas ilegais para controlo de predado-
res;
A eletrocussão em linhas elétricas de média tensão (15 KV
e 30 KV). O Milhano-real deverá ser uma das aves de
rapina mais afetadas por esta ameaça, uma vez que as
zonas de prospeção alimentar correspondem a áreas
rurais onde a rede de distribuição de energia elétrica está
bem representada e constitui uma estrutura atrativa como
poiso de caça e dormitório;
A ingestão de pequenos animais vítimas de pesticidas,
nomeadamente os raticidas utilizados no combate a pra-
gas agrícolas de Microtus sp. e também no controlo de
Rattus sp. nas lixeiras, tem provocado mortalidade nesta
Fig. 3
Orientações de gestão:
- Ampliar as sanções legais para os prevaricadores em
matéria de perseguição/abate de espécies protegidas ;
Aumentar eficácia dos meios e dos esforços de fiscaliza-
ção em zonas rurais;
- Compatibilizar a gestão cinegética com a conservação
de aves de rapina, em zonas de caça através do estabe-
lecimento de protocolos e implementação de manuais de
gestão ambiental;
- Assegurar proteção e vigilância aos dormitórios impor-
tantes da espécie, nomeadamente condicionando os
acessos;
- Realizar uma campanha nacional de sensibilização e
educação ambiental da população rural relativamente às
aves de rapina;
- Estabelecer ferramentas de decisão legal acerca da
instalação de traçados elétricos nas áreas importantes
para a espécie;
- Alterar as características técnicas da rede de linhas de
média tensão em zonas importantes para a espécie,
nomeadamente proceder à sinalização e correção de
apoios e traçados problemáticos;
- Implementar um programa nacional de erradicação do
uso de venenos;
- Estabelecer sistemas eficazes de vigilância de áreas
problemáticas e de deteção e penalização de casos de
uso de venenos para controlo de predadores;
- Regular o uso de pesticidas e adotar técnicas de controlo
alternativas, como por exemplo utilizar substâncias mais
facilmente degradáveis, cujo impacto ambiental não seja
tão nefasto;
- Promover a manutenção e valorização do mosaico agro-
florestal nas áreas classificadas através de aplicação de
programas de medidas agroambientais nos principais
núcleos da espécie;
- Proibir o corte de maciços florestais ou de árvores isola-
das de grande porte nas áreas mais importantes para a
conservação da espécie;
- Aumentar a disponibilidade ali-
mentar associada às explorações
agropecuárias através da criação e
gestão de campos de alimentação
de aves necrófagas;
- Condicionar a instalação de par-
ques eólicos nas áreas mais
importantes para a migração e
reprodução da espécie no nosso
país;
- Todos os parques eólicos devem
ser equipados com sinalizadores
anti-colisão e armações de apoios
seguras para aves;
- Desenvolver estudos de monitori-
zação do impacte dos aerogerado-
res já existentes, tendo em conta a
sua localização geográfica, a sua
situação em termos de habitats e a
sua tipologia de equipamento, de
forma a conhecer o seu efeito na popu-
lação nacional destas aves;
- Monitorizar os núcleos mais importantes da população,
quer nidificante (determinando os parâmetros reproduti-
vos) quer invernante;
- Colaborar em programas internacionais de conservação
e estudo da espécie.
Outra informação relevante:
Os seus efetivos e a sua área de distribuição diminuíram
acentuadamente ao longo deste século, devido sobretudo
à perseguição que lhe foi movida. Por este motivo, o
Milhafre-real foi incluído na lista de espécies de aves
ameaçadas a nível mundial elaborada pelo Conselho
Internacional para a Proteção das Aves (ICBP).
Durante a migração no Outono viaja só ou em pequenos
grupos, possivelmente grupos familiares, sendo conside-
rado gregário nos locais de invernada.
