lona 412- 04/07/2008

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Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008 | Ano IX | nº 412 | [email protected] | Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo CULTURA POPULAR EM CURITIBA Hip-hop representa oportunidade de reflexão sobre a sociedade Página 4 Festas, religião e folclore marcam a cultura tradicional caipira Página 8 Edição Especial Prefeitura mantém programas de incentivo à produção cultural Página 7 Originário de Pernambuco, Maracatu é uma das grandes atrações da Rua XV Foto: Flávio Freitas Montagem: Antonio Senkovski Página 6 DIÁRIO d o B R A S I L

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JORNAL- LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO.

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CULTURAPOPULAR EM

CURITIBA

Hip-hop representa oportunidadede reflexão sobre a sociedade

Página 4

Festas, religião e folclore marcama cultura tradicional caipira

Página 8

Edição Especial

Prefeitura mantém programas deincentivo à produção cultural

Página 7

Originário de Pernambuco, Maracatu éuma das grandes atrações da Rua XV

Foto: Flávio FreitasMontagem: Antonio Senkovski

Página 6

DIÁRIO

do

BRASIL

Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 200822222

O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo daUniversidade Positivo – UP

Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. CampoComprido. Curitiba-PR - CEP 81280-330. Fone (41) 3317-3000

“Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais ehumanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreende-dor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contri-buam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social,político e econômico da sociedade”.

Missão do curso de Jornalismo

Expediente

Reitor:Reitor:Reitor:Reitor:Reitor: Oriovisto Guimarães.VVVVVice-Reitor:ice-Reitor:ice-Reitor:ice-Reitor:ice-Reitor: José Pio Mar-tins. Pró-Reitor Pró-Reitor Pró-Reitor Pró-Reitor Pró-Reitor Adminis-Adminis-Adminis-Adminis-Adminis-trativo:trativo:trativo:trativo:trativo: Arno Antônio Gnoat-to; Pró-Reitor de Gradua-Pró-Reitor de Gradua-Pró-Reitor de Gradua-Pró-Reitor de Gradua-Pró-Reitor de Gradua-ção:ção:ção:ção:ção: Renato Casagrande; Pró-; Pró-; Pró-; Pró-; Pró-Reitora de Extensão:Reitora de Extensão:Reitora de Extensão:Reitora de Extensão:Reitora de Extensão: FaniSchiffer Durães; Pró-ReitorPró-ReitorPró-ReitorPró-ReitorPró-Reitorde Pós-Graduação e Pes-de Pós-Graduação e Pes-de Pós-Graduação e Pes-de Pós-Graduação e Pes-de Pós-Graduação e Pes-quisa:quisa:quisa:quisa:quisa: Luiz Hamilton Berton;Pró-Reitor de Planejamen-Pró-Reitor de Planejamen-Pró-Reitor de Planejamen-Pró-Reitor de Planejamen-Pró-Reitor de Planejamen-

to e to e to e to e to e AAAAAvaliação Institucio-valiação Institucio-valiação Institucio-valiação Institucio-valiação Institucio-nal:nal:nal:nal:nal: Renato Casagrande; Co-Co-Co-Co-Co-ordenador do Curso de Jor-ordenador do Curso de Jor-ordenador do Curso de Jor-ordenador do Curso de Jor-ordenador do Curso de Jor-nalismo: nalismo: nalismo: nalismo: nalismo: Carlos AlexandreGruber de Castro; Professo-Professo-Professo-Professo-Professo-res-orientadores:res-orientadores:res-orientadores:res-orientadores:res-orientadores: Elza Apa-recida e Marcelo Lima, ElianeBasilio de Oliveira (nesta edi-ção); Editores-chefes:Editores-chefes:Editores-chefes:Editores-chefes:Editores-chefes: Anto-nio Carlos Senkovski e Karo-llyna Krambeck

Existe espaço em Curitiba para a cultura popular?

Júlia Mariotto

Andar pelos bairros centraisou realizar um passeio domini-cal pelo centro de Curitiba podeser uma diversão. São calçadasrepletas de música indígena,artistas de vários locais do Bra-sil trazendo à cidade um poucode cada pedaço do país.

Além das artes que vemospor aí, existem locais queapóiam manifestações da artepopular, como a Casa de Cul-tura, o Festival de Teatro emCuritiba e a Feira do Largoda Ordem. São locais em quediversas tribos, opiniões, gos-tos e desgostos encontram-see se manifestam livremente.Além desses eventos que es-tão sempre pela cidade, já pas-sou pela cidade uma feira vol-tada a cultura popular, cren-dices e lendas, com o intuito

de divulgar e mostrar a cul-tura paranaense.

O que falta em Curitibanão são oportunidades para amanifestação da cultura popu-lar e sim incentivo para queos próprios curitibanos saibamem que locais encontrar essetipo de arte. Falta publicida-de, apoio e divulgação dessetipo de manifestação conside-rada por muitos apenas comoum tipo de arte que não mere-ce ser valorizada.

Curitiba é sinônimo de cul-tura. O teatro, a dança, a mú-sica e o artista popular encon-tram palcos para se apresenta-r. Às vezes, um palco sem umgrande público, mas ainda as-sim sempre existem olharesatentos aos talentosos artistasque permeiam o cenário cultu-ral da cidade. Quem anda pelacidade e se depara com algumaforma de arte presencia um

museu acéu aberto.

A ma-nifestaçãop o p u l a restá nasp r a ç a s ,nos mu-ros, nos museus e na essênciade Curitiba. Ainda que vistacom olhares preconceituosos,a arte popular tem suas for-ças em uma cidade repleta depessoas que sobrevivem daarte e vêem nela uma boa ma-neira de divulgar a alma bra-sileira.

Enquanto Curitiba investirem teatro, música e culturaem geral, mais artistas conti-nuarão vendo a cidade comoum grande centro de culturapopular e mais pessoas que poraqui circulam terão o privilé-gio de encontrar aqui o talentode muitos ainda anônimos.

SIM

Marion Ceschini

Quem é o povo curitibano?Que tipo de cultura ele pro-duz? Uma sociedade tipica-mente burguesa, que se im-porta com a aparência acimade tudo. O importante é o queparece ser. Mas se boa parte

dos curitibanos faz parte daclasse burguesa, os espaçosabertos à cultura, serão, na-turalmente, voltados parauma produção elitizada.

Se a cultura popular é o re-sultado de uma interaçãoconstante entre pessoas de di-versas regiões, como é possí-vel desenvolver este tipo de

NÃOc u l t u r ase, emCuritiba,é difícilinteragircom estepovo quenão éaberto a isso? Os geradores dacultura do povo representama minoria na capital parana-ense, por isso os espaços vol-tados para eles são poucos,pouquíssimos.

