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8/17/2019 O Ultimo Judeu.doc http://slidepdf.com/reader/full/o-ultimo-judeudoc 1/265  ^ m 1492, além da chegada de Colombo à América, conclui-se também a Reconquista, como se chamou a luta que os cristãos da en!nsula "bérica tra#aram contra os mouros do século $"" ao %inal do século $&' ( o ano da queda de )ranada, *ltimo reduto mu+ulmano a sucumbir ante os reis catlicos ernão e "sabel' ( também o marco a .artir do qual a gigantesca lim.e/a étnica encontra o seu %echo de ouro, quando a "nquisi+ão, sob a dire+ão de 0orquemada, decide queimar qualquer coisa que o%ere+a resistncia real ou #irtual ao  .oder da "grea e das Coroas unidas de Aragão e Castela'  Austadas as contas com os in%iéis isl3micos, chegara a #e/ dos udeus' Alguns aumentarão a lista dos eecutados .ela "nquisi+ão es.anhola5 os demais serão %or+ados, .or decreto real, a se con#erter ou a deiar a 6s.anha'  6sta é a cena que se abre aos .ersonagens de 7oah )ordon' "nquisidores #i#endo muito  bem 8a "nquisi+ão %ica#a com um ter+o dos bens dos hereges, gente da Corte 8os outros dois ter+os %ica#am na Corte, udeus con#ertidos e acusados de .r:ticas clandestinas 8queimados, às #e/es, ao lado de antigas e ricas %am!lias de cristãos criadores de casos e  udeus não-con#ertidos'  ;s não-con#ertidos seriam obrigados a %ugir .or causa do decreto' 6 %oi eata-mente o que %i/eram, todos menos <onah =el>ias 0oledano, .ersonagem central de )ordon' ?endo a.enas um garoto inde%e-   7oah )ordon ; @0"B; DE6D Dma histria de terror na "nquisi+ão 0radu+ão de BFR"; B;"7A %ecr Rio de aneiro - 2GGG so, no dia em que o .ai é #!tima de um derradeiro .ogrom, <onah não consegue %ugir e %ica solto nos cam.os da 6s.anha, #agando num burro que ele chama secretamente de Boisés'  <onah 0oledano ser: o %io condutor de uma histria ambientada h: quinhentos anos no sul da 6s.anha e no reino de Hra-gão, quando os autos-de-%é queima#am oito mil .essoas e soberanos catlicos substitu!am os in%iéis no .al:cio do Hlhambra, em )ranada' 6le #ai trabalhar na terra como .eão, num calabou+o como ser#ente, ser: .astor de o#elhas nas montanhas desertas da Andala/ia, maruo, a.rendi/ de amieiro, médico, cirurgião, .olidor de armaduras e tradutor de teto hebraico .roibido'  Adquire, assim, a e.erincia e a ca.acidade de de%esa que o manti#eram #i#o até o %inal da histria' &i#o e não-con#er-tido' 0orcendo .or uma #ida su%icientemente longa .ara le#ar os %ilhos adultos aos lugares secretos, acender as #elas do shabat, entoar as .reces nas l!nguas desconhecidas e deiar o resto, como di/ o autor, nas mãos de Eeus'  7;A= );RE;7, autor de A escolha da dra' Cole, ; %!sico, $atnã, ; diamante de erusalém, ; rabino e ; comité da morte, é um best-seller internacional, tradu/ido e  .remiado em di#ersos .a!ses' Ca.aI )oJa, Cena da "nquisi+ão, Academia de ?ão 0ernando, Badri'

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  ^ m 1492, além da chegada de Colombo à América, conclui-se também a Reconquista,como se chamou a luta que os cristãos da en!nsula "bérica tra#aram contra os mouros do

século $"" ao %inal do século $&' ( o ano da queda de )ranada, *ltimo reduto mu+ulmanoa sucumbir ante os reis catlicos ernão e "sabel' ( também o marco a .artir do qual agigantesca lim.e/a étnica encontra o seu %echo de ouro, quando a "nquisi+ão, sob a dire+ãode 0orquemada, decide queimar qualquer coisa que o%ere+a resistncia real ou #irtual ao .oder da "grea e das Coroas unidas de Aragão e Castela'  Austadas as contas com os in%iéis isl3micos, chegara a #e/ dos udeus' Algunsaumentarão a lista dos eecutados .ela "nquisi+ão es.anhola5 os demais serão %or+ados, .ordecreto real, a se con#erter ou a deiar a 6s.anha'  6sta é a cena que se abre aos .ersonagens de 7oah )ordon' "nquisidores #i#endo muito bem 8a "nquisi+ão %ica#a com um ter+o dos bens dos hereges, gente da Corte 8os outrosdois ter+os %ica#am na Corte, udeus con#ertidos e acusados de .r:ticas clandestinas8queimados, às #e/es, ao lado de antigas e ricas %am!lias de cristãos criadores de casos e udeus não-con#ertidos'  ;s não-con#ertidos seriam obrigados a %ugir .or causa do decreto' 6 %oi eata-mente oque %i/eram, todos menos <onah =el>ias 0oledano, .ersonagem central de )ordon' ?endoa.enas um garoto inde%e-  7oah )ordon; @0"B; DE6DDma histria de terror na "nquisi+ão

0radu+ão de BFR"; B;"7A%ecr Rio de aneiro - 2GGG

so, no dia em que o .ai é #!tima de um derradeiro .ogrom, <onah não consegue %ugir e %icasolto nos cam.os da 6s.anha, #agando num burro que ele chama secretamente de Boisés'  <onah 0oledano ser: o %io condutor de uma histria ambientada h: quinhentos anos no sulda 6s.anha e no reino de Hra-gão, quando os autos-de-%é queima#am oito mil .essoas esoberanos catlicos substitu!am os in%iéis no .al:cio do Hlhambra, em )ranada' 6le #aitrabalhar na terra como .eão, num calabou+o como ser#ente, ser: .astor de o#elhas nasmontanhas desertas da Andala/ia, maruo, a.rendi/ de amieiro, médico, cirurgião, .olidorde armaduras e tradutor de teto hebraico .roibido'  Adquire, assim, a e.erincia e a ca.acidade de de%esa que o manti#eram #i#o até o %inalda histria' &i#o e não-con#er-tido' 0orcendo .or uma #ida su%icientemente longa .arale#ar os %ilhos adultos aos lugares secretos, acender as #elas do shabat, entoar as .reces nasl!nguas desconhecidas e deiar o resto, como di/ o autor, nas mãos de Eeus' 7;A= );RE;7, autor de A escolha da dra' Cole, ; %!sico, $atnã, ; diamante deerusalém, ; rabino e ; comité da morte, é um best-seller internacional, tradu/ido e .remiado em di#ersos .a!ses'Ca.aI )oJa, Cena da "nquisi+ão, Academia de ?ão 0ernando, Badri'

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 0!tulo original 0=6A?06KCo.Jright L 2GGG bJ ise )ordon, amie Meth )ordon e Bichaei ?eaJ )ordon0odos os direitos reser#adosEireitos .ara a l!ngua .ortuguesa reser#ados com eclusi#idade .ara o Mrasil à6E"0;RA R;CC; 0EA'

Rua Rodrigo ?il#a, 2N - OP andar 2GG11-G4G - Rio de aneiro, R0el'I OGQ-2GGG - aI OGQ-2244e-mailI roccorocco'com'br SSS'rocco'com'br rinted in Mro/iTAm.resso no Mrasil .re.ara+ão de originais BA"RA ARDA re#isão es.ecial F0"BA AE6  C"-Mras!l' Cataloga+ão-na-%onte ?indicato 7acional dos 6ditores de i#ros, R)NQ1u )ordon, 7oah  ; *ltimo udeu - Dma histria de terror na "nquisi+ãoT 7oah )ordon5 tradu+ão, B:rioBolina' - Rio de aneiroI Rocco, 2GGG0radu+ão deI 0he last eS "?M7 UO-V2O-11Q1-N

GG-G9V1

1' ic+ão norte-americana' "' Bolina, Bano' ""' 0!tulo'CEE-U1V CED - U2G8QV-V

Com amor ara Caleb e 6mmae .ara a #o#

 $^-C ^W^% 0arrP9 7 TT ?^ã%lXA E6)R6E;? , ^YT ZZ-[T bsendo \ 0o]edo r1Q J ^b? Eenio 5W?!^'6s.anha na "dade Bédia

AR06 DB; R"B6"R; "=;  0oledo, Castela 2V de agosto de 14U9 _ CA"0D;, 1 ta ; "=; E; ;DR"&6?; mau tem.o come+ou .ara Mernardo 6s.ina num dia em que o ar ca!a .esado como %erroe a lu/ altaneira do sol era uma .raga' 7aquela manhã, seu consultrio a.inhado de gente%icou quase #a/io quando a bolsa de :gua de uma mulher gr:#ida estourou5 os dois .acientes que não sa!ram %oram banidos .or ele' 7ão se trata#a sequer de uma cliente5a.enas uma mo+a que le#ara o .ai idoso ao médico .or causa de uma tosse que não .ara#a'

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6ra seu quinto bebé e emergiu sem delongas .ara o mundo' 6s.ina .`s nas mãos omenininho rosado, lustroso, e, quando bateu nas .equenas n:degas, o ui#o estridente do#igoroso .eão/inho .ro#ocou risos e brados de alegria nos que es.era#am do lado de %ora'  ; .arto le#antou o 3nimo de 6s.ina com a %alsa .romessa de um dia %eli/' Como nãotinha com.romisso à tarde, esta#a .ensando em .re.arar uma cesta com doces e uma

garra%a de #inho tinto .ara ir com a %am!lia até o rio' 6nquanto as crian+as cha.inhassem na:gua, ele e 6strella .oderiam sentar na sombra de uma :r#ore, bebericar, beliscar os doces econ#ersar sossegadamente'  6sta#a acabando de atender o *ltimo .aciente quando um homem, usando a batinamarrom de um no#i+o, entrou saltitando no .:tio montado em um burro' ; animal .areciater sido %or+ado demais rium dia quente como aquele'  Cheio de contida .om.a e entusiasmo, o homem balbuciou que a .resen+a do senormédico esta#a sendo solicitada no Bosteiro da Assun+ão .elo .adre ?ebasti:n Al#are/'- ; .rior es.era que #: de imediato'  ; médico a.ostou que o homem sabia que ele era um con#ertido' As maneiras continhamo res.eito de#ido à sua .ro%issão, mas ha#ia insolncia no tom, quase o mesmo tom8embora não de todo que o homem teria usado .ara se dirigir a qualquer outro udeu'  6s.ina assentiu e tomou .ro#idncias .ara que dessem alguns goles de :gua ao burro ecomida e bebida ao homem' 0omou também 1G 7;A=);RE;7a .recau+ão de miar, la#ar o rosto e as mãos, engolir um .eda+o de .ão' ; no#i+o aindaesta#a comendo quando 6s.ina saiu .ara atender à con#oca+ão'0inham se .assado on/e anos desde sua con#ersão' Eurante todo esse tem.o se dedicaracom %er#or à %é .ela qual o.tara, obser#ando cada dia santo, assistindo diariamente à missacom a es.osa, mostrando-se sem.re :#ido .ara ser#ir sua "grea' Agora se .usera .rontamente na estrada .ara atender ao .edido do .adre, embora num .asso que nãoes%al%asse o animal sob o sol abrasador'  Chegou ao mosteiro eronimita a tem.o de ou#ir o som de bron/e dos sinos chamando os%iéis .ara o Hngelus da 6ncarna+ão' &iu também quatro suados irmãos leigos carregando acesta de .ão dormido e o caldeirão de so.a boba, o caldo ralo que seria a *nica re%ei+ão dodia .ara os indigentes reunidos na .orta do mosteiro'  6ncontrou o .adre ?ebasti:n andando de um lado .ara o outro no claustro, absorto numacon#ersa com %rei *lio ére/, o sacristão da ca.ela' ; ar de gra#idade em seus rostoschegou até 6s.ina'  Atordoado %oi a .ala#ra que .iscou na cabe+a do médico quando o .rior mandou osacristão sair e cum.rimentou-o sombriamente em nome de Cristo'  - 6ncontraram o cor.o de um garoto entre nossas oli#eiras, %oiassassinado - disse o .adre, um homem de meia-idade com uma ansiedade crnica no olhar' 6ra como se #i#esse com medo de Eeus nãoestar satis%eito com o seu trabalho' ?em.re %ora decente nas rela+escom os con#ertidos'  6s.ina abanou de#agar a cabe+a, mas a mente : esta#a atenta a um sinal de ad#ertncia'6ra um mundo #iolento' Com desagrad:#el %requncia alguém era encontrado morto, masa.s a #ida ter %ugido não ha#ia ra/ão .ara chamar um médico'- &enha'

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  ; .rior condu/iu-o até a cela de um %rade, onde o cor.o %ora estendido' : o calor tinhatra/ido moscas e o es.ecial %edor adocicado da mortalidade humana' Com uma .ontada deang*stia, Mernardo 6s.ina reconheceu o rosto e se ben/eu, não sabendo se o re%leo era .elo menino udeu chacinado, .or si mesmo ou .ela .resen+a do clérigo'  - )ostar!amos de saber mais detalhes sobre esta morte' - ; .adre

?ebasti:n olhou .ara ele e continuouI - ?aber tudo' 0anto quanto é .oss!#el saber' - Mernardo abanou a cabe+a, ainda con%uso' ; @0"B; DE6D 11  - 6le se chama Beir e é %ilho de =el>ias 0oledano - disse Mernar do e o .adre assentiu' ; .ai do ra.a/ assassinado era um dos .rinci.aisouri#es de toda Castela'Mernardo 6s.ina continuouI  - ?e não me %alha a memria, o garoto tem no m:imo quin/eanos' ?ea como %or, sua #ida mal .assou da in%3ncia' Assim é que ele%oi encontrado  - 6ato' or %rei Angelo, que colhia a/eitonas de manhã muito cedo, logo a.s as Batinas'  - osso eamin:-lo, .adre - .erguntou 6s.ina, e o .rior concor dou com um gesto im.aciente da mão'  ; rosto do garoto era inocente e não tinha marcas' =a#ia contuses esbranqui+adas nos bra+os e no .eito, um .onto roo nos m*sculos da coa, trs %acadas su.er%iciais nas costase um corte no lado esquerdo, sobre a terceira costela' ; 3nus esta#a rasgado e ha#iaes.erma nas n:degas' 6 %iletes muito n!tidos de sangue de um lado a outro da gargantacortada'  Mernardo conhecia a %am!lia, udeus de#otos e obstinados que abomina#am os que, comoo .r.rio Mernardo, tinham se dis.osto a abandonar a religião dos .ais'  A.s o eame, o .adre ?ebasti:n .ediu que o médico o seguisse até o sacellum, onde sedeiaram cair de oelhos nas duras laes diante do altar e recitaram o .adre-nosso' Ee umaestante atr:s do altar, o .adre ?ebasti:n tirou uma .equena caia de s3ndalo' Abrindo-a,remo#eu uma .e+a de seda escarlate, %ortemente .er%umada' uando ele desdobrou a seda,Mernardo 6s.ina #iu um %ragmento seco e esbranqui+ado, com menos de meio .almo decom.rimento'- ?abe o que é isso  ; .adre .arecia entregar o obeto com relut3ncia' 6s.ina se a.roimou da lu/ oscilantedas #elas #oti#as e eaminou-o'- Dm .eda+o de osso humano, .adre'- ?im, meu %ilho'  Mernardo esta#a numa .onte %r:gil, estreita, equilibrando-se sobre o trai+oeiro abismo doconhecimento ganho em horas longas e secretas diante da mesa de disseca+ão' A disseca+ão%ora .roibida .ela "grea, mas 6s.ina ainda era udeu na é.oca do a.rendi/ado com ?amuelro#o, um médico de renome, também udeu, que a .ratica#a secretamente' Agora eleolha#a diretamente nos olhos do .rior'  - ; %ragmento de um %émur, o maior osso do cor.o' 7este caso,tirado de .erto do oelho' 12 7;A= );RE;7

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  6aminou os rele#os do osso, a#aliando a massa, a angula+ão, os sinais caracter!sticos, ossulcos'- ( da .erna direita de uma mulher'- ode di/er tudo isso sim.lesmente olhando- ?im'

A lu/ das #elas amarela#a os olhos do .rior'- ( o mais sagrado dos elos .ara o ?al#ador'Dma rel!quia'  Mernardo 6s.ina %itou o osso com interesse' 7unca sonhara em chegar tão .erto de umarel!quia sagrada'- ; osso de uma m:rtir- ( o osso de ?anta Ana - disse calmamente o .rior'  6s.ina demorou um .ouco .ara com.reender' A mãe de a &irgen Baria Certamentenão, ele .ensou, horrori/ado ao .erceber que tinha %alado estu.idamente em #o/ alta'  - ( sim, meu %ilho' Atestado .elos que lidam com essas coisas emRoma e en#iado .ara ns .or ?ua 6minncia o cardeal Rodrigo ancol'  A mão de 6s.ina segurando o obeto tremeu de um modo estranho .ara quem, h: anos,era um bom cirurgião' Cuidadosamente, ele de#ol#eu o osso ao .adre e deiou-se cair outra#e/ de oelhos' Eando ra.idamente gra+as, untou-se ao .adre ?ebasti:n em mais uma .rece'Bais tarde, de no#o sob o sol quente do lado de %ora, 6s.ina notou que ha#ia homensarmados nos terrenos do mosteiro, homens que não .areciam %rades'  - 7ão #iu o garoto ontem à noite, enquanto ele ainda esta#a #i#o, .adre  - 7ão #i - disse o .adre ?ebasti:n, que também in%ormou, %inalmente, .or que o mandara chamar' - 6ste mosteiro encomendou aoouri#es =el>ias um relic:rio moldado em ouro e .rata' Ee#ia ser uma .e+a not:#el, com a %orma de um cibrio, .ara aloar nossa rel!quiasagrada durante os anos que le#aremos .ara %inanciar e construir umaurna adequada em honra de ?anta Ana'  ;s esbo+os do artesão eram es.lndidos, sugerindo, em cada detalhe, que o trabalhoacabado seria digno da tare%a recebida'  ; garoto de#ia ter entregue o relic:rio ontem à noite' uando seu cor.o %oi encontrado,ao lado dele ha#ia uma bolsa de couro #a/ia' T  ( .oss!#el que aqueles que o mataram seam udeus, mas também .odem ser cristãos'&oc é um médico que tem acesso a muitos lugares e à #ida de muita gente' Cristão, mastambém udeu' ueria que descobrisse a identidade dos res.ons:#eis' ; @0"B; DE6D 1V  Mernardo 6s.ina en%rentou com ressentimento a insens!#el ignor3ncia daquele clérigo, .ara quem um con#ertido era bem recebido emqD@- ?m%tol#e/ a *ltima .essoa que o senhor de#eria encarregar de uma tare%a dessas,re#erendo'  - 7ão im.orta' - ; .adre contem.lou-o com ar obstinado e com a im.lac:#el crue/a dealguém que desistira dos con%ortos terrenos .ara a.ostar tudo no mundo #indouro' - &ai meencontrar esses ladres assassinos, meu %ilho' 0em de mostrar aos nossos demnios que .odemos nos .roteger contra eles' 0em de trabalhar .ela sua "grea'

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 fY CA0D; 2 _aA EFE"&A E6 E6D?adre ?ebasti:n sabia que %rei *lio ére/ era um homem de %é im.ec:#el, alguém que seriao escolhido .ara dirigir o Bosteiro da Assun+ão se ele ti#esse de se a%astar em #irtude de

morte ou de algum outro im.re#isto' Contudo, o sacristão da ca.ela era .reudicado .oruma inocncia ecessi#amente con%iante' adre ?ebasti:n acha#a .erigoso que, dos seishomens de armas, dos seis guardas de olhar duro contratados .ara #igiar os .er!metros domosteiro, s trs %ossem conhecidos .essoalmente .or %rei *lio ou .or ele .r.rio'  ; .adre esta#a dolorosamente consciente de que o %uturo do mosteiro, assim como seu%uturo .essoal, re.ousa#a na .equena caia de madeira escondida na ca.ela' A .resen+a darel!quia o enchia de gratidão e reno#a#a seu sentimento de assombro, mas também lheaumenta#a a ansiedade, .ois t-la sob sua guarda era ao mesmo tem.o uma grande honra euma terr!#el res.onsabilidade'  uando menino em &alncia, com .ouco mais de do/e anos, ?ebasti:n Al#are/ #iraalguma coisa na su.er%!cie .olida de um c3ntaro de cer3mica .reta' A #isão - .orque elesabia que era isso - ocorreu-lhe no meio de uma noite assustadora, quando acordou noquarto que com.artilha#a com os irmãos, Augustin e uan Antnio' Ao contem.lar acer3mica .reta sob a lu/ da lua que entra#a no a.osento, #iu o .r.rio ?enhor esuscruci%icado' 0anto a imagem do ?enhor quanto a cru/ esta#am emba+adas e não mostra#amdetalhes' Ee.ois da #isão, ele tornou a mergulhar num sono doce e aconchegante5 quandodes.ertou de manhã, a #isão desa.arecera, mas a lembran+a do que ha#ia #isto continua#a .er%eitamente clara em sua mente'  7unca re#elou a ninguém ter sido escolhido .or Eeus .ara receber uma #isão' ;s irmãosmais #elhos iam /ombar e di/er que ele #ira o dragão da lua re%letido no c3ntaro' ; .ai, um barão que acha#a que sua linhagem e suas terras lhe da#am o direito de ser uma bestagrosseira, teria lhe batido .or querer %a/er os outros de bobo' A mãe era uma %igura anulada5#i#ia com medo do marido e raramente %ala#a com os %ilhos' ; @0"B; DE6D 1O  Bas a.s a noite da #isão, este#e sem.re claro .ara ?ebasti:n o .a.el que lhe esta#areser#ado na #ida' ogo ele demonstrou uma .iedade que tornou %:cil .ara a %am!liaencai:-lo no ser#i+o da "grea'  A.s a ordena+ão, o .adre se contentou em ser#ir humildemente em #:rias %un+es semim.ort3ncia' ? no seto ano a.s a ordena+ão, ele seria audado .ela crescenteim.ort3ncia do irmão uan Antnio' Augustin herdara o t!tulo e as terras em &alncia, masuan Antnio %i/era um ecelente casamento em 0oledo e a %am!lia da es.osa, os .oderososMrgia, conseguiram que ?ebasti:n %osse indicado .ara a ?é de 0oledo'  ?ebasti:n %oi nomeado ca.elão de um no#o mosteiro eronimita e assistente de seu .rior, .adre ernimo Eegas' ; Bosteiro da Assun+ão era etremamente .obre' 7ão tinha terra .r.ria, sal#o o diminuto terreno onde se locali/a#a, mas arrenda#a um bosque de oli#eirase, como ato de caridade, uan Antnio .ermitiu que os %rades .lantassem #ideiras noscantes e nas orlas das terras dele' Bas o mosteiro conseguia .ouco dinheiro em donati#osde uan Antnio ou de qualquer outra .essoa e não atra!a no#i+os ricos .ara as lidas doser#i+o di#ino'

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  Contudo, a.s a morte do .adre ernimo Eegas, ?ebasti:n Al#are/ sucumbiu ao .ecadoda #aidade quando os %rades elegeram-no .rior, embora ele sus.eitasse que a honra se de#iaao %ato de ser irmão de uan Antnio'  ;s .rimeiros cinco anos na dire+ão do mosteiro tinham-no abatido, minado seu 3nimo,mas a des.eito da dolorosa insigni%ic3ncia, o .adre ousara sonhar' A gigantesca ordem

cisterciense %ora iniciada .or um .unhado de homens dedicados, menos numerosos ainda emais .obres que seus .r.rios %rades' ?em.re que o n*mero daqueles monges de t*nicas brancas de uma comunidade cisterciense chega#a a sessenta, do/e sa!am .ara come+ar umno#o monastério' oi assim que se es.alharam .or toda a 6uro.a em nome de esus' adre?ebasti:n di/ia a si mesmo que seu modesto monastério .odia %a/er o mesmo' Masta#a queEeus indicasse o caminho' 7o ano do ?enhor de 14UU, o .adre ?ebasti:n %icou em.olgado 8e a comunidade religiosade Castela ganhou no#o #igor com um #isitante #indo de Roma' ; cardeal Rodrigo ancoltinha ra!/es es.anholas, tendo nascido .erto de ?e#ilha e sido bati/ado como RodrigoMrgia' "ora adotado, quando o#em, .or seu tio, o .a.a Calisto """, sendo cria-o .ara serum homem a temer, alguém etremamente .oderoso dentro da "grea'

1N 7;A= );RE;7  A %am!lia Al#are/ #inha h: muito tem.o se re#elando amiga e aliada dos Mrgia e os%ortes la+os entre as duas %am!lias tinham sido %ortalecidos .elo casamento de 6lienorMrgia com uan Antnio' Ee#ido à união com os Mrgia, uan Antnio se tornara da noite .ara o dia uma %igura .o.ular nos e#entos da corte5 di/ia-se que era um %a#orito da rainha'6lienor era .rima-irmã do cardeal ancol'- Dma rel!quia - ?ebasti:n dissera a 6lienor'  6le abomina#a ter de .edir alguma coisa à cunhada, de quem não su.orta#a a .resun+ão,a hi.ocrisia e o es.!rito de #ingan+a que #inha à tona quando a irrita#am'  - A rel!quia de um m:rtir, tal#e/ de um dos santos menos im.or tantes' ?e ?ua 6minncia .udesse audar o mosteiro a obter uma talrel!quia, todos os nossos .roblemas estariam resol#idos' 6 tenho certe/a de que ele #iria em nosso socorro a um sim.les .edido seu'- Ah, eu não .oderia''' - 6lienor .rotestou'  7ão obstante, ?ebasti:n %oi se tornando mais atre#ido e mais insistente à medida que iachegando a hora da #isita de ancol' inalmente, ela amoleceu' ara li#rar-se de umaborrecimento e eclusi#amente em considera+ão ao marido, acabou .rometendo ao irmãode uan Antnio %a/er o que %osse humanamente .oss!#el .ara %a#orecer sua causa' 6ra #o/corrente que o cardeal %icaria hos.edado em Cuenca, na .ro.riedade do irmão do .ai dela,)arci Mrgia une/'  - &ou %alar com o tio e .edir que ele %a+a isso - ela .rometeu a?ebasti:n'Antes de .artir da 6s.anha, o cardeal ancol o%iciou na catedral de 0oledo uma missaassistida .or cada %rade, .adre e .relado da região' A.s o ser#i+o, ancol %oi rodeado dosconhecidos que #inham se des.edir' 0inha a mitra de cardeal na cabe+a, o b:culo 8umgrande caado de .astor na mão e, em #olta do .esco+o, o .:lio que lhe %ora dado .elo .a.a' ?ebasti:n #iu-o de longe, como se esti#esse e.erimentando outra #isão' A.s amissa, não .rocurou abordar ancol' 6lienor in%ormara que )arci Mrgia une/ : %i/era o .edido' ; tio destacara que ca#aleiros e soldados de todos os .a!ses da 6uro.a tinhamatra#essado a 6s.anha a.s cada uma das grandes cru/adas' Antes de retornarem a casa,

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 .orém, des.oa#am o .a!s das rel!quias sagradas, desenterrando os ossos dos m:rtires ousantos, .ilhando quase abertamente cada igrea ou catedral ao longo de seus caminhos'Com muita delicade/a, o tio dissera que se ancol .udesse en#iar uma rel!quia .ara o

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 .adre es.anhol que se tornara seu .arente .elo casamento, isso iria lhe garantir a adula+ãode toda Castela'  ?ebasti:n sabia que agora o assunto esta#a nas mãos de Eeus e de seus de#idos ser#idoresem Roma';s dias .assaram de#agar' A .rinc!.io ele se imagina#a recebendo uma rel!quia com .oderde atender às .reces cristãs e com a etremosa com.aião de curar os a%litos' 0al rel!quiaatrairia de#otos e donati#os de longe' ; .equeno mosteiro se trans%ormaria num grande e .rs.ero monastério, onde o .rior se tornaria'''  medida que os dias se trans%orma#am em semanas e meses, ele se #iu obrigado a .`r osonho de lado' 6 quando : .erdera quase toda a es.eran+a, %oi con#ocado aos gabinetes da?é de 0oledo' A mala .ostal que Roma manda#a a 0oledo duas #e/es .or ano acabara dechegar' 6ntre outras coisas, continha uma mensagem lacrada .ara o .adre ?ebasti:nAl#are/ do Bosteiro da Assun+ão'  6ra muito raro um humilde sacerdote receber um .acote lacrado da ?anta ?é' ; bis.o-auiliar, )uillermo Ramero, que entregou o .acote a ?ebasti:n, sentiu a curiosidade co+ar ees.erou, ansioso, que o .rior abrisse o .acote e re#elasse seu conte*do, como qualquer .adre res.eitador de#ia ter %eito' icou %urioso quando o .adre Al#are/ se limitou a .egar o .acote e sair'  ? quando se #iu so/inho no mosteiro, ?ebasti:n rom.eu o lacre com dedos que tremiam'  ; .acote continha um documento intitulado 0ranslatio ?anctae Annae' ; .adre ?ebasti:na%undou numa cadeira e come+ou a ler com ar #idrado' ogo %oi .ercebendo que era umahistria dos des.oos da mãe da &irgem ?ant!ssima'A mãe da &irgem, Chana, a udia, es.osa de oachim, morrera em 7a/aré, onde %oraenterrada num se.ulcro' 6la %oi #enerada desde o in!cio da histria cristã' ogo a.s suamorte, duas de suas .rimas, ambas chamadas Baria, e um .arente mais distante, chamadoBaimin, .artiram da 0erra ?anta .ara di%undir o e#angelho de esus em solo estrangeiro'6ssa dis.osi+ão mission:ria %oi .remiada .ela doa+ão de um co%re de madeira contendo umcerto n*mero de rel!quias da mãe de Baria ?ant!ssima' ;s trs cru/aram o Bediterr3neo ea.ortaram em Barselha, onde as duas mulheres se estabeleceram numa aldeia de .escadores da #i/inhan+a .ara .rocurar seguidores' Como a região esta#a sueita a%requentes in#ases, Baimin %icou incumbido de le#ar os