Fig. 1 - Milhafre-real em voo Fig. 2 - Idem Fig. 3 - Idem Fig. 4 - Distribuição e abundância absoluta do
Milhafre-real em Portugal
Fig. 4
54 VER DO CÉU, VIVER EM TERRA
N o recanto ocidental do concelho de Mogadouro, onde o planalto vai dando sinais de ceder ao vale traçado pelo rio Sabor, encontramos a aldeia de Brunhoso, localidade antiga agarrada
ao chão de xisto que ali se oferece como alicerce. Um povoado estendido como uma estrela, com o seu centro convexo, do qual irradiam caminhos e edificações que se aventuram pelas várzeas e lameiros, fertilizados pelas ribeiras dos Juncaínhos e da Lagariça. O Bairro Novo, com as suas ruas quase paralelas, ladea-das de casas pintadas, é um dos raios mais proeminentes desta estrela. Chega-se a Brunhoso por uma estrada que desbrava o dorso das ondulações do planalto, servindo uma mão cheia de localidades vizinhas. Num cimo, a mais de 8 Km da vila de Mogadouro, tomamos o desvio que nos con-duz, descendo pelo lugar da Cruz, até à povoação. No seu todo o aglomerado é feito de parcelas sóbrias, sem mais destaques do que aqueles que derivam do valor das rendas do trabalho na terra. A marca empreendedora da população da terra é logo evidente. Lagares, currais e silos de alimento para o gado pontuam as várias entradas do aglomerado. As portas carrais são uma constante nas casas de agricultores. Para Norte, o lugar da Malhada, um topónimo que lem-bra as antigas artes de trabalho agrícola, estende-se ao longo do caminho que ruma a Remondes. No termo de Brunhoso, a poente, e a uma boa hora e
Brunhoso
Estrela do Sabor Por Pedro Castanheira
Nesta pág. - Vistas aéreas de Brunhoso e carta de localização.
Imagens de J. Corredeira Na pág. direita: - A fraga do Poio, uma referência na paisagem. - Panorama do vale do rio sabor, por alturas do Cachão. - Tonalidades de xisto na arquitetura tradicional. - Cruzeiro de granito num caminho do lugar da Cruz - Igreja paroquial, dedicada a S. Lourenço
Imagens de P. Castanheira
meia de caminhada, depois de circundar o Alto de Boise-las, passar o Cabeço do Crasto e pisar o trecho da calça-da romana, o panorama expande-se em todas as dire-ções, para as alturas da fraga do Poio, onde há vestígios de uma ocupação fortificada, para o vale do Sabor cuja correnteza, num rumor, vence o pedregoso declive do Cachão, e para longe, com o quadro da margem direita do rio, as terras dos extremos dos concelhos de Moga-douro e de Alfândega da Fé. Do chão de Brunhoso sai uma variedade de xisto de cores muito raras, entre o púrpura e o lilás, matizado por um brilho delicado. Há casas na povoação que ostentam tais maravilhas geológicas em ombreiras e peitoris de janela. O sobro e a oliveira são aqui as riquezas maiores, valores seguros e belos. Teimosamente, continua viva a arte da produção e transformação do linho, um saber admirável que está inculcado bem fundo na identidade local. O folar feito com azeite, ovos, presunto, linguiça e touci-nho, a par das casulas com bulho são os sabores que decantam o viver transmontano. Mas em Brunhoso, as rascas, esses bivalves apanhados no Sabor, confeciona-dos à espanhola, são manjar de eleitos.
56 DESCOBERTA
Visita ao CIVVM
Uma jornada plena de sensações únicas
“No início de maio do ano de 2013, resolvi seguir o conselho do meu amigo Angel Martinez Blanco. Preparei o meu Jodel D-92, construído em casa, e depois de uma hora e meia de voo, estava a aterrar numa pista fantástica em Mogadouro, onde decorria a atividade de um cen-tro de voo à vela.”
S ou um apaixonado pelas atividades aeronáuticas,
entre elas o voo à vela, especialidade que tem
para mim, desde sempre, um lugar de destaque.
De facto, nos meus tempos de aeromodelista tive
unicamente planadores de ladeira, com os quais passei
tardes muito agradáveis. Posteriormente, quando no
Aeroclube de Lugo (LERO) surgiu a possibilidade de cria-
ção de uma secção de voo à vela, não hesitei, e em con-
junto com os amigos Angel Martinez Blanco, Emílio Iglé-
sias, Juan Doval, Luís Gil, Álvaro Richmond, entre outros,
organizamos um pequeno grupo, muito empenhado, que
Por José Carlos Martinez Barreiro
Tradução de Ana Puerta Guedes
Pe
dro
Ca
sta
nh
eir
a
Na página anterior: - José Carlos Barreiro e o Jodel D92 no qual fez a viagem a Moga-
douro, numa bela tarde de maio. Acima: - Grupo de entusiastas da secção de voo à vela do Aeroclube de
Lugo, flanqueados pelos Srs. Puente e Abelleira Abaixo: - O autor concentrado para o seu exame de piloto de planador.
dinamizou a atividade. Partilhamos jornadas memoráveis
de voo à vela, no aeródromo de Lugo, em Rozas, a voar
no Blanik, no qual alguns de nós fizeram o curso de piloto
de planador. Contudo, esta secção do Aeroclube de Lugo,
nunca atingiu uma dimensão que viabilizasse a sua pere-
nidade.