O Espaço Calamengau,por exemplo, é um dos focosde cultura popular em Curi-tiba, mas, como já era de seesperar, o proprietário não édaqui. Ele trouxe do Cearáuma concepção de cultura, daqual todos participam, e, commuita dificuldade e insistên-cia, conseguiu manter-seaqui. O “Ceará”, dono do Cal-mengau, é uma prova de quenão há espaço para a produ-ção de cultura popular emCuritiba. Talvez a “importa-ção” seja aceita, mas aindaassim, com bastante dificul-dades. É só contabilizar quan-tas casas noturnas padroni-zadas existem e quantos es-paços culturais voltados paraa diversão do povo podem serencontrados aqui. Infeliz-mente, Curitiba não cede lu-gar para que o povo desenvol-va sua própria cultura. Ébem mais fácil e moderno im-portar, não é?!

Phillipe Halley

A cultura afro-brasileiratem diversas facetas. Rica porsua diversidade, a arte negrasofre com o desconhecimento ecerto desinteresse da população.Inúmeros fatos poderiam levara cultura afro a uma valoriza-ção devida: o Brasil é o país forada África com o maior númerode negros. Boa parte de nossaformação racial provém da mis-cigenação com a raça negra.

O descaso do brasileiro nãodiz respeito apenas à falta deinteresse pela arte negra. Tra-ta-se de uma visão preconcei-tuosa aliada a uma educaçãocultural que não privilegia asmanifestações regionais artís-ticas. Isso é observado facilmen-te na cultura negra nordestina,em especial a do estado de Per-

nambuco.O que a geração atual pode

fazer para manter viva e dis-seminar essas reproduções ar-tísticas? A busca em conhecera história do negro no paísseria o primeiro passo. Dessaforma, com o conhecimento,muitas adversidades seriamminadas de nosso cotidiano,bem como do imaginário de al-gumas pessoas, além do des-caso e preconceito. A procurapelas raízes afro no Brasilleva a entender a importân-cia dessas manifestações e suarepresentatividade, tanto nacultura negra, como na pró-pria formação da identidadecultural brasileira. Respeito,conhecimento e compreensãosão as soluções para o enten-dimento da figura do negro ede suas diversas expressõesculturais em nosso país. Axé!

Desinteresse e preconceito

Edição especialCuritiba é uma mistura de pessoas e de culturas. A

“guerra” em prol das manifestações artísticas é travadanum ambiente de constantes transformações e disputas.Os “soldados” das batalhas não trajam fardas. Em vez deespadas, viola caipira; no lugar das fardas, o traje dasdanças; substituindo o ataque, o hip-hop e o grafite. “Ar-mas” para a vitória não faltam. O que falta, muitas vezes,é espaço para a cultura popular. Esta edição especial doLONA traz matérias sobre a cultura popular elaboradaspor alunos da disciplina de Antropologia do curso de Jor-nalismo da UP. O objetivo foi buscar respostas para a se-guinte questão: como se manifesta a cultura popular nacidade?

Cartaz do “Forró Calamengau”

33333Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008

Bárbara Gazola

Marion Ceschini

No lugar do carrinho demadeira, uma sanfona. Sanfo-nas inventadas com latas, tijo-los, jornais ou papelão, não im-porta. Lino de França, 47 anos,forrozeiro, é a prova viva de queem casa de ferreiro, o espeto éde ferro mesmo. Com um paicompositor, cantor e sanfonei-ro, a música começou a fazerparte da vida de Lino muitocedo. Natural do Estado de SãoPaulo, assim que começou acarreira, o músico passou a vi-ajar pelo Brasil e percebeu quenão era o único apaixonado poreste ritmo que reflete o calor ea alma brasileira: o forró.

Este estilo musical tão ricohistoricamente está na boca dopovo, seja dos senhores ou dosjovens, e, até mesmo, daquelesque encontram na música a me-lhor forma de demonstrar al-gum sentimento. Não importaidade, estado, nem raça. O for-ró, definitivamente, se popula-rizou e tomou conta tanto dosespaços culturais gelados daRegião Sul, quanto dos baresquentes do Nordeste.

E o filho, é de quem?Duas teorias “disputam” a

origem do forró. A primeira, ado-tada pela Enciclopédia da Mú-sica Brasileira, afirma que setrata de uma derivação do ter-mo africano Forrobodó, que, oDicionário Aurélio explica comosendo “arrasta-pé, confusão,desordem”. Já asegunda teoriaafirma que for-ró deriva dotermo “for all”,introduzido noBrasil no início do século XX,quando alguns engenheiros bri-tânicos se instalaram em Per-nambuco para construir a fer-rovia Great Western. Estes in-gleses faziam bailes e colocavamplacas indicando que a entradaera permitida para todos (em in-glês: for all). Nestas festas es-cutavam-se ritmos que se pa-reciam muito com o forró atu-al. Como nenhuma das teoriasfoi comprovada, fica ao “gosto

Entre a tradição e a modernidadeMúsica Seja universitário ou pé-de-serra, o forró está em todos os cantos e resiste há 60 anos

do cliente” escolher a explicaçãomais plausível para a origem doforró.

Seja derivada do forrobodó oudo for all, a palavra passou aser referência de uma expres-são musical, usada para definirtanto o baile dançantecomo as muúsicas toca-das nele.

Brasileiroque só ele!

O forrómantém-sepresente nocenário musi-cal há cerca de60 anos. Ca-racteriza-se comoelo entreo tradici-onal e omoderno, osertão e ou r b a n o .Tudo isso des-de que LuizGonzaga chegouao Rio de Janeiro,fez um enormesucesso com obailão e lançoueste gênerocomo sinônimode um conjun-to de ritmos dosertão como oxote, o xaxado eo arrasta-pé. A mú-sica de Luiz Gonza-ga vai remeter e cons-truir a imagem do sertão

nordestino,lembrando,ao serta-nejo mi-g r a n t edo sul, aépoca emque morava nasua terra natal,

confortando sua saudade e con-tribuindo para o fortalecimen-to do regionalismo cultural doNordeste.

Gonzaga, o Rei do Baião, épara o forrozeiro Lino de Fran-ça a razão da sua paixão peloforró. “Entendo que ele conse-guiu ao longo de sua arte o quedeveria ser o maior desejo detodo artista: ser simples e, aomesmo tempo, completo”. E é

por este motivo que Lino temcerteza de que o forró corre nassuas veias, levando-o semprepara onde o ritmo quiser. Equem diria que a fria e indivi-dualista Curitiba seria palcopara a primeira apresentação de

Luiz Gonza-

g acomo cantor,em 1946? Depois dele muitosoutros forrozeiros passaram poraqui na difícil tarefa de instau-rar e firmar o forró na capitalparanaense.