1U 7;A=);RE;7ossos sagrados .ara um lugar seguro, e assim se dirigiu à #ila de A.t, onde os deiouguardados numa urna'  ;s ossos %icaram em A.t .or centenas de anos' 6ntão, no século &""", %oram #isitados .elo homem chamado .elos soldados de Carolus Bagnus - Carlos, o )rande, rei dos%rancos, que %icou assombrado ao ler a inscri+ão na urnaI Aqui a/em os restos mortais de?anta Ana, mãe da )loriosa &irgem Baria'  ; rei guerreiro le#antou os ossos do %orro meio decom.osto sentindo a .resen+a de Eeus,mara#ilhado .or ter nas mãos um liame %!sico com o .r.rio Cristo'

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  resenteou os amigos mais .rimos com uma .arte dos ossos e .egou alguns .ara si,que mandou .ara Ai-la-Cha.elle' ;rdenou também um in#ent:rio das rel!quias e en#iouuma c.ia .ara o .a.a, deiando ainda alguns ossos restantes sob a guarda do bis.o de A.te sucessores' 6m UGG d'C, quando décadas de em.rego de seu génio militar : tinhamconquistado a 6uro.a ocidental, Carolus Bagnus %oi coroado Carlos Bagno, im.erador dos

romanos, e a imagem .aramentada de ?anta Ana se destaca#a no trae da coroa+ão'  ; que ainda sobrara das rel!quias da santa tinha sido remo#ido do se.ulcro em 7a/aré'Alguma coisa %oi guardada em igreas de #:rios .a!ses' 0rs *ltimos ossos tinham sido .ostos aos cuidados do ?anto adre e, .or mais de um século, %oram conser#ados nascatacumbas romanas' 7o ano de UVG, um ladrão de rel!quias chamado Euesdona, di:conoda igrea romana, le#ou a cabo um %urto em massa das catacumbas .ara su.rir doismonastérios germ3nicos, em ulda e em Bulheim' 6le #endeu os des.oos de ?ão?ebastião, ?ão abiano, ?anto Aleandre, ?anta 6merenciana, ?anta elicidade, ?ãoelicis-simus, ?anto Drbano, entre outros, mas sua .ilhagem, .or algum moti#o, deiou .assar os .oucos ossos de ?anta Ana' uando as autoridades da "grea .erceberam a .ro%ana+ão que ocorrera, trans%eriram os ossos de ?anta Ana .ara um de.sito, ondedurante séculos eles se cobriram de . em seguran+a'  ; .adre ?ebasti:n era agora in%ormado que uma dessas trs .reciosas rel!quias lhe seriaen#iada'assou #inte e quatro horas dando gra+as de oelhos na ca.ela, de Batina a Batina, semcomer ou beber' uando tentou se le#antar : não sentia mais as .ernas e %oi condu/ido .ara sua cela .or %rades ner#osos' Bas %inalmente Eeus lhe de#ol#eu a energia e ele le#ouo 0ranslatio .ara uan Antnio e )arci Mrgia' Con#enientemente estu-

; @0"B; DE6D 19 .e%atos, os dois concordaram em subscre#er o custo de um relic:rio onde o %ragmento de?anta Ana .udesse ser mantido até que se %abricasse uma urna adequada' 6les .assaram emre#ista os nomes de destacados artesãos a quem tal tare%a .udesse ser con%iada e uanAntnio acabou sugerindo que ?ebasti:n encomendasse o relic:rio a =el>ias 0oledano, umouri#es udeu que se %i/era notar .or seus .adres criati#os e delicada eecu+ão'  ; ouri#es e ?ebasti:n discutiram os detalhes da com.osi+ão do relic:rio, barganharamum .re+o e %echaram o acordo' Chegou a ocorrer ao .adre como seria bom se a almadaquele udeu .udesse ser ganha .ara Cristo como resultado da encomenda que o .r.rio?enhor %i/era necess:ria'  ;s esbo+os que =el>ias a.resentou re#elaram que ele não era a.enas um artesão, mastambém um artista' ; interior da ta+a, a base quadrada e a tam.a eram %eitas tanto de%olheado de .rata quanto de .rata maci+a' =el>ias .ro.`s con%eccionar as %iguras das duasmulheres de %iligranas rendilhadas de .rata' A.enas suas costas seriam #istas, graciosas enitidamente %emininas, a mãe à esquerda, a %ilha não inteiramente uma mulher adulta, masidenti%icada .or uma aura em #olta da cabe+a' or todo o cibrio =el>ias colocaria uma .ro%usão das .lantas que teriam sido %amiliares a ChanaI .arreiras e oli#eiras, romã/eiras etamareiras, %igueiras e trigais, cam.os de ce#ada e es.elta' Eo outro lado da ta+a -indicati#a das coisas a #ir e a%astada, como tem.o %uturo, das duas mulheres -, =el>iasmoldaria uma cru/ em .rata maci+a, um s!mbolo surgido bem a.s a #ida de Chana' ;menino seria gra#ado em ouro aos .és da cru/'  adre ?ebasti:n temera que os dois doadores retardassem a a.ro#a+ão do .roeto aoquerer im.or certas conce.+es .r.rias, mas .ara sua satis%a+ão tanto uan Antnio quanto

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)arci Mrgia .areciam ter %icado muito bem im.ressionados .elos desenhos que =el>iaslhes submetera'  oucas semanas de.ois, tornou-se claro .ara ele que o iminente ito do mosteiro não eramais segredo' Alguém - uan Antnio, )arci Mrgia ou o udeu - teria se gabado da rel!quia';u tal#e/ %osse alguém em Roma, %alando com .ouca discri+ão5 às #e/es a "grea era uma

aldeia'  essoas da comunidade religiosa de 0oledo que nunca tinham lhe dado aten+ão, agora oolha#am de %rente, embora ele .udesse obser#ar que ha#ia hostilidade naqueles olhares' ; bis.o-auiliar, )uillermo Ramero, %oi até o mosteiro e ins.ecionou a ca.ela, a co/inha e ascelas dos %rades' 2G 7;A= );RE;7  - A eucaristia é o cor.o de Cristo - disse ele a ?ebasti:n' - uerel!quia é mais .oderosa que essa- 7enhuma, 6celncia - ?ebasti:n res.ondeu mansamente'  - ?e uma rel!quia da ?agrada am!lia é concedida a 0oledo, de#iaser con%iada à .osse da ?é - disse o bis.o -, não de uma das institui+es que lhe são subordinadas'  Eesta #e/ ?ebasti:n não res.ondeu, mas en%rentou sem .iscar o olhar de Ramero, todamansidão esquecida' ; bis.o torceu a cara e retirou-se com sua comiti#a'  Antes mesmo que o .adre ?ebasti:n conseguisse se decidir a com.artilhar a gra#eno#idade com %rei *lio, o sacristão da ca.ela %icou sabendo da coisa atra#és de um .rimo .adre, que era do escritrio diocesano .ara o culto' ogo se tornou e#idente .ara ?ebasti:nque todos sabiam, incluindo seus .r.rios %rades e no#i+os'  ; .rimo de %rei *lio disse que as di%erentes ordens esta#am reagindo à not!cia com .re.arati#os .ara dr:sticas a+es' ;s %ranciscanos e os beneditinos : tinham en#iado %ortesmensagens de .rotesto a Roma' ;s cistercienses, criados em torno do culto da &irgem,%icaram %uriosos ao #er uma rel!quia da mãe Eela ir .ara um mosteiro dos eronimitas earranaram um ad#ogado .ara de%ender seus direitos em Roma'  Besmo dentro da ordem eronimita, %oi sugerido que uma rel!quia tão im.ortante nãode#ia ir .ara um mosteiro tão humilde'  icou claro .ara o .adre ?ebasti:n e .ara %rei *lio que se algum acontecimento deti#essea entrega da rel!quia, o mosteiro seria colocado numa situa+ão etremamente .rec:ria, .orisso o .rior e o sacristão .assaram muitas horas aoelhados, re/ando untos'inalmente, num dia quente de #erão, um homem cor.ulento e barbado, #estido à maneira .obre de um trabalhador rural, chegou ao Bosteiro da Assun+ão' Chegou na hora da so.a boba, que aceitou com a mesma a#ide/ dos indigentes %amintos' uando engoliu a *ltimagota do caldo ralo, chamou o .adre ?ebasti:n .elo nome e, quando %icaram so/inhos,identi%icou-se como o .adre 0ullio Mrea, da ?anta ?é de Roma, logo transmitindo as bn+ãos de ?ua 6minncia, o cardeal Rodrigo ancol' Ee.ois tirou da sacola surrada uma .equena caia de madeira' uando ela %oi aberta, o .adre ?ebasti:n #iu um embrulho deseda cor de sangue, etremamente .er%umado, e no interior do embrulho o .eda+o de ossoque #iera de tão longe'; .adre italiano s .assou a &és.era com eles, a mais eultante e agradecida &és.era :celebrada no Bosteiro da Assun+ão' ; c3ntico

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mal terminara quando o .adre 0ullio, tão discretamente quanto ha#ia chegado, %e/ sua .artida noturna'  7as horas que se seguiram, o .adre ?ebasti:n .ensou melancolicamente como era .recisoter a cabe+a %resca .ara ser#ir a Eeus .erambulando dis%ar+ado .elo mundo' Admirou alucide/ de se en#iar um bem tão .recioso .or um mensageiro humilde e solit:rio e, num

recado ao udeu =el>ias, sugeriu que o relic:rio, quando esti#esse .ronto, %osse entregue .or um .ortador comum, de.ois da noite cair'  =el>ias concordara, des.achando seu %ilho como outrora Eeus tinha %eito, e com omesmo resultado' Beir era um garoto udeu e, .ortanto, nunca .oderia entrar no ara!so,mas .adre ?ebasti:n re/ou .or sua alma' A chacina e o roubo lhe re#elaram até que .ontoesta#am sitiados os .rotetores da rel!quia, e ele re/ou, também, .elo sucesso do médico que .usera a ser#i+o de Eeus' f CA0D; V DB DE6D CR"?0j;; .rior era o mais .erigoso dos seres humanos, um s:bio, mas ao mesmo tem.o um tolo,Mernardo 6s.ina di/ia irritado .ara si mesmo enquanto se a%asta#a' 6le sabia que era omenos indicado .ara descobrir qualquer coisa de udeus ou cristãos, .ois era des.re/ado .elos membros de ambas as religies'  Mernardo sabia a histria da %am!lia 6s.ina' ?egundo a lenda, o .rimeiro ancestral a seestabelecer na en!nsula "bérica %ora um sacerdote do tem.lo de ?alomão' ;s 6s.ina eoutros tinham sobre#i#ido sob os reis #isigodos e sob conquistadores ora mouros, oracristãos' Con%orme as instru+es de seus rabinos, tinham sem.re seguido escru.ulosamenteas leis da monarquia e da na+ão'  ;s udeus ha#iam conseguido chegar aos mais altos estratos da sociedade es.anhola'0inham ser#ido aos reis como #i/ires e .ros.erado como médicos e di.lomatas, agiotas e%inancistas, coletores de im.ostos e comerciantes, agricultores e artesãos' Ao mesmotem.o, quase em cada gera+ão, %oram massacrados .or turbas .assi#a ou ati-#amenteencoraadas .ela "grea'  - ;s udeus são .erigosos e in%luentes, indu/indo à d*#ida os bons cristãos - disserase#eramente a Mernardo o .adre que o con#ertera'Eurante séculos, os dominicanos e os %ranciscanos tinham manobrado as classes mais baias 8que chama#am de .ueblo menudo, arraia mi*da, de #e/ em quando ati+ando-as .ara um im.lac:#el dio aos udeus' Eesde os assassinatos em massa de 1V91 8cinquentamil udeus massacrados, uma con#ersão em massa, sem .aralelo na histria udaica, le#oucentenas de milhares a aceitarem Cristo, alguns .ara sal#ar a #ida, outros .ara não .erdersuas carreiras numa sociedade anti-semita' Alguns, como 6s.ina, tinham realmenteadmitido esus de cora+ão5 muitos, no entanto, %ormalmente catlicos, continuaram acultuar secretamente o Eeus do &elho 0estamento' 7a realidade eram tantos que, em 14QU,o .a.a ?isto "& a.ro#ou o estabelecimento de umaCanta 0nTnmici^Vr narn cucar .' destruir catlicos ank?tatas'

; @0"B; DE6D 2V  6s.ina tinha ou#ido alguns udeus chamar os con#ertidos de los marranos, isto é, os .orcos, a%irmando que esta#am eternamente condenados eW não ressuscitariam no Eia dou!/o' Com mais caridade, outros chama#am os a.statas de anusim, os %or+ados, insistindo

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que o ?enhor .erdoa#a os que esta#am sendo coagidos, .ois entendia sua necessidade desobre#i#ncia'  6s.ina não esta#a entre os coagidos' Ee in!cio, como menino udeu, %icara curioso ares.eito de esus, aquela %igura na cru/ que #ia .elas .ortas abertas da catedral e a quem o .ai e os outros às #e/es se re%eriam como o .endurado' uando .rocura#a mitigar o

so%rimento humano como o#em médico a.rendi/, ele se deiou como#er .elo so%rimentodo Cristo5 aos .oucos, esse interesse inicial %oi se trans%ormando numa %é, numa con#ic+ãoardente e, .or %im, na 3nsia de atingir uma .ure/a .essoal cristã, um estado de gra+a'  Dma #e/ com.rometido, a.aionou-se .ela di#indade' Dm sentimento muito mais %orteque o amor e#entual de uma .essoa sim.lesmente nascida dentro da cristandade' A .aiãode ?aulo de 0arso .or esus não teria sido mais .oderosa que a suaI inabal:#el, con#icta,mais absor#ente que qualquer anseio de um homem .or uma mulher'  0inha .rocurado e recebido a con#ersão .ara o catolicismo aos #inte e dois anos, um anoa.s se tornar médico habilitado' ?ua %am!lia entrara de luto, re/ando o >adish, como se eleti#esse morrido' ; .ai, acob 6s.ina, que %ora tão cheio de orgulho e amor, .assara .or elena .ra+a sem res.onder a seu cum.rimento, como se nem o conhecesse' 7essa é.oca, acob6s.ina esta#a no *ltimo ano de #ida' 6 : %ora enterrado h: uma semana quando Mernardosoube de sua morte' 6s.ina o%ereceu uma no#ena .ela alma, mas não .`de resistir àtenta+ão de re/ar também o >adish, chorando so/inho enquanto recita#a no quarto, sem acon%ortadora .resen+a do rabino, a ora+ão %*nebre'  Con#ertidos ricos ou .rs.eros eram aceitos .ela nobre/a e a classe média e muitos secasa#am no seio de antigas %am!lias cristãs' ; .r.rio Mernardo 6s.ina des.osara 6strellade Aranda, %ilha de uma %am!lia nobre' ?ob o entusiasmo inicial daquela aceita+ão numa%am!lia e do tase religioso na no#a %é, ele %icara, contra toda lgica, na e.ectati#a de queos .acientes catlicos também o absor#essem como d ^us .ares- um udeuconsequente que tinha aceito o Bessias eles' Bas não se es.antou quando continuaram ades.re/:-lo como um hebreu'=nhP? agistrados de 0oledo, quando o .ai de 6s.ina era o#em, mnam baiado umdecretoI Eeclaramos nu[ n

24 7;A= );RE;7dos, .role de contuma/es ancestrais udaicos, tm de ser considerados .ela lei comoin%ames e ignominiosos, ina.tos e indignos de ocu.ar qualquer cargo .*blico ou dis.or de bene%!cio dentro da cidade de 0oledo ou terras sob sua urisdi+ão, bem como de seremindicados .ara .restar uramentos, ser#ir de testemunhas ou ter qualquer autoridade sobreos #erdadeiros cristãos da ?anta "grea Catlica'  Mernardo : esti#era em outras comunidades religiosas, algumas .ouco maiores que oBosteiro da Assun+ão, muitas do tamanho de .equenas aldeias' ?ob a monarquia catlica, oser#i+o na "grea se tornara .o.ular' ;s segundones, os %ilhos mais no#os de %am!liasnobres, eclu!dos das heran+as .ela lei do .rimogénito, #olta#am-se .ara a #ida religiosa,onde os contatos de suas %am!lias assegura#am r:.ido .rogresso' As %ilhas mais no#as dasmesmas %am!lias, de#ido aos dotes ecessi#os gastos no casamento das %ilhas mais #elhas,%requentemente tinham de acabar como %reiras' &oca+es religiosas também atra!am oscam.oneses mais .obres, .ara quem a ordena+ão com uma .rebenda ou um bene%!cioo%erecia a *nica o.ortunidade de esca.ar da .obre/a abeta da ser#idão'  ; crescente n*mero de comunidades religiosas tinha le#ado a uma terr!#el e %eiacom.eti+ão .or a.oio %inanceiro' A rel!quia de ?anta Ana .odia ser a grande sa!da .ara o

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Bosteiro da Assun+ão, mas o .rior dissera a Mernardo que ha#ia uma trama em andamentoentre os .oderosos beneditinos, os astutos %ranciscanos, os ati#os eronimitas -quem sabequantos mais, todos :#idos em arrebatar a .ro.riedade da rel!quia da ?agrada am!lia'6s.ina te#e medo de se #er im.rensado entre .oderosas %ac+es e esmagado tãonaturalmente quanto Beir 0oledano %ora massacrado'

Mernardo 6s.ina come+ou tentando reconstituir os mo#imentos do garoto antes da morte'  A casa de =el>ias, o ouri#es, %a/ia .arte de um gru.o de casas constru!das entre duassinagogas' =: muito tem.o a .rinci.al sinagoga %ora encam.ada .ela ?anta Badre "grea eagora os udeus %a/iam seus ser#i+os religiosos na sinagoga ?amuel ha-e#i, cuamagni%icncia re%letia o tem.o em que as coisas eram mais %:ceis .ara eles'  A comunidade udaica era .equena o bastante .ara todos saberem quem tinha abandonadoa %é, quem %ingia ter %eito isso e quem continua#a udeu' 6 todos .rocura#am não manterrela+es com cristãos-no#os' Contudo, quatro anos antes, um =el>ias deses.erado %oraconsultar o médico 6s.ina' ; @0"B; DE6D 2O  A es.osa 6sther, uma mulher muito caridosa, nascida na %am!lia ?alomão, de grandesrabinos, come+ara a se debilitar e o ouri#es esta#a dis.osto a %a/er de tudo .ara não .erdera mãe de seus trs %ilhos' Mernardo se es%or+ara bastante, a.licando todo o seuconhecimento e .edindo a Cristo .ela #ida dela, enquanto =el>ias re/a#a .ara eo#:' Bas%oi inca.a/ de sal#:-la e s .`de es.erar que o ?enhor se com.adecesse de sua eterna alma'Agora ele .assa#a sem .arar .ela desa%ortunada morada de =el>ias, sabendo que, da! a .ouco, dois %rades do Bosteiro da Assun+ão trariam, no lombo de um burro, o cor.o do .rimogénito de #olta à casa .aterna'  ;utras gera+es de udeus tinham edi%icado séculos atr:s as sinagogas, obedecendo aoantigo .receito de que uma casa de culto de#ia ser constru!da no .onto mais alto dacomunidade' 0inham escolhido :reas no to.o de .enhascos escar.ados e !ngremes, com#ista .ara o rio 0eo'A égua de Mernardo recuou agitada, muito .erto da beira'  Bãe de Eeus, ele .ensou .uando as rédeas5 de.ois, quando o ca#alo se acalmou,Mernardo acabou sorrindo .ela ironia'- A a# do ?al#ador - disse em #o/ alta, mara#ilhado'  6ntão imaginou Beir ben =el>ias ali .arado, es.erando com im.acincia o escudo .rotetor da escuridão' Acha#a que o o#em não ti#era medo dos rochedos' Mernardo selembra#a de muitos cre.*sculos quando .ara#a naqueles rochedos com o .ai, acob 6s.ina,e .rocura#a na .enumbra cada #e/ mais %orte o lam.eo das .rimeiras trs estrelasindicando que o ?habat esta#a no %im'  Re.eliu o .ensamento como costuma#a %a/er com todas as imagens .erturbadoras do .assado udeu'  ercebeu a sabedoria de =el>ias usando um garoto de quin/e anos .ara entregar orelic:rio' Dm guarda armado teria anunciado ao mundo do banditismo que ali setrans.orta#a algum tesouro' Dm ra.a/ carregando uma troua ino%ensi#a .ela noite teriamais chance'0e#e menos chance do que ia .recisar, como 6s.ina .`de #er'desmontando, ele come+ou a .uar o ca#alo .ela trilha do .enhasco, te à beirada, ha#iauma cabana de .edra constru!da h: muito tem-rad P? ?Pldados romanos5 de l:, os

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 .risioneiros condenados eram atira os a morte' Mem abaio, o rio ser.entea#a em inocente bele/a entreem0l =P? C P morrote de granitG do lado o.osto' ;s meninos criados oledo e#ita#amaquele lugar à noite, alegando que era .oss!#el ou#ir os gritos dos mortos'

2N 7;A= );RE;7  oi le#ando o ca#alo .ela trilha até a descida !ngreme se trans%ormar numa encosta sua#e'6ntão entrou em outro caminho/inho que continua#a até à beira dW:gua' A .onte Alc3ntaranão era o melhor caminho, como não teria sido o melhor caminho .ara Beir ben =el>ias'A.s com.letar uma curta dist3ncia rio abaio, Mernardo se a.roimou dos bancos de areia .or onde o ra.a/ teria cru/ado e tornou a montar na égua' 7a outra margem, encontrou atrilha que ia .ara o Bosteiro da Assun+ão' 7ão muito longe, ha#ia ricas e %érteis :reasagr!colas, mas ali o solo era .obre, seco, ser#indo no m:imo .ara .astagem' ouco de.oisou#ia o barulho de o#elhas e se de.arou com um grande rebanho deiando o ca.im aindamais rente' &inha tocado .or um homem idoso que ele conhecia, Eiego E!a/' ; .astortinha uma grande %am!lia, quase tão etensa quanto o rebanho, e 6s.ina : tratara de alguns .arentes dele'- Dma boa tarde, senor Mernardo'  - Dma boa tarde, senor Eiego - disse 6s.ina, desmontando'Eeiou o ca#alo beliscar o ca.im com as o#elhas e %icou alguns minutos %alando do tem.o com o .astor' Ee re.ente .erguntouI - Eiego,#oc conhece um ra.a/ chamado Beir, %ilho de =el>ias, o udeu- ?im, senor' ?obrinho de Aron 0oledano, o queieiro, não é- ?im' uando o #iu .ela *ltima #e/  - Anteontem, cedo' 6le esta#a %ora, entregando queios .ara o tio,e acabou me #endendo .or um sueldo um queio de cabra que %oiminha re%ei+ão naquela manhã' 0i#e .ena de não ter com.rado doisqueios daqueles';lhou de relance .ara 6s.ina'- or que est: atr:s dele ; que ele %e/ de errado, o garoto- 7ada' Absolutamente nada'  - 0ambém acho que não de#e ter %eito' ( um bom merdinha, aquele menino udeu'  - &iu mais alguém nas redonde/as ontem à noite - 6s.ina .er guntou e o .astor disse que não muito de.ois da .artida do garoto .assaram dois homens a ca#alo, quase o derrubando, mas sem gritar comele nem con#ersar entre si'  - Eois ca#aleiros, #oc disse - ?abia que .odia contar com umain%orma+ão .recisa' ; .astor os encontrara de .erto, %eli/ .or #er ca#aleiros noturnos armados seguirem em %rente sem le#ar um ou dois cor deiros'  - A lua esta#a alta no céu' ude #er um homem armado, certamente um ca#aleiro .ois #estia uma malha %ina' 6 um .adre, ou monge,  -; @0"B; DE6D 2 Qnão re.arei na cor do h:bito' - 6le hesitou' - ; .adre tinha o rosto deum santo'

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- Com que santo ele se .arecia  - 7enhum santo em .articular - o .astor disse, aborrecido' - uisdi/er que ele tinha um belo rosto, como se tocado .or Eeus' Dmae.ressão sagrada - concluiu'  Eiego resmungou e correu .ara .`r o cachorro no rastro de quatro o#elhas que se

a%asta#am do rebanho'  6stranho, Mernardo .ensou' Dm rosto tocado .or Eeus 6le .egou seu ca#alo e montou'  - ique com Cristo, senor E!a/ - disse Mernardo segurando oca#alo .ara montar'; #elho atirou-lhe um olhar sarc:stico'- ue Cristo %ique também consigo, senor 6s.ina - disse'A curta dist3ncia do rebanho que .rocura#a .astar no resto de ca.im, a terra se torna#amais %értil, menos ressecada' Mernardo .assou .or #inhedos e cam.os de la#oura' 7ocam.o adacente ao oli#al do mosteiro, .arou e desmontou, amarrando as rédeas da éguanum arbusto'  ; rel#ado esta#a .isado, esmagado .or cascos' ; n*mero de ca#alos #istos .elo .astor,dois, .arecia combinar com o montante da desordem'  Alguém %icara a .ar da encomenda do ouri#es' icara também sabendo que =el>iasesta#a quase acabando o trabalho' or isso teria #igiado sua casa, à es.era do dia daentrega'; ataque %ora ali'  ;s gritos de Beir não teriam sido ou#idos' ; oli#al arrendado .elo mosteiro era umcam.o aberto e desabitado, distante uma longa caminhada da comunidade religiosa'?angue' Ali o garoto recebia o corte no lado, de uma das lan+as'  Ao longo daquela trilha de rel#a .isada, .ela qual Mernardo lentamente a#an+a#a, osca#aleiros tinham .erseguido a ca#alo Beir ben =el>ias, encurralando-o como uma ra.osae in%ligindo os %erimentos em suas costas'Aqui tinham .egado a sacola de couro e seu conte*do' ouco àrente, cheios de %ormigas, ha#ia dois queios brancos do ti.o descrito .or Eiego - os .retetos do o#em .ortador .ara estar %ora de casa' Dmos queios acha#a-se intacto, o outro esta#a quebrado e achatado nonao^como se atingido .or um grande casco'^ e l: ha#iam %eito o ra.a/ sair da trilha, rumo à gleba cheia de oli-N1ras- 6 um deles ouos dois o agarraram'

2U 7;A= );RE;7or %im, a garganta %oi cortada'Mernardo sentiu-se atordoado e de.rimido'  7ão esta#a tão longe da sua u#entude de udeu .ara ter esquecido o medo, a a.reensãoao #er estranhos armados, a .erce.+ão do terror ante todo o mal que : %ora %eito antes'0ambém não esta#a tão longe de sua maturidade como udeu .ara deiar de sentir essascoisas'  or um longo tem.o, trans%ormou-se mentalmente no garoto' ;u#iu os homens' ?entiu ocheiro' ?entiu as gigantescas e sinistras %ormas na noite, os enormes ca#alos a#an+andocontra ele, chegando .erto dele no escuro'A cruel in#estida das l3minas a%iadas' ; estu.ro'