Tempos passados, num encontro casual com o Angel
Martinez Blanco, de quem não tinha notícias há muito, no
meio de uma conversa animada, vim a saber que, depois
de terminar a atividade de planadores em Lugo, se tinha
mudado para Mogadouro, no vizinho Portugal, onde exis-
te um excelente centro de voo à vela. Destacou a boa
organização, o aeródromo com instalações excelentes,
bem como o ambiente de camaradagem e amizade exis-
tente entre os pilotos que ali voam. Desafiou-me a fazer
uma visita para tomar contacto direto com a atividade de
planadores naquele centro de voo à vela da região trans-
montana, e garantiu-me que iria gostar.
No início de maio do ano de 2013, resolvi seguir o seu
conselho. Preparei o meu Jodel D-92, construído em casa,
e depois de uma hora e meia de voo, estava a aterrar
numa pista fantástica em Mogadouro, onde estava a
decorrer a atividade. Após apresentações e cumprimen-
tos, tive o prazer de comprovar as excelentes instalações.
O hangar estava praticamente cheio de planadores, mas
também havia motoplanadores e um avião de reboque.
Mais tarde, participei no picnic com produtos típicos, com
pão, queijo e enchidos muito saborosos, alguns dos quais
trazidos do local onde os colegas vivem.
Estavam também presentes outros espanhóis, apaixona-
dos por esta modalidade, oriundos da Galiza e de Casti-
lha, que enalteciam as excelentes condições do local para
o voo à vela.
Voltar aos comandos de um planador
A melhor parte aconteceu à tarde, quando me fizeram a
fantástica surpresa de ser convidado a fazer um voo de
demonstração no imponente Twin Astir II Acro. Para mim
foi extremamente emocionante, pois a minha experiência
em planadores, era limitada ao Blanik e nunca tinha voa-
do num planador de “plástico”.
Quando chegou a minha vez, ajustei o paraquedas, e
sentei-me no lugar da frente, com o instrutor Artur Gonçal-
ves atrás. Passados que foram, alguns anos desde o meu
último voo em planador, perguntei-me se recordaria o
que tinha aprendido, e se a experiência passada me seria
útil para esta máquina tão distinta. Além do mais, eu era
um desconhecido para o instrutor, e como tal, pensava
eu, ele não me deixaria pilotar sozinho.
Durante o reboque, pude apreciar, que esta máquina
deslizava com a maior das suavidades. Uma vez atingida
a altura de largada, soltámo-nos e o avião afastou-se e
deixou-nos a sós com o desafio de obter da atmosfera a
energia necessária para manter o planador no ar. O Artur
ofereceu-me de imediato a oportunidade para pilotar, e
depois de umas pequenas manobras de avaliação, pas-
sou a indicar-me as características da zona e a melhor
maneira de as aproveitar. Seguindo as suas indicações,
para minha surpresa, consegui voar mais de uma hora,
tendo interrompido apenas porque havia outros colegas
que esperavam pela sua vez. Devo dizer que o achei um
excelente instrutor, com um grande sentido de oportuni-
dade, dando sempre instruções atempadas e precisas, de
forma a que eu sentisse que era eu o piloto.
Realmente, eu não contava que só com a experiência do
Blanik, tendo essa já tido lugar há muito tempo, me sentis-
se tão confortável no Twin. As suas características de pla-
nador são seguramente melhores que as do Blanik, mas
não me senti desajustado em momento algum.
Termalizar
Foi interessante que, no momento em que estava a entrar
no vento de cauda, com a intenção de fazer o circuito e
aterrar, encontramos umas ascendentes que nos permiti-
ram, em pouco tempo, chegar a uma altura maior que a
da largada, e voar ainda mais um bom bocado. Final-
mente, decidimos ir para o circuito e, já no vento de cau-
da, pude comprovar a eficácia e progressividade dos
58 DESCOBERTA
freios aerodinâmicos, deste planador. O Artur permitiu-me
acompanhar todo o circuito, e na final, preveniu-me acer-
ca do uso excessivos dos freios aerodinâmicos durante a
aterragem neste tipo de planador, tendo-me mantido
sempre em contacto com os comandos no momento do
arredondamento, do toque na pista e no controlo da rola-
gem até à imobilização do Twin.