Não foi fácil, mas vencidospela insistência de Maérlio Bar-bosa, o “Ceará”, os curitibanospassaram a gostar deste gêne-ro que virou a marca registra-da da primeira casa típica deforró da Ccdade.

Curitiba nordestinaPara quem nunca havia

pensado em ser forrozeiro, sercriador e responsável por umacasa cujo ponto forte é o forró,foi uma ironia na vida de Cea-rá. Nascido em Juazei-

ro doNorte, o

apelido não o deixa mentir quetudo que faz em Curitiba, temum “quê” de Nordeste.

“Procuramos sempre man-ter as tradições dos forrós, a co-meçar pela nossa opção de fa-zer o forró-de-pé-de-serra, ouseja, o forró de raiz”, explica.

Além do forró de raiz, o Es-paço Cultural Calamengau se-gue à risca as tradicionais fes-

tas juninas, com bandas nordes-tinas, quadrilhas improvisadas,quentão e muita gente vestidade caipira. Apesar do costumede vertir-se de caipira, o curiti-bano não é muito adepto aostrajes típicos, que chamematenção.

Mas Ceará conta que o pú-blico daqui recebeu muito bemo forró, porque este ritmo “émuito envolvente e fala diretoao coração brasileiro”. Pode sersurpreendente, mas o cearen-se diz ainda que o curitibanodança o forró mais ao mododos nordestinos do que os mi-neiros, cariocas ou paulis-tas.

O segredo para essa mis-tura cultural dar certo? Aresposta de Ceará é a tradi-ção. “Não aceitamos os mo-dismos e talvez isto tenhasido a chave da nossa aceita-

ção, pois moda passa e quem afaz passa junto com ela. Jáquem faz coisa boa e de raiz sem-pre é lembrado e vai ficando,nem que seja teimando, masfica”.

Além disso é importantelembrar que o povo curitibanoé muito exigente em matéria demúsica, mas quando gosta, gos-ta e ponto. “No início eles fica-ram ‘meio cabreiros’, para usarum termo daqui, mas depois defeito o primeiro contato, foi sócorrer pro abraço e pra paixão”,brinca Ceará.

Para o grande responsávelpela ligação entre Nordeste eCuritiba, o forró não é só umritmo gostoso que reflete todaa história cultural do Brasil,“ele fala à minha alma, ele dizda minha vida, da minha ter-ra, da minha gente, das mi-nhas dores e da minha ale-gria”, completa. O prestígioque o forró tem faz com quealguns grupos usem o termocomo garantia de qualidade,mesmo que estes não apresen-tem muitas semelhanças como original, como é o caso dasnovas músicas e bandas deforró eletrônico. Mas o essen-cial em perceber o forró é sa-ber valorizar as pontes queeste gênero conseguiu firmarentre a realidade précapita-lista e capitalista, rural e ur-bana, sulista e sertaneja.

O forró é o eloentre o tradicionale o moderno, osertão e o urbano

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Priscila Mello

Riane Marcondes

Tiago Alexandre

As primeiras manifestaçõesda dança de rua surgiram em1929, através dos negros inse-ridos nas metrópoles norte-ame-ricanas. Encontravam-se inse-ridos em uma sociedade desi-gual, cheia de conflitos e pre-conceitos. Era uma época difí-cil de conseguir empregos, mui-tos achavam que fazendo “sho-ws” nas ruas poderiam ganharum trocado para sobreviver.

Foi assim, que já no final dadécada de 60, surgiu o movimen-to cultural chamado hip-hop. Omovimento teve seu início no suldo Bronx, em Nova Iorque, pelasequipes de bailes norte-america-nas com o objetivo de apaziguaras brigas dos jovens negros e his-pânicos agrupados em gangues.

Seu nome tem origem naspalavras hip (quadril, em in-glês) e hop (saltar, em inglês).Logo, a expressão hip-hop (sal-tar balançando o quadril) sereferia ao break, a dança maispopular da época. As equipesorganizavam bailes e festas dequarteirões nas ruas, nos giná-sios e nos colégios, incentivan-do os jovens a dançarem o bre-ak em vez de brigarem.

A idéia principal era e aindaé: haver uma disputa com cria-tividade. Não com armas: umabatalha de diferentes (e melho-res) estilos, para transformar aviolência insensata em energiapositiva. Além disso, o movi-mento é também uma forma dereivindicação de espaço e umaforma de comunicação das pe-riferias.

Bruno Ventura, cantor dehip-hop, disse uma vez: “O hip-hop não pode ser consumido,tem que ser vivido (não com-prando roupas caras, mais simmelhorando suas habilidadesem um ou mais elementos diaa dia). É um estilo de vida...Uma ideologia... uma culturaa ser seguida”...

O Dj Kool Herc é por todaparte conhecido e respeitadocomo o “pai” da cultura hip-hop.Ele contribuiu e muito para seunascimento, crescimento e de-

Na batida da periferiasenvolvimento. Nascido na Ja-maica, ele imigrou em 1967 (aos12 anos de idade) de Kingstonpara Nova Iorque, trazendo seuconhecimento sobre a cena desound system (sistema de som,muito tradicional na Jamaica,É um equipamento de sommuito potente ligado na ruapara atrair as pessoas).

O movimento chegou ao Bra-sil na década de 80, formadopelos jovens negros e pobres dasperiferias, sob forma de protes-to contra o racismo, a misériae a exclusão social. Seu pontode partida foi na cidade de SãoPaulo, nos tradicionais encon-tros da rua 24 de Maio e dometrô São Bento, de onde saí-ram muitos artistas reconheci-dos.

Mas foi em 1984 que a mí-dia propagou em massa a che-gada desse movimento, retra-tando em seu cotidiano a cultu-ra hip-hop, inserindo-os em jor-nais, revistas, comerciais, do-cumentários, filmes. Para mui-tos jovens, essa cultura forne-ceu uma nova oportunidade,fazendo a sociedade refletir ereanalisar a situação da desi-gualdade existente no país. Issose difundiu em vozes cantadasdentro dos presídios, nos grafi-tes e até mesmo no modo de sevestir da juventude.

O primeiro curso de Dançade Rua do Brasil surgiu emSantos, em 1991. Foi fundadopelo coreógrafo e bailarino Mar-celo Cirino, e logo foi ganhandoespaço no cenário cultural. Con-seguiu apoio da Secretaria deCultura da Prefeitura da cida-de, e então, virou um projeto derepercussão mundial. O proje-to pretende ganhar espaço namídia, como grupos de músicapor exemplo, mostrando a artee valorizando a cultura nas pe-riferias. Segundo Marcelo Ciri-no, em entrevista para o siteNetBabilons, “Estão faltandoempresários que apostem nadança, para valorizar a dançacomo acontece nos países deprimeiro mundo. Em nosso paísfalta uma boa política em favorda arte e da cultura”.