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  Ee no#o médico, Mernardo tremeu sob o sol .oente e #irou-se cegamente .ara a égua,esca.ando dali' 7ão acredita#a que .udesse ou#ir a alma de Beir ben =el>ias gritando,mas não tinha #ontade nenhuma de estar naquele lugar quando a escuridão que sea.roima#a %inalmente chegasse' 

fY CA0D; 4 _f; "7D"R"E;R 6s.ina .ercebeu ra.idamente que s .odia coletar uma soma %inita e .equena dein%orma+es sobre o assassinato do ra.a/ udeu e o roubo do cibrio' uase tudo que sabia#inha do eame que %i/era no cor.o, da con#ersa com o #elho .astor e de sua ins.e+ão dolocal dos crimes' Rodou uma semana .ela cidade %a/endo .erguntas, mas não obte#equalquer resultado' ; %ato mais e#idente com que se de%rontara era que esta#a abandonandoos .acientes' Assim, entregou-se de no#o ao seguro e con%ort:#el trabalho di:rio na cl!nica'  Dma tarde, no#e dias a.s ter sido con#ocado ao Bosteiro da Assun+ão, decidiu ir %alarcom o .adre ?ebasti:n' Eiria que não conseguira descobrir grande coisa e que da#a .orencerrado seu en#ol#imento no assunto'  ; *ltimo .aciente do dia era um homem idoso, que sentia di%iculdades .ara res.irar,embora o ar esti#esse ece.cionalmente %resco e estimulante - um estranho dia de con%ortoem .lena tem.orada de calor' ; cor.o magro diante do médico .arecia seco, gasto, e .orcerto a esta+ão aba%ada não era seu *nico .roblema' A .ele do .eito lembra#a couro %ino, ointerior .arecia obstru!do e dilatado' uando .`s o ou#ido no .eito, 6s.ina ou#iu um ru!dode chocalho' 0e#e uma ra/o:#el certe/a de que o homem esta#a morrendo, mas não ha#ia .or que se a%obar' rocura#a em sua %armaco.eia algo .ara %a/er uma in%usão que tornassemenos dolorosos os *ltimos dias do doente, quando dois homens suos e armados entraramcomo se %ossem os no#os donos de seu consultrio'0ol [enti%icaram-se como soldados do algua/il, o intendente de  m deles era baio, barrigudo, e ostenta#a um ar arrogante' - Mernardo 6s.ina, ter: de #irconosco agora' \ ; que desea de mim, senori \ ^ablnete da "nquisi+ão requer sua .resen+a'nquisi+ão - 6s.ina .rocurou manter a calma' - Buito bem'

VG 7;A= );RE;7or %a#or es.erem l: %ora' 7ão demoro .ara acabar de atender a este senor'  - 7ão' 0er: de #ir de imediato - disse o mais alto em #o/ baia,mas com maior autoridade'  6s.ina sabia que oan ablo, seu homem .ara todo trabalho, esta#a con#ersando com o%ilho do .aciente à sombra do telheiro do consultrio' 6le %oi até a .orta e chamou-o'  - &: até em casa e diga à senora que mande um alimento .araestes #isitantes' ão com a/eite e mel, e #inho %rio'  ;s homens do intendente se olharam' ; soldado mais baio balan+ou a cabe+a' ; rostode seu com.anheiro continuou ine.ressi#o, mas também não hou#e obe+es'  6s.ina colocou a in%usão do .aciente num .equeno arro de barro, que tam.ou com umarolha' 6sta#a acabando de dar instru+es ao %ilho do doente quando 6strella chegoucorrendo, seguida .ela criada que carrega#a o .ão e o #inho';s tra+os da es.osa .areceram congelar quando ele lhe contou'- ; que a "nquisi+ão .ode querer com #oc, Mernardo querido  - ?em d*#ida estão .recisando de um médico - disse ele, uma

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ideia que acalmou a ambos' 6nquanto os homens comiam e bebiam,oan ablo selou o ca#alo'  ?eus %ilhos se encontra#am numa casa #i/inha, onde uma #e/ .or semana um mongeensina#a o catecismo a um gru.o de o#ens' 6s.ina %icou %eli/ .or não estarem .resentes .ara #-lo .artir entre os ca#alos dos dois homens'

Clérigos de batinas negras desloca#am-se .elo corredor onde 6s.ina sentou-se num bancode madeira e es.erou' ;utros também es.era#am' Ee #e/ em quando, entra#am um homemou uma mulher de rosto .:lido, tra/idos .elos guardas e logo encaminhados .ara um banco's #e/es, alguém sa!a escoltado do corredor e desa.arecia no interior do .rédio' 7enhumadas .essoas que deia#am os bancos retorna#a a eles'  6s.ina %icou es.erando até as tochas serem acesas de#ido ao a#an+o da noite'  =a#ia um guarda sentado atr:s de uma .equena mesa' Mernardo se a.roimou e .erguntou quem queria %alar com ele, mas o homem mostrou um olhar o.aco e %e/ sinal .ara que #oltasse ao banco'  ouco de.ois, no entanto, um outro guarda que chegara come+ou a %a/er .erguntas aosueito atr:s da mesa sobre alguns dos que esta#am à es.era' 6s.ina #iu-os olhar .ara ele' ; @0"B; DE6D V1  \ Aquele é .ara %rei Monestruca - Mernardo ou#iu o homem atr:s da mesa di/er'0oledo esta#a se tornando .o.ulosa, mas 6s.ina nascera e #i#era a ida inteira l: e, comodestacara o .rior ?ebasti:n, tinha adquirido em sua ati#idade médica um bomconhecimento tanto da .o.ula+ão laica quanto dos membros das comunidades clericais'Bas não se lembra#a de um %rade chamado Monestruca'  A%inal, um guarda se a.roimou e tirou-o do corredor' ?ubiram uma escada de .edra eatra#essaram #:rias galerias mal iluminadas, semelhantes àquela onde ele ha#ia es.erado'or %im, introdu/iram-no numa .equena cela, onde ha#ia um monge sentado sob umatocha'  ; monge era alguém no#o na ?é de 0oledo, .ois bastaria 6s.ina t-lo #isto uma #e/ nasruas .ara lembrar-se dele sem di%iculdades'  6ra alto, com uma cabe+a ti.icamente es.anhola que chama#a aten+ão5 6s.ina resistiu aoim.ulso de olhar %iamente' 7um relance r:.ido, notou um conunto de cabelo .reto,grosso e #olumoso, longo e mal cortado, uma %ronte larga, sobrancelhas .retas, olhoscastanhos muito grandes' Dm nari/ %ino e longo, uma boca grande com l:bios grossos e umqueio %irme e quadrado com uma %enda .equena'  "soladamente, nenhum desses tra+os seria digno de interesse, mas no caso es.ec!%icodaquele homem eles se combina#am de um modo etraordin:rio'  A %isionomia do %rade não tinha qualquer semelhan+a com a %ace de esus que 6s.inaobser#ara em est:tuas e .inturas do ?al#ador' 6ra uma %ace de ti.o mais %emininoemergindo dos tra+os de uma bele/a masculina, e a rea+ão inicial de 6s.ina %oi de etremaadmira+ão, quase como se obser#asse alguma coisa sagrada'  ; rosto de um santo, o #elho .astor Eiego E!a/ tinha dito' E!a/ de#ia estar %alando desse%rade, 6s.ina .ercebia agora sem nenhuma du#ida'  Monestruca era mais do que sim.lesmente bonito' ?eu rosto à .rimeira #ista re#ela#acon%ian+a e com.aião, uma mensagem de tantaB qDC dC&a signi%icar a bondade essencial de Eeus' Bas quando 6s.ina olhou nos olhosdo %rade, eles o le#aram a um ^gar %rio e assustador'

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:r0 P ?enhor tem andado na cidade %a/endo .erguntas sobre um reli-N111N111 %d ddeu=el>ias- ual é o seu interesse node d 6DW qDCr derW P .rior ?ebasti:n Al#are/''' - 6s.ina te#e #onta-e se esqui#ar dosolhos argutos daquele estranho %rade, mas não

V2 7;A= );RE;7ha#ia .ara onde olhar' - 6le me .ediu .ara in#estigar a .erda do relic:rio e a''' morte domenino que o le#a#a'- 6 o que descobriu- ; menino era um udeu, %ilho do ouri#es'- ?im, %oi o que ou#i'  A #o/ do %rade era macia e encoraadora, quase amig:#el, 6s.ina a#aliou com es.eran+a'- 6 o que mais- 7ada mais, re#erendo %rade'  ; .eito do %rade esta#a escondido sob as dobras do h:bito .reto, mas seus dedos eramcom.ridos e es.atulados, com tu%os de .los .retos entre as untas'- =: quanto tem.o é médico- ;n/e anos'- oi a.rendi/ aqui mesmo- ?im, aqui em 0oledo'- 6 de quem era a.rendi/- Eo mestre ?amuel ro#o' - A boca de 6s.ina esta#a seca'  - Ah, ?amuel ro#o, : ou#i %alar dele - disse o %rade num tom a%:#el' - Dm grande médico, não

- ?im, um homem de renome'-6ra udeu'- ?im'- 0em ideia de quantas crian+as ele circuncidou- 6le não %a/ia circuncises - disse 6s.ina .iscando os olhos'- uantos bebés o senhor circuncida num .er!odo de do/e meses- 6u também não %a+o circuncises'

  - &amos, #amos - disse o %rade .acientemente' - uantas dessaso.era+es reali/ou 7ão a.enas em udeus, mas também em mouros,quem sabe  - 7unca''' Algumas #e/es, atra#és dos anos, tenho o.erado'''uando o .re.*cio não é de#ida e regularmente lim.o, o senhor entende, ele %ica in%lamado' Buitas #e/es h: .us e .ara corrigir''' 6les''' tanto os mouros quanto os udeus tm homens in#estidos de ordens sacrasque %a/em as outras o.era+es, seguindo ritos religiosos'

- 6 quando #oc %a/ as suas o.era+es não di/ nenhuma .rece-7ão'- 7em um .adre-nosso

  - Re/o todo dia .ara não causar dano a meus .acientes, mas a.e

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nas o bem, re#erendo %rade'- ( casado, seno%l --; @0"B; DE6D VV \ ?im'

 \ 7ome da es.osa' \ ?enora 6strella de Aranda'-ilhos \ rs' Euas %ilhas e um %ilho' \ sua es.osa e seus %ilhos são catlicos-?im' \ ; senhor é udeu' 6 #erdade ou não- 7ão ?ou cristão h: on/e anos' Ee#otado a Cristo  ; rosto do homem era tão bonito' ; que torna#a os olhos %ios nos seus ainda maisassustadores, olhos c!nicos que .areciam conscientes de cada %raque/a humana na suahistria e de todos os seus .ecados'  ; olhar a#an+ou até o %undo da alma de 6s.ina' 6ntão, de modo chocante, Monestruca bateu as mãos, con#ocando o guarda que es.era#a do outro lado da .orta'; %rade %e/ um .equeno mo#imento com a mãoI le#em-no'  uando Mernardo se #irou .ara sair, #iu que os .és nas sand:lias sob a mesa tinhamdedos com.ridos e %inos'; guarda le#ou-o .elos corredores, .elas !ngremes escadarias'Amado Cristo, #oc sabe que eu tentei' &oc sabe'''  6s.ina esta#a ciente de que nas entranhas in%eriores do .rédio %ica#am as celas e os locaisonde os .risioneiros eram interrogados' ?abia de %onte segura que tinham um a.arelhochamado .otro, um ca#alete triangular onde amarra#am o .risioneiro' Cada #e/ quegira#am uma mani#ela, mais articula+es do cor.o eram deslocadas' =a#ia também umacoisa que chama#am toca, .ara tortura .ela :gua' A cabe+a do .risioneiro era mantidaabaiada na .arte oca de uma gamela' Dm .ano de linho era en%iado em sua garganta' A:gua era derramada atra#és do .ano, bloqueando a garganta e as narinas até o su%ocamentoresultar na con%issão ou na morte'esus, eu .e+o''' 6u im.loro'''  0al#e/ tenha sido escutado' uando atingiram a .orta de sa!da, o guarda %e/ sinal .ara elecontinuar e 6s.ina seguiu so/inho até o lugar onde amarrara o ca#alo'  oi embora a .asso lento, tentando recu.erar o controle .ara que, 4 ando chegasse emcasa, .udesse tranquili/ar 6strella sem chorar' AR06 E;"?; ?6)D7E; "=;  0oledo, Castela VG de mar+o de 1492 W'_ CA0D; O S<;7A= M67 =6X"A?- &ou com 6lea/ar até o rio' uem sabe não a.anho nosso antar,hein, abba- Acabou o .olimento- 6st: quase no %im'

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- ;u o trabalho est: terminado ou não est:' 0em de acabar de .olir - disse =el>ias no tom glacial que sem.re magoa#a <onah' s #e/essentia #ontade de encarar os olhos distantes do .ai e di/erI Beir est:morto, mas eu e 6lea/ar ainda estamos aqui' 6stamos #i#os  <onah detesta#a dar .olimento na .rata, mas ainda ha#ia meia d*/ia de grandes .e+as .or 

%a/er' 6le en%iou o tra.o na .orcaria %edorenta, uma mistura grossa de . de esterco e urinade .:ssaro, e es%regou, es%regou'  Com a morte da mãe, <onah tinha a.rendido o gosto da amargura e %ora muito duroquando Beir também morrera, .ois ele .assara a ser o %ilho mais #elho, com quase tre/eanos, ca.a/ de entender melhor o signi%icado daquela .erda'  ? alguns meses a.s a morte de Beir, <onah %ora chamado .ara recitar a lei da 0ora etornar-se um membro %ormal do minJan' A ad#ersidade o amadurecera .rematuramente' ; .ai, sem.re tão alto e %orte, .arecia ter diminu!do, mas <onah não sabia como .reencher oes.a+o criado .ela saudade de =el>ias'  7ada sabiam da identidade dos assassinos de Beir' Algumas semanas a.s a morte,=el>ias 0oledano soubera que o médico 6s.ina anda#a .ela cidade %a/endo .erguntas sobreo acontecimento que tirara a #ida de seu %ilho' =el>ias %ora com <onah #isitar 6s.ina econ#ersar com ele, mas quando chegaram à sua casa #iram que esta#a abandonada e oanablo, o #elho criado de 6s.ina, retira#a .ara seu .r.rio uso o que restara da mob!lia, umamesa e algumas cadeiras' oan ablo dissera que o médico %ora embora com a %am!lia'- ara onde %oram- 7ão sei - res.ondera o homem balan+ando a cabe+a'-VU 7;A= );RE;7  =el>ias tinha ido até o Bosteiro da Assun+ão .ara %alar com o .adre ?ebasti:n Al#are/,mas chegou a acreditar, num momento de con%usão, que .egara algum des#io errado naestrada' Eo outro lado do .ortão ha#ia uma %ileira de carro+as e de carretas com duas rodas'erto dali, trs mulheres .isa#am as u#as a#ermelhadas que enchiam uma grande tina'Atra#és da .orta aberta do que %ora a ca.ela, =el>ias .`de #er cestos de a/eitona e maisu#as'  uando .erguntou às mulheres o que acontecera com o mosteiro, uma delas e.licou queo Bosteiro da Assun+ão %ora %echado e a ordem eronimita arrendara a .ro.riedade .ara odono da quinta'- 6 o .adre ?ebasti:n ;nde est: o .rior  ?em .arar de .isar as u#as, a mulher tinha sorrido, balan+ado a cabe+a e sacudido osombros'<onah se es%or+ara ao m:imo .ara assumir os encargos de %ilho mais #elho, mas achoub#io que nunca seria ca.a/ de ocu.ar o lugar de Beir' 7em como a.rendi/ de ouri#es,nem como %ilho, nem como irmão - de nenhum modo' A %alta de brilho nos olhos do .ai s%ortalecia sua .r.ria dor .essoal' 6mbora trs :scoas ti#essem ido e #indo desde a mortede Beir, a casa e a o%icina de =el>ias ainda eram lugares de luto' Algumas das .e+as diantedele, arros de #inho, esta#am .articularmente enodoadas de manchas, mas não ha#ia ra/ão .ara se a.ressar, .ois de re.ente o .ai .arecera lembrar da con#ersa de meia hora atr:s'  - 7ão #: até o rio - disse =el>ias' - 6ncontre 6lea/ar e não saiamde .erto de casa' 7os dias que correm, garotos udeus não de#em ogar com a sorte'

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<onah ti#era de assumir a res.onsabilidade de cuidar de 6lea/ar, que antes %ora de Beir'Com sete anos de idade, 6lea/ar era %r:gil e rosado' <onah conta#a ao menino histrias doirmão mais #elho, .ara que 6lea/ar nunca o esquecesse' s #e/es, tira#a algumas notas na .equena guitarra moura que %ora de Beir e os dois canta#am' 0inha .rometido ensinar6lea/ar a tocar a guitarra, assim como Beir lhe ha#ia ensinado' 6 era isso que o ca+ula

esta#a querendo quando <onah encontrou-o brincando de guerra com .edras e gra#etos noterreno da casa' <onah, .orém, balan+ou a cabe+a numa negati#a'- 6 não #ai até o rio - .erguntou 6lea/ar' - 7ão .osso ir com #oc  - 0emos trabalho .ela %rente - disse <onah, imitando in#oluntariamente o tom do .ai e le#ando o irmão menor de #olta à o%icina' ;s doisesta#am sentados num canto .olindo a .rata quando Ea#id Bendo/a eo rabino osé ;rtega entraram'  -; @0"B; DE6D V9  - ; que h: de no#o - =el>ias .erguntou e o senor Bendo/a sacudiu a cabe+a' 6ra um homem de meia-idade, %orte, com alguns dentes .erdidos e m: a.arncia, um mestre-de-obras'- 7ada de bom, =el>ias - disse ele' - 7ão é mais seguro andar nacidade'  =: trs meses, a "nquisi+ão eecutara cinco udeus e seis con#ertidos' =a#iam sidoacusados de conurar uma %rmula m:gica on/e anos atr:s, na qual teriam su.ostamenteusado uma hstia de comunhão roubada e o cora+ão de um menino cristão cruci%icado' ;obeti#o %ora trans%ormar todos os bons cristãos em loucos %uriosos' 6mbora o meninonunca tenha sido identi%icado 8não %ora comunicado qualquer desa.arecimento de crian+acristã, detalhes da acusa+ão %ormal tinham sido con%essados .or #:rios dos acusados a.sse#era tortura' Como resultado, todos ha#iam sido amarrados no .oste e queimados,incluindo as e%!gies dos trs condenados que morreram antes do auto-de-%é'  - Alguns : estão %a/endo .edidos à crian+a martiri/ada - dissegra#emente Bendo/a' - ; dio deles en#enena a .r.ria atmos%era'  - 0emos de a.elar a ?uas Baestades em busca de .rote+ão - inter #eio o rabino ;rtega' ; rabino era baio e magro, com uma mecha decabelo branco' As .essoas sorriam ao #-lo correr de um lado .ara ooutro na sinagoga com o grande e .esado rolo da 0ora a ser tocado ou beiado .ela congrega+ão' 6ra ou#ido .ela maioria das .essoas, masagora Bendo/a discorda#a dele'  - ; rei é tanto homem quanto rei, ca.a/ de ami/ade e sim.atia,mas nos *ltimos tem.os a rainha "sabel tem se #oltado contra ns' oicriada em isolamento, manobrada .or clérigos que moldaram sua mente' 0om:s de 0orquemada, o inquisidor-geral, que .ossa morrer em .a/, %oi con%essor de "sabel durante sua mocidade e eerceu grandein%luncia sobre ela' - Bendo/a balan+ou a cabe+a' - 0emo os dias que#m .ela %rente'  - recisamos ter %é, Ea#id, meu amigo - disse o rabino ;rtega' -Ee#emos ir à sinagoga e re/ar em conunto' ; ?enhor ou#ir: nossass*.licas'  ;s dois meninos .araram de .olir as ta+as .rateadas' 6lea/ar esta#a .erturbado .elatensão nos rostos dos adultos e o e#idente temor em suas #o/es'

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- ; que est: ha#endo - ele sussurrou .ara <onah'  - Bais tarde' 6.lico tudo .ara #oc mais tarde - <onah sussurroude #olta, embora não ti#esse certe/a se realmente com.reendia o queesta#a acontecendo'  -

4G 7;A= );RE;7 7a manhã seguinte, um o%icial militar armado a.areceu na .ra+a munici.al de 0oledo'6sta#a acom.anhado de trs arautos, dois ui/es locais e dois guardas do intendente, quetambém .orta#am armas' ; o%icial leu uma .roclama+ão in%ormando aos udeus que, ades.eito de sua longa histria na 6s.anha, ordena#a-se que deiassem o .a!s dentro de trsmeses' A rainha : e.ulsara os udeus da Andalu/ia em 14UV' Agora ordena#a-se queabandonassem todas as regies do reino es.anholI Castela, en, Aragão, )al!cia, &alncia,o .rinci.ado da Catalunha, o estado %eudal de Miscaia e as ilhas da ?ardenha, ?ic!lia,Baiorca e Benorca'  A ordem %oi .regada num muro' ; rabino ;rtega co.iou-a com uma letra tão trémula quelhe seria di%!cil deci%rar algumas .ala#ras ao ler o comunicado numa reunião do Conselhodos 0rinta, con#ocada às .ressas'  - W0odos os udeus e udias, de qualquer idade, que #i#am, residame habitem em nossos ditos reinos e dom!nios''' : não de#erão ter a .resun+ão de a eles tornar, ou neles em qualquer .arte habitar, sea comoresidentes, #iaantes ou qualquer outra %orma, sob .ena de senten+a demorte''' 6 ordenamos e .roibimos qualquer .essoa ou .essoas em nosso dito reino a ousar .*blica ou secretamente receber, abrigar, .roteger ou de%ender qualquer udeu ou udia''' sob .ena de .erderem suas .ro.riedades, #assalos, castelos e outras .ossesses'  0odos os cristãos eram solenemente ad#ertidos contra sentimentos de %alsa com.aião'ica#am .roibidos de con#ersar e se comunicar''' com udeus, receb-los em suas casas,auili:-los ou dar-lhes qualquer género de alimento .ara sua manuten+ão'  A .roclama+ão era emitida .or ordem do rei e da rainha, nossos soberanos, e dore#erendo .rior de ?anta Cru/, inquisidor-geral em todos os reinos e dom!nios de ?uasBaestades'; Conselho dos 0rinta que go#erna#a os udeus de 0oledo era constitu!do de de/re.resentantes de cada um dos trs estados - destacados l!deres, comerciantes e artesãos dascidades' =el>ias .artici.a#a .orque era um mestre ouri#es e as reunies eram %eitas em suacasa' ;s membros do conselho esta#am atordoados'  - Como .odemos ser tão %riamente e.ulsos de uma terra que signi%ica tanto .ara ns e da qual somos .arte tão im.ortante - disse numtom hesitante o rabino ;rtega'  - ; edito é mais um esquema real .ara nos tirar no#os im.ostos emmoeda e mais dinheiro de suborno - disse udah ben ?olomon A#ista'  -; @0"B; DE6D 41- ;s reis es.anhis sem.re nos descre#eram como rendosas #acas-leiteiras'=ou#e um murm*rio de a.ro#a+ão'  - 6ntre os anos de 14U2 e 1491 - disse ose.h :/ara, um idosonegociante de %arinha de 0embleque - contribu!mos com .elo menoscinquenta e oito milhes de mara#edis .ara o es%or+o de guerra e

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outros #inte milhes em em.réstimos #olunt:rios' Ano a.s ano, acomunidade udaica so%re enormes .reu!/os .ara .agar um im.ostoeorbitante ou .ara dar ao trono um .resente em troca da sobre#i#ncia' Certamente estamos a.enas em outro momento desses'  - Ee#emos recorrer ao rei, .edindo a sua inter#en+ão - disse

=el>ias'  Eiscutiram quem de#ia redigir a a.ela+ão e hou#e um consenso em torno do nome dedom Abraham ?eneor'  - ( o cortesão udeu .or quem ?ua Baestade tem mais a.re+o eadmira+ão - disse o rabino ;rtega e muitas cabe+as balan+aram emconcord3ncia' f-Y CA0D; N _a BDEA7pA?Abraham ?eneor : tinha #i#ido oitenta anos e, embora a mente continuasse l*cida e saga/,o cor.o esta#a muito cansado' ?ua histria de delicados e .erigosos ser#i+os aos monarcasha#ia come+ado quando ele arranou as n*.cias secretas que, em 19 de outubro de 14N9,tinha unido dois .rimosI "sabel de Castela, com de/oito anos, e^ernão de Aragão, comde/essete'  A cerimnia %ora clandestina .orque desa%ia#a o rei =enrique "& de Castela' =enriquequeria que a meia-irmã "sabel se tornasse es.osa do rei Al%onso, de ortugal' A in%anta serecusara, .edindo que =enrique a designasse como herdeira dos tronos de Castela e en, e .rometendo que s se casaria com sua a.ro#a+ão'  =enrique "& de Castela não tinha %ilhos 8ele era tema de /ombaria entre alguns s*ditos,que o chama#am de =enrique, o "m.otente, mas ha#ia uma menina, uana, que seacredita#a ser %ilha ileg!tima da amante de =enrique, Meltr:n de "a Cue#a' uando eletentou nomear uana sua herdeira, irrom.eu uma guerra ci#il' ;s nobres deiaram de a.oi:-lo como rei e reconheceram como seu soberano o irmão de do/e anos de idade de "sabel,também chamado Al%onso' Eois anos mais tarde, o o#em Al%onso %oi encontrado morto emsua cama, a.arentemente en#enenado'  "sabel não %ora criada ou educada como %utura monarca, mas logo a.s a morte do irmãoela .edira a Abraham ?eneor .ara iniciar em segredo, com in%luentes cortesãos aragoneses,negocia+es que .udessem le#ar a seu casamento com ernão, .r!nci.e de Aragão' 6m 11de de/embro de 14Q4, quando =enrique "& morreu de re.ente em Badri, "sabel esta#a em?eg#ia' Assim que soube da not!cia, ela se .roclamou sem titubear rainha de Castela' Eoisdias mais tarde, cercada .elos a.lausos de grande multidão, .uou sua es.ada, ergueu-asobre a cabe+a com o .unho .ara cima e liderou uma .rocissão até a catedral de ?eg#ia'As cortes .arlamentares imediatamente lhe uraram %idelidade'6m 14Q9, o rei oão "" de Aragão morreu e %oi sucedido .elo %ilho s' o casal real

; D0"B; DE6D 4Vtra#ara guerras cont!nuas, re.elindo in#ases de ortugal e ran+a, e en%rentandoinsurrei+es' uando essas cam.anhas militares %oram conclu!das com ito, eles seconcentraram na guerra contra os mouros'  Atra#és de todos os anos de combate, Abraham ?eneor ser#ira-os %ielmente, le#antando%undos .ara as dis.endiosas o.era+es de guerra, desen#ol#endo um sistema de taa+ão,

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orientando-os .or entre as ciladas .ol!ticas e %inanceiras dos reinos unidos de Castela eAragão'  ;s monarcas souberam recom.ens:-lo' 6le %oi declarado rabino, ui/ su.remo dos udeusde Castela e assessor, em todo o reino, de assuntos relati#os aos im.ostos udaicos' Eesde14UU, %ora ainda tesoureiro da =ermandad, a mil!cia que ernão organi/ara .ara manter a

ordem e a seguran+a na 6s.anha' ;s udeus não gosta#am de ?eneor - ele %ora uma escolhado rei, não deles' Bas ?eneor %ora leal a eles' Antes mesmo que os udeus de in*meras .artes do reino ti#essem tem.o de .edir-lhe que os de%endesse unto a ernão, ?eneor .usera mãos à obra' A .rimeira reunião com os monarcas a.oiou-se nos la+os m*tuos dea%eto e ami/ade, mas seus .edidos de re#oga+ão do edito de e.ulsão encontraram umareei+ão %ria, que o desanimou'  &:rias semanas de.ois, ele solicitou outra reunião, desta #e/ le#ando consigo seu genro,o rabino Beir Belamed, que ser#ira como secret:rio de ernão e era administrador-geral dacoleta de im.ostos no reino' 6les ha#iam sido declarados rabinos .elo rei, não .or seuscorreligion:rios, mas ambos tinham ser#ido e%eti#amente como ad#ogados dos udeus,de%endendo-os inclusi#e nos tribunais' Com eles ia "saac ben udah Abra#anel, que esta#aencarregado da cobran+a de im.ostos nas regies do centro e do sul do .a!s e queem.restara enormes somas de dinheiro ao tesouro real, incluindo um milhão e meio deducados de ouro .ara alcan+ar a #itria na guerra contra )ranada'  Ee no#o os trs udeus insistiram em sua rei#indica+ão, desta #e/ se o%erecendo .arale#antar no#os %undos .ara o tesouro e com Abra#anel deiando claro que ele e seus irmãosabririam mão de certos débitos .esados que a Coroa tinha .ara com eles se o decreto dee.ulsão %osse re#ogado'  ernão mostrou indis%ar+:#el interesse na discussão das somas o%erecidas' ;s trsrequerentes es.era#am uma res.osta imediata .ara que 0orquemada e outros catlicos, quetinham trabalhado anos .ara conseguir a e.ulsão dos udeus, não ti#essem tem.o de in%luir na decisão' ernão, no entanto, disse a.enas que a .eti+ão ia ser eaminada e, uma semanade.ois, quando os trs tornaram a com.arecer diante dos monarcas, o rei in%ormou que o .edido %ora negado' 6le decidira que o edito de e.ulsão seria eecutado' 44 7;A= );RE;7  arada ao lado do marido, "sabel era uma mulher atarracada, de altura média e ar se#ero,mas de .orte régio' 0inha olhos #erde-a/ulados, arrogantes e grandes, e uma min*scula boca enrugada' ?eu melhor tra+o, um cabelo entre rui#o e louro, come+ara a %icar commanchas grisalhas' 6la tornou o momento ainda mais amargo .ara os trs citando o rei?alomão, ro#érbios 21I1'  - ; cora+ão do rei est: na mão do ?enhor como os cursos dW:gua,que desaguam con%orme a ?ua #ontade' 7ão acreditem que esta coisaque cai sobre #ocs #enha de ns' oi o ?enhor quem a colocou nocora+ão do rei - disse ela aos trs udeus num tom de des.re/o, encer rando a audincia'Ee uma .onta à outra do reino, os conselhos udeus se reuniram sob um no#o surto dedeses.ero'  6m 0oledo, o Conselho dos 0rinta %a/ia de tudo .ara colocar algumas ideias em ordem'  - 0enho muito carinho .or esta terra' Bas se ti#er de deiar esteamado lugar onde re.ousam meus ancestrais - disse %inalmente Ea#idBendo/a -, gostaria de ir .ara onde não me acusem de matar uma