Fim de tarde e regresso a casa
O resto da tarde, foi passado a colaborar nas operações
de pista, e a conversar com os outros aficionados, onde
pude perceber claramente como o trabalho em equipa é
fundamental no clássico ambiente de camaradagem dos
centros de voo à vela.
O dia chegava ao fim, e com tempo suficiente para che-
gar ao meu destino em Caldas, deixando uma margem
para imprevistos, fiz o meu voo de regresso, após ter-me
despedido e agradecido o acolhimento que me propor-
cionaram. Aterrei e guardei o avião no hangar, terminan-
do assim o dia, com uma agradável sensação. É que para
um amante do voo à vela, este proporciona sensações
únicas, impossíveis de encontrar noutras modalidades da
aviação desportiva.
Fico feliz pela existência do Centro Internacional de Voo à
Vela de Mogadouro, e desejo-lhe o melhor para o futuro.
Um pouco da história do Jodel
Como já referi, fiz a viagem no meu avião Jodel D-92,
também apelidado de “Bébé Jodel”. Trata-se de um dos
primeiros e mais representativos modelos do movimento
“amateur” de construção de aeronaves por amadores,
surgido em França e outros países europeus depois da 2ª
Guerra Mundial, no qual, por sua vez, se pode enquadrar
a corrente vitalista da época.
O protótipo deste modelo, voou em Janeiro de 1948, pro-
pulsionado por um pequeno motor de 25 CV. No entanto,
foi a adaptação do motor VW que deu ao modelo o seu
impulso definitivo, construindo-se, desde então, mais de
500 exemplares por entusiastas de vários continentes,
com especial incidência na Europa.
Trata-se de um avião monolugar, monoplano, de asa
baixa, construído integralmente em madeira e tela. É um
aparelho simples e robusto, que se adapta perfeitamente
a operar em pistas curtas e pouco preparadas e, como
não tem flaps, a superação de obstáculos na aproxima-
ção pode ser algo incómoda. O meu exemplar está moto-
rizado com um VW 1835, e tem uma velocidade de cruzei-
ro de 160 Km/h, com um consumo de aproximadamente
10 litros/hora de gasolina 95, e uma autonomia de voo de
6 horas àquela velocidade. A sua altura máxima de voo é
de cerca de 3450 metros, como pude comprovar em
Outubro de 2010 quando entrei em França sobrevoando o
monte Aneto.
A primeira informação que tive acerca deste modelo foi
nos anos 80, através da revista RC Model, onde Jesús
Abellán assinava um artigo em que apresentava uma
semimaquete radiocontrolada e incluía uma anotação
acerca do avião real. Lembro-me do espanto com que
fiquei, por saber que era possível construir um avião em
casa. Em 1987, por simples curiosidade, comprei os pla-
nos à empresa “Avions Jodel” pelo equivalente a uns
atuais 40 euros.
Construir e voar
Finalmente, em 1995, tinha condições para iniciar a sua
construção, que se prolongou até 2001, ano em que reali-
zei os primeiros voos em Lugo. Desde então, já fiz 760
horas de voo, muitas das quais foram de viagens por
Espanha, Portugal e França.
Foi precisamente neste último país, que em 2010, assisti à
reunião anual de construtores amadores, que se realizou
em Saint Yan (LFLN), no decorrer da qual, tive a honra de
receber a Taça “Adonis Moulène” pela qualidade de cons-
trução. Tive também o privilégio de conhecer Jean Dele-
montez, desenhador dos aviões Jodel e Robin, que são
uma instituição no que se refere à aviação desportiva
Na página anterior:
- Voo de exame para a licença de piloto de planador
no Blanik , em Lugo.
- O autor e o Jodel D92, o fruto de 6 anos de trabalho.
À direita:
- Imagem do Jodel em voo, descrevendo uma volta. - Cockpit e painel de instrumentos. - Um avião com uma estética admirável.
Imagens da coleção do autor
europeia. Este projetista, foi nomeado Cavaleiro da Legião
de Honra, a mais alta condecoração civil francesa, e é
bem patente o trato, quase de reverência, com que é
abordado. Apesar de tudo, não deixa de ser um homem
simples e afável, como tive oportunidade de verificar
quando quis vir ver o meu avião. Fiquei surpreso com a
lucidez com que tratava diversos aspetos técnicos de
construção, com os seus 94 anos.