ElementosAtualmente o conjunto de

elementos que formam a cultu-

ra hip-hop são o rap, o grafite eo break. Esses elementos reú-nem diferentes manifestaçõesartísticas, tendo sua base navontade de um futuro melhor.

O rap é uma abreviaçãodada para ritmo e poesia. Suaprincipal característica são suasletras, que tratam de problemasde desigualdade e questões dodia-a-dia da comunidade dasperiferias, como explica o mú-sico de rap Gustavo R. F. Cor-rêa, de 25 anos.

Cadelis diz que quando criaseus raps é motivado por suasidéias, sua maneira pessoal delevar a vida, e também nos seusrelacionamentos com as outraspessoas. Ele lamenta a falta deapoio para a divulgação dessegênero musical por parte dasiniciativas privadas ou públicas.“Existe apenas os espaços quenós artistas da cena nos propo-mos a criar, seja fazendo festasou eventos, mas tudo é feito pornós mesmos, não existe muitoapoio externo”. O músico aindaacrescenta: “O incentivo só vemem ano eleitoral, e não ajuda afortalecer as bases da cena. Mui-tas vezes, é apenas um dinhei-ro jogado, em mãos erradas,para pessoas que fazem festas

pra benefício próprio”.Quando se questiona a ques-

tão do preconceito sobre o rap porparte da sociedade, Cadelis falade que maneira isso ainda exis-te e como esse cenário já mudoubastante nos dias de hoje. “A so-ciedade ainda tem preconceitoporque no início, o rap era maisdifundido como um som de peri-feria, em que as letras na gran-de maioria falavam da violênciados bairros pobres e da vida docrime. Mas o rap hoje não temmais essa obrigação de ser soci-al, não há a necessidade de umcomprometimento além da mú-sica, existem raps muito bonshoje que não falam de crime,mas ainda assim nos dão umaboa visão da realidade do país.Ha muito mais liberdade na horade escrever uma letra”.

Maneiras de ver o mundoApesar de ter mais de 40

anos de história, o grafite não éconsiderado arte. Este estilo devida reflete uma forma de seexpressar contrária àquilo quea sociedade prega. Muitas ve-zes esse movimento é associadoao vandalismo. O grafite é apintura em muros através dedesenhos. Estes desenhos pro-

curam fazer alusão à determi-nada situações da sociedade.“Grafite é arte, sim”, é dessaforma que o grafiteiro BrunoFernandes define aquilo quefaz. Porém ele complementadizendo que existem grafiteirose grafiteiros: “Uns realmentesão pichadores e por causa deatitudes como essa, o grafite évisto como vandalismo”.

Em sites de relacionamentos,os grafiteiros compartilhamsuas obras, trocam idéias e che-gam até marcar encontros.“Através da internet está sendopossível fazer com que cada vezmais pessoas venham conhecero que é o grafite e como são osgrafiteiros. É interessante verque várias pessoas têm a visãodistorcida do que é a arte do gra-fite”, afirma João Thiago.

Através de suas pinturas osgrafiteiros expressam a manei-ra de ver o mundo naquele mo-mento. Dentre estas pinturasdestacam-se o grafite hip-hop eo grafite acadêmico. “Cada umtem seu estilo... seu jeito de con-tar através do desenho aquiloque sente. No entanto, devido àpaixão que o grafite traz, todosse tornam iguais”, como comen-tou Bruno Fernandes.

Grafiteiro em ação do centro de Curitiba: trabalho às vezes é confundido com pichação

Comunidade Artistas do hip-hop levam conscientização para jovens pobres das grandes cidades

Sonner M.C.

55555Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008

Anny Zimermann

Bruna Gorski

Camila Dietzel

Glaucia Canalli

Luisa Barwinski

Cidade marcada pela misci-genação étnica, Curitiba é tam-bém uma mistura de culturas.As manifestações culturais pre-sentes na capital são reflexodessa “mistura de gente”. “Dápara falar de cultura quando setem abertura. Abertura ao queé do outro. Essa mistura é mui-to importante.Diminui a dis-c r i m i n a ç ã o ,aumenta a in-clusão social,as relações so-ciais são maisintensas. Vocênão pode ficarfechado no seum u n d i n h o ” ,afirma AntonioLiccardo, geólo-go e fotógrafo,que teve vários projetos subsi-diados pelas leis de incentivo àcultura, tanto municipal quan-to federal.

Para muitas pessoas pensarem termos de cultura é algo quesuscita muitas dúvidas. Antoniodiz que a “cultura” fugiu do seualcance: “Cultura na minha opi-nião era a expressão de um povo,das pessoas. Não é mais isso faztempo. No mundo moderno, cul-tura virou algo globalizado, es-quisito. Para mim, a cultura éa expressão de quem tem algo adizer. Alguma vivência, experi-ência, um conteúdo importantepara ser apresentado e compar-tilhado com os outros, comouma idéia bem construída”.

Fundação CulturalJosé Roberto Lança, diretor

de ação cultural da FundaçãoCultural de Curitiba, afirmaque “a função da entidade é cri-ar políticas públicas de fomen-to, fusão, de incentivo e acimade tudo de democratização dacultura”. De acordo com o dire-tor, esses incentivos existempara que os projetos culturaispromovidos pelas pessoas rece-

Boas idéias podem sair do papelPrefeitura incentiva a produção cultural por meio de leis de renúncia fiscalPolíticas públicas

bam prestígio e recursos parasua realização. Ele acredita queboas parcerias podem ser feitasentre a municipalidade e a FCCpor meio de projetos de fomentoà cultura. Os projetos escolhi-dos precisam ter algum viéssocial, ou seja, precisam bene-ficiar a sociedade.

Rodrigo Montanari, jornalis-ta e baixista da Banda Oaeoz,jáparticipou com a banda, do pro-jeto Grande Garagem (ou Ga-ragem que Grava), que reuniualgumas bandas de destaque nocenário curitibano. Mas eleacredita que esses incentivos da

FCC não são osuficiente para apromoção da cul-tura. “O critériode escolha nãoleva tanto emconta a qualida-de do projeto aser realizado. Aprioridade é doapelo social queo projeto tem”,explica o músi-co.

A FCC tam-bém possui convênios com a ini-ciativa privada, que possibili-tam exposições de projetos rea-lizados através da Lei de Incen-tivo à Cultura. Esses espaçospodem ser casas noturnas, res-taurantes, galerias. Os espaçospúblicos também são privilegi-ados. Parques como o Barigüisão bastante cotados para queesses eventos aconteçam. Maspara a realização de eventosculturais em ambientes abertosé preciso cuidar com a poluiçãosonora, preservação ambiental,bem como diversas exigênciasda secretaria do meio ambien-te.