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crian+a .ara %a/er .ães :/imos do cor.o tenro, a.unhalar a mesa eucar!stica, insultar a &irgem ou /ombar da missa  - Ee#emos ir .ara onde gente inocente não sea incendiada comoum .a#io - disse o rabino ;rtega e hou#e um murm*rio de a.ro#a+ão'- ue lugar seria esse - .erguntou o .ai de <onah'

=ou#e um demorado silncio' 6les troca#am olhares entre si'0odos, no entanto, teriam de ir .ara alguma .arte e as .essoas come+aram a %a/er os seus .lanos'  Aron 0oledano, um homem baio e %orte, de %ala macia, %oi até a casa de =el>ias e %icouhoras con#ersando com o irmão, .ro.ondo e reeitando destinos enquanto <onah ou#ia,tentando com.reender'  7o %inal das contas, chegaram à conclusão de que s ha#ia trs rumos .oss!#eis' ara oreino de 7a#arra, ao norte' ara ortugal, no oeste' ara a costa, no leste, com na#ios .aratrans.ort:-los a terras mais distantes'  Contudo, em .oucos dias %icaram a .ar de no#os %atos que audaram a de%inir as o.+es'  Aron #oltou, a sombra da .reocu.a+ão cobrindo seu rosto de agricultor'- 7a#arra est: %ora de cogita+ão' ? aceitarão udeus con#ertidos

; @0"B; DE6D 4O  Benos de uma semana de.ois, %icaram sabendo que dom &idal ben Men#eniste de "aCa#alleria, que cunha#a as moedas de ouro de Aragão e o dinheiro de Castela, tinha #iaado .ara ortugal e recebido .ermissão .ara o estabelecimento de udeus es.anhis' ; rei .ortugus, dom oão "", .ercebia a o.ortunidade e decreta#a que seu tesouro cobraria umducado de cada imigrante udeu, mais um quarto do #alor de qualquer mercadoria queentrasse no reino' 6m troca, os udeus %icariam autori/ados a seis meses de .ermanncia'  - 7ão con%io no homem - disse Aron balan+ando a cabe+a com umar enoado' - 7o %im, acho que seria ainda menos usto conosco que otrono es.anhol'  =el>ias concordou' 6 isso deia#a a.enas a o.+ão .elo litoral, onde tomariam os na#ios'onderado e gentil, =el>ias era um homem alto' Beir sa!ra mais baio e troncudo, comoAron, e 6lea/ar : mostra#a os sinais de uma constitui+ão semelhante' <onah tinha um%!sico mais desen#ol#ido, como seu .ai, a quem olha#a tanto com medo quanto com amor'- ara onde #amos então, abba  - 7ão sei' &amos .ara onde eistam muitos na#ios, .ro#a#elmente o .orto de &alncia' Ee.ois #eremos quais são os barcos dis.on!#eise onde estão atracados' &amos con%iar que o Alt!ssimo guie nossos .assos e nos aude a tomar uma decisão s:bia'6le se #irou .ara <onah'- 6st: com medo, meu %ilho  <onah tentou articular uma res.osta, mas não %oi su%icientemente r:.ido'  - 7ão é #ergonha ter medo' 6 é sinal de bom senso reconhecer queé uma #iagem cheia de riscos' Bas somos trs homens grandes e %or tesI eu, Aron e #oc' 7s trs seremos ca.a/es de cuidar da seguran+ade 6lea/ar e de sua tia uana'<onah %icou muito contente ao ser contado como homem .elo .ai' oi como se =el>iaslesse sua mente'  - ?ei, muito bem, que tem assumido res.onsabilidades de um

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homem adulto nestes *ltimos anos - disse .ausadamente' - 6 tenhacerte/a de que também outras .essoas obser#am seu car:ter' &enhoescutando sondagens de homens com %ilhas à es.era de entrar sob odossel nu.cial'- 0em con#ersado sobre o meu casamento - <onah .erguntou'

-4N 7;A= );RE;7  - Ainda não' 7ão agora' Bas assim que chegarmos à nossa no#acasa ha#er: tem.o .ara conhecer os udeus que esti#erem l: e arranar um bom casrio' Coisa, eu acho, de que #oc #ai gostar'- 6 #ou - <onah concordou e o .ai riu'- 0ambém : %ui o#em, sabia ?ei como é'  - 6lea/ar #ai %icar bastante enciumado' 0ambém #ai querer umaes.osa - disse <onah e, desta #e/, os dois riram untos' - 7ão tenhomedo, abba, de ir a .arte alguma com #oc do meu lado'  - 0ambém não sentirei medo, <onah' 7em .or mim nem .or #oc'ois o ?enhor estar: conosco'A ideia do casamento %oi um no#o elemento na #ida de <onah' 6m meio a todo aqueletumulto, sua mente esta#a con%usa e o cor.o alterado' noite, sonha#a com mulheres e,mesmo acordado, %antasia#a sobre uma #elha amiga, uc!a Bartin' uando eram crian+ascuriosas, em #:rias ocasies, um e.lorara demoradamente a nude/ do outro' Agora,quando era .oss!#el #er que os .rimeiros sinais de %eminilidade madura : tinhamdes.ontado sob as rou.as de uc!a, .assara a eistir um certo embara+o entre os dois'  0udo esta#a mudando e, a.esar dos medos e das incerte/as, <onah %icara entusiasmadocom a .ers.ecti#a de %inalmente #iaar .ara terras distantes' "magina#a a #ida num no#olugar, um ti.o de #ida que os udeus não tinham e.erimentado na 6s.anha nos *ltimoscem anos'  6ncontrara, numa sala da sinagoga, misturado às coisas religiosas, o li#ro de um :rabechamado Xhordabbe>, que di/ia o seguinte sobre os negociantes udeusI  6mbarcam na terra dos %rancos, no mar ;cidental, e se dirigem .ara arama' Alicarregam suas mercadorias nas costas de camelos e seguem .or terra até Xol/um, que %ica acinco dias de ornada, numa dist3ncia de #inte e cinco %arsacs' artem do mar &ermelho ena#egam de Xol/um .ara 6ltar e eddah' Ee.ois continuam .ara ?ind, na !ndia, e .ara aChina'  )ostaria de ser um desses mercadores' ?e %osse cristão ia .re%erir ser um ca#aleiro''' éclaro, um ca#aleiro que não matasse udeus' &idas assim seriam cheias de coisas .ara semara#ilhar'  Bas em momentos mais realistas, <onah sabia que o .ai tinha ra/ão' 7ão %a/ia sentido%icar sentado imaginando coisas' =a#ia trabalho a %a/er, .ois eram as .r.rias %unda+es domundo deles que esta#am desmoronando' _ CA0D; Q A EA0A EA AR0"EA<onah conhecia muita gente que : esta#a indo embora' 7a estrada da .eri%eria de 0oledo, .rimeiro %oram #istos alguns #iaantes, de.ois uma %ileira cont!nua e, .or %im, uma#erdadeira enchente de udeus, dia e noite, uma multidão de estranhos #indos de longe,rumando .ara oeste na dire+ão de ortugal, ou .ara leste, onde esta#am os na#ios' ;

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 barulho de sua .assagem era ou#ido dentro da cidade' &iaa#am em ca#alos e burros,senta#am-se nos sacos de seus .ertences em carro+as .uadas .or #acas, anda#am sob o solquente carregando trouas .esadas, alguns tro.e+ando, outros caindo' s #e/es, .aramanter o 3nimo, mo+as e ra.a/es canta#am, tocando tambores e tamborins enquantoanda#am'

  Bulheres da#am à lu/ na beira da estrada, e gente morria' ; Conselho dos 0rinta de0oledo .ermitia que os #iaantes enterrassem seus mortos no cemitério udeu, mas%requentemente não .odia o%erecer nenhuma outra auda, nem mesmo um minJan .arare/ar o >adish' 6m outros tem.os, #iaantes com .roblemas teriam recebido assistncia ehos.italidade, mas agora os .r.rios udeus de 0oledo esta#am .artindo, ou se .re.arando .ara .artir, e en%renta#am seus .r.rios contratem.os'  As ordens dominicana e %ranciscana, satis%eitas em #er a e.ulsão .ela qual tinhamtrabalhado e .regado, cisca#am energicamente em #olta .ara colher o m:imo .oss!#el dealmas udaicas' 6m 0oledo, alguns amigos de longa data da %am!lia de <onah entra#am nasigreas da cidade e se declara#am cristãosI as crian+as, os .ais e os a#s com quem os0oledano tinham re.artido o .ão, com quem ha#iam re/ado na sinagoga, com quem tinhamingado a necessidade de usar a ins!gnia amarela de um .o#o .roscrito' uase um ter+o dos udeus #iraram con#ertidos' or temerem os terr!#eis .erigos da #iagem, .or estaremligados a um .arceiro cristão, .or terem atingido uma .osi+ão e um con%orto a que nãoesta#am dis.ostos a renunciar ou .or : estarem %artos de serem des.re/ados' 4U 7;A= );RE;7  udeus em altas .osi+es %oram .ressionados, coagidos a se con#erter' Certa noite o tio de<onah, Aron, .rocurou =el>ias com not!cias chocantes'  - ; rabino Abraham ?eneor, o genro dele, rabino Beir Belamed, e suas %am!lias #iraramcatlicos'  A rainha "sabel não %ora ca.a/ de su.ortar a .ers.ecti#a de %icar sem os dois homens quetanto ha#iam %eito .or ela e corriam rumores de que os amea+ara com re.res:lias contra os udeus se eles se recusassem a se con#erter' 6ra %ato conhecido que os soberanos tinhamcuidado .essoalmente e assistido às cerimnias .*blicas de con#ersão, além de ser#iremcomo .adrinhos no batismo'  ; rabino ?eneor mudara seu nome .ara ernando 7une/ Coronel e o rabino Belamedmudara o dele .ara ernando ére/ Coronel'  Alguns dias de.ois, ?eneor %oi nomeado go#ernador de ?eg#ia, membro do conselhoreal e administrador-geral das %inan+as .ara o .r!nci.e herdeiro' Belamed %oi nomeadocontador-che%e da Coroa e também se tornou membro .ermanente do conselho real'  "saac Abra#anel recusou-se a se con#erter' 6le e seus irmãos, ose.h e acob,renunciaram à enorme d!#ida que o rei e a rainha tinham .ara com eles e, em troca,receberam .ermissão .ara deiar o .a!s le#ando mil ducados de ouro e alguns .ertences#aliosos %eitos de ouro e .rata'=el>ias e Aron %oram menos a%ortunados, como a grande maioria dos que en%renta#am acalamidade' A massa de udeus era in%ormada de que ninguém teria .ermissão .ara tirarouro, .rata, dinheiro ou .edras .reciosas do reino' 6ram aconselhados .elo trono a #endertudo que .ossu!ssem e a usar o que ganhassem .ara com.rar bens comuns, que .oderiam#ender quando chegassem a seus no#os .a!ses' uase imediatamente, no entanto, o reiernão declara#a que, em Aragão, algumas terras, casas e bens m#eis dos udeus seriama.reendidos em #irtude das rendas de#idas à Coroa'

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  6m 0oledo, os udeus correram .ara #ender suas .ro.riedades antes que uma a+ãosemelhante dos monarcas tornasse im.oss!#el %a/-lo, mas o .rocesso %oi uma .iada' ;s#i/inhos cristãos, sabendo que eles teriam de abandonar de qualquer modo as .ro.riedades .ara sal#ar a .ele, ogaram im.iedosamente os .re+os no chão, o%erecendo alguns sueldos .or im#eis que normalmente #aleriam muitos mara#e-dis ou-mesmo muitos reales' Dm

 burro ou um #inhedo troca#am de mãos .or uma .e+a comum de tecido' ; @0"B; DE6D 49  Aron 0oledano, a quem tinham o%erecido quase nada .ela grana de cabras, .rocurou oconselho do irmão'- 7ão sei o que %a/er - disse num tom inde%eso'  =el>ias %ora um .rs.ero e requisitado artesão toda a sua #ida, mas os maus tem.ostinham #indo quando ele esta#a num a.erto %inanceiro' Recebera a.enas um de.sito .elorelic:rio' Como a .e+a %oi roubada antes da entrega, não recebeu mais dinheiro algum,embora ti#esse in#estido %ortemente na mais .ura .rata e no mais .uro ouro .ara %a/er ocibrio' Alguns %regueses ricos atrasa#am agora os .agamentos de obetos : entregues,sentindo que o desenrolar dos acontecimentos .odia tornar desnecess:rio quitar os débitos'  - 0ambém não sei o que %a/er - =el>ias admitiu' 6sta#a numasitua+ão muito di%!cil, mas %oi sal#o gra+as aos es%or+os e ao cora+ãogeneroso de um #elho e de#otado amigo'Menito Bartin era um cristão-#elho, um ouri#es es.eciali/ado em .e+as de ouro, mas não .ossu!a o génio criati#o que rendera a =el>ias a re.uta+ão de ecelncia no trabalho da .rata' A maior .arte do trabalho de Bartin era sim.les douradura e conserto' uando osdois eram ra.a/es, Menito descobrira que, em sua .r.ria cidade natal de 0oledo, ha#ia um udeu criando coisas es.lndidas com metais .reciosos'  oi então .rocurar o artesão udeu, com quem .assaria aqueles inter#alos m:imos .oss!#eis de tem.o que alguém .ode se .ermitir sem se trans%ormar num aborrecimento .ara o outro' ueria a.render no#os meios de moldar a .rata e o ouro, e luta#a .ara quesuas mãos a.rendessem a con#i#er com uma no#a #isão do trabalho'  7o .rocesso de rea.rendi/agem de seu o%!cio, Menito Bartin descobriu um homem'  =el>ias gosta#a de receb-lo e com.artilha#a com ele suas habilidades e suase.erincias .essoais' A admira+ão de Menito Bartin gradualmente se trans%ormaria numaami/ade genu!na e certa, tão .ro%unda que, em dias melhores, Bartin %ora com os %ilhos àsinagoga .ara cum.rimentar a %am!lia 0oledano na :scoa e esti#era também na suc:,durante a esta dos 0abern:culos' A %ilha uc!a tornara-se a melhor amiga de <onah, e o%ilho 6nrique era o mais %requente com.anheiro de ogos de 6lea/ar'  Agora Menito esta#a en#ergonhado da inusti+a que grassa#a em 0oledo e, num %im detarde, %oi caminhar com =el>ias, cedo o bastante .ara .oderem dar um giro .elo alto do .enhasco e a.reciar a chegada da noite' OG 7;A= );RE;7  - ?ua casa tem uma locali/a+ão ece.cional e a o%icina %oi .lane ada com tanta sensibilidade que con#ida a bons resultados' =: muitotem.o estou de olho nelas'=el>ias %icou em silncio'uando Menito %e/ sua o%erta, o ouri#es .arou de andar'- ?ei que é muito baia, mas'''

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  0eria sido uma o%erta muito baia em tem.os comuns, mas os tem.os não eram comuns'=el>ias sabia que era tudo que Menito .odia se dar ao luo de o%erecer e era muito mais queas o%ertas a#iltantes %eitas .or es.eculadores'  6le se a.roimou do amigo, beiou-lhe o rosto barbeado de cristão e abra+ou-o .or umlongo tem.o'

<onah re.arou que a a.atia desa.arecera dos olhos do .ai' =el>ias senta#a-se com Aron ediscutia como .odiam sal#ar suas %am!lias' 6ra um .roblema realmente urgente e ele agora .arecia dis.osto a dedicar-lhe toda a sua energia e aten+ão'  - 7ormalmente, a #iagem até &alncia le#aria de/ dias' Agora, comas estradas a.inhadas de gente .rocurando chegar .rimeiro, a mesma#iagem le#ar: do/e dias, eigindo o dobro da comida e du.licando osriscos do traeto' or isso é melhor deiar 0oledo o mais tarde .oss!#el,quando o n*mero de #iaantes ti#er no#amente se redu/ido'  6m sua grana, Aron tinha dois burros de carga e uma .arelha de timos ca#alos que ele ea mulher, uana, montariam' Menito Bartin tinha agido .or =el>ias, com.rando mais doisca#alos e um .ar de burros .or muito menos do que teriam cobrado a um udeu, ainda que=el>ias esti#esse .agando uma soma eorbitante ao #i/inho Barcelo 0roca .ara guardar osquatro animais na terra adacente à sua'  =el>ias disse ao irmão que tinham de achar um meio de conseguir mais dinheiro'  - uando chegarmos ao .orto, os ca.itães dos na#ios não serãocaridosos' &amos .recisar de muito dinheiro .ara .agar nossas .assagens' 6 quando chegarmos à terra de destino, .recisaremos de dinheiro .ara nos sustentar até estarmos de no#o ganhando com nosso trabalho o .ão de cada dia'  A *nica %onte .oss!#el de dinheiro eram os débitos não quitados dos clientes de =el>ias, e<onah sentou-se com o .ai .ara %a/er uma lista cuidadosa dos %regueses e das somas quecada um de#ia'  ; maior débito eram sessenta e no#e reates e de/esseis mara#edis de#idos .elo condeern:n &asca, de 0embleque' ; D0"B; DE6D O1  - ( um nobre arrogante, mandando me chamar como se %osse umrei, enumerando %riamente as coisas que queria de mim, mas %a/endocor.o mole .ara me .agar um *nico sueldo' ?e eu .uder receber estad!#ida, nosso ca.ital ser: mais que su%iciente'  7um belo dia de ulho, <onah %oi com o .ai até 0embleque, um lugareo %ora de 0oledo' 7ão esta#a acostumado a andar a ca#alo, mas sua montaria, assim como a do .ai, era dcil,e <onah, orgulhoso como qualquer ca#aleiro, instalou-se na #elha sela' ; cam.o era bonitoe, embora a cabe+a de =el>ias esti#esse .esada, ele %oi ca.a/ de ensaiar uma can+ãoenquanto seguiam' Dma can+ão de .a/';h, o cordeiro habitar: com o lobo,6 com o menino o leo.ardo #ai brincar,6 a #aca unto ao urso .astar:,6nquanto o leão come %orragem como o boi''' W  <onah gosta#a de escutar a #o/ gra#e cantando os #ersos sonoros' &ai ser assim quandoesti#ermos a caminho de &alncia, ele .ensou com .ra/er'

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  ouco de.ois, enquanto ca#alga#am, =el>ias contou ao %ilho que, ao ser con#ocado .ela .rimeira #e/ a 0embleque .elo conde &asca, ti#era uma con#ersa com seu amigo, o rabino;rtega'- ; rabino me disseI &ou lhe %alar sobre este nobre'  ; rabino ;rtega tinha um sobrinho, um o#em erudito chamado Asher ben <air, #ersado

em #:rios idiomas assim como na 0ora'  - ( di%!cil .ara um s:bio ganhar a #ida - disse =el>ias -, e um diaAsher ou#iu di/er que um nobre de 0embleque esta#a .recisandoem.regar alguém' 6ntão ele #iaou .ara 0embleque e o%ereceu seusser#i+os'  ; conde tinha orgulho de suas habilidades nas artes marciais, contou o .ai de <onah'utara contra os mouros e #iaara muito .ara .artici.ar de .ro#as de torneios, um bomn*mero das quais #encidas .or ele' Bas esta#a sem.re rece.ti#o às no#idades e, na .rima#era de 14UN, tinha ou#ido %alar de um di%erente ti.o de dis.uta, um torneio liter:rioonde os batedores lutariam com .oemas em #e/ de lan+as e es.adas'  ; concurso se chama#a ocs lorais, isto é, ogos %lorais' 0inham come+ado na ran+a,no %im do século $"&, quando alguns o#ens nobres de 0oulouse decidiram con#idar .oetas .ara recitar suas obras' ; #encedor receberia, como .rimeiro .rémio, uma #ioleta %eita deouro'  ; concurso %oi reali/ado na ran+a .eriodicamente, até que &io-lante de Mar, rainha daCatalunha e de Aragão e es.osa do rei oão ", O2 7;A= );RE;7le#ou o torneio .oético e alguns de seus ui/es %ranceses .ara Marcelona em 1VUU' ogo acorte es.anhola adotou o%icialmente os ogos %lorais, que .assou a celebrar ano a.s anocom grande .om.a' 7a é.oca em que des.ertaram a aten+ão do conde &asca, ascom.eti+es anuais de .oesia eram ulgadas .ela corte real' Dma #ioleta de .rata era agorao .rémio do terceiro lugar' ; .rémio do segundo lugar era uma rosa %eita de ouro' Comot!.ico toque catalão, o .rimeiro .rémio era uma sim.les rosa #erdadeira, com base noargumento de que nada %eito .elos homens .oderia su.erar uma %lor criada .or Eeus'  &asca achou que seria es.lndido ser chamado à corte .ara receber uma tal homenagem e%e/ .lanos .ara entrar nos ocs lorais' ; %ato de ser anal%abeto não o dete#e, .ois tinhadinheiro .ara em.regar alguém com habilidades na escrita e assim contratou Asher ben<air, a quem mandou escre#er um .oema' 7uma discussão sobre o tema, &asca disse quede#ia ser um .oema sobre um grande e nobre soldado5 a.s um bre#!ssimo inter#alo, oconde e seu %uncion:rio concordaram que o .r.rio conde ern:n &asca seria o guerreiroque mais se .resta#a à descri+ão em tal obra'  uando o .oema %oi conclu!do e lido, não o%endeu os ou#idos do conde' 6ra su%icienteque sua bra#ura e habilidades guerreiras %ossem tratadas com re#erncia e não .oucoeagero' Assim, o conde &asca mandou uma c.ia .ara Marcelona'  ; .oema de &asca não conseguiu im.ressionar os ui/es da corte' uando o conde %icou a .ar da not!cia de que trs outras .essoas tinham ganho os .rémios, Asher ben <air : ha#iase des.edido do tio, o rabino ;rtega, e sensatamente .artido .ara a ilha da ?ic!lia, ondeacha#a que .oderia trabalhar como .ro%essor de meninos udeus'  ; conde &asca então mandou chamar =el>ias 0oledano, um udeu que tinha timare.uta+ão como art!%ice de metais .reciosos' uando =el>ias chegou a 0embleque,encontrou &asca ainda %urioso .or ter sido humilhado .or um gru.o de #erseadores

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%racotes' Contou a =el>ias sobre os ocs lorais e seus imaginati#os .rémios, e de.oisre#elou que decidira .atrocinar uma dis.uta mais #iril, uma #erdadeira .ro#a de torneio,com um .rimeiro .rémio muito mais not:#el e maestoso que o entregue em Marcelona'- uero que %a+a uma rosa de ouro com um caule de .rata'; .ai de <onah abanara a cabe+a com ar meditati#o'

  - Bas escute com aten+ãoI tem de ser realmente tão bonito quantouma rosa natural' ; @0"B; DE6D OV=el>ias sorrira'- Mem, mas'''  ; conde le#antara a mão' =el>ias achou que ele não esta#a dis.osto a sustentardiscusses muito longas com um udeu' &asca : tinha lhe dado as costas'  - &: e %a+a o que estou .edindo' &ou .recisar disso a.s a :scoa'- 6 =el>ias %oi dis.ensado'  6le esta#a acostumado a eigncias absurdas de clientes di%!ceis, embora a situa+ão em .auta se tornasse mais delicada .ela re.uta+ão que tinha o conde &asca de tratar de modo brutal quem o desagrada#a' =el>ias come+ou a trabalhar, sentando-se horas a %io diante dearbustos %loridos, %a/endo desenhos' uando obte#e um esbo+o que lhe agradou, come+oua bater o ouro e a .rata com um martelo' uatro dias de.ois, tinha alguma coisa muito .rima do %ormato de uma rosa mas que, não obstante, o dece.ciona#a' 6le a quebrou e%undiu o metal'  e/ #:rias outras tentati#as, obtendo de cada #e/ .equenas #itrias, mas ulgandode%eituoso o e%eito de conunto' : tinham se .assado dois meses desde o dia de seuencontro com &asca e ainda esta#a longe de com.letar a encomenda'  Bas continua#a tentando, estudando as rosas como se elas %ossem o 0almud, absor#endoseu aroma, sua bele/a, des%olhando .étala .or .étala .ara assimilar a constru+ão do todo,notando como os caules se retorciam e #erga#am .ara crescer na dire+ão do sol,obser#ando o modo como nasciam os botes, como se desen#ol#iam e com que delicade/ase desdobra#am, se abriam' A cada tentati#a .ara re.rodu/ir a sim.les e estonteante bele/ada nature/a, come+a#a a .erceber a essncia, o es.!rito das rosas' Assim, atra#és detentati#as e %racassos, gradualmente e#oluiu do artesão que tinha sido .ara o artista queseria'  inalmente, criara uma %lor de ouro brilhante' As .étalas se cur#a#am com uma %rescasua#idade que era .ercebida .elo olho em #e/ de ser sentida atra#és do toque' 6ra uma %lor#eross!mil, como se um mestre da horticultura ti#esse obtido uma rosa natural com a .er%eita cor do ouro' 6mbaio da %lor ha#ia um *nico botão dourado' ; caule, ramos,es.inhos e %olhas eram de .rata brilhante, estragando a ilusão, mas =el>ias tinha cincomeses até a data de entrega .edida .elo conde &asca e ainda ha#eria tem.o .ara melhorar otrabalho' Além disso, o ouro conser#aria a cor, mas a .rata, que %ica#a escura, iriaadquirindo o tom caracter!stico que tornaria a %lor con#incente'  ; conde &asca %icou #isi#elmente sur.reso e satis%eito quando #iu o que =el>ias tinha .rodu/ido' O4 7;A= );RE;7  - 7ão entregarei isto como .rémio' 0enho um melhor destino .araa %lor - disse ele'

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  6m #e/ de .agar, deu a =el>ias uma grande encomenda de no#os obetos e, de.ois, aindauma terceira encomenda' or %im, se trans%ormou em seu maior de#edor' uando os udeusreceberam ordem de deiar a 6s.anha, o débito de &asca : le#ara o ouri#es à gra#edi%iculdade em que ele se encontra#a'; castelo era grande e esta#a todo trancado quando <onah e =el>ias se a.roimaram' As

 barras de %erro do grande .ortão que da#a .ara o .:tio esta#am arriadas' =el>ias e <onahle#antaram os olhos .ara o .osto da sentinela no alto muro de .edra'  - 6i, guarda - =el>ias gritou e, .ouco de.ois, a.areceu uma cabe+a coberta com um elmo'  - ?ou =el>ias 0oledano, ouri#es' Eeseo %alar com ?ua 6celnciao conde &asca'A cabe+a recuou, mas logo tornou a a.arecer'- ?ua 6celncia o conde não est:' Ee#e ir embora'<onah re.rimiu um resmungo, mas o .ai insistiuI  - ; assunto que me tra/ aqui é im.ortante' ?e o conde não est:,tenho de %alar com o mordomo'  Bais uma #e/ a sentinela sumiu' <onah e o .ai %icaram à es.era sentados nos ca#alos'  inalmente, com um guincho e de.ois um gemido, o .ortão com barras de %erro %oierguido e os dois entraram no .:tio do castelo'  ; mordomo era um homem magro, que esta#a alimentando com tiras de carne um %alcãoengaiolado' A carne #inha de um gato branco' <onah .`de #er a cauda, ainda inteira'; homem mal se #irou .ara os dois'- ; conde est: ca+ando no norte - disse num tom irritado'  - &im em busca do .agamento .or uma encomenda que : eecutei e entreguei - disse =el>ias e o mordomo atirou-lhe um r:.ido olhar'- 7ão .ago ninguém sem ordem dele'- uando ele #olta  - uando ti#er #ontade' - 6ntão o homem adotou um tom mais brando, tal#e/ .ara que o deiassem em .a/' - 7o lugar de #ocs, eu#oltaria daqui a seis dias'  6nquanto os ca#alos eram guiados de #olta .ara 0oledo, =el>ias .ermanecia calado,absorto em .ensamentos tumultuados' <onah tentou retomar um .ouco da alegria do traetode ida' ; @0"B; DE6D OO  - , o cordeiro habitar: com o lobo''' - ele cantou, mas o .ai nemdeu conta' ;s dois seguiram .raticamente todo o resto do caminho emsilncio'?eis dias de.ois, =el>ias %e/ outra #e/ a #iagem, agora so/inho' Eessa #e/, o %uncion:riodisse que o conde s #oltaria da! a cator/e dias, no dia 2N do ms'  - ( tarde demais - disse Aron, sem es.eran+as, quando =el>ias lhecontou'- ?im, é tarde demais - disse =el>ias'  Bas no dia seguinte, correram rumores de que os monarcas, em sua clemncia, teriamconcedido um dia etra .ara os udeus sa!rem da 6s.anha, trans%erindo a data limite do .rimeiro .ara o segundo dia de agosto'- &oc acha''' - Aron .erguntou'