O meu exemplar é o primeiro e único a voar em Espanha,
e sei que em Portugal, um grupo de aficionados, construiu
e voou um nos anos 70, que está atualmente num museu.
A minha experiência como utilizador durante estes anos,
faz com que já não me surpreenda a quantidade de
exemplares que ultrapassam os 30 ou 40 anos de vida
ativa, tendo conhecido vários casos em que o piloto é
mais jovem que o avião. De facto, o meu está a acusar
menos o passar dos anos do que eu.
É um pequeno avião, mas no entanto, desperta sempre
interesse onde quer que eu vá, tal como aconteceu quan-
do fui a Mogadouro, onde os entusiastas presentes me
obsequiaram com os seus calorosos “parabéns”.
Bons voos!
Joaquim Ventura Brevet “C” nº 5 de Portugal
E stamos perante uma personalidade marcante da
aviação portuguesa cuja ação decorre entre os
anos 40 e os anos 90, cinco décadas dedicadas à
missão de elevar a arte de pilotar ao nível da exce-
lência técnica de voo e da versatilidade na aplicação prá-
tica.
Piloto Aviador Militar Foi ainda durante os últimos anos da 2ª Guerra Mundial,
mais precisamente em março de 1944, então com 19 anos
de idade, que Joaquim Ventura ingressou na Arma de
Aeronáutica Militar, designação dada nessa época ao
setor de aviação do Exército, concluindo em 1946 os exa-
mes de Piloto Aviador Militar.
O encontro de Joaquim Ventura com o voo á vela ocorre
em 1947, ingressando na escola do Grupo Aero-
Explorador de Voo Sem Motor (GA-EVSM) de Santa Maria
de Azóia, escola que operava, num local de ladeira, pla-
nadores “primários”, do tipo SG38 Schulgleiter, e “veleiros”
Baby, Weihe, e Kranich, com lançamento por elásticos em
V, os “sandows”, tracionados por dois grupos de 8
“rapazes”. Aqui, em 17 de julho desse ano de 1947, recebe
o brevet “C” nº 5, um dos primeiros certificados “C” alcan-
çados em resultado de formação integralmente realizada
em Portugal.
Em Santa Iria de Azóia as condições eram excelentes para
o voo de planadores nas correntes orográficas que a
encosta, exposta aos ventos dominantes, proporcionava.
Partindo desta ascendente orográfica, era possível, quan-
do a aerologia era favorável, realizar a transição para
ascendentes térmicas e explorar áreas mais vastas.
Nos anos de 1947, 48 e 49, Joaquim Ventura, colocado na
base de Espinho da Aeronáutica Militar, local próximo da
sua cidade de origem, o Porto, presta serviço na esquadra
de caça, equipada com Hawker Hurricane Mk II b/c, pas-
Na vida de Joaquim Ventura da Costa Barros o voo em planador, do
qual é um dos pioneiros em Portugal, ocupa um lugar de eleição,
como parte de uma carreira profissional feita a voar, ora como piloto
militar, ora como piloto civil dedicado ao trabalho aéreo, empresário e
instrutor de avião e de planador. Tudo somado, dá uma experiência
de uns espantosos milhares de aterragens e horas de voo!
Por Pedro Castanheira Imagens da coleção de J. Ventura
60 GLISSAR NO TEMPO
sando para a esquadra de Supermarine Spitfire Mk Vb na
Ota, base da região centro do país.
A entrada de Portugal na OTAN (Organização do Tratado
do Atlântico Norte) em 1952, desencadeia uma profunda
reestruturação da aviação militar, nascendo um novo
ramo das forças armadas, a Força Aérea Portuguesa
(FAP), pela fusão da Aeronáutica Militar (do Exército) com a
Aviação Naval (da Marinha). Várias missões são confiadas
a Joaquim Ventura, nomeadamente a colaboração no
processo de transição da base aero-naval de S. Jacinto,
no distrito de Aveiro, na FAP, e na instrução intensiva de
novos pilotos na base de Espinho, voando em De Havil-
land Tiger Moth e Miles Master.
Piloto civil e instrutor de aviões e Planadores
O fim da carreira militar acontece em 1954, arrancando aí
uma etapa totalmente nova onde o trabalho aéreo e a
instrução de pilotagem pontuaram.