Reinaldo Piloto, engenheirodo Departamento de Parques ePraças da Secretaria Municipaldo Meio Ambiente, acredita quea ação conjunta entre a culturae o meio ambiente são bastantepositivas, desde que respeitem asexigências da Secretaria.

Promoção da CulturaProfissionais de diferentes

áreas têm a oportunidade dedivulgar suas idéias em livros,sem ser um literato e sem apretensão de que este torne-se

um best-seller. Qualquer pessoaque tenha uma boa idéia tem aoportunidade de materializá-la.

“Agora está mais fácil depessoas de outras áreas, não li-gadas à ‘cultura pura’, se é queexiste esse terno, realizaremprojetos. Antes, se você não erapoeta, literato, do teatro, dacultura clássica, havia umacerta discriminação”, diz Lic-cardo.

Para o fotógrafo e geólogo, éviável para as empresas inves-tirem nesse incentivo cultural.“Ela não paga uma parcela doimposto e ainda sai com a mar-ca social da empresa vinculadaa um produto que tem boa visi-bilidade. No caso de patrocínioaos livros, é uma forma de mí-dia duradoura”, comenta.

Antonio defende que as leismunicipais de incentivo à cul-tura em Curitiba são modeloem todo o Brasil, desde que osprojetos apresentados sejambem elaborados: “Tem um edi-tal. Eu cumpro esse edital.Faço o levantamento de orça-mentos reais e apresento umtrabalho claro e enxuto. Issofacilita a aprovação”.

No BrasilDe acordo com o site do Mi-

nistério da Cultura, “a Lei Rou-anet, instituiu o ProgramaNacional de Apoio à Cultura(PRONAC), canaliza recursospara o desenvolvimento do se-tor cultural, com as finalidadesde estimular a produção, a dis-tribuição e o acesso aos produ-tos culturais (CDs, DVDs, es-petáculos musicais, teatrais, dedança, filmes e outras produ-ções na área Audiovisual, expo-sições, livros nas áreas de Ci-ências Humanas, Artes, jor-nais, revistas, cursos e oficinasna área cultural, etc); protegere conservar o patrimônio histó-rico e artístico; estimular a di-fusão da cultura brasileira e adiversidade regional e étnico-cultural”. Publicar um livro,lançar um CD ou realizar umaexposição não é barato e as leisde incentivo são uma maneirade viabilizar isso.

“Criei uma série de produ-tos e resultados positivos comesses incentivos municipais efederais. Acho que foi muito pro-dutivo. É essencial a vontadequerer fazer um bom projeto”,

argumenta o Liccardo.

Espaços culturaisEspaços culturaisEspaços culturaisEspaços culturaisEspaços culturaisEspaço para a exposição de

obras de artistas plásticos, de-signers, escultores, o MuseuOscar Niemeyer destaca-se porsua arquitetura moderna.Quando se fala em cultura, logovem à mente dos curitibanos, oteatro. Talvez por esse motivo,esse gênero artístico seja umdos mais influentes na cidade.

Um dos maiores e mais im-portantes teatros da AméricaLatina, o Teatro Guaíra é palcode manifestações artísticas eculturais de peso na Cidade,como a Orquestra Sinfônica doParaná, referência de músicaclássica nacional e o Balé Tea-tro Guairá. Além disso, tambémpossui uma companhia e umaescola de dança. A FundaçãoCultural de Curitiba e a Secre-taria da Cultura do Paraná sãoem geral os mantenedores dosespaços de arte na capital. Pode-se citar a Casa Andrade Muri-cy, Casa de Artes Helena Kolo-dy, Escola de Música e BelasArtes do Paraná, Solar do Rosá-rio, entre outros.

Publicar um livro,lançar um CD ourealizar umaexposição não ébarato e as leis deincentivo são umamaneira deviabilizar isso

Divulgação FCC

O Teatro do Piá conta com apoio da Fundação Cultural de Curitiba

Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 200866666

Bruno Duda

Phillipe Halley

Raphael Brambilla

Rodrigo Ferraz

William Vesely

Entre as diversas manifes-tações culturais de origem afri-cana encontradas em Pernam-buco está o Maracatu, uma dasinúmeras danças dramáticasbrasileiras. De acordo com Leo-nardo Dantas Silva, autor deum artigo sobre o Maracatu deRecife, essa prática teve origemna coroação dos reis e rainhasnegras patrocinadas pelas ir-mandades de Nossa Senhora doRosário e de São Benedido, queexistiam no Brasil desde séculoXVI, promovidas pela própriaadministração colonial portu-guesa.

No Recife, o costume iniciouquando foram feitas as coroa-ções de soberanos do Congo e deAngola, na igreja de Nossa Se-nhora do Rosário dos HomensPretos da Vila de Santo Antô-nio do Recife.

As práticas das danças dra-máticas, originalmente consen-tidas pela administração colo-nial, podem ter sido criadaspara impor um controle simbó-lico sobre as populações negras,haja vista que elas possuíamhierarquias carregadas de ide-ologias.

Se o objetivo original era deincentivar os negros a realiza-rem as coroações para criar hi-erarquias e facilitar o controledos mesmos, na prática, não foiesse o sentido utilizado pelosescravos.

O fato do festejo do Maraca-tu ocorrer em ocasiões onde osnegros embarcavam de volta aÁfrica é mais um indício de queo sentido para os descendentesafricanos estava completamen-te dissociado da questão ligadaa uma santa católica, e sim li-gado a uma luta por liberdadee desejo de voltar à terra natal.

O nome Maracatu primeira-mente estava ligado ao instru-mento de percussão que acom-panhava o cortejo real e maistarde foi utilizado como termopejorativo aos negros.

Espaços preservam cultura popularGrupos cantam e dançam o Maracatu e outras expressões no centro de CuritibaOutros ritmos

Atualmente, a manifestaçãoé conhecida como MaracatuNação ou Maracatu de BaqueVirado, uma diferenciação aoMaracatu Rural, que possuiinfluência indígena.

Ao todo, são mais de 30 per-sonagens que compõem o Ma-racatu. Entre eles estão o por-ta-estandarte, a dama do paço,o rei e a rainha, vassalo, as fi-guras da corte (príncipes, mi-nistros, e embaixadores), asdamas da corte, as yabás e osbatuqueiros.

A cidade de Nazaré da Mata,com aproximadamente 30 milhabitantes e distante 65 quilô-metros da capital Recife, é con-siderada a “Terra do Maracatu”.A cidade possui 17 grupos e,durante o carnaval, é sede domaior encontro de maracatusdo estado de Pernambuco, commais de 50 grupos que vão àsruas para homenagear os ori-xás.