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  - ?im, '.odemos %a/er - disse =el>ias' - 6staremos à es.era nocastelo quando ele chegar' 6 .artiremos diretamente de l: a.s o .agamento'- Bas %a/er a #iagem até &alncia em sete dias  - 7ão temos escolha, Aron - disse =el>ias' - ?em dinheiro, esta

mos condenados'uando Aron sus.irou, =el>ias .`s a mão no bra+o do irmão'  - Ee#emos tentar' &amos nos .re.arar e .re.arar também os animais' 0udo #ai dar certo'  Bas enquanto %ala#a, ocorria-lhe o %ato desagrad:#el de que o segundo dia de agosto erao nono dia do ms udaico de Ab, uma data in%ame e tal#e/ um mau .ress:gio, .ois o nonodia de Ab era a data da destrui+ão do 0em.lo em erusalém, quando grandes multides de udeus %oram %or+adas a iniciar suas andan+as .elo mundo' _ CA0D; U _o; 6?CAE;R <onah e 6lea/ar não .recisa#am mais .olir os obetos de .rata' Admitindo que não .oderia#end-los .or um .re+o usto, =el>ias entregou todo o seu estoque a Menito Bartin .or uma .equena soma de dinheiro'  7o dedo médio da mao direita, <onah usa#a o largo anel de .rata que o .ai lhe deraquando ele %oi chamado à 0ora .ela .rimeira #e/' =el>ias tinha %eito um anel idntico .arao .rimogénito, mas quando o cor.o de Beir lhe %oi tra/ido, o anel desa.arecera'  - 0ire o anel do dedo - disse =el>ias, e <onah obedeceu com relut3ncia' ; .ai en%iou o anel num .eda+o de cordão %ino, mas %orte, quecolocou em #olta do .esco+o de <onah, de modo que o anel %icasseescondido dentro da camisa'  - ?e %ormos obrigados a #ender seu anel, .rometo que %a+o outrologo que .oss!#el - disse ele' - Bas tal#e/, com a auda do ?enhor,#oc consiga #oltar a usar este anel em outro lugar'=el>ias le#ou os dois %ilhos ao cemitério udeu %ora dos limites da cidade' 6ra um lugarmuito triste, .ois outras %am!lias que esta#am .artindo da 6s.anha .ara#am nos t*mulosdos entes queridos .ara di/er adeus' Assustado com os choros e solu+os, 6lea/ar tambémacabou chorando, embora : não ti#esse a menor lembran+a da mãe e mal se recordasse deBeir'  Eurante anos, =el>ias .ranteara a es.osa e o .rimeiro %ilho' 6mbora seus olhosesti#essem cheios de l:grimas, ele não chorou, a.enas a.ertou os dois %ilhos #i#os eenugou as l:grimas deles' Ee.ois os beiou antes de mand:-los lim.ar os t*mulos e .rocurar .equenas .edras .ara serem .ostas sobre as cam.as, como sinal de que tinhamsido #isitados'- 0err!#el ir .ara longe dos t*mulos deles - =el>ias disse mais tarde a Menito' Bartin ha#iatra/ido um odre de #inho e os dois se sentaram

; @0"B; DE6D OQ .ara con#ersar, como tinham %eito tantas #e/es no .assado' - Bas o .ior mesmo é deiar ase.ultura de meu %ilho sem saber quem o colocou l: dentro'  - ?e %osse .oss!#el seguir o rastro do relic:rio - disse Bartin -, sualocali/a+ão .oderia contar muita coisa'

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  - 7ão %oi .oss!#el %a/er isso - disse =el>ias torcendo a boca' - 6a essa altura os ladres, que de#em saber como negociar obetos desseti.o, : o #enderam' 0al#e/ estea numa igrea muito longe daqui' - 6letomou um longo gole do #inho'  - 6, quem sabe''' tal#e/ não - disse Menito' - ?e eu %alar com quem

%requenta as igreas da região, .osso %icar sabendo de alguma coisa'  - 6u : tinha .ensado nisso - =el>ias admitiu -, mas''' sou udeu'Beu temor de igreas e .adres me im.ediu de ir em %rente'  - osso tratar do assunto .ara #oc - Bartin garantiu, e =el>ias balan+ou agradecidamente a cabe+a' 6le %oi até sua mesa de trabalho eentregou a Menito os desenhos do cibrio, que .odiam ser mostradosaos clérigos'Bartin .arecia ner#oso'  - =el>ias, h: muito ressentimento contra #oc na cidade' Corremrumores de que se recusa a deiar 0oledo e também não quer se con#erter' 6sta casa %ica etremamente e.osta no alto do .enhasco' ( tar de demais .ara .rocurar seguran+a atr:s dos muros do bairro udeu, .ois os outros : .artiram' 0al#e/ #oc e seus %ilhos de#essem ir .araminha casa, .ara a seguran+a de uma casa cristã'  =el>ias sabia que um adulto e dois garotos mudando-se .ara a casa de Bartin, mesmo .or um curto .er!odo, causariam muito incmodo' 6le agradeceu a Menito, mas balan+ou acabe+a numa negati#a'  - Até o momento de nossa .artida, quero des%rutar da casa em quemeus %ilhos nasceram'  Contudo, quando Menito .artiu, =el>ias le#ou os dois %ilhos até a trilha que descia dorochedo e mostrou-lhes, à margem do caminho, a boca de um t*nel estreito, em %orma de ,que le#a#a a uma .equena ca#erna'  ?e hou#esse mesmo necessidade, disse a <onah e a 6lea/ar, a ca#erna seria umesconderio seguro'" onah tinha .lena conscincia de estar %a/endo as coisas em 0oledo .ela *ltima #e/'  erdera a .esca da .rima#era' A .rima#era era a melhor é.oca, quando ainda %a/ia %rio,mas o .rimeiro calor do sol : .rodu/ira e%- OU 7;A= );RE;7meras e outras min*sculas criaturas aladas que %lutua#am sobre a su.er%!cie do rio'  Agora esta#a quente, mas ele conhecia um trecho .ro%undo logo de.ois de uma re.resanatural, %ormada .or .edregulhos e galhos' ?abia também que os .eies estariam .regui+osamente bem l: no %undo, quase im#eis, es.erando uma re%ei+ão le#ada .elacorrente'  6le reuniu os .equenos an/is %eitos .or um .ai que sabia trabalhar com metais, de.ois%oi .ara tr:s da o%icina e .egou a #ara curta de madeira com uma linha %orte enrolada'Bal dera trs .assos quando 6lea/ar se a.roimou correndo'- <onah, não #ai me le#ar com #oc-7ão'- <onah, eu quero ir'  ?e o .ai ou#isse, tal#e/ mandasse que não sa!ssem de unto da casa' <onah deu umaolhada ansiosa na .orta da o%icina'

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  - 7ão #enha me estragar a coisa, 6lea/ar' ?e #oc %i/er barulho,ele #ai ou#ir e a.arecer na .orta'6lea/ar encarou-o com ar in%eli/'  - uando eu #oltar - disse <onah -, %ico a tarde inteira ensinando#oc a tocar guitarra'

- A tarde inteira-"nteira'  Bais um momento e ele esta#a li#re, seguindo a trilha na dire+ão do rio'  Amarrou um an/ol na .onta da #ara de .escar e %icou alguns minutos na margem do rio,le#antando as .edras' A%ugentou muitos camares de :gua doce até achar umsu%icientemente .equeno .ara sa-tis%a/-lo' 6ntão agarrou e .rendeu a isca'  6ra seu lugar de .esca %a#orito e ele o #isita#a com regularidade nos *ltimos anos' =a#iauma grande rocha debru+ada sobre o .o+o do rio, %:cil de alcan+ar .orque o to.o %ica#aquase na altura da trilha' ; tronco arqueado de uma :r#ore %ornecia sombra tanto .ara os .eies que se concentra#am no .o+o quanto .ara o .escador sentado na rocha'  ; an/ol cha.ou-se com a isca na :gua' <onah %icou na e.ectati#a, mas quando nãohou#e nenhum sinal de mordida, sentou-se com um sus.iro na rocha' =a#ia uma brisa le#e,a .edra era %resca e os agrad:#eis sons em surdina do rio transmitiam uma sensa+ão decalma' Ao longe, rio abaio, dois homens chama#am um .elo outro5 mais .erto dele, um .assarinho canta#a' ; @0"B; DE6D O9  6le não .ercebeu a sonolncia, s uma diminui+ão dos sons e da conscincia, até dormir'Ees.ertou com um sola#anco quando alguém tirou a .onta da #ara de .escar de baio desua .erna'- &oc tem um .eie - disse o homem'  <onah esta#a assustado' 6ra um %rade ou monge de batina .reta e sand:lias, alto como oabba' ?ua #o/ era sua#e e gentil, e <onah achou que ele tinha um rosto bom'- ( um .eie muito grande' uer a #ara- 7ão, o senhor .ode .eg:-lo - disse <onah com relut3ncia'  - oren/o - alguém chamou da trilha e <onah se #irou .ara #er umoutro homem de batina .reta à es.era'  ; .eie se debatia, .rocurando o %undo da re.resa natural que o rio %orma#a naquele .onto, mas o homem alto le#antou a .onta da #ara' 6ra um bom .escador, obser#ou <onah' 7ão deu um .uão %orte que .udesse arrebentar a linha, mas acom.anhou o ritmo do .eiesegurando a linha com a mão esquerda e .uando um .ouco de cada #e/, até a arrancada%inal, quando o incr!#el brema, arqueando de um lado .ara o outro no an/ol, %oi i+ado .arao to.o da rocha'; homem esta#a sorrindo'  - arecia maior, não acha, hã 7o in!cio, todos .arecem muitograndes' - 6ibiu o .eie' - uer %icar com ele  6 claro que <onah queria, mas .ercebeu que o homem também queria o .eie'- 7ão, senor'  - oren/o - chamou o outro %rade' - or %a#or, o tem.o é curto'6le : de#e estar nos .rocurando'  - 6st: bem - disse o alto num tom irritado, .assando o dedo sobuma guelra .ara melhor segurar o .eie' ;lhos mansos e .ro%undos

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como o .o+o do rio contem.laram <onah'- ue Cristo .ossa lhe dar em dobro - disse ele'-fY CA0D; 9 &"?"0A706?

"7 a manhã seguinte, um negrume es#erdeado tomou conta do céu, e hou#e estrondosassustadores de tro#ão e uma boa dose de rel3m.agos' Ee.ois a tem.estade amainou,embora a chu#a tenha continuado .or dois dias' Aron e uana, tios de <onah, esti#eram emsua casa e uana disse que não era habitual cair tanta chu#a no ms de 0amu/'- Bas não é a .rimeira #e/ que isso acontece - disse o marido'  - 7ão, é claro que não é a .rimeira #e/ - disse uana, e ninguémsugeriu que %osse um mau .ress:gio' ; ar continuou quente a.esar daqueda da umidade' 7o segundo dia, a chu#a diminuiu e de.ois .arou'Menito Bartin tinha #iaado os dois dias de chu#a, carregando os desenhos de =el>iasenrolados e embrulhados num .eda+o de couro .ara que não se molhassem' Eesenrolara oscroquis em sete igreas e dois monastérios' quela altura, todo .adre ou monge de 0oledo : ou#ira %alar da .erda do cibrio do mosteiro, mas ninguém %ornecia qualquer .ista sobreo que .odia ter acontecido ao relic:rio a.s o roubo'  A *ltima .arada %ora na catedral, onde Bartin se aoelhara .ara di/er uma ora+ão'  Ao acabar de re/ar, ele se le#antou e #iu que esta#a sendo obser#ado .or um %rade alto,com um rosto etremamente bonito' ?abia, .elos rumores que corriam, que era conhecidocomo ; Melo e que era um homem da "nquisi+ão, mas não conseguia se lembrar do nomedele'  Continuou ocu.ado em mostrar os desenhos aos .adres, que sem d*#ida não %alta#am nacatedral' : mostrara trs #e/es os croquis, como sem.re sem resultado algum, quandotornou a se de.arar, ao erguer a cabe+a, com os olhos do %rade alto'; homem cur#ou um indicador'- Eeie-me #er'  uando Menito .assou-lhe os esbo+os, ele eaminou atentamente um .or um'- or que est: mostrando aos .adres

; D0"B; DE6D N1  - ?ão desenhos de um relic:rio que %oi roubado' ; ouri#es est:querendo saber se alguém sabe de seu .aradeiro'- ; udeu 0oledano'-''' ?im'- ?eu nome- Menito Bartin'- ( con#ertido- 7ão, %rade, sou um cristão-#elho'- =el>ias 0oledano é seu amigoEe#ia ter sido %:cil di/er sim, ns somos amigos'  Menito gosta#a muito da catedral' 0inha .or h:bito #isit:-la com %requncia, .ois a bele/adas abbadas sem.re lhe da#a a im.ressão de que as .reces iam diretas .ara o céu, .ara osou#idos de Eeus' Aquele %rade esta#a estragando a sua catedral'  - 0ambém sou ouri#es - ele disse cautelosamente' - s #e/es con#ersamos sobre .roblemas do nosso o%!cio'

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- 0em .arentes que são con#ertidos- 7ão tenho'- ; ouri#es : %oi embora de 0oledo- 6st: de .artida'- 6 não %alou com #oc das ora+es dos udeus

- 7ão' 7unca'- ?abe se ele %alou das ora+es com algum cristão- 7ão'; %rade de#ol#eu os croquis'  - 6st: ciente de que ?uas Baestades .roibiram e.ressamentequalquer cristão de dar a.oio aos udeus  - 7ão dei a.oio - disse Menito, mas tal#e/ o %rade não tenha ou#ido, .ois : se #irara'Monestruca, ele se lembrou, era esse o nome'A chu#a tinha .arado quando ele %oi à casa de 0oledano'- ?al#e, amigo - disse =el>ias'- ?al#e, amigo' &ai ser mesmo amanhã  - ?im, amanhã, quer o conde de 0embleque #olte ou não .ara me .agar' ualquer demora etra e seria tarde demais'  =el>ias contou a Menito que logo cedo carregariam os burros' 6le e os %ilhos esta#amse.arando cuidadosamente os .oucos .ertences que iam le#ar'- ; que deiarmos aqui é seu' Dse como achar melhor'

N2 7;A= );RE;7- 6u agrade+o'- or nada'  Bartin transmitiu seu dece.cionante relatrio a =el>ias, que agradeceu e deu de ombrosIos resultados não eram sur.resa'- Conhece o %rade chamado de ; Melo, aquele dominicano alto=el>ias olhou-o com ar con%uso'-7ão'  - ( inquisidor' uando me #iu mostrando os desenhos, deiou claro que não a.ro#a#a a iniciati#a' e/ .erguntas sobre #oc, muitas .er guntas' 0emo .ela sua seguran+a, =el>ias' 7unca mante#e contatocom aquele %rade 0al#e/ um .roblema, uma desa#en+a  - 7unca %alei com ele - disse =el>ias, balan+ando a cabe+a' - Basesque+a sua .reocu.a+ão, Menito' Amanhã à noite #ou estar longe daqui'  Menito %icou constrangido .or um %rade ter conseguido dei:-lo ner#oso'  erguntou se .odia le#ar 6lea/ar .ara .assar o resto da tarde em sua casa' Assim omenino diria adeus ao .equeno 6nrique Bartin, o coleguinha de que tanto gosta#a'- 6le .odia até .assar a noite, se #oc não se im.ortar'=el>ias concordou, sabendo que os meninos nunca mais iam se #er'Com.letando os :rduos detalhes da .artida, <onah tinha trabalhado à lu/ de #elas com o .aiaté quase de madrugada'  )osta#a de com.artilhar as tare%as com o .ai, e era bom %icar so/inho com ele, com oirmão mais no#o .assando a noite %ora' i/eram .ilhas de seus .ertencesI uma com.ostadas coisas que deiariam .ara tr:s e uma .ilha menor, que amarrariam nos burros ao

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amanhecer, com rou.as, #!#eres, um li#ro de ora+es e um conunto das %erramentas de=el>ias'  Antes que %icasse mais tarde, =el>ias .`s o bra+o em #olta do %ilho e mandou que ele%osse dormir'- &iaamos amanhã' &ai .recisar de toda energia'

  <onah acabara de cair no sono sob o con%ortador ru!do de =el>ias #arrendo o chão,quando %oi sacudido de modo brusco, urgente'- Beu %ilho recisa sair da casa .ela anela dos %undos' R:.ido<onah .`de ou#ir o barulho de muitos homens #indo .ela estrada'Alguns canta#am um hino %ebril' ;utros grita#am' 7ão esta#am muito longe'- ;nde'''- &: .ara a ca#erna no rochedo' ique l: me es.erando'-; @0"B; DE6D NV;s dedos do .ai se cra#aram em seu ombro'  - a+a o que estou di/endo' &: agora' : Cuidado .ara não ser #isto .or algum #i/inho' - =el>ias atirou metade de um .ão numasacola, que em.urrou .ara o %ilho' - ?e eu não chegar, <onah, aguenteo m:imo que .uder na ca#erna5 de.ois corra .ara a casa de MenitoBartin'  - &enha comigo agora, abba - disse o ra.a/ num tom amedrontado, mas =el>ias em.urrou o %ilho .ela anela e, de re.ente, <onah esta#a so/inho na noite'  oi a#an+ando cuidadosamente .or tr:s das casas' 6m algum .onto, no entanto, seria .reciso cru/ar a estrada .ara chegar ao rochedo' 6 %oi ao ultra.assar as casas e se des#iar naescuridão .ara a estrada que #iu .ela .rimeira #e/ as lu/es, terri#elmente .erto e sea.roimando' 6ra um grande gru.o de homens e o clarão das tochas ilumina#aintensamente as armas' e/ %or+a .ara não come+ar a solu+ar, o que ali:s não teriaim.ort3ncia, .ois o gru.o %a/ia muito barulho'6 de re.ente <onah esta#a correndo'

 CA0D; 1G _A 0;CA

A estreite/a e a %orma do t*nel que le#a#a à ca#erna elimina#am a maior .arte do barulho,mas de #e/ em quando alguma coisa chega#a a seus ou#idos, um ronco aba%ado, umgemido como %a/ia o #ento numa tem.estade distante'  Chorou em silncio, ogado no chão de rocha e barro como se ti#esse ca!do de umagrande altura, mas indi%erente aos grãos de terra, às .edras sob seu cor.o'  A.s longo tem.o, mergulhou num sono .ro%undo e re.arador, esca.ando da .equena .risão de .edra'  Ao des.ertar, não sabia se dormira muito ou .ouco nem tinha ideia de quanto tem.otranscorrera desde que entrara na ca#erna'  0e#e conscincia de que %ora arrastado .ara longe do sono .elo toque de alguma coisa .equena, algo que .assa#a em cima de sua .erna' 6le se contraiu, .ensando em #!boras,mas %inalmente escutou a corridinha %amiliar e relaou, .ois não tinha medo decamundongos'

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  =: muito seus olhos ha#iam se acostumado ao #eludo da escuridão, embora nãoconseguissem .enetr:-lo' 6le não %a/ia ideia se era dia ou noite' uando sentiu %ome,come+ou a roer o .ão que o .ai lhe dera'  6 dormiu outra #e/, agora sonhando com o .ai' 7o sonho, eamina#a aquele rosto queconhecia tão bem, os olhos muito a/uis encra#ados sobre o nari/ %orte, a boca larga com

l:bios grossos sobre os tu%os da barba' A barba era grisalha, como a euberante coroa decabelo' ; .ai esta#a %alando, mas <onah não conseguiu ou#ir as .ala#ras ou esqueceu-sedelas quando o sonho acabou' Acordou deitado na sua toca de animal'  embra#a-se da *ltima coisa que realmente ou#ira do .ai, a instru+ão se#era .ara quees.erasse na ca#erna' =el>ias iria busc:-lo quando esti#esse tudo bem' <onah terminou oresto do .ão e %icou no escuro, es.erando' 6sta#a com muita sede e lembrou-se de que Beir o ensinara a .egar uma .equena .edra quando não ha#ia :gua e chu.:-la .ara %a/er a sali#a brotar' 0ateando no escuro, acabou encontrando

"

; @0"B; DE6D NOuma .edra do tamanho certo, que es%regou com os dedos' Ao coloc:-la na boca, a sali#a%luiu e ele sugou como um bebé numa teta' Bal se lembrou de cus.ir a .edra quandocome+ou de no#o a a%undar no .o+o %undo do sono'  Assim o tem.o .assou entre a as.ere/a da %ome, a sede intensa, a re.etida %uga .ara osono le#e e uma terr!#el, crescente %raque/a'inalmente chegou o momento de <onah .erceber que, se %icasse mais tem.o na ca#erna,morreria l: dentro' Come+ou então a rastear lenta e .enosamente .ara %ora de seu buraco'  uando dobrou a quina do t*nel em %orma de , os olhos le#aram um gol.e com o brilhodo sol e ele te#e de .arar até conseguir energar sob a terr!#el lu/'  : %ora, #iu .ela .osi+ão do sol que era de tarde' ; dia esta#a silencioso, sal#o .or umcanto barulhento de .:ssaros' 6le subiu cuidadosamente a trilha estreita, .ercebendo comoo ?enhor o .rotegera durante a deses.erada descida na escuridão da noite'

  7ão encontrou ninguém no caminho de #olta' uando se a.roimou do aglomerado decasas, #iu com uma e.losão de alegria que tudo .arecia intocado, normal'Até'''  ?ua .r.ria casa era a *nica de#astada' A .orta sumira, arrancada dos gon/os' ;s m#eistinham sido le#ados ou destru!dos' 0udo de #alor - a guitarra mourisca de Beir -desa.arecera' Acima de cada anela, a mancha de queimado na .edra mostra#a como o %ogotinha consumido os .eitoris'Eo lado de dentro ha#ia de#asta+ão, desola+ão e o cheiro das tochas'-AbbaAbbaAbba  7ão hou#e res.osta e <onah %icou assustado com o som de seu .r.rio grito' 6le saiu ecome+ou a correr .ara a casa de Menito Bartin'A %am!lia Bartin saudou-o com uma alegria atnita' Menito esta#a .:lido'  - Achamos que ti#esse morrido, <onah' ensamos que o ti#essematirado do rochedo' 7o 0eo'- ;nde est: meu .ai

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  Bartin se a.roimou do ra.a/ e, enquanto balan+a#am de um lado .ara o outro numterr!#el abra+o, ele contou tudo a <onah sem di/er uma .ala#ra' NN 7;A= );RE;7uando as .ala#ras chegaram, Bartin relatou uma histria horri.ilante'

Dm %rade reunira uma multidão na la/a BaJor de 0oledo'  - 6ra um dominicano, um homem alto, chamado Monestruca'0inha re#elado grande curiosidade sobre seu .ai quando mostrei oscroquis do relic:rio na catedral'6 Menito Bartin continuou amargamenteI  - Ei/em que este %rade tem o rosto de um santo' Bas ele não é santo' untou à sua #olta uma turba %uriosa quando .regou na .ra+a contraos udeus que .artiram' Conseguiram esca.ulir da 6s.anha sem seremde#idamente .unidos, ele di/ia' alou de seu .ai, chamando-o .elonome' Acusou-o de ser o udeu que criara um cibrio .ara lan+ar terr!#eis magias contra os cristãos, re%erindo-se a ele como um anticristoque reeitara a o.ortunidade de ir .ara o ?al#ador, que rira Eele comim.unidade e agora esta#a .restes a esca.ar inclume' Ati+ou a loucura nas .essoas, mas %icou na sombra enquanto elas iam até sua casa echacina#am seu .ai'- ;nde est: o cor.o do .ai  - 6nterramos atr:s da casa' &ou re/ar toda manhã e toda noite .or sua alma imortal'Bartin deiou o ra.a/ chorar'  - or que ele não %oi comigo quando me mandou sair - <onahmurmurou' - or que também não %ugiu  - Acredito que %icou .ara .roteg-lo - Bartin disse de#agar' - ?enão hou#esse ninguém em casa, iam #asculhar os arredores até encontrarem seu .ai' 6 então''' #oc também seria a.anhado'  0eresa, a es.osa de Menito, e a %ilha uc!a logo troueram .ão e leite, mas <onah, em suador, ignorou as duas'  Menito insistiu .ara <onah se alimentar, e o ra.a/, en#ergonhado, acabou comendo com#oracidade assim que deu a .rimeira mordida' ; homem e as duas mulheres %ita#am-noangustiados, mas nem 6lea/ar nem 6nrique Bartin a.areceram' <onah .resumiuesti#essem brincando em algum lugar'6ntão 6nrique entrou so/inho na casa'- ;nde est: meu irmão  - 6lea/ar %oi com seu tio Aron, o queieiro, e tia uana - disseBartin' - &ieram busc:-lo na manhã a.s o ataque e sa!ram imediatamente de 0oledo' Como ns, eles acha#am que #oc tinha morrido'<onah continuou agitado'  - &ou : .ara &alncia ao encontro deles - disse o ra.a/, masMenito sacudiu a cabe+a' ; @0"B; DE6D NQ  - 7ão %oram .ara &alncia' Aron não tinha muito dinheiro' aguei''' a ele uma soma que de#ia a seu .ai .ela .rata, mas''' ele achou

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que teriam mais chance de conseguir trans.orte se %ossem .ara umadas .equenas aldeias de .escadores' egaram os dois ca#alos no cam .o de Barcelo 0roca .ara que .udessem sem.re descansar duas montarias durante a #iagem' - 6le hesitou' - ?eu tio é um bom homem, eum homem %orte' Acredito que esteam bem'

- 0enho de ir  - 0arde demais, <onah' ( tarde demais' ara que aldeia de .escadores #oc iria 6 este#e trs dias numa ca#erna, ra.a/' ; *ltimo na#iocom udeus largar: em quatro dias' Besmo que #oc galo.asse dia enoite e o ca#alo não morresse, nunca ia atingir a costa em quatro dias'- ara onde tio Aron #ai le#ar 6lea/arMenito balan+ou a cabe+a com ar inquieto'  - Aron não sabia .ara onde iam' Ee.endia dos barcos que esti#essem dis.on!#eis e com que destinos' 0em de %icar dentro desta casa,<onah' Ee uma .onta à outra da 6s.anha ha#er: soldados .rocurando udeus que .ossam ter ignorado a ordem de e.ulsão' ualquer umque não se tenha mostrado dis.osto a ser sal#o em Cristo estar: condenado à morte'- 6ntão''' o que de#o %a/erMenito se a.roimou e .egou as mãos dele'  - ;u+a com aten+ão, ra.a/' ; assassinato de seu .ai est: ligado aode seu irmão' 7ão é coincidncia que =el>ias tenha sido o *nico udeuchacinado aqui ou que sua casa tenha sido a *nica destru!da .elosmenudos, quando nem mesmo as sinagogas %oram atacadas' &oc temde se guardar do .erigo' Ee#ido ao a%eto e ami/ade .or seu .ai, e .or #oc .r.rio, dou-lhe a .rote+ão do meu nome'- Eo seu nome  - ?im' &oc .recisa da con#ersão' &i#er: conosco, como um de ns'0er: o nome que era de meu .ai, 0om:s Bartin' 6stamos de acordo  <onah contem.lou-o deslumbrado' 7uma r:.ida guinada dos acontecimentos %ora .ri#ado de todos os .arentes, a.artado de cada ente querido' 6le assentiu'  - &ou sair .ara buscar um .adre e tra/-lo aqui - disse Menito, .ar tindo .ouco de.ois em sua missão' _ CA0D; "" _fDBA E6C"?j;

onah continuou na casa de Menito Bartin, atordoado .elas coisas que ou#ira dele' oralgum tem.o, uc!a sentou-se a seu lado, .egando-lhe a mão, mas ele esta#aecessi#amente dominado .elas emo+es .ara res.onder ao gesto de ami/ade e a mo+adeiou-o so/inho'  ; .ior de tudo seria não #er nunca mais o adorado irmão ca+ula, 6lea/ar, que ainda #i#ia  =a#ia tinta, bico de .ena e .a.el na mesa de trabalho de Menito' <onah %oi até l:' egou a .ena mas, quando ia .uar uma %olha de .a.el, 0eresa Bartin correu em sua dire+ão'  - a.el custa caro - disse ela num tom de irrita+ão, %itando-o descontente' 0eresa Bartinnunca encontrara unto aos 0oledano o mesmo .ra/er do marido e dos %ilhos' 6ra b#io quenão esta#a satis%eita com a decisão que Menito tomara de agregar um udeu à %am!lia'