Nos anos 50, 60, e até 1972, a pulverização aérea de cul-
turas agrícolas nas regiões do Ribatejo e do Alentejo pas-
sou a ocupar o centro da atividade profissional de Joa-
quim Ventura, tendo para o efeito voado em vários exem-
plares de uma máquina de eleição, o Piper PA-18 Super
Cub. O piloto refere que, neste período de atividade, tra-
balha para a CUF na região de Évora, e intervém na cria-
ção do aeródromo local, conhecendo e sensibilizando os
proprietários da herdade marginal à estrada nacional, e
transmitindo a ideia e os bons ofícios ao Governador Civil.
A pilotagem de planadores vai acontecendo quando tal
se proporciona, estando documentada a participação do
piloto do Porto no II Simposium Aerodesportivo de Stª.
Cruz, em maio de 1964, voando em Baby, sendo premia-
do na competição de aterragem de precisão.
Entretanto, integrado no Aero Clube do Porto (ACPorto)
desempenha o papel de instrutor estagiário de planado-
res, preparando alunos piloto para os cursos intensivos (15
dias) ministrados pelos instrutores da Direção Geral da
Aeronáutica Civil (DGAC). Adiante, em fins de 1969, realiza
o primeiro voo no Blanik L-13 do ACPorto, o CS-PBD.
É em 1976 que adquire a qualificação de instrutor de avião
e de planador e exerce esses privilégios na escola de
pilotagem do ACPorto, onde vai deixar a marca da sua
mestria de pilotagem numa geração inteira de pilotos de
planador da região norte.
No campo do trabalho aéreo, nesta etapa dos anos 70,
80 e 90, Joaquim Ventura vai sedear a sua atividade no
Porto, passando agora para os trabalhos de fotografia
aérea e de reboque de manga publicitária. A aeronave
talismã desta fase é o avião Piper PA 12 Super Cruiser, o
célebre CS-ACC, conhecido pela sua estabilidade, econo-
mia, baixo nível de vibração e ruído. Pilotando este avião
realizou trabalhos de fotografia aérea de obras e infraes-
truturas marcantes da região, tais como o Porto de Lei-
xões e a requalificação urbanística da cidade da Maia.
Uma personalidade única, atualmente retirada, com uma
carreira extraordinário numa multiplicidade de disciplinas
da aviação e um instrutor de planadores cuja influência,
de uma forma ou de outra, chegou até aos atuais pilotos.
formados na região norte.
Na pág da esquerda: - Joaquim Ventura no cockpit do Baby em Stª. Cruz, 1964
Acima: - Teste de motor do Piper PA-12 Super Cruiser, CS-ACC - Participação no evento de Stª. Cruz - Idem - J. Ventura recebe um troféu das mãos do Presidente
da Républica, Almirante Américo Tomás - Registos no brevet de Voo Sem Motor
62 PRÁTICA
H á dois anos atrás, lancei-me no fabrico de um
novo painel de instrumentos com um acaba-
mento de 'carbono'. Nessa altura não tive tem-
po para cuidar da carenagem do rádio, locali-
zada logo abaixo do painel... Tendo um coração de per-
feccionista, não podia deixar as coisas assim. Agora está
feito! O radio do ASW 24 já tem uma nova carenagem,
com acabamento idêntico ao do painel de instrumentos.
Junto algumas imagens para ilustrar as várias fases de
realização da carenagem.
A fabricação deste tipo de peça não é complicada, mas
requer muito tempo e persistência! O ponto-chave reside
na qualidade da matriz. Quaisquer defeitos na matriz, ou
contramolde, serão inevitavelmente transmitidos para o
molde e depois para as peças que dele se extrairão... É
por isso preferível planear o trabalho ao detalhe e
“caprichar” na produção da matriz, para evitar o gasto de
um tempo considerável na correção individual das peças
criadas a partir de um molde imperfeito.
Deverá ser dada atenção especial aos aspetos de higiene
e segurança no trabalho. O corpo humano em geral, os
olhos em particular, não reage muito bem às projeções
de resina e outros compostos químicos. Nunca manipular
estes produtos sem proteção adequada (óculos/luvas/
máscara/...)! Idem para o uso de ferramentas de corte
(fresadora/berbequim/...). Segurança em primeiro lugar!
Dito isto, boa sorte para aqueles que estão determinados
a aceitar estes desafios!