Em CuritibaPorém, não é necessário ir

até Pernambuco para assistiruma apresentação de Maraca-tu. Em Curitiba existem pelomenos seis grupos artísticosque fazem essa manifestação dacultura popular brasileira. Umexemplo de grupo que expressao Maracatu é o Grupo de Músi-ca e Dança Brasileira BoizinhoFaceiro. Maria Cristina, inte-grante do grupo desde 2002,acredita na importância de di-fundir as manifestações cultu-rais nordestinas. “Fomos pio-neiros na arte do Maracatu emCuritiba. A divulgação dessamanifestação contribui, e mui-to, para a cultura da cidade edas pessoas que vivem aqui”,completa.

Em Curitiba, o grupo seapresenta em vários espaços,juntamente com outros movi-mentos da cultura e dança po-pular. O Boizinho Faceiro estásempre no Calamengau, naSociedade Treze de Maio e, naúltima sexta-feira de cada mês,na Rua XV de novembro. O cor-tejo no centro da cidade começageralmente às 19h ao lado doBondinho e segue até a PraçaSantos Andrade com muita dan-ça, música e brincadeiras dacultura nordestina.

Juliane Silva

Rafaela Barros

Rebeca Alcântara

Renata Penka

“Em Curitiba não existeCarnaval.” Esta é a fraseque mais se ouve quando adata comemorativa estáchegando. Isso porque acapital paranaense não é ofoco de investimento emgrandes atrações comodesfiles e bailes de Carnaval.

Ao contrário, o queacontece é um pequenodesfile na Avenida Cândidode Abreu, com a participaçãode 10 escolas de samba. AFundação Cultural deCuritiba é responsável portoda a infra-estruturanecessária ao desfile daavenida: água, luz, sistemade som, arquibancadas ebanheiros químicos. Asatrações que mais movimen-tam o carnaval curitibanosão na verdade os espetácu-los que acontecem na época.

A capital “moderna” doBrasil ainda preserva algu-mas figuras que caracteri-zam o carnaval, típico deuma cidade provinciana.Aqui é possível encontrarainda o Rei Momo, com todoseu excesso de peso e elegân-cia, e a exuberância daRainha da Bateria.

A escolha dos dois símbo-los acontece sempre durantefesta na antiga Sociedade 13de Maio. O Perfil das figu-ras? Pessoas comuns quetransitam em nosso meiolivremente, sem o alvoroçoda fama ao seu redor.

O Rei Momo de 2008 foiEmilson Taborda, 51 anos,tem 136 quilos e é taxista.Já a Rainha chama-seMárcia de Souza, 43 anos,artista plástica, mãe desete filhos e avó. Se aescolha dos símbolos carna-valescos é democrático, oque falar então de um

Curitiba com samba no pé

desfile que consegue englo-bar uma escola de sambareligiosa, Jesus Bom a Beça,que busca pregar por meiodo samba, e um bloco,Dignidade, que trabalhacom gays, lésbicas e trans-formistas.

Se o povo curitibano éacolhedor ou não, já é outradiscussão, porém, pelo menosno carnaval aqui, essasdiferenças são deixadas delado. Tudo em nome da folia.

A folia curitibana começoucom bailes nas sociedades dadécada de 1960, quando osdesfiles aconteciam na Mare-chal Deodoro. Os curitibanosparticipavam massivamenteda manifestação cultural.Algumas exuberâncias docarnaval daquela época aindasão encontradas atualmenteem Curitiba, como a BandaPolaca antiga e atual atraçãodo carnaval curitibano.

Na década de 1960 aconte-ciam as primeiras reuniõespara se formarem as escolas

de samba e a mudança dealguns blocos carnavalescoscomo o “Não Agite”, que atéo seu término optou pordeixar sua denominaçãocomo bloco.

Os temas dos sambasenredo já foram os maisdiversos, vão desde a planta-ção do Café no Estado até ocinema em Curitiba. Sam-bistas importantes para acidade também marcaram aépoca áurea do carnavalcuritibano Glauco SouzaLobo, Rubens Rolim, Pauli-nho Vitola, Nelson Santos,Carlos Eduardo Mattar,entre outros colaborarampara a expansão do carnavalcuritibano e em especial naconstrução do samba-enredodas escolas de samba.

Neste ano, a escolacampeã do carnaval curiti-bano do grupo especial, foi a“Acadêmicos da Realeza”, nogrupo de acesso quem ficoucom o primeiro lugar foi a“Leões da Mocidade”.

Divulgação

77777Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008Curitiba, sexta-feira, 4 de julho de 2008

Marisa Rodrigues

Diego Lopes

Nathalie Jaime

Sinuosa até na violência,negadora de virtudes sociais,contemporizadora e narcotizan-te de qualquer energia real-mente produtiva, a “moral dassenzalas” veio a imperar naadministração, na economia enas crenças religiosas dos ho-mens do tempo. A própria cria-ção do mundo teria sido enten-dida por eles como uma espéciede abandono, um languesci-mento de Deus.

O trecho extraído do livroRaízes do Brasil, escrito em1936, pelo historiador SérgioBuarque de Holanda, interpre-ta o processo de formação daidentidade e da sociedade bra-sileira. A “moral das senzalas”,de que Holanda fala, apesar desugerir a aptidão do negro àqui-lo que se refere ao sentimental,lânguido e dócil, busca compre-ender o saldo resultante do cho-que entre as culturas ibérica,indígena e africana. Para Ho-landa, o português colonizadortinha uma peculiaridade quedurante muito tempo foi descon-siderada. Ele era um aventurei-ro, e não carregava o ideal dedominação para a consolidaçãode uma nova e próspera nação.Segundo o autor, eles queriama dominação para explorar otrabalho, pois possuíam certaaversão à atividades braçais,pretendiam a riqueza sem es-forço. Seus preconceitos advi-nham muito mais da forma dotrabalho que era destinado aoescravo do que de sua etnia.Um negro que por acaso conse-guisse uma ascensão social pas-sava a ser tratado como igual,pois se livrava do serviço peno-so, que só combinava com o lu-sitano nativo, o camponês de-sencorajado que não largou desuas terras para vir saquear asterras do outro lado do oceano.

PositivismoPositivismoPositivismoPositivismoPositivismoA forte repressão das mani-

festações culturais negras foiembrutecida com a introduçãodo pensamento positivista no

Arte contra o preconceitoséculo XIX, que marcou o de-senvolvimento da Repúblicabrasileira. A teoria de Comte foilargamente utilizada pela elitebrasileira, sempre com adapta-ções à realidade nacional.