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  7a mesa ha#ia um dos desenhos que =el>ias %i/era do c:lice de .rata, um dos croquis queo .ai tinha dado a Menito' <onah .egou-o, molhou a .ena e come+ou a escre#er no #erso,que esta#a em branco' Redigiu a .rimeira linha em hebraico e o resto da mensagem emes.anhol, ra.idamente e sem .ausa'A meu querido irmão 6lea/ar ben =el>ias 0oledano'

  ?aiba que eu, seu irmão, não %ui massacrado .elos que tiraram a #ida de nosso .ai'  6stou lhe escre#endo, querido 6lea/ar, ogando com a .ossibilidade de algumacontecimento desconhecido ter im.edido #oc e nossos .arentes de .artir da 6s.anha' Eequalquer modo, se .elo nono dia do ms de Ab #oc : esti#er naqueles mares .ro%undossobre os quais gost:#amos de %alar nos tem.os mais %eli/es de nossa in%3ncia, .ode ser quemais tarde, como homem adulto, retorne à casa de nossa u#entude e, descobrindo a cartaem nosso lugar secreto, #enha a saber o que aconteceu aqui'?e #oltar, %ique sabendo, .ara sua seguran+a, que uma .essoa

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; @0"B; DE6D N9 .oderosa, que não conhe+o, nutre um dio es.ecial .ela %am!lia 0oledano' 7ão entendo ara/ão' 7osso .ai, que descanse na a/ 6terna do usto, acredita#a que a morte terr!#el denosso irmão Beir ben =el>ias ocorrera .ara .ossibilitar o roubo do cibrio encomendado .elo Bosteiro da Assun+ão' ; bom amigo de nosso .ai, cuo nome não escre#o .ois algumleitor desta carta .oderia querer %a/er-lhe mal, est: con#encido de que a morte do abba temliga+ão com a morte de Beir, com o c:lice de ouro e .rata que ele %e/ e, de um modo ou deoutro, com um %rade dominicano que atende .elo nome de Monestruca' &oc tem de tomarmuito cuidado'Assim como eu tenho de tomar muito cuidado'  Aqui não h: mais udeus' ? sobraram cristãos-#elhos e cris-tãos-no#os'6stou mesmo so/inho na 6s.anha  0udo .elo qual nosso .ai batalhou desa.areceu' 6 aqui est: a rela+ão dos que não .agaram seus débitos' Besmo se um dia #oc #oltar e ler estas .ala#ras, ter: muitadi%iculdade em cobr:-los'  ?amuel ben ?ahula de#e a nosso .ai tre/e mara#edis .or trs grandes tra#essas do ser#i+oda :scoa, uma ta+a .ara o #inho do >idush e uma .equena bacia de .rata .ara a ablu+ãoritual'  Eom "saac "bn Arbet de#e seis mara#edis .or uma tra#essa do ser#i+o da :scoa e doismara#edis .or seis .equenas ta+as de .rata'  7ão sei .ara onde %oram esses homens5 se %or a #ontade do ?enhor, tal#e/ seu caminhoum dia se cru/e com o deles'  ; conde ern:n &asca, de 0embleque, de#e à nossa %am!lia sessenta e no#e reales ede/esseis mara#edis .or trs grandes tigelas, quatro .equenos es.elhos de .rata e doisgrandes es.elhos de .rata, uma %lor de ouro com um caule de .rata, oito .entes curtos .aracabelo de mulher e um .ente com.rido, uma d*/ia de ta+as cuos co.os eram de .ratamaci+a e os .edestais de ouro .:lido'  ; amigo de abba desea %a/er de mim seu %ilho cristão, mas tenho de continuar sendo o%ilho udeu de nosso .ai, mesmo que isto sea minha ru!na' 7ão me tornarei um con#ertido,não im.orta que me .ersigam' ?e acontecer o .ior, saiba que estarei unido com nosso Beire nossos amados .ais, descansando com eles aos .és do Alt!ssimo'

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  ?aiba também que eu arriscaria meu lugar no reino celeste .ara tornar a abra+:-lo' Ah, .ara me sentir de no#o seu irmão or qualquer descuido, .or qualquer mal que eu .ossalhe ter %eito .or meio de .ala#ra ou ato desatentos, im.loro o seu .erdão, meu saudoso, QG 7;A= );RE;7

meu caro irmão' "m.loro o seu a%eto atra#és da eternidade' embre-se de ns, 6lea/ar, re/e .or nossas almas' embre-se de que é %ilho de =el>ias, da tribo de e#i - os descendentesdiretos de Boisés' Recite cada dia o shem:, consciente de que, re/ando a seu lado, est: oseu .esaroso irmão,I W <onah ben =el>ias 0oledano'  - Agora meu marido não de#e com.rar a casa de seu .ai, é claro' 6la %icou em ru!nas' -0eresa %ran/iu a testa .ara o .a.el' 6ra iletrada, mas reconheceu as letras hebraicas no altoda .:gina' - &oc #ai tra/er desgra+a .ara esta casa'  A ideia .ro#ocou um cala%rio em <onah e des.ertou-o .ara o %ato de que, da! a .ouco,Menito #oltaria com o .adre e a :gua benta .ara o batismo'Agitado, .egou o .a.el e saiu'  ; sol esta#a se .ondo, o dia es%ria#a' 7inguém o dete#e e ele %oi se a%astando'  ;s .és le#aram-no de #olta às ru!nas do que %ora seu lar' Atr:s da casa, conseguiu #er aterra re#irada .ara dar lugar ao t*mulo do .ai' 6stranhamente de olhos secos, disse o >adish%*nebre e gra#ou bem a locali/a+ão do t*mulo, .rometendo a si mesmo que, sesobre#i#esse, le#aria os restos mortais do .ai .ara terra consagrada'  embrou-se do que sonhara na ca#erna e .areceu, naquele momento, que no sonho o .aitenta#a lhe di/er .ara continuar sendo o que eraI <onah ben =el>ias 0oledano, o e#i'  Conseguiu dar uma busca no interior da casa, a.esar da noite que ca!a'  0odas as me/u/:s de .rata, os amuletos contendo .artes da escritura, tinham sidoarrancadas dos umbrais das .ortas' Cada coisa de #alor sumira da o%icina e as t:buas doassoalho esta#am re#iradas' ualquer montante de dinheiro que =el>ias ti#esse conseguidoreunir .ara sair da 6s.anha %ora certamente encontrado .elos intrusos' 7ão ha#iam,entretanto, achado um lugar, o esconderio das .equenas moedas que %ica#a atr:s de uma .edra solta na .arede dos %undos - de/oito sueldos que <onah e 6lea/ar tinham .ou.adocomo %ortuna .essoal' 7ão era muito, mas ainda assim daria .ara com.rar alguma coisa'or isso, ele %e/ uma .equena bolsa de um tra.o suo e .`s as moedas l: dentro' 7o chão, ha#ia um .eda+o de .ergaminho arrancado de uma

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; @0"B; DE6D Q1me/u/: e ogado %ora' eu os di/eresI 6 amar:s o ?enhor teu Eeus com todo o teucora+ão, com toda a tua alma, com toda a tua %or+a' 6 estas .ala#ras, que eu .asso hoe a ti,%icarão em teu cora+ão'  6le come+ou a arrumar o .ergaminho na bolsa com as moedas, mas, como : conseguia .ensar com %ria lucide/, .ercebeu que a descoberta daquela inscri+ão entre seus .ertencesresultaria em morte' 6ntão dobrou o %ragmento e, untamente com a carta ao irmão,colocou-o atr:s da .edra onde ele e 6lea/ar tinham guardado as moedas'  Abandonou a casa e logo se #iu atra#essando o cam.o de Barcelo 0roca' ; tio Aronha#ia .egado os ca#alos, mas os dois burros .elos quais o .ai tinha .ago esta#amamarrados, comendo lio' uando tentou se a.roimar do burro maior, o animal se

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esqui#ou e deu um coice' Bas o outro, um animal menor, tinha um ar indeciso e oes.reita#a .la-cidamente, .arecendo mais soci:#el' uando <onah soltou a corda e montou,o animal trotou obediente ao mo#imento dos seus calcanhares'  A.ro#eitando o resto de lu/ do dia, o burro ainda .`de seguir com seguran+a a trilha!ngreme que descia do rochedo' uando #adearam o rio, a%lora#am .eda+os de argila roa,

como amea+adores dentes negros, no *ltimo bocado de lu/'  A digestão do burro era muito ruim, tal#e/ .or causa da dieta de lio' <onah não tinhaqualquer destino em mente' ?eu .ai dissera que o Alt!ssimo sem.re guiaria seus .assos' 7aquele momento seus .assos não .areciam muito .romissores, mas ainda assim elea%rouou as rédeas quando saiu do rio e deiou o burro e o ?enhor condu/irem-no .araonde bem entendessem' 7ão se sentia nem como um coraoso mercador #iaante nem comoum ca#aleiro' &iaar sem ninguém rumo ao desconhecido num animal que .eida#a não erao ti.o de a#entura com a qual ha#ia sonhado'  or um instante, dete#e o burro e se #irou .ara 0oledo, l: no alto' am.ies com a/eite brilha#am calidamente em #:rias anelas e alguém, carregando uma tocha, seguia a ruaestreita e %amiliar unto ao rochedo' Bas não era ninguém que o amasse' Ee imediato,cutucou o burro com os oelhos e não tornou a olhar .ara tr:s' AR06 0R?; 6j;  Castela VG de agosto de 1492 _ CA"0D; 12 _oDB =;B6B C;B DBA 67$AEA

?ob uma lua redonda e %lutuante que %a/ia com.anhia e ilumina#a o caminho, o 0odo-oderoso e o .equeno burro deslocaram <onah toda noite .ara o sul' 6le não se atre#eu a .arar' ; .adre que %ora até a casa de Menito Bartin certamente in%ormaria de imediato queum ra.a/ udeu não-bati/ado esta#a à solta, amea+ando a cristandade' ara sal#ar a #ida,<onah .retendia se a%astar o m:imo .oss!#el'6sta#a andando em cam.o aberto desde que deiara 0oledo'  Ee #e/ em quando, o contorno sombrio de uma cerca e a casa-sede de alguma %a/endaa.areciam ao lado da trilha' ?em.re que um cachorro latia, <onah batia os calcanhares .ara .rodu/ir um trote e assim, como %antasma carregado .or um burro, ultra.assa#a as .oucashabita+es'  uando #iu a .rimeira meia-lu/ da manhã, esta#a .isando num ti.o di%erente de terreno,menos montanhoso que as :reas de onde #inha e mais adequado a .ro.riedades maiores'  ; solo de#ia ser muito bom5 ele .assou .or uma #inha, um enorme oli#al e uma .lanta+ãode cebolas' ?entindo um grande #a/io no est`mago, desmontou, .egou algumas cebolas ecomeu com a#ide/' uando se a.roimou de outra #inha, .egou um cacho de u#as, aindanão maduras mas cheias de um suco amargo' ?uas moedas .odiam ter rendido algum .ão,mas não quis se arriscar a com.r:-lo, com medo de que lhe %i/essem .erguntas'  7uma #ala de irriga+ão contendo um %ilete de :gua, .arou .ara o burro arrancar ca.im namargem e, quando o sol se ergueu, sentou-se e .ensou em sua situa+ão' 0al#e/ de#esseescolher realmente um destino' ?e %osse .ara #agar sem rumo, .or que não tomar o rumo deortugal, .ara onde tinham ido alguns udeus de 0oledo

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  Come+aram a a.arecer cam.oneses carregando enadas e %aces' Agora <onah .odia #eros aloamentos dos trabalhadores na etremidade do cam.o e gru.os de homens ro+ando eem.ilhando o mato' Como a maior .arte deles mal nota#a sua .resen+a ou a .resen+a do

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QN 7;A= );RE;7 burro, <onah deiou o animal comer à #ontade' ?ur.reso com o bom tem.eramento do burro, sem.re dis.osto a obedecer aos comandos que recebia, <onah te#e um !m.eto degratidão'  ; burro de#ia ter um nome, ele decidiu, e %oi no que .ensou enquanto torna#a a montar ereinicia#a a #iagem'  ; cam.o mal come+ara a desa.arecer atr:s dele quando ou#iu o estrondo assustador deum galo.e de cascos' <onah dirigiu de imediato o burro .ara o lado da trilha, de onde .udesse obser#ar com seguran+a' 6ram oito soldados a ca#alo, mas .ara sua consterna+ãodeti#eram as montarias em #e/ de sim.lesmente .assar .or ele'  orma#am uma .atrulha, sete soldados e um o%icial, homens de olhar %ero/, armados comlan+as e .unhais' Dm dos soldados .ulou do ca#alo e come+ou a miar barulhentamente na#ala'; o%icial olhou .ara <onah'- Como é seu nome, garoto  6le tentou não tremer' 7o susto, agarrou-se à identidade que recusara quando lhe %orao%erecida em 0oledo'- 0om:s Bartin, 6celncia'- ;nde é sua casa  ?em d*#ida, os trabalhadores do cam.o teriam in%ormado que ha#iam #isto um estranho'- ?a! h: .ouco de Cuenca'- 7ão #iu nenhum udeu na #iagem de Cuenca até aqui  - 7ão, 6celncia, nenhum udeu - disse <onah dissimulando oterror'  - 7s também não #imos - comentou o o%icial sorrindo -, e olheque .rocuramos' inalmente estamos li#res deles' ;u .artiram, ou secon#erteram, ou : %oram .ostos a %erros'  - ue %iquem com outros - disse o soldado que desmontara .araurinar' - ue os malditos .ortugueses se di#irtam' Ali:s, os .ortugueses : tm um bom .unhado deles, tantos, na realidade, que costumammat:-los como #ermes' - Eeu uma risada sacudindo o membro'- ual é o seu destino - .erguntou com .ouco interesse o o%icial'- 6stou a caminho de )uadalu.e - disse <onah'  - Ah, tem muito chão .ela %rente' ; que est: .rocurando em)uadalu.e  - &ou .ara l:''' atr:s do irmão de meu .ai, 6nrique Bartin' - 7ãoera tão di%!cil mentir, <onah .ercebeu' Como a in#en+ão cria ra!/es,acrescentou que deiara Cuenca .orque o .ai, Menito, morrera no anoanterior lutando como soldado contra os mouros'  -; @0"B; DE6D QQ

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  - Dm %ilho de soldado''' - disse o o%icial, cua %isionomia se abrandara' - &oc .arece bastante %orte' 7ão quer trabalhar um .ouco .ara .oder com.rar comida no caminho .ara )uadalu.e- Comida é bom, 6celncia'  - 6stão .recisando de ra.a/es de costas %ortes na %a/enda de dom

uis Carnero de alma' ( a .rima, descendo a estrada' Eiga a osé)alindo que %oi mandado .elo ca.itão Astruells'- Buito obrigado, ca.itão  ; miador .ulou de no#o .ara a sela e a .atrulha se a%astou, deiando <onah ali#iado .ara%icar su%ocando na .oeira deles'A %a/enda de que o ca.itão %alara era uma das grandes, e da estrada <onah .`de #er quetinha muitos .ees' ;correu-lhe que tal#e/ não de#esse .assar direto como %ora suainten+ão, .ois naquele lugar os soldados : ha#iam se dado .or satis%eitos com sua histria,enquanto outros e#entualmente encontrados em outras regies .odiam se mostrar, quemsabe %atalmente, mais re%rat:rios'&irou o burro .ara a estradinha de acesso'  osé )alindo não .erguntou mais nada de.ois que ou#iu o nome do ca.itão Astruells, elogo <onah esta#a num cantão seco de uma la#oura de cebolas, ca#ando a terra .edregosacom a enada'  7o meio da manhã, um #elho com bra+os magros, gordurosos, a.areceu no cam.o comuma carreta de mão' 6squi#ando-se como um ca#alo das #alas de drenagem, ia .arando unto aos di%erentes gru.os e entregando a cada .eão a tigela de madeira com uma .a.a ralae um .unhado de .ão dormido'  <onah comeu tão de.ressa que mal deu conta do sabor' A comida relaou sua barrigamas, .ouco de.ois, ele te#e de miar' Ee #e/ em quando, alguém ia até o #alão na beira docam.o .ara urinar ou de%ecar, mas <onah esta#a consciente de seu .nis circuncidado, umdistinti#o udeu' or isso segurou a urina até que, tremendo de dor e medo, te#e de ir até a#ala, onde roncou de al!#io' 0entou cobrir a cabe+a do membro enquanto es#a/ia#a o cor.o,mas ninguém esta#a olhando' 6le acabou e #oltou à enada'; sol era quente';nde esta#a seu .essoal; que esta#a acontecendo com ele, <onah  Ca#a#a %reneticamente, .rocurando não .ensar, gol.eando a terra como se a enada %ossea es.ada de Ea#i e as ra!/es, os %ilisteus' ;u tal#e/ como se as ra!/es %ossem os homens da"nquisi+ão que, sem a QU

 7;A= );RE;7

menor d*#ida, estariam re#irando de uma .onta à outra a 6s.anha, %anaticamenteem.enhados em encontr:-lo'Ee.ois de trs dias ali, eausto, imundo e trabalhando mecanicamente, .ercebeu que eradois de agosto' ; nono dia do ms de Ab' A data da destrui+ão do 0em.lo em erusalém, o*ltimo dia da .artida dos udeus da 6s.anha' assou o resto do dia em .rece silenciosa emergulhado no trabalho, im.lorando sem cessar a Eeus que 6lea/ar, Aron e uanaesti#essem a sal#o em alto-mar, sendo le#ados .ara cada #e/ mais longe daquela terra'

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f CA0D; 1V; R"?";76"R;<onah %ora criado como um o#em da cidade' Bas esta#a %amiliari/ado com as %a/endas de0oledo' Ee #e/ em quando, ordenhara as cabras do tio Aron, alimentara o rebanho e cuidara

dos animais, colhera o %eno e audara no abate ou na %abrica+ão dos queios' 6ra bemdesen#ol#ido .ara sua idade, %orte, quase crescido de todo' 7unca, .orém, e.erimentara osse#eros ciclos di:rios de labuta ininterru.ta que de%inem a #ida agr!cola e, nas .rimeirassemanas que .assou na %a/enda Carnero de alma, suas untas endureceram e .rotestaram%ebrilmente' ;s homens mais o#ens, maneados como bois, %ica#am encarregados dastare%as demasiado :rduas .ara aqueles que : tinham os cor.os esgotados .or anos dees%or+o semelhante' ogo seus m*sculos se enrieceram, ganharam #olume e, quando o sollhe escureceu o rosto, %icou bem mais .arecido com os outros .ees'  Consciente de como era #ulner:#el, descon%ia#a de todos e tinha medo de tudo, inclusi#ede que lhe roubassem o burro' Eurante o dia, amarra#a o animal onde .udesse obser#:-loenquanto trabalha#a' noite, dormia com o burro num canto do grande celeiro e tinha aestranha sensa+ão de que o burro #ela#a .or ele como um cão de guarda'  ;s .ees .areciam satis%eitos com seus duros dias de trabalho' 6ntre eles se inclu!amra.a/es .arrudos, o#ens da idade de <onah, e #elhos usando um resto de energia' <onah#i#ia segregado' 7ão %ala#a com ninguém e ninguém %ala#a com ele, eceto .ara lhe di/eronde ca#ar' 7os cam.os, ele se acostumou a sons estranhos, como as .ancadas das enadasabrindo a terra, o estalido das l3minas que batiam nas .edras, os grunhidos de es%or+o%!sico' ?e o chama#am .ara outra .arte do cam.o, ia .rontamente5 se .recisa#a de uma%erramenta, .edia com educa+ão, mas sem des.erd!cio de .ala#ras' 6sta#a ciente de quealguns o olha#am com curiosa animosidade e sabia que, mais cedo ou mais tarde, alguémtentaria .ro#ocar uma briga' Eeia#a que o #issem tirar a l3mina do cabo e amolar atéconseguir um gume .erigoso' ; cabo quebrara e %icara .equeno5 à noite, mantinha a enadado lado, como machadinha de batalha' UG 7;A= );RE;7  A %a/enda não era um abrigo con%ort:#el' ; trabalho brutal s lhe rendia algunsmiser:#eis sueldos e ocu.a#a cada momento de lu/ do sol' Bas ha#ia .ão, cebolas e, às#e/es, a .a.a ou uma so.a rala' Ee #e/ em quando, à noite, ele sonha#a com uc!a Bartin,mas era mais comum sonhar com as carnes que comera com tanta naturalidade na casa do .aiI o carneiro e o cabrito assados, a a#e co/ida toda #és.era do ?habat' ?eu cor.o desea#aa gordura, clama#a .or gordura'  uando o tem.o %icou mais %rio, a %a/enda matou e .re.arou alguns .orcos' As sobras,assim como os cortes mais ordin:rios de carne, %oram ser#idos aos .ees que se atracaram aeles com grande a.etite' <onah sabia que .recisa#a comer o .orco5 não %a/-lo seria %atal'Bas .ara seu grande horror, acabou descobrindo que os bocados rosados eram uma del!ciae constitu!am um #erdadeiro .ra/er' Eisse um agradecimento silencioso .elo resto de carnedo .orco, mas logo se .erguntou o que esta#a %a/endo, .ois se sentia amaldi+oado'  6ste %ato acentuou seu isolamento e aumentou a eas.era+ão' 6le ansia#a .or ou#ir uma#o/ humana %alando ladino ou hebraico' 0oda manhã e toda noite, recita#a mentalmente o>adish dos mortos, tentando sem.re .rolongar ao m:imo a .rece' s #e/es, enquantotrabalha#a, canta#a deses.eradamente trechos mudos da 6scritura ou aquelas ora+es e bn+ãos que ultimamente enchiam toda sua #ida'

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  : esta#a h: sete semanas na %a/enda quando os soldados retornaram' ;u#ira algunscoment:rios e %icou sabendo que eram membros da ?anta =ermandad, uma organi/a+ão demil!cias locais unidas .elo trono es.anhol .ara constituir uma %or+a .olicial nacional'  <onah esta#a ro+ando o cam.o no in!cio da tarde quando ergueu os olhos e #iu o ca.itãoAstruells'

  - u Ainda est: aqui - o ca.itão .erguntou e <onah s .`de abanar a cabe+a'  Dm .ouco mais tarde, #iu Astruells muito en#ol#ido numa con#ersa com o administradorda %a/enda, osé )alindo' Ambos o obser#a#am'  Aquilo congelou seu sangue' ?e o o%icial come+asse a colher in%orma+es, ele sabia o queia acontecer'  Acabou o dia numa atmos%era de a.reensão' uando a noite caiu, le#ou o burro .ara umcanto escuro' Ee#iam-lhe algumas moedas .elo trabalho, mas abriria mão delas, .egando aenada quebrada .ara com.ensar'Assim que achou seguro, montou no animal e %oi embora'

; @0"B; DE6D U1Com uma dieta de ca.im, a digestão do burro tinha melhorado muito' ; animal a#an+a#acom tamanha dis.osi+ão e %irme/a que %e/ brotar um sentimento de a%ei+ão em <onah'  - recisa de um nome - disse ele, dando .ancadinhas no .esco+odo burro'  A.s as considera+es que .reencheram uma boa .arte da dist3ncia trotada, <onahchegou a dois nomes'  Bentalmente, na escuridão da noite, chamaria o bom e %iel animal de Boisés' ora omelhor nome que lhe ocorrera e seria dado em homenagem a dois homensI o que condu/iraos escra#os hebreus .ara %ora do 6gito e Boisés ben Baimon, o grande %ilso%o-médico'  - 6 na %rente dos outros, #ou cham:-lo de edro - con%idenciou .ara o burro'  6ram nomes adequados .ara o com.anheiro de um senhor como ele, que tinha também#:rios nomes'Re#ertendo à sua anterior .rudncia, <onah #iaou duas noites no escuro e encontroulugares seguros .ara ele e Boisés dormirem de dia' As u#as nos #inhedos à margem daestrada esta#am maduras e, toda noite, comia #:rios cachos, todos muito bons, s que agoraera ele em #e/ do burro quem desen#ol#ia os gases' ?eu est`mago ronca#a .or outro ti.ode comida'  7a terceira manhã, a seta numa bi%urca+ão indica#a rumo oeste .ara )uadalu.e e sul .araCiudad Real' Como anunciara ao ca.itão Astruells que )uadalu.e era seu destino, não seatre#eria a ir .ara l:' or isso guiou o burro .ara a #ariante meridional'  6ra dia de %eira e grande a agita+ão em Ciudad Real' =a#ia gente su%iciente .ara ninguém%icar curioso com a .resen+a de um %orasteiro, .ensou <onah, embora muitos que cru/a#amcom ele sorrissem ante a #isão daquele ra.a/ desengon+ado montado num burro, os .és tão baios que quase .areciam caminhar'  assando .ela barraca do queieiro na la/a BaJor, <onah não .`de resistir e gastou uma .reciosa moeda .ara com.rar um .equeno queio, que de#orou com uma e.ressão%aminta, embora não %osse tão bom quanto os queios que o tio Aron %a/ia'- 6stou .rocurando em.rego, senor - disse es.eran+oso'; queieiro s balan+ou a cabe+a'  - ( mesmo 7ão .osso em.regar ninguém' - Chamou, no entanto,

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num tom signi%icati#o, o homem que esta#a ao lado' - "ntendente, aquiest: uma o#em alma querendo trabalhar' U2 7;A= );RE;7  ; homem que deu um .asso na dire+ão de <onah era baio, com um est`mago muito

grande' ?eu .ouco cabelo esta#a em.lastrado com leo no couro cabeludo'- ?ou "sidoro Al#are/, o algua/il desta cidade'- ?ou 0om:s Bartin, estou .rocurando trabalho, senor'  - , eu tenho trabalho''' ?im, eu tenho' ue ti.o de trabalho est:acostumado a %a/er- ui .eão numa %a/enda .erto de 0oledo'- 6 o que .lanta#am nessa %a/enda- Cebolas e trigo' 0m também um rebanho de cabras leiteiras'  - Binha la#oura é di%erente - disse ele' - Cuido de criminosos eganho meu .ão mantendo-os %ora do sol e da chu#a' - ; queieiro deuuma gargalhada'  - reciso de alguém .ara lim.ar o adre/, es#a/iar os baldes damerda cheirosa dos meus .ati%es e ogar-lhes um .ouco de comida .aramant-los #i#os enquanto esti#erem sob minha res.onsabilidade' (ca.a/ de %a/er isso, o#em .eão  7ão era, sem d*#ida, uma .ers.ecti#a agrad:#el, mas os .equenos olhos castanhos doalgua/il eram .erigosos além de go/adores' 7as .roimidades, alguém riu entre os dentes'<onah .ercebeu que esta#am es.erando o in!cio de um ogo e entendeu que não lhe seria .ermitido recusar .olidamente a o%erta e .artir'- ?im, senor' ?ou ca.a/'  - Mem, então #enha comigo .ara o adre/ - disse o algua/il' -Come+a a trabalhar agora'  uando sa!a da .ra+a com o homem, o cabelo come+ou a %ormigar na nuca de <onah, .ois ou#ira o sorridente queieiro di/er a um com.anheiro que "sidoro achara alguém .aracuidar dos udeus'A .risão era um .rédio de .edra, com.rido e estreito' 7uma das .ontas %ica#a o escritriodo algua/il, na outra uma sala de interrogatrios' =a#ia celas diminutas em ambos os ladosdo corredor que liga#a os dois a.osentos' 7o es.a+o e!guo da maioria das celas ha#ia umocu-.ante enroscado no chão de .edra ou sentado com as costas na .arede'  "sidoro Al#are/ disse a <onah que, entre os .risioneiros, ha#ia trs ladres de casas, umassassino, um bbado, dois salteadores de estradas e on/e cristãos-no#os acusados de .raticarem secretamente o uda!smo'  =a#ia também um guarda armado de es.ada e cassetete dormindo numa cadeira docorredor' ; algua/il disse a <onahI- 6ste é o a+o - e murmurou .ara o guardaI - 6ste é o 0om:s'

; @0"B; DE6D UV  Ee.ois entrou no escritrio e %echou a .orta .ara se .roteger do tremendo mau cheiro'  Resignado, <onah .ercebeu que qualquer tentati#a de lim.ar aquele lugar teria de .artirdos baldes, cheios até a borda' 6ntão .ediu que o a+o abrisse a .rimeira cela, onde umamulher com %isionomia a.:tica obser#ou-o, com total indi%eren+a, .egar seu balde dedeetos'