Fig. 1
Carenagem “carbono” para rádio
Por Nicolas Jourdain
Material necessário:
- Tecido de fibra de vidro (sarja)
- Cera de desmoldagem
- Acetona
- Pincéis
- Resina poliéster e catalisador
- Balança de precisão e recipiente de mistura
- Máscara de proteção respiratória
- Folhas de lixa
- Luvas de nitrilo
Fig. 1 Fig. 2
Fig. 3 Fig. 4
Fig. 5
Figura 1 – Etapas de fabrico (da esquerda para a direita): - Peça original - Matriz (contramolde) - Molde - Peça produzida
Figura 2 - Desmoldagem da peça em fibra de vidro por insuflação de ar para a libertar do molde. O excedente de fibra é depois aparado.
Figura 3 - Aplicação de resina sobre uma camada de fibra de carbono na frente da peça.
Figura 4– Recorte na frente da peça para a passagem do aparelho de radio, verificando as folgas com a máxima atenção, para um ajuste perfeito. Segue-se a retificação da superfície e aplicação de primário e da pintura de aca-bamento.
Figura 5 - Peça pronta, ajustada e montada no planador, sob o painel de instrumentos.
Na pág. anterior - Vista geral do resultado final . O acaba-mento da carenagem do aparelho de radio está agora ao nível do restante painel de instrumentos!
64 PRÁTICA
WINGMOG O patim de ponta da asa No CIVVM, surgiu a necessidade de substituir o patim de ponta da asa em alguns planadores, dado o elevado desgaste que os originais apresentavam, pelo que se lançou a demanda de uma solução mais moderna, para substituir a original.
Por Jorge Lima Guedes
S e olharmos para um planador parado, o mais
comum, será que a sua posição seja inclinada
para um dos lados, repousando sobre a ponta da
asa, uma vez que, possuindo apenas uma roda
de trem de aterragem, não é possível manterem-se em
equilíbrio, com as asas na horizontal como é habitual ver-
se nos aviões a motor.
Para além desta característica posição de repouso, sobre
uma das asas, temos também a influência de apenas
uma roda de trem, na aterragem, e mais uma vez sobre
as asas, dado que a redução da velocidade na parte final
da corrida de aterragem, faz com que o planador perca a
sua condição de equilíbrio de asas na horizontal, e uma
das asas acabe por tocar no solo, até á imobilização do
planador.
Sendo as asas de um planador, um componente funda-
mental para o voo, e que deve ser integralmente preser-
vado, as duas situações descritas anteriormente (em
repouso e em voo), obrigaram os fabricantes e utilizado-
res de planadores, a proteger a ponta das asas, para
evitar que se danificassem, e prejudicassem a performan-
ce do planador.
Assim, nasceu a necessidade de colocar uma proteção
na pontas das asas, para evitar danos nestes componen-
tes, e que fossem eficazes quer na sua condição de
repouso quer em voo.
Estando criada a necessidade, surgiram proteções nas
suas mais variadas formas e materiais, como podem ver
pelas fotos em anexo, sendo as mais comuns em borra-
cha e metais leves, sendo as primeiras fixadas ás asas
por colagem, e as restantes por fixação mecânica. Estes
componentes de proteção, são normalmente chamados
“patim de asa”. O patim de asa, para além da sua função
protetora da ponta da asa, tem também nalguns modelos
de planadores, de possuir altura suficiente, para evitar
que o aileron, da asa em contacto com o solo, toque no
solo, desgastando-se prematuramente, prejudicando
assim a sua eficácia.
Tal como foi referido, na fase final da corrida de aterra-
gem, uma das asas, vai a tocar no solo, e tem por prote-
ção o patim de asa, que devido ao atrito de contacto, se
vai desgastando. Este desgaste do patim de asa, reduz a
altura de afastamento da ponta da asa ao solo, e obriga
á sua substituição para não se correr o risco de danificar
outros componentes, conforme foi referido.
Dado que a evolução é natural, também os patins de asa
foram evoluindo, no sentido de reduzir o mais possível o
atrito de contacto com o solo, e também o ruído que
alguns patins, nomeadamente os metálicos, fazem, quan-
do tocam no solo, uma vez que este é amplificado pela
caixa formada pela estrutura e recobrimento da asa.
Esta evolução, teve também em conta a eficiência aerodi-
nâmica, que é uma das características de todos os com-
ponentes que incorporam os planadores, e chegou à
forma de uma peça que incorpora uma roda, reduzindo o
atrito e o ruído.