A antropóloga Lilian MoritzSchwarcz aponta em seu livroO espetáculo das raças: cientis-tas, instituições e questão raci-al no Brasil como o positivismoagiu na classificação, ordenaçãoe organização da sociedade bra-sileira, hierarquizando o indi-víduo e colocando o homem eu-ropeu branco como único mode-lo capaz de superioridade e deintelectualidade no desenvolvi-mento do país, justificando as-sim a opressão ao negro e suacultura. Os defensores dessateoria buscavam artifícios dasciências exatas e biológicas,como a frenologia – medição decrânios e partes do corpo – paracomprovar que existia uma realdiferença intelectual entre asdiversas “raças”.

Cultura reprimidaCultura reprimidaCultura reprimidaCultura reprimidaCultura reprimidaA cultura popular negra,

ainda hoje, sofre com a influên-cia do pensamento positivista.A religião afro-brasileira, porexemplo, que foi, durante mui-to tempo, reprimida e proibida,ainda é alvo de preconceito edesconhecimento da sociedade.Maria José dos Santos, profes-sora e seguidora do Candomblé,acredita que a mídia, ao invésde exercer seu papel de esclare-cedora das questões sócio-cultu-rais, ajuda a consolidar aindamais os preconceitos já estabe-lecidos.

“Muitas vezes sou questio-nada pelas pessoas. Elas meperguntam por que usamos osnomes de santos católicos nasreligiões afro-brasileiras. sequeremos o reconhecimento donosso culto. Isso mostra falta deesclarecimento. O sincretismoreligioso foi a forma que os ne-gros encontraram para desviara atenção dos repressores emum país onde a única religiãotolerada era o catolicismo. Porisso, muitos orixás receberamo nome de santos católicos”.

Mas essa questão dificilmen-te é mostrada na mídia, afirmaMaria José. Ela também ques-tiona a forma como a cultura

popular negra é difundida. “Acultura negra é vista, muitasvezes, como uma cultura exóti-ca, de alegoria e curiosidade.São poucas as considerações fei-tas por parte dos meios de co-municação sobre como a influ-ência afro na construção daidentidade do brasileiro vaimuito além do rebolado da ne-gra e do batuque do samba”,completa.

Para Maria José, a falta deespaço da cultura afro-brasilei-ra na mídia e na sociedade podeser revertida com a introduçãode programas educativos nasescolas, familiarizando a crian-ça brasileira desde pequena,com uma cultura popular à qualela também pertence. “A ampli-ação do contato com a culturanegra a ajudaria a ser mais di-vulgada nos meios de comuni-cação”.

A professora ainda diz quepensar em uma nação forte edesenvolvida, com a reduçãodas mazelas e misérias sociais,sem contemplar a cultura po-pular, seja do negro, do índio oudo sertanejo, é impossível. “Éessa a verdadeira cultura, nãoessa massificação artificial comque somos constantemente bom-bardeados. Nossa riqueza vaisurgir das ruas, dos becos, dascomunidades mais singelas, doscantos mais distantes desseBrasil”.

CapoeiraCapoeiraCapoeiraCapoeiraCapoeiraFalar em cultura negra e

não falar de capoeira é pratica-mente impossível. Ela é umadas mais fortes expressões po-pulares do país. Uma misturade dança, luta, brincadeira emúsica. O berimbau, o pandei-ro, o atabaque, o ganzá e o ago-gô são instrumentos que acom-panham e dão ritmo a luta, as-sim como o canto e as palmasdos participantes da roda.

Criada pelos escravos africa-nos no Brasil colonial no séculoXVII, ela era usada como for-ma de resistência aos seusopressores. Alguns historiadoresacreditam que o nome capoeirateve origem na luta e persegui-ção dos escravos fugitivos peloscapitães do mato. Quando vol-tavam para a fazenda de mãosvazias, eles falavam aos senho-

res que os escravos haviam fu-gido pela capoeira - vegetaçãorasteira que nasce sob a matacortada – para omitir que foramatacados pelos escravos, vítimasde uma sucessão impressionan-te de chutes e pontapés rápidos,nunca antes vistos.

RepressãoRepressãoRepressãoRepressãoRepressãoNão demorou muito para

que a capoeira fosse reprimida.Um decreto assinado pelo Ma-rechal Deodoro da Fonseca proi-bia, a partir do dia 11 de outu-bro de 1890, a prática da lutaem todo território nacional eaquele que fosse apanhado jo-gando capoeira, ou estivesse li-gado aos grupos que exaltassema luta, seriam mandados paraa ilha de Fernando de Noronha,onde cumpririam uma pena dedois a seis meses de prisão.Mesmo depois de cessada a proi-bição, o estigma de luta de mar-ginal e vagabundo ainda está noimaginário de muitos brasilei-ros.

ReconhecimentoReconhecimentoReconhecimentoReconhecimentoReconhecimentoO professor de capoeira Je-

ferson Gonçalves, conhecidocomo Mestre Bambu, acreditaque a capoeira ainda não obtevea consagração que merece. Se-gundo ele, a grande maioria das

artes marciais do oriente, tãocultuadas e difundidas no Bra-sil, foram criadas por exércitose governos com a intenção dedominar um povo. “A capoeira égenuína e diferente porque foicriada não para reprimir umpovo, e sim, para ajudar na li-bertação dos escravos. É a resis-tência do negro em forma dedança, de luta e de ginga”, com-pleta o mestre. O professor tam-bém observa que o a ligação en-tre a luta e o banditismo está seenfraquecendo com o passar dosanos. Ele acredita que ocorreuum fenômeno de elitização influ-enciado pela mídia. A capoeirasaiu das ruas para as academi-as da classe média brasileira,para as novelas, escolas parti-culares e é vista como um exce-lente exercício físico. Apesar deperder um pouco a essência decultura popular para se trans-formar em um culto ao corpo,muito celebrado pela sociedademoderna, o professor consideracomo algo positivo. “Tudo o queajuda a romper barreiras e pre-conceitos é válido. A mídia aju-dou nesse sentido. Como vivemosem sociedade, as coisas tendema se transformar, só não pode-mos perder de vista o propósitode liberdade, de onde a capoeirase originou”.

Divulgação

Apresentação da capoeira brasileira na Europa

Resistência Cultura negra se mantém em manifestações como o candomblé e a capoeira

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Andrea Gonçalves

Amanda Lara

Bianca Pelegrini

Singara Paes

“Sou caipira, pira-pora, Nos-sa Senhora de Aparecida, ilumi-na a mina escura e funda otrem da minha vida (...)” A le-tra de Renato Teixeira demons-tra um pouco do que é a cultu-ra caipira.