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  Ao amarrar Boisés nos %undos da .risão, #ira uma .: na .arede' oi até l:, .egou a .: eencontrou um .onto arenoso .ara ca#ar um buraco %undo' 6s#a/iou o conte*do %edorentono buraco5 de.ois encheu duas #e/es o balde com areia e es#a/iou' =a#ia uma :r#ore .rima com imensas %olhas em %orma de cora+ão que ele usou .ara remo#er a areia' or%im, antes de #oltar à cela, enaguou o balde no %ilete dW:gua de uma sareta .rima'

  oi assim que lim.ou os baldes de cinco celas, seu .esar aumentando à medida quetestemunha#a a condi+ão miser:#el dos ocu.antes' uando a .orta da seta cela %oi aberta,ele entrou e %e/ uma .ausa antes de a.anhar o balde' ; .risioneiro era um homem magro'Como os outros homens, o cabelo e a barba tinham crescido li#remente, mas ha#ia algumacoisa em sua e.ressão que <onah .arecia reconhecer'  ; guarda resmungou, irritado .or %icar .arado unto à .orta aberta' 6ntão <onah .egou o balde de deetos e saiu'  ? ao entrar no#amente na cela .ara de#ol#er o balde, quando tentou imaginar o rosto do .risioneiro com cabelo a.arado e a barba cuidada com ca.richo, a memria %inalmente brotou' &ira a imagem da mãe agoni/ante e do homem que todo dia, semanas a %io,debru+a#a-se sobre 6sther 0oledano .ara administrar-lhe remédios com uma colher'; .risioneiro era Mernardo 6s.ina, o antigo médico de 0oledo'

o CA0D; 14 ; E"A ?A70;#A noite, <onah dormia no chão de lae da sala de interrogatrios' Dma #e/ .or dia, ia buscar a comida .re.arada ao lado da .risão .ela mulher do )ato, o guarda do .er!odo danoite' 6ra com ela que alimenta#a os .risioneiros' Comia o que eles comiam, às #e/esser#indo também um .ouco a Boisés, .ara su.lementar a %raca ra+ão do burro, %eita deca.im mirrado' 6sta#a es.erando um momento .ro.!cio .ara %ugir' a+o di/ia que em bre#e ha#eria um grande auto-de-%é, com muita gente na cidade' <onah acha#a que .odiaser uma boa o.ortunidade .ara ir embora'  6nquanto isso ia mantendo a lim.e/a da .risão' ?atis%eito com seu trabalho, "sidorodeia#a-o em .a/' 7os .rimeiros dias, os ladres %oram se#eramente surrados .or a+o e .elo guarda da noite, o homem chamado )ato5 de.ois %oram soltos' ; bbado também %oisolto, mas da! a trs dias #oltou .ara uma cela di%erente, embriagado e gritando comolouco'  Aos .oucos, .elos ingamentos ditos em sussurro ou .elas con#ersas entre "sidoro e seushomens, <onah %icou sabendo das acusa+es que .esa#am sobre alguns dos cristãos-no#os'Dm a+ougueiro chamado "saac de Bars.era %ora denunciado .or #ender carne .re.aradacon%orme o rito udaico' uatro outros eram acusados de com.rar regularmente a carne deBars.era' uan ero.an %ora detido .orque .ossu!a .:ginas de ora+ão udaica e sua es.osa,"sabel, .orque se dis.usera #oluntariamente a .artici.ar numa liturgia udaica' &i/inhos deAna Bontalban tinham obser#ado que ela usa#a o sétimo dia da semana como dia dedescanso, banhando o cor.o toda seta-%eira antes do .`r-do-sol e usando rou.as lim.asdurante o ?habat udeu'  <onah come+ou a ter conscincia dos olhos do médico de 0oledo, que o seguiam cada #e/que ele %a/ia alguma coisa .erto da cela'  inalmente, numa manhã em que <onah trabalha#a no interior da cela, o .risioneiro %alouem #o/ baia'- or que o chamam de 0om:s

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; @0"B; DE6D UO- Como acha que de#iam me chamar- &oc é um dos 0oledano, s não me lembro qual'  ; senhor sabe que eu não sou Beir, <onah te#e #ontade de di/er, mas %icou com medo' ;

médico .odia tentar negoci:-lo com a "nquisi+ão em troca de clemncia, realmente .odia'  - Ah, est: enganado, senor - disse ele terminando a #arredura esaindo da cela'Correram #:rios dias sem qualquer incidente' ; médico .assa#a boa .arte do tem.o lendoseu bre#i:rio e tinha .arado de obser#:-lo' <onah acha#a que se o homem quisessedenunci:-lo, : o teria %eito'  Ee todos os .risioneiros, o a+ougueiro "saac de Bars.era era o mais desa%iador' Ainter#alos %requentes, berra#a ora+es e bn+ãos em hebraico, atirando sua nature/a udiana cara dos ca.tores' ;s outros acusados de udai/ar eram mais quietos, quase .assi#os noseu deses.ero'<onah es.erou até se encontrar mais uma #e/ na cela de 6s.ina'- ?ou <onah 0oledano, senor'6s.ina abanou a cabe+a'- ?eu .ai, =el>ias''' 6le .artiu<onah balan+ou negati#amente a cabe+a'  - oi morto - disse, mas então a+o se a.roimou .ara dei:-losair e trancar a cela' ;s dois .araram de %alar'a+o era um homem .regui+oso que inclina#a a cadeira contra a .arede quando "sidoro nãoesta#a .or .erto e cochila#a' 7essas ocasies, %ica#a muito irritado se <onah .edia .araabrir as celas' or isso, acabara lhe .assando as cha#es e mandando-o cuidar so/inho das%echaduras'  <onah #oltara com a#ide/ à cela do médico, mas, .ara sua dece.+ão, 6s.ina não semostra#a mais dis.osto a con#ersar, .ermanecendo de olhos %ios nas .:ginas do bre#i:rio'  uando <onah entrou na cela de "saac de Bars.era, o a+ougueiro esta#a de .é, balan+ando o cor.o, a t*nica .uada sobre a cabe+a como o ale de um de#oto' Canta#a em#o/ alta e <onah .`de se embeber do som hebraico e %icar atento aos signi%icadosIelo .ecado que temos cometido diante de 0i .or associa+ão àim.ure/a,6 .elo .ecado que temos cometido diante de 0i .or con%issão dosl:bios,6 .elo .ecado que temos cometido diante de 0i em .resun+ão ouerro,

UN

 7;A= );RE;7

6 .elo .ecado que temos cometido diante de 0i #olunt:ria ou in#oluntariamente,or tudo isso, k ?enhor do .erdão, absol#e-nos, .erdoa-nos, concede-nos e.ia+ão'  Bars.era se .enitencia#a e, com um certo choque, <onah achou que de#iam estar nodécimo dia do ms hebreu de 0ishri, no <om Xi..ur, o Eia do erdão' 0e#e #ontade de untar-se a Bars.era nas .reces, mas a .orta da sala do algua/il esta#a aberta e da#a .ara

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ou#ir a #o/ alta de "sidoro e a #o/ submissa de a+o' 6ntão #arreu em #olta do homem quere/a#a e trancou a .orta da cela ao sair'  7aquele dia, todos os .risioneiros comeram a .a.a que ele troue .ara as celas, sal#oBars.era, que obser#a#a estritamente o eum do im.ortante %eriado' <onah também nãocomeu, satis%eito .or ter um meio de a%irmar sem risco seu uda!smo' ?er#iu tanto a sua

 .a.a quanto a de Bars.era a Boisés'  noite, deitado insone no chão duro da sala de interrogatrios, <onah .ediu .erdão .elos .ecados e .or qualquer descuido ou agra#o contra aqueles que ama#a e aqueles que nãoama#a' Recitando o ] >adish e de.ois o shem:, .ediu que o Alt!ssimo cuidasse de 6lea/ar,de Aron e de uana, embora não soubesse se ainda esta#am #i#os'  ercebeu que, se não tomasse alguma .ro#idncia, logo esqueceria o calend:rio udeu edecidiu, .ara e#itar isso, recitar mentalmente as datas hebraicas com a maior %requncia .oss!#el' ?abia que cinco meses - 0ishri, ?hebat, 7isan, ?i#an e Ab - tinham trinta dias,enquanto os outros sete - =esh#an, Xisle#, 0ebet, Adar, "Jar, 0amu/ e 6lul -tinham #inte eno#e'  eriodicamente, em anos bissetos, acrescenta#am-se alguns dias' "sso ele não sabiacomo %a/er' Abba, no entanto, sem.re soubera em que dia esta#am'''  7ão sou 0om:s Bartin, .ensou sonolentamente' ?ou <onah 0oledano' Beu .ai era=el>ias ben Reu#en 0oledano, de aben+oada memria' ?omos da tribo de e#i' 6ste é odécimo dia do ms de 0ishri, no ano cinco mil, du/entos e cinquenta e trs'''  CA0D; 1O ZAD0;-E6-(Dma no#a %ase come+ou .ara os .risioneiros na manhã em que os guardas #ieram,acorrentaram 6s.ina e le#aram-no numa carreta .ara interrogatrio no )abinete da"nquisi+ão'  6ra noite quando o troueram de #olta com os .olegares sangrando, #irados .ara %ora,destru!dos .ela tortura com o .ara%uso de rosca' <onah le#ou-lhe :gua, mas ele a/ia nochão da cela com o rosto .ara a .arede'Ee manhã <onah #oltou'  - Belhorou 6st: me ou#indo - sussurrou' - 6m 0oledo, ach:#amos que tinha se con#ertido #oluntariamente'- ?ou cristão #olunt:rio'

- 6ntão''' .or que est: sendo torturado6s.ina custou a res.onder'- ; que eles sabem de esus - ele disse .or %im';s homens continuaram #indo com a carreta e le#a#am os .risioneiros um .or um' uanero.an #oltou do interrogatrio com o bra+o esquerdo sem controle, quebrado na roda'"sso %oi o bastante .ara .erturbar sua es.osa "sabel' uando chegou a #e/ de ela serinterrogada, "sabel e#itou a tortura concordando histericamente com tudo que os algo/essugeriam' <onah ser#iu #inho ao algua/il e a dois amigos dele, aos quais "sidoro esta#arelatando os detalhes da con%issão de "sabel'  - 6la ogou toda a cul.a no marido' uan ero.an nunca deiou deser udeu, disse ela, nunca, nunca 6le a %or+a#a a com.rar carne e a#es udias, obriga#a-a a ou#ir e a .artici.ar de ora+es .ro%anas, obrig:#a-aa ensin:-las aos %ilhos'

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  Beticulosamente, "sabel %i/era den*ncias contra cada .risioneiro .reso .or udai/ar,re%or+ando as acusa+es contra eles'  "sidoro Al#are/ disse que a mulher chegara a testemunhar contra o médico, que nemsequer conhecera' Admitira que 6s.ina lhe con%idenciara ha#er cum.rido a alian+a deAbraão ao eecutar trinta e oito circuncises rituais em bebés udeus'

 UU 7;A= );RE;7  ; interrogatrio de cada acusado le#ou alguns dias' 6ntão, certa manhã, %oi hasteado umestandarte #ermelho no balcão do )abinete da "nquisi+ão, indicando que, em bre#e, a .enaca.ital seria administrada num auto-de-%é'0endo .erdido toda a es.eran+a, Mernardo 6s.ina %icou de re.ente ansioso .ara %alar de0oledo'  "nstinti#amente, <onah con%ia#a nele' Dma tarde, es%regando o chão do corredor, .arou unto à cela e os dois con#ersaram' <onah relatou como o .ai encontrara #a/ia a casa de6s.ina e de.ois %ora ao Bosteiro da Assun+ão, descobrindo que também o mosteiro %oraabandonado'  6s.ina balan+ou a cabe+a, não se mostrando sur.reso ao saber que o Bosteiro daAssun+ão tinha sido %echado'  - Certa manhã - disse o médico -, %rei *lio eré/, o sacristão, edois guardas armados %oram encontrados mortos ao lado da ca.ela' 6a rel!quia de ?anta Ana ha#ia desa.arecido' =: gru.os que se hostili/am no seio da "grea, o#em 0oledano, mas todos cruéis o bastante .ara engolir com %acilidade gente mi*da como eu ou #oc' =: .oucotem.o, o cardeal Rodrigo ancol tornou-se nosso no#o .ont!%ice, ?ua?antidade o .a.a Aleandre &", e não #iu com bons olhos um mosteiro que deia#a uma rel!quia tão santa desa.arecer' ;s %rades, semd*#ida, %oram es.alhados dentro da ordem eronimita'- 6 o .rior ?ebasti:n  - 0enha certe/a de que não é mais .rior e que %oi mandado .araalgum lugar onde .ossa cum.rir de modo :rduo o resto de sua #idasacerdotal - disse 6s.ina dando ao rosto uma e.ressão se#era' -0al#e/ os ladres tenham untado a rel!quia ao cibrio %abricado .or seu .ai'  - ue ti.o de gente seria ca.a/ de cometer o .ecado de matar .araroubar obetos sagrados - <onah .erguntou e 6s.ina sorriu com ar cansado'  - )ente !m.ia que d: a im.ressão de santidade' Eesde o in!cio dacristandade, o de#oto sem.re de.ositou muita %é e es.eran+a em rel!quias' =: um #asto e rico comércio desses obetos, onde a concorrncia é mortal'  6s.ina narrou como o .adre ?ebasti:n o encarregara de descobrir o que cerca#a oassassinato de Beir' oi di%!cil .ara <onah ou#ir os coment:rios sobre a cena do crime, masde.ois 6s.ina %alou de sua deten+ão .or %rei Monestruca, o inquisidor'- Monestruca - disse <onah' - Eisseram que %oi Monestruca quem

; @0"B; DE6D U9in%lamou as .essoas e mandou-as .ara destruir meu .ai' : #i esse Monestruca'

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  - 6le tem um rosto estranhamente bonito, não é Bas a carga desua alma de#e ser muito .esada' - 6s.ina contou a <onah que EiegoE!a/ #ira Monestruca e um ca#aleiro seguindo Beir 0oledano'  - Monestruca esta#a l: quando Beir %oi assassinado - <onah sussurrou'

  - ( quase certo que sim' 6 roubou o cibrio que seu irmão iriaentregar - disse 6s.ina' - ( um homem que %acilmente destruiria qualquer .essoa que soubesse de alguma coisa ca.a/ de lhe tra/er .roblemas' uando %ui solto de.ois que ele me interrogou, .ercebi que tinhade ir embora ou seria a.anhado de no#o, desta #e/ .ara sem.re' 6sta#ame .re.arando .ara .artir quando o .adre ?ebasti:n mandou me chamar' Com ar enlouquecido, o .rior me disse que tinham le#ado a rel!quia' 6le chorou' ;rdenou que eu a resgatasse, como se tudo de.endesse de um sim.les ato de #ontade' Eoutrinou-me sobre a enormidade do crime e im.lorou que redobrasse os es%or+os .ara encontrar osque tinham se lan+ado tão terri#elmente contra ele'6s.ina balan+ou a cabe+a e continuouI  - =oras mais tarde, ao atra#essar a la/a BaJor, cru/ei com Monestruca e o %rade me encarou' "sso %oi su%iciente' 0i#e certe/a de quese %icasse mais um segundo em 0oledo seria .reso' Bandei minhaes.osa colocar nossos %ilhos sob a .rote+ão dos .arentes e %ugi'- ara onde %oi  - ara o norte, .ara as montanhas mais altas' 6ncontrei esconderi os, .ois #iaa#a entre .equenas aldeias, onde todos %ica#am muito satis%eitos em #er um médico'  7ão era di%!cil .ara <onah imaginar a satis%a+ão deles' embra#a-se do carinho com queaquele homem tinha tratado de sua mãe' 6 recorda#a o .ai di/endo que 6s.ina %oradisc!.ulo de ?amuel ro#o, o grande médico udeu'  6s.ina ti#era uma nobre #ida, ser#indo aos outros' ; médico que abandonara a religiãodos .ais era, a.esar de tudo, um homem de #alor, alguém que sabia curar5 ainda assimesta#a condenado' <onah se .ergunta#a se um con#ertido não .odia ser sal#o, embora não#isse como' A noite, o guarda era o )ato, um sueito de es.!rito mau que dormia o diainteiro e #igia#a as celas com malé#ola aten+ão' Eurante o dia tal#e/ <onah ti#esse .ossibilidade de matar o sonolento a+o com a enada bem amolada, mas nem ele nem os .risioneiros iriam muito longe em Ciudad Real' A cidade .arecia uma .ra+a de guerra' 9G 7;A= );RE;7  ?e Eeus quisesse que %ossem sal#os, teria de mostrar alguma sa!da a <onah'- Eemoraram muito a .eg:-lo  - 6u esta#a %ora h: quase trs anos quando me encontraram' A"nquisi+ão se a.oia numa rede sordidamente am.la'  <onah sentiu-se aterrado, lembrando que era eatamente essa rede que tinha de continuariludindo'  &iu a+o acordado, o olhar duro .ousado neles, e retomou a lim.e/a'- Dma boa tarde, senor 6s.ina'- Dma boa tarde''' 0om:s Bartin'

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A "nquisi+ão tinha o cuidado de colocar as eecu+es nas mãos das autoridades ci#is e, nala/a BaJor, o algua/il manda#a os trabalhadores erguerem sete .ostes de madeira ao ladodo quemadero, o %orno circular de tiolos que ia sendo a.ressadamente constru!do .elos .edreiros'  Eentro da .risão, alguns .risioneiros chora#am, outros re/a#am' 6s.ina .arecia calmo e

con%ormado'  <onah esta#a la#ando o chão do corredor quando o médico se dirigiu a ele'- uero lhe .edir uma coisa'- ; que esti#er ao meu alcance'''  - 0enho um %ilho de oito anos, chamado rancisco Ri#era de "a6s.ina' Bora com a mãe 6strella Euranda e duas irmãs' oderia entregar o bre#i:rio ao menino e transmitir minha bn+ão  - ?enor''' - <onah esta#a es.antado e abatido' - 7ão .osso #oltar a 0oledo' Ee qualquer modo, a casa onde mora#a est: #a/ia' ara onde%oi sua %am!lia  - 7ão sei, tal#e/ esteam com os .rimos, a %am!lia Euranda deBaqueda' ;u tal#e/ com a %am!lia Euranda de Bedell!n' Bas .egue o bre#i:rio, .or %a#or' ode ser que algum dia Eeus lhe d a .ossibilidade de entreg:-lo'<onah abanou a cabe+a'  - ?im, #ou tentar - disse ele, embora o li#ro cristão .arecessequeimar-lhe os dedos quando o segurou'6s.ina en%iou a mão .ela grade da cela' <onah agarrou-a'- ossa o Alt!ssimo ter misericrdia do senhor'  - 6starei com esus' ue Eeus o acom.anhe e lhe d %or+as,0oledano' 6 .e+o que re/e .ela minha alma'A multidão que se reunira desde cedo na la/a BaJor .arecia mais com.acta que nos diasde .elea de touros' ; céu esta#a claro, com um

; @0"B; DE6D 91toque da %riagem de outono na brisa' 6ra uma atmos%era de entusiasmo contido, masmantido à tona .ela gritaria das crian+as, o /umbido das con#ersas, os gritos dosambulantes que #endiam comida, as animadas can+es do quarteto %ormado .or um%lautista, dois guitarristas e um tocador de ala*de'  elo meio da manhã, a.areceu um .adre' 6le ergueu a mão .edindo silncio e logocondu/iu a assistncia .ara intermin:#eis .adre-nossos' ;s cor.os : se es.remiam na .ra+a, <onah entre eles' ;s es.ectadores, que tinham enchido todos os balces dos .rédioscom #ista, acumula#am-se também nos telhados' ogo ocorria um dist*rbio quando o .*blico mais .rimo dos .ostes de sacri%!cio te#e de ser deslocado .elos homens de"sidoro Al#are/ .ara abrir caminho aos condenados'  ;s .risioneiros %oram tra/idos em trs carros de boi, #e!culos de duas rodas agora .uados .or burros, e des%ilaram .elas ruas sob os a.u.os da multidão'  0odos os on/e réus condenados .or udai/ar usa#am os cha.éus .ontudos dos .roscritos'Eois homens e uma mulher #estiam sambeni-tos amarelos com cru/es em diagonal' 0inhamsido sentenciados a #oltar às suas .arquias natais, onde usariam o sambenito .or longos .er!odos de .enitncia e reconcilia+ão, .iedade cristã e desgosto de seus #i/inhos'

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  ?eis homens e duas mulheres #estiam sambenitos negros decorados com demnios e %ogodo in%erno, signi%icando que morreriam .or imola+ão'  7a la/a BaJor, os condenados %oram retirados das carro+as e des.oados de suas #estes'A multidão reagiu com um sussurro e um mo#imento de onda do mar, todos querendoesquadrinhar aquela nude/ que era ingrediente da #ergonha .or que .assa#am'

  Com um ar de es.anto, <onah achou Ana Bontelban mais #elha des.ida do que com suasrou.as' 0inha grandes seios ca!dos e .lo grisalho entre as .ernas' "sabel ero.an .areciamais no#a, com as n:degas redondas e %irmes de uma mocinha' ; marido esta#a arrasadode ang*stia e medo' Como não .odia mais andar, era carregado, arrastado' Cada .risioneiro%oi le#ado .ara um .oste e te#e os bra+os .uados .ara tr:s da madeira e amarrados'  ; cor.o .eludo de "saac de Bars.era esta#a li#re de marcas5 o a+ougueiro esca.ara datortura .orque o insubmisso e constante uso da ora+ão hebraica tornaram sua cul.ae#idente' 6ste desa%io, no entanto, custara-lhe a indica+ão .ara o quemadero' A abertura na .arede do %orno era .equena, mas trs homens em.urraram e achataram seu cor.an- 92 7; A= );RE;7/il l: dentro' As .essoas, eultantes, atira#am-lhe insultos' "saac declama#a aos berros oshem:' ?eus l:bios não .ara#am de se mo#er enquanto os .edreiros trabalha#amra.idamente .ara ta.ar a entrada'6s.ina re/a#a em latim'  Buitas mãos auda#am a em.ilhar os %ardos de car#ão e as madeiras' ;s montes de lenhase ele#a#am .ro.iciando um certo decoro aos condenados, cobrindo-os da cintura .ara baio, escondendo as contuses e as escoria+es, as cicatri/es e os #ergonhosos esgares doterror' A lenha também subiu ao redor do quemadero, até não ser mais .oss!#el #er ostiolos do %orno'; quarteto come+ou a tocar os hinos'  Ca.elães se .ostaram ao lado dos quatro .risioneiros que ha#iam .edido reconcilia+ãocom Cristo' 6m seus .ostes tinham sido instalados garrotes, cintas de a+o que eram .resasnos .esco+os e seriam a.ertadas .or roscas colocadas atr:s dos .ostes' or sua .iedade,receberiam a bn+ão e a misericrdia eclesial, .ois todos seriam estrangulados antes de o%ogo come+ar' "sabel ero.an %oi a .rimeira' 0inha sido condenada a.esar das alega+es deinocncia e da condenatria den*ncia de outros, mas a "nquisi+ão lhe concedera a gra+a dogarrote'  6le %oi a.licado em seguida a 6s.ina e a dois irmãos de Almagro' or %im, "sidoroa#an+ou .ara o resto dos condenados com uma tocha acesa e tocou cada .ilha de lenhaseca, que entra#a em igni+ão com grande estouro'  unto com as chamas, crescia o clamor da multidão' Con%orme cada tem.eramento, as .essoas reagiam com brados de es.anto e sur.resa, eclama+es de medo, gritos de alegriaou ealta+ão' =omens e mulheres lembra#am crian+as a entre#er sobre a terra o in%erno%lameante do qual o ?enhor Eeus .oderia sal#:-los, .roteg-los, desde que obedecessem ao .ai e ao .adre e não .ecassem'  A lenha ao redor do quemadero ardia roncando %orte' "saac, o a+ougueiro, esta#a l:dentro, assando como galinha num %ogão' A *nica di%eren+a, <onah .onderou timidamente,é que uma a#e não era torrada #i#a'  ;s condenados se contorciam' ?uas bocas se abriam e %echa#am, mas <onah nãoconseguia ou#ir os gritos de#ido ao barulho dos es.ectadores' ; cabelo com.rido de "sabelero.an ergueu-se numa e.losão, criando uma auréola amarela e a/ul em #olta da %ace

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arroeada' <onah não su.ortou olhar .ara 6s.ina' ;ndas de %uma+a eram so.radas no ar,ocultando tudo, audando seus olhos a chorar sem energar' Aioném cutuca#a seu ombro,grita#a no ou#ido' ; @0"B; DE6D 9V

  6ra "sidoro' ; algua/il %a/ia sinal .ara a madeira, que esta#a acabando' $inga#a-o de .alerma, de .regui+oso, e manda#a que %osse audar a+o e )ato a carregar um carro+ão delenha %resca'uando a carro+a %oi %inalmente carregada, ele não #oltou à .ra+a' 7a .risão #a/ia esilenciosa, .egou seu saco, a enada quebrada, e le#ou-os .ara onde Boisés .asta#a .aci%icamente na sombra'  Dma #e/ montado, sobressaltou o bom burrinho com os calcanhares e ambos .artiram deCiudad Real num enérgico trote' 7ão esta#a muito animado .ara #oltar à trilha, ao cam.o'; auto-de-%é %ora uma amostra do modo cruel como ia morrer quando o a.anhassem' Algodentro dele clama#a .ara que .rocurasse um .adre tolerante' 0al#e/ não %osse tarde demais .ara .edir o batismo e le#ar uma #ida de cuidadosa retidão catlica'  Bas esta#a com.rometido com a memria do .ai, com Eeus, com sua gente'Com ele .r.rio'  ela .rimeira #e/, seu dio da "nquisi+ão %oi mais %orte que o medo' 6le não .odia a.agar aquelas imagens e não %alou com Eeus como se su.licasse, mas na %*ria de quem eigia'  ue lano Ei#ino .ode ser este que deia tantos de ns como o =omem endurado  6''' Com que obeti#o me trans%ormou no *ltimo udeu da 6s.anha f CA0D; 1N YfA BD=6R EA A67EA

 " onah atra#essou com Boisés o rio )uadiana, nadando ao lado do burro uma curtadist3ncia quando encontraram um trecho %undo no meio do rio' elo menos assim a :guaremo#eria o %edor de %uma+a de sua rou.a, se não de sua alma'  Ee.ois %oi a#an+ando de#agar .ara sudoeste, atra#és de um #ale agr!cola, #endo sem.re,à esquerda, as encostas da ?ierra Borena'  ;s dias do %inal de outono eram agrada#elmente amenos' arou #:rias #e/es em %a/endasao longo do caminho, demorando-se alguns dias em cada uma enquanto trabalha#a emtroca de comida e abrigo' Arranca#a o resto das cebolas, colhia a/eitonas, auda#a a .isar as*ltimas u#as da esta+ão'  6nquanto o ano caminha#a .ara o in#erno, ele #iaa#a .ara o calor' 7o etremo sudoeste,onde a Andalu/ia se alonga .ara tocar o sul de ortugal, atra#essou uma série de .equenasaldeias cua eistncia gira#a em torno de grandes %a/endas'  7a maioria das %a/endas, o tem.o de culti#o esta#a terminado, mas ele conseguiu uma:rdua ocu.a+ão na #asta .ro.riedade de um nobre chamado dom Banuel de *niga'  - 6stamos abrindo la#ouras em locais onde antes s ha#ia %lorestas - disse oadministrador' - 0emos trabalho se esti#er dis.osto'  ; nome do administrador era am.ara5 <onah descobriu que, .elas costas, ostrabalhadores chama#am-no de am.ern, o seboso'  ; trabalho era dos mais eigentes' 6trair e deslocar grandes .edregulhos, quebr:-los,derrubar :r#ores etir.ando as ra!/es, cortar e queimar o mato' Contudo, a e.erincia detrabalho duro e constante em outras %a/endas : endurecera <onah' =a#ia, na %a/enda

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*niga, trabalho su%iciente .ara ele atra#essar o in#erno inteiro l:' Dm destacamento desoldados esta#a acam.ado numa :rea #i/inha5 a .rinc!.io, <onah trabalhara sem tirar osolhos deles, mas o %ato é que #i#iam ocu.ados com marchas, eerc!cios, e nunca omolestaram' ; ambiente na %a/enda era tranquilo, quase gostoso, e a comida, %arta' 6le %oise deiando %icar'

"