No CIVVM, surgiu a necessidade de substituir este compo-
nente em alguns planadores, devido ao elevado desgaste
que os originais apresentavam, pelo que se começou a
procurar uma solução mais moderna, para substituir a
original.
Procurando no mercado, a solução mais eficaz, e mais
moderna, é um componente com as características já
enunciadas, mas é também uma solução onerosa, pelo
que, nasceu a vontade de criarmos o nosso próprio patim
de asa, que satisfizesse todos os requisitos, e fosse simul-
taneamente um componente que depois de montado no
planador, agradasse á vista.
Depressa percebemos, que pela forma, exigência de
peso, rigidez, e facilidade de fabrico, o componente teria
de ser fabricado em fibra de vidro, procurando ser o mais
aerodinâmico possível. Por questões de economia no
fabrico, o ideal, seria também, ser moldado numa peça
única. Estavam assim criadas as condições de partida,
para o desenvolvimento de uma peça protótipo, que reali-
zámos em madeira, e que deu origem ao molde final, de
onde sairiam todas as necessárias (Fig. 1).
Tendo a peça em madeira, a forma final pretendida, par-
tiu-se para a construção do molde também em fibra de
vidro, que se pretendia simples e o mais próximo do origi-
nal possível.
Após a cura do molde, fabricaram-se as primeiras peças,
conforme a foto documenta, que necessitaram de ser
trabalhadas até atingirem o seu estado final, nomeada-
mente na eliminação de imperfeições do molde, abertura
para montagem da roda, estilização da forma, e furação
de suporte do eixo da roda (Fig. 2)..
Para finalizar, faltava selecionar o material para fabrico do
eixo, que recaiu no aço inox, e a escolha das rodas. As
rodas eleitas, foram as dos tradicionais patins em linha,
tendo aqui várias possibilidades, no que toca a marca,
rigidez do material da roda, material da jante, tipo de
rolamento e cor, tendo sido selecionadas as que a foto-
grafia documenta (Fig. 3).
Após a realização do primeiro par, foi necessário remover
cuidadosamente as peças antigas de um dos planadores
candidatos à substituição, sem provocar danos nas asas,
e estudar a colagem das novas peças a aplicarem. Ultra-
passadas estas operações, e coladas as novas peças,
( Fig. 4), restava ensaiar, para ver o comportamento.
Podemos hoje dizer, que o patim de asa desenvolvido
pelo CIVVM, e que batizámos com o nome “WingMog”, se
revelou eficaz, e é uma peça esteticamente muito agradá-
vel, como provam as imagens de aplicação em dois dos
nossos planadores.
Fig. 1
Fig. 2
Fig. 3 Fig. 4
BOUO ZEM METORE
P ics from the Office” consiste numa seleção de
fotografias capturadas do contexto operacional
dos aviões Airbus A319/320/321, A330 e A340 da
TAP Portugal. Ao longo das páginas deste livro,
espero levá-lo numa viagem partilhando a perspetiva de
um piloto de linha aérea e uma mão cheia de fantásticas
imagens que são maioritariamente desconhecidas do
público. Cada fotografia é acompanhada por um peque-
no texto que procura contextualizá-la ou dar uma explica-
ção simplificada sobre um aspeto técnico relacionado
com a mesma.
“Mais do que uma compilação de fotos, o Pics From the
Office é uma janela aberta para uma realidade desconhe-
LIVRO DE AVIADOR
LEITURAS 67
cida para o comum dos mortais.
Cada foto do livro, além da realidade que espelha, é a
partilha de um momento único vivido pelo autor.
Este livro não tem a pretensão de ser uma publicação de
fotografias profissionais com muitos pormenores técnicos
e alta definição.
Este livro acima de tudo dá-nos a conhecer um universo
belíssimo, o quotidiano do autor, imagens de beleza rara,
capazes de provocar suspiros até a quem é bastante
experimentado nas coisas do ar.
Uma obra capaz de suscitar paixões a quem observa este
tipo de imagens pela primeira vez e sem dúvida um “must
have” para os aficionados da aviação”.
Pedro Mesquita
Em cima:
- Capa do livro
- Imagem “Ondulações”
Título - “Pics from the office” - “Imagens do escritório”
Autor - Mathieu Neuforge
Edição - Chiado Editora
Para adquirir o livro, contactar o autor via facebook
( "Pics from the Office - the book") ou por e-mail para
”
Magazine do Centro Internacional de Voo à Vela de Mogadouro