O termo caipira é de origemtupi e significa “cortador demato”, nome dado pelos índiosGuaianás, do interior de SãoPaulo, aos colonizadores cabo-clos, brancos enegros. Nor-malmente sãochamados decaipiras os mo-radores do inte-rior de SãoPaulo. Mascom a intensaimigração ocor-rida no Brasilinteiro, outrosnomes foramdados, dependendo da região:em Minas Gerias o caipira temsuas raízes e é conhecido comocapiau, que tem o mesmo sig-nificado citado acima; no Nor-deste é matuto e no Sul colono.

Danças, músicas, tradições,estes são alguns dos tópicos quecompõem a chamada “culturacaipira”, que também é forte-mente caracterizada pela reli-giosidade católica tradicional,por superstições e pelo folclorerico e variado.

Oposto à “loucura” das me-galópoles, das buzinas, da fuma-ça dos carros, o caipira é umafigura humana extraordiná-ria. O “caipira” possui algumasparticularidades, uma delas éo jeito de falar e de se vestir.Ele tem jeito desconfiado de ser,quando está com pessoas consi-deradas “urbanas”, mas quefica à vontade quando está a sóscom outros caipiras. Sua músi-ca também é muito conhecidapelo povo da cidade, e pode serchamada de música caipira,música sertaneja, música deraiz, ou até música do interior.Também é típico do caipira os“causos” (historietas contadas

Do caipira ao sertanejode pai para filho durante sécu-los), que o caipira gosta de con-tar.

Personagem de uma histó-ria rica, mas muitas vezes de-turpada, é freqüentemente ví-tima de preconceitos. O sotaquecaracterístico do caipira muitasvezes é visto como ignorância ecomo falta de cultura. O este-reótipo criado pela sociedadecapitalista vê o caipira comouma pessoa atrasada, simples,que se veste mal e fala errado.

No estudo feito pelo sociólo-go Antonio Cândido “Os parcei-ros do Rio Bonito: estudo sobreo caipira paulista e a transfor-mação dos seus meios de vida”

(Editora DuasCidades), o caipi-ra aparece comoresultado damistura do índiocom o portuguêscolonizador du-rante os séculosXVI, XVII eXVIII. Da cultu-ra indígena,esse povo herdoua familiaridadecom a mata, o

faro na caça, a arte das ervas eo encantamento das lendas. Dosbrancos, os costumes, a línguae a viola, que foi um dos fatoresque o fez se destacar na socie-dade capitalista de hoje.

Atualmente, essa cultura jápassa por uma espécie de sofis-tica revitalização, graças à mú-sica. Foi através dela que as coi-sas mudaram, com a chegadada gravadora Kuarup, que pro-moveu um resgate tratando amúsica caipira como um gêneroque merecia seu espaço peranteo público. Aproveitando a opor-tunidade, músicos e pesquisado-res como Leandro Carvalho des-cobriram pessoas como JoãoPacifico, que poderia ser caipi-ra, mas ao mesmo tempo pro-fundo. Seguindo na mesma li-nha, mas agora explorando aspossibilidades de instrumental,apareceu em disco, o TrioCarapi’a. Da região de Campi-nas, Elias Kopcak e Rodrigo Naliformam um trio de violas de dezcordas ou “caipiras”. E dessa for-ma, a música e cultura caipirafoi conquistando seu espaço, che-gando no que é hoje.

Pintura de Almeida Jr: até hoje, cultura caipira é discriminada no Brasil

O caipira aparececomo resultado damistura do índiocom o portuguêscolonizadordurante os séculosXVI, XVII e XVIII

Advinda da Europa, a FestaJunina que festejamos aqui noBrasil é uma homenagem a SãoJoão. Quem trouxe esta tradiçãoforam os portugueses quandovieram para o Brasil.

O começo foi com os jesuítas,que todo mês de junho acendi-am fogueiras. Isto chamava mui-ta a atenção dos indígenas, quetambém faziam rituais para apreparação dos novos plantios eàs colheitas no mês de junho. Efoi assim que nasceram as fes-tas de São João.

Comemoradas no Brasil in-teiro, na região Nordeste foionde tiveram maiores expres-sões. Três santos católicos sãohomenageados: São João, SãoPedro, e Santo Antônio. Uma dosobjetivos destas festas realiza-das no Nordeste é agradecer asraras chuvas que caem na região,pois lá a seca reina, e as chuvasservem para manter a agricul-tura.

Porém não é só para isso queservem as festas juninas, o ladoeconômico também conta, poisvários turistas partem para ascidades nordestinas para acom-

Festas juninaspanhar festas tradicionais. Asmais conhecidas são as festas emCaruaru, em Pernambuco, e emCampina Grande, na Paraíba.

Muito conhecido nacionalmen-te é a festa que acontece na regiãoNorte, que são verdadeiras mani-festações culturais. A disputa en-tre os grupos Caprichoso e Garan-tido é a principal atração.

Já na Região Sul o que predo-mina é a tradição caipira que sãoas quermesses, festas nas esco-las, associações e realização derodeios.

As quermesses são festas naregião sul nos meses de junho ejulho e normalmente são freqüen-tadas por muitas pessoas que nãosabem o verdadeiro significado dacultura caipira, muita coisa tam-bém é descaracterizada, pois hojeas coisas estão tudo se moderni-zando, até mesmo as festas cai-piras estão sendo adaptadas.

Mas algumas tradições aindaperduram, como as roupas e ascomidas caipiras.

ComidasA comida caipira depende de

cada região, por isto cada uma tem

a sua. Em São Paulo há umacaracterística dos primórdios,que são as comidas feitas nofogo-de-chão, o fogão dos tropei-ros. Com o passar dos anos issomudou e é hoje o conhecido fo-gão a lenha. Os responsáveispela disseminação da comidacaipira no Brasil foram os tro-peiros bandeirantes.

Entre as comidas estão o lei-tão à pururuca, cuscuz caipirade legumes, pamonha, arroz tro-peiro, bolinho caipira, vaca ato-lada, frango caipira, o furrun-dum, farofa de lingüiça, fraldi-nha em panela de ferro, caipiri-nha, a paçoca de amendoin, ofeijão tropeiro, a canjica comcostela de porco, a goiabada, ovirado à apulista, afogado, bo-linho de mandioca, rabada, pé-de-moleque, a cabidela miúda,quentão, farofa de iça, rosqui-nhas de pinga, o doce de bana-ninha entre outros.

Fontehttp://www.overmundo.

com.br/overblog/com-voces-os-ilustres-mazzaropis-de-curitiba

Reprodução/ Pinacoteca do Estado de S. Paulo

História Cultura caipira, apesar de discriminada, é uma das mais tradicionais do Brasil