; @0"B; DE6D 9O  As coisas que #ira e so%rera mantinham-no a.artado dos demais .ees' A.esar de sua u#entude, ha#ia algo de tem!#el em seu rosto, em seus olhos, algo que im.edia os outrosde meerem com ele'  a/ia o cor.o caleado mergulhar no trabalho, .rocurando neutrali/ar o horror e#ocado .elas queimadas no mato' noite, entoca#a-se .erto de Boisés e dormia .ro%undamente,sem.re com a mão na enada amolada' ; burro #ela#a enquanto <onah sonha#a commulheres e atos de amor %!sico, mas no dia seguinte, mesmo que se lembrasse do sonho,não dis.unha da e.erincia carnal .ara saber se sonhara corre-tamente'Remo#eu o anel de .rata que usa#a .endurado no .esco+o e en%iou-o no saco com seus .arcos .ertences' ; saco #i#ia .endurado no burro, que ele nunca .erdia de #ista' assou atrabalhar sem camisa, des%rutando o suor que, de encontro à sua#idade do ar, re%resca#a seucor.o'  Eom Banuel #isitou a %a/enda e, enquanto este#e l:, mesmo os .ees mais indolentestrabalharam com tanto /elo quanto <onah' ; .ro.riet:rio era um homem : meioen#elhecido, baio e .om.oso' Circulou .elas la#ouras e celeiros, .restando aten+ão em .ouca coisa e com.reendendo ainda menos' Eemorou-se trs noites, dormindo com duas o#ens da aldeia' Ee.ois %oi embora'  uando #iram *niga se a%astar, todos relaaram, e os homens %alaram dele comdes.re/o' Chama#am-no de el cornudo e, aos .oucos, <onah %oi descobrindo .or qu'  A %a/enda tinha administradores e ca.ata/es, mas a %orte .ersonalidade que domina#a os .ees .ertencia a uma e-amante do dom, Bargarita &ega' Antes mesmo de ser mulher%eita, gerara dois %ilhos dele' Bas ao #oltar de um ano de estada na ran+a, dom Banueldescobriu que, em sua ausncia, .ara grande di#ertimento dos es.ectadores quetrabalha#am na %a/enda, Bargarita ti#era um terceiro %ilho, desta #e/ de um dos .ees'*niga .ermitira que os dois se casassem e dera a ela uma casa como .resente dedes.edida' ; marido, .orém, esca.ara em menos de um ano' Eesde então, Bargaritae.erimentara #:rios homens, uma ati#idade que ha#ia resultado em trs no#as crian+as de .ais di%erentes' Agora, aos trinta e cinco anos, era uma mulher de grandes quadris e olharduro, alguém a ser le#ada em conta'  ;s .ees di/iam que dom Banuel #inha tão raramente .orque ainda gosta#a de Bargaritae era tra!do de no#o a cada no#o homem de quem ela se a.roima#a' 9N 7;A= );RE;7  Dm dia <onah ou#iu o /urrar de Boisés e, quando ergueu a cabe+a, #iu que um dosoutros trabalhadores, um ra.a/ chamado Eiego, tinha tirado o saco do lombo do burro eesta#a .restes a abri-lo'  <onah largou a enada, atirou-se contra Eiego e os dois rolaram agarrados no chão' 6m .ouco tem.o, tinham conseguido se se.arar e, com os .unhos endurecidos .elo trabalho,

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a.lica#am-se mutuamente uma sucessão de murros' <onah descobriria de.ois que Eiegoera um temido ad#ers:rio e, de %ato, logo no in!cio da luta, recebera um gol.e tão %uriosoque te#e certe/a de ter quebrado o nari/' 6le era alguns anos mais no#o que Eiego, mas eramais alto e .ouco mais le#e' Além disso, tinha bra+os mais com.ridos e lutou com a %*riade todo aquele medo e dio que .or tanto tem.o #inha re.rimindo, estocando' ?eus .unhos

acerta#am o outro com o som de .iles gol.eando a terra' Dm tenta#a matar o outro com asmãos'  ;s .ees #ieram correndo, %a/endo um c!rculo .ara gritar, ati+ar, até a barulheira tra/er o%eitor, que #eio ingando e acertando socos nos dois combatentes .ara se.ar:-los'  Eiego %icara com a boca muito machucada e o olho esquerdo %echado' uando o %eitormandou es.ectadores e contendores #oltarem ao trabalho, Eiego .areceu contente comaquela o.ortunidade de se a%astar'  <onah es.erou até o .essoal ir embora, de.ois %echou cuidadosamente a bolsa de .ano eamarrou-a com %or+a na corda de Boisés' ; nari/, que esta#a mesmo quebrado, sangra#a eele tirou o sangue do l:bio su.erior com as costas da mão' 6ntão, ao erguer a cabe+a, #iuBargarita &ega com um bebé nos bra+os, olhando .ara ele'; nari/ esta#a inchado, roo, e os ns dos dedos, %eridos e também inchados, %icariam diasdoendo' Bas a briga %i/era a mulher .restar aten+ão nele'  ara <onah seria im.oss!#el não re.arar em Bargarita' ?em.re que a olha#a, tinha aim.ressão de que ela esta#a desencobrindo o grande seio moreno .ara amamentar a crian+a%aminta' ; .essoal da %a/enda se cutuca#a entre si e sorria, .ercebendo que, em geral,Bargarita conseguia sem.re a.arecer onde aquele ra.a/ %orte e silencioso esti#essetrabalhando'oi cordial com <onah, .rocurando dei:-lo à #ontade'  6ncarregou-o de ser#i+os ligeiros em #olta da casa, con#idando-o a entrar .ara um .oucode .ão e #inho' oucos dias de.ois, <onah esta#a nu a seu lado, sem acreditar que toca#anum cor.o %eminino e .ro#a#a do leite que saciara a crian+a que dormia .erto deles' ; @0"B; DE6D 9Q  ; cor.o grande de Bargarita não deia#a de ser atraente, com as .ernas musculosas, oumbigo %undo, a barriga não muito saliente a.esar de tantos .artos' A genit:lia de l:biosgrossos .arecia um animal-/inho com sel#agem .lo castanho' 6la da#a instru+es .ontuais, %a/ia eigncias e <onah a.rendeu a reali/ar corretamente um sonho' A .rimeira#e/ acabou de.ressa .ara ele' Bas <onah era o#em, %orte, e quando Bargarita o deiouno#amente em %orma, soube se em.enhar com a mesma %*ria que usara contra Eiego' Atéque %inalmente ele e a mulher %icaram de %ato esgotados, sem %`lego'  ouco de.ois, semi-adormecido, <onah te#e conscincia do dedilhar das mãos deBargarita, como se ele %osse um animal que ela .retendesse com.rar'- ( con#ertidoicou imediatamente des.erto' -'''?ou'- arabéns' uando se con#erteu à #erdadeira %é  - Ah''' =: muitos anos' - 6le tornou a %echar os olhos, es.erandoque Bargarita desistisse do assunto'- ;nde %oi- ''' 6m Castela' 7a cidade de Cuenca'  - Bas eu nasci em Cuenca - disse ela rindo' - =: oito anos #ousem.re l: com dom Banuel' 0enho duas irmãs e um irmão morando

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em Cuenca' 6 também minha #elha abuela, que sobre#i#eu à minhamãe e a meu .ai' 6m que igrea #oc se con#erteu, ?ão Menedito ou?ão Barcos

- oi na de''' ?ão Menedito, eu acho'

Bargarita arregalou os olhos'- &oc acha 7ão tem certe/a do nome da igrea

  - oi s um eito de %alar' 6ra a igrea de ?ão Menedito, é claro'Dma igrea incr!#el'- Dma bonita igrea, não''' 6 qual %oi o .adre- ; .adre #elho'  - Bas os dois são #elhos - 6la %ran/iu a testa' - oi o .adreRamn ou o .adre )arcillaso- ; .adre Ramn'Bargarita abanou a cabe+a e se le#antou'  - Mem, não .recisa #oltar ao trabalho agora' ique dormindo aquicomo um bom menino até eu cum.rir minhas obriga+es' &ai %icar %or te como um leão e #amos nos di#ertir muito nesta cama, est: bem- ?im, tudo bem'-9U 7;A= );RE;7  ouco de.ois, de uma .equena anela, ele a obser#ou sair a.ressada da casa, le#ando acrian+a .ara o sol e o calor da hora da siesta' A t*nica, ogada muito de.ressa .elos ombros,ainda não cobrira com-.letamente um dos lados dos quadris'  <onah .ercebeu que, com toda certe/a, não eistia nenhum .adre Ramn na cidade deCuenca5 tal#e/ nem mesmo uma igrea de ?ão Menedito'  &estindo-se r:.ido, %oi .ara o lado da casa, onde ha#ia sombra e onde Boisés esta#aamarrado5 .ouco de.ois : marcha#a sob o sol quente' ? dois homens cru/aram com elenaquele calor do meio-dia, mas nenhum lhe .restou aten+ão' 6 logo <onah e o burrocome+a#am a subir uma trilha nas encostas da ?ierra Borena'  Eeu uma .arada num .lat` e contem.lou, l: embaio, a %a/enda de dom Banuel de*niga' &iu os .equenos #ultos de quatro soldados' Com o sol brilhando nas armas e nosuni%ormes, seguiam Bargarita &ega, que se dirigia às .ressas .ara a casa'  : no alto, bem longe deles, sentiu-se su%icientemente seguro .ara a.reciar a mulher coma mais etrema gratidão';brigado, madame  ?e %osse .oss!#el, gostaria de e.erimentar no#amente aquele .ra/er' ara se .roteger dedela+es de#ido à circuncisão, resol#eu que, no %uturo, diria às mulheres que a con#ersãonão %ora numa .equena igrea, mas numa catedral' or eem.lo a catedral de Marcelona,onde ha#ia um eército de clérigos' 7inguém .odia conhecer todos aqueles .adres'  ; nari/ ainda do!a' Bas, enquanto se a%asta#a montado no burro, re.assou mentalmenteos contornos de cada .arte do cor.o de Bargarita, os gestos, os cheiros, os sons'Dm %ato inacredit:#elI seu cor.o tinha .enetrado no de uma mulher  Agradeceu ao etraordin:rio Dno "ndi/!#el' or dei:-lo .ermanecer li#re e sadio decor.o e alma5 .or criar mulheres e homens com tão assombrosa dis.osi+ão que, quando se

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 untam, são como a %echadura e a cha#e certa5 .or dei:-lo sobre#i#er um tem.o su%iciente .ara #i#er um dia como aquele'"sto me aconteceu no décimo segundo dia do ms de ?hebat'''  7ão sou 0om:s Bartin, sou <onah 0oledano, %ilho de =el>ias, o ouri#es, da tribo de e#i'  ;s outros meses são Adar, 7isan, "Jar, ?i#an, 0amu/, Ab, 6lul, 0ishri, =esh#an, Xisle# e

0ebet''' Re.etiu mentalmente, entre .er!odos curtos de .rece ou #ersos hebraicos, enquantoBoisés a#an+a#a com cuidado trilha acima, rumo aos montes morenos' AR06 DA0R;; A?0;R   ?ierra Borena "" de no#embro de 149O _ CA0D; 1Q; ?;B E; R6MA7=;<onah #iaou de no#o .ara o norte montado em Boisés, .ercorrendo lentamente a %ronteiracom ortugal, acom.anhando o ritmo com que o outono queima#a a terra #erde' aroumeia d*/ia de #e/es e trabalhou um .ouco .ara ganhar o dinheiro da comida, mas em lugaralgum se demorou antes de atingir ?alamanca, onde esta#am contratando trabalhadores .ara a re%orma da catedral'Eisse ao .arrudo mestre-de-obras que se chama#a Ramn Callic'  - ; que sabe %a/er - o homem .erguntou, sem d*#ida achandoque <onah %osse .edreiro diarista ou car.inteiro'- ?ei trabalhar - disse <onah e o homem abanou a cabe+a'  ;s bois e os enormes ca#alos de ser#i+o usados .ara arrastar as grandes .edras %ica#amnuma cocheira .rima' <onah também guardou Boisés nessa cocheira e, à noite,acalentado .elos ru!dos dos animais nas baias, dormiu ao lado do burro'  Ee dia, tornou-se .arte de um .equeno eército de ser#entes, .edreiros, quebradores de .edras e tro.eiros' uta#am .ara substituir alguns blocos de .edra escura que %orma#am as .aredes da catedral, .aredes que, em certos .ontos, tinham trs metros de es.essura' ;trabalho era muito :rduo, terr!#el' a/ia-se acom.anhar de gemidos dos animais,ingamentos, ordens gritadas .or %eitores e tro.eiros, batidas de martelos, estrondo demarretas e o constante, torturante rangido dos .edregulhos sendo deslocados num chão:s.ero' equenos blocos de .edra eram carregados .or ser#entes' ;s blocos maiores eramle#ados o mais longe .oss!#el .or animais5 de.ois, no entanto, eram os homens as bestas decarga' orma#am longas %ileiras .ara .u:-los com cordas grossas ou a.inha#am-se lado alado .ara debru+ar-se contra cada uma das .edras inimigas e em.urr:-la'  <onah esta#a contente em trabalhar na re%orma de uma casa de culto, mesmo quedestinada a ora+es di%erentes das suas' 7ão era, .orém, o *nico não-cristão audando are.arar a catedral5 os mestres-artesãos eram mouros, gente que entalha#a .edra e madeiracom nota-

1G2 7;A= );RE;7#el habilidade' uando o .adre ?ebasti:n Al#are/ solicitou que o .ai de <onah concebessee eecutasse um relic:rio .ara guardar uma rel!quia cristã, =el>ias discutira o assunto como rabino ;rtega, que aconselhou-o a aceitar a encomenda' ( uma mit/#ah que #ai audar

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nas ora+es das .essoas, dissera o rabino, destacando que o delicado e bonito trabalho nassinagogas de 0oledo %ora %eito .or mouros'; trabalho na catedral era etremamente absor#ente' Como os demais, <onah em.enha#a-se mecanicamente, sem brincadeiras, %alando s meia d*/ia de .ala#ras' "sso o auda#a aocultar seus .ensamentos .ara que ninguém o achasse di%erente' As #e/es, unta#a-se a ele

um .eão careca, cuo cor.o, muito atarracado, lembra#a um bloco de .edra' <onah nãosabia seu sobrenome, mas os %eitores chama#am-no de eon'  Certa manhã, quando : esta#a h: sete semanas em ?alamanca, <onah batalha#a comeon .ara encaiar uma .edra' Ee re.ente, os dois des#iaram um instante os olhos .ara #eruma .rocissão de homens com ca.u/es .retos' ?a!am da catedral a.s as .reces dasBatinas, que come+a#am antes da hora da chegada dos trabalhadores'eon .restou aten+ão no %rade que ia na %rente do corteo'  - ( %rei 0om:s 0orquemada, o inquisidor-geral - murmurou' -&im de ?anta Cru/, onde ele é .rior do monastério'  <onah obser#ou o homem alto e idoso' 0inha o nari/ com.rido e reto, o queio .ontudo,os olhos remotos, contem.lati#os' arecendo absorto em seus .ensamentos, 0orquemada .assou ra.idamente' =a#ia tal#e/ duas d*/ias de .adres e %rades na coluna e, entre eles,<onah #iu outro sueito alto, com o rosto que reconheceria em qualquer lugar' 6n#ol#idonuma con#ersa com um com.anheiro, Monestruca quase cortou a sombra de <onah' assoutão .erto que <onah .`de eaminar os .los das sobrancelhas e #er um machucado no l:biosu.erior'  ; %rade ergueu a cabe+a e olhou bem no rosto de <onah, mas sem dar sinais dereconhecimento ou interesse' ogo os olhos sombrios se deslocaram .ara o lado, eenquanto <onah continua#a entor.ecido de a.reensão, Monestruca %oi se a%astando'  - ; que tra/ %rei 0orquemada a ?alamanca - <onah .erguntou aeon, que deu de ombros'  Contudo, no mesmo dia, s que um .ouco mais tarde, <onah ou#iu o %eitor di/er a outro .eão que inquisidores dos quatro cantos da 6s.anha tinham #indo a ?alamanca .ara sereunir na catedral' 6ntão, ele come+ou a se .erguntar se %ora .or isso que Eeus o sal#ara e ole#ara até l: - .ara ter a o.ortunidade de matar o homem que assassinara seu .ai e seuirmão' ; @0"B; DE6D 1GV 7a manhã seguinte, #iu de no#o os inquisidores sa!rem da catedral a.s as Batinas'Concluiu que o melhor lugar .ara atacar Monestruca seria à esquerda da .orta de entrada, .erto do lugar onde esta#a trabalhando' ? teria uma chance .ara gol.e:-lo antes de serdominado e achou que, .ara acabar com Monestruca, o melhor seria usar sua enada,amolada como um machado, tima .ara acert:-lo na garganta'  7aquela noite, esticou-se insone e ansioso na cama de .alha da cocheira' s #e/es,quando garoto, sonhara em ser um guerreiro e, recentemente, #inha di/endo a si mesmo quegostaria de #ingar as mortes do .ai e do irmão' Agora, .orém, con%rontado com umasitua+ão onde isso .arecia .oss!#el, sentia-se angustiado, sem saber se teria realmentecoragem de matar alguém' ediu ao ?enhor que lhe concedesse a energia necess:ria quandoo momento chegasse'Ee manhã, como de h:bito, %oi .ara a catedral'

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  Ee.ois das Batinas, quando o .rimeiro %rade a.areceu, <onah .egou a enada e a#an+ou .ara aquela .osi+ão .erto da entrada' uase de imediato, come+ou a tremer de modoincontrol:#el'Cinco outros %rades seguiram o .rimeiro5 de.ois, mais nenhum'; mestre-de-obras estranhou ao #er <onah .arado e .:lido'

- 6st: .assando mal- 7ão, senor'  - 7ão de#ia estar audando a misturar a massa - ele .erguntou,re.arando na enada'- ?im, senor'  - 6ntão #: e %a+a isso - o homem resmungou e <onah %e/ o que elemanda#a'  7aquela tarde, soube que o encontro dos guardiães da %é terminara na #és.era e sentiu-seest*.ido, tolo, inca.a/ de se tornar o bra+o #ingador de Eeus' Eemorara muito tem.o .aradecidir e Monestruca se %ora, #oltara com os outros inquisidores da 6s.anha .ara as regiesonde eerciam suas terr!#eis res.onsabilidades'A obra em ?alamanca durou até a .rima#era' 7o meio de mar+o, um m*sculo se rom.eunas costas de eon quando ele desloca#a um bloco de .edra e <onah #iu o .eão rolar nochão de dor' eon %oi trans.ortado de maca .ara uma carreta e le#ado embora' <onah amais tornaria a #-lo' e/ .ar com outros quando ha#ia necessidade de dois homens numatare%a, mas nunca te#e qualquer coisa em comum com qualquer um deles' ; medo sem.reo mantinha isolado5 nenhum se tornou seu amigo'

1G4

 7;A= );RE;7

  7em todos os consertos tinham sido conclu!dos na catedral de VOO anos, mas um dia,entre calorosas discusses sobre o %uturo da na#e, a obra %oi dada .or encerrada' Buitosmoradores da cidade acha#am que sua casa de Eeus de#ia ser maior' 6mbora até a ca.elade ?an Bartin ti#esse a%rescos do século $""", a catedral dis.unha de .ouca ornamenta+ão e .odia ser considerada bem in%erior às not:#eis igreas de outros lugares' : ha#ia quemti#esse come+ado a le#antar dinheiro .ara construir uma no#a catedral em ?alamanca e,assim, %oram adiados os re.aros que %alta#a %a/er'  uando come+aram as dis.ensas, <onah se dirigiu no#amente .ara o sul' 7o sétimo diade maio, ao com.letar de/oito anos, acha#a-se na cidade %ronteiri+a de Coria, onde .arounuma estalagem e con#idou-se a si mesmo .ara um guisado com cabrito e lentilhas' 7umamesa #i/inha, .orém, ha#ia trs homens, e a con#ersa que ou#iu acabou com sua %esta'  6sta#am %alando dos udeus que tinham %ugido da 6s.anha .ara ortugal'  - ara ganhar autori/a+ão de .ermanncia .or seis meses em ortugal - di/ia um dos homens -, concordaram em .agar ao rei dom oão umquarto do #alor de seus bens m#eis e um ducado .or cada alma entrada .ela %ronteira' oram cento e #inte mil ducados no total' ;s seis mesesautori/ados e.iraram em %e#ereiro e .odem imaginar o que %e/ então osa%ado do rei 6le declarou os udeus escra#os do estado'- ois é''' ue Eeus saiba amaldi+oar o rei dom oão'

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  elo tom, <onah achou que eram con#ertidos' A maioria dos cristãos não %icaria tãoressentida com a escra#idão de udeus'  7ão %e/ barulho, mas um dos trs olhou-o de relance' Certamente, ao #-lo sentadoim#el e quieto, .ercebeu que esta#a ou#indo' 6m #o/ baia, o homem %e/ algumcoment:rio com os com.anheiros e os trs se le#antaram, saindo da estalagem'

  <onah .ercebeu mais uma #e/ a sabedoria que o abba e tio Aron tinham demonstrado aodecidir que o traeto mais seguro seria .artir de 0oledo .ara o leste, não .ara oeste, rumo aortugal' Como o a.etite desa.arecera, continuou sentado à mesa enquanto o guisado .assa#a de %rio a gelado'A tarde, seguiu a estrada na dire+ão de um balido de o#elhas' ogo se de.arou com umrebanho bastante dis.erso e, .ouco de.ois, descobriu .or que ra/ão os animais .erambula#am daquele eito' ; #elho .astor, esqu:lido e de cabelos brancos, esta#a ca!dono chão'

; @0"B; DE6D 1GO- Beu cora+ão - ele se limitou a di/er'  Beio en%iado no ca.im, o rosto .arecia branco como o cabelo, e cada es%or+o que ohomem %a/ia .ara res.irar .rodu/ia um assobio le#e' <onah #irou o .astor de %rente e,de.ois de tra/er um .ouco de :gua, tentou dei:-lo numa .osi+ão mais con%ort:#el' ;#elho, no entanto, indicou que sua maior a%li+ão era a iminente .erda do rebanho'  - osso untar suas o#elhas - disse <onah, montando em Boisés ecome+ando a trotar' 7ão %oi uma tare%a di%!cil' 0rabalhara muitas #e/escom o rebanho de Aron 0oledano' 0io Aron ti#era menos animais, etanto cabras quanto o#elhas, mas <onah esta#a %amiliari/ado com o eito de ambas' Aquelas o#elhas não esta#am assim tão desgarradas, ea.s algumas .equenas manobras, ele conseguiu reuni-las num gru.ocom.acto'; #elho conseguiu balbuciar que se chama#a )ernimo ico'- ; que mais .osso %a/er .elo senhor  ; .astor .arecia estar sentindo uma dor muito %orte5 os bra+os a.erta#am o .eito'  - As o#elhas de#em ser entregues''' a dom 6m!lio de &alladolid, .erto de lasencia'  - ; senhor #ai chegar até l: - disse <onah, instalando o homem emcima do burro e .egando seu rude caado' ; a#an+o era lento, .oistinham de ondular .or uma #asta :rea .ara manter as o#elhas untas' 7o %inal da tarde, <onah #iu o #elho .astor cair do lombo de Boisés'ela %or+a da queda e a debilidade com que o cor.o se estatelou nochão, .ercebeu de imediato que tinha morrido'  Eurante algum tem.o, no entanto, %icou chamando .or )ernimo ico, batendo no rostoenrugado, es%regando os .ulsos do homem' ? então admitiu que realmente morrera'- Ai, maldi+ão'''  Absurdamente murmurando o >adish .elo estranho, ogou o cor.o nas costas de Boisés, orosto .ara baio, os bra+os .endendo' Antes de continuar seguindo a trilha, certi%icou-se deque o rebanho esta#a agru.ado' lasencia não %ica#a longe e .ouco de.ois #iu um casaltrabalhando numa la#oura'- 6sta %a/enda é de dom 6m!lio de &alladolid  - ?im - disse o homem, arregalando os olhos .ara o cor.o e se

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 ben/endo' - )ernimo, o .astor'-('6le ensinou a <onah o caminho .ara a casa-sede'

1GN 7;A=);RE;7

  - asse a grande :r#ore onde o raio caiu e atra#esse o crrego' &ai#er a casa à sua direita'  =a#ia boas ben%eitorias, todas bem conser#adas, e <onah tocou o rebanho .ara o .:tio daestrebaria' ;s trs .ees que se a.roimaram do cor.o não .recisaram de e.lica+es' Com bre#es resmungos de .esar, tiraram o .astor do lombo do burro e o le#aram embora'; .ro.riet:rio da %a/enda era um sueito de cara rosada e ar sonolento' Dsa#a rou.as caras,mas cobertas de ndoas' amentando ser incomodado no meio da ceia, saiu e .erguntou aoseu administrador'- ual é a ra/ão dessa barulheira de o#elhas- ; .astor morreu' 6ste ra.a/ troue o cor.o e o rebanho'- 0ire a .orra dos animais de .erto da minha casa'- 6st: bem, dom 6milio'  ; administrador era um homem magro, de estatura mediana, com um cabelo castanho%icando grisalho e olhos também castanhos, atentos' 6le e os %ilhos audaram <onah atanger o rebanho .ara o .asto, os %ilhos sorrindo e gritando insultos um .ara o outro' 6ramAdol%o, um ra.a/ %ran/ino de cerca de de/esseis anos, e )as.ar, #:rios anos mais no#o queo irmão' ; administrador mandou-os ir buscar duas #asilhas de comida - uma .a.a grossa,quente' Ee.ois se sentou com <onah no chão, .erto das o#elhas, e comeu em silncio comele'or %im arrotou e eaminou o %orasteiro'- 6m me chamo ernando Rui/'- Ramn Callic'  - arece que sabe meer com o#elhas, Ramn Callic' - ernandoRui/ não du#ida#a que muitos teriam abandonado o cor.o do .astor )ernimo e roubado o #alioso rebanho, le#ando o mais de.ressa .oss!#el os animais em dire+ão o.osta' Contudo, o ra.a/ sentado a seulado não %i/era isso, o que signi%ica#a que era maluco ou honesto, e elenão #ia loucura nos olhos dele'  - recisamos de um .astor' Beu %ilho Adol%o .odia ser#ir, masacho que ainda tem de #i#er mais um ano .ara assumir uma res.onsa bilidade dessas' )ostaria de %icar conosco cuidando das o#elhas  ;s animais .asta#am tranquilamente, sal#o .or algum balido discreto e ocasional, umsom que <onah ulga#a agrad:#el'- ?im, .or que não- Bas tem de tir:-las agora daqui'- Eom 6milio não gosta do rebanho

; @0"B; DE6D 1GQ  ernando sorriu' 6sta#am so/inhos no .asto, mas ele se inclinou .ara sussurrarI- Eom 6milio não gosta de nada'&i#eria trinta e quatro meses .raticamente so/inho com os animais' icou tão %amiliari/adocom o rebanho que .assou a reconhecer indi#idualmente cada macho e cada %mea' ?abia

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quem era calmo, soci:#el, quem era teimoso ou trai+oeiro, quem era saud:#el e quemesta#a doente' 6ram grandes animais a.alermados, com .er%eitos e numerosos %locos brancos de lã que cobriam tudo, com ece+ão dos nari/es .retos e dos olhos .ac!%icos'Acha#a muito bonitas aquelas o#elhas' ?em.re que o tem.o esta#a bom, %a/ia com queatra#essassem um regato da montanha .ara lim.ar a sueira que se agarra#a no sebo da lã,

deiando-a amarelada'  ernando deu-lhe algumas toscas .ro#ises e um .unhal que não era dos melhores, com al3mina %eita de um %erro de m: qualidade' <onah esta#a autori/ado a le#ar o rebanho .araonde hou#esse ca.im, desde que o de#ol#esse à %a/enda na .rima#era, .ara a tosquia, e nooutono, .ara castra+ão e abate de alguns animais mais o#ens' <onah condu/iu o rebanho .ara o so.é da ?ierra de )redos' &iaou calmamente, seguindo o .asso lento dos animais'0io Aron ti#era um cachorro malhado .ara audar no trabalho, mas <onah tinha Boisés' Acada dia, mais com.etente se torna#a o burrinho .ara %icar de olho nas o#elhas' A .rinc!.io,<onah tinha de .assar horas montado no burro, mas logo Boisés come+ou a agir .or conta .r.ria, correndo atr:s dos animais desgarrados como um cão de .astoreio e /urrando .aratra/-los de no#o ao gru.o'  ?em.re que <onah #olta#a à %a/enda com as o#elhas, o o#em Adol%o, %ilho de ernando,cuida#a bem dele e lhe ensina#a o que sabia de .astoreio' <onah a.rendeu a tosquiar,embora não com ra.ide/ e .er!cia, como ernando e os garotos' 0ambém a.rendeu a castrar e abater, embora na hora de tirar a .ele %osse tão med!ocre com a %aca quanto era com atosquiadeira'- 7ão se .reocu.e - di/ia Adol%o' - A .r:tica #em com o tem.o'Cada #e/ que <onah de#ol#ia o rebanho à %a/enda, Adol%o le#a#auma arra de #inho .ara o .asto distante e senta#a-se com <onah' ala#am dos .roblemasde um .astor, da %alta de mulheres, da solidão, da amea+a dos lobos' Adol%o recomenda#acantar à noite .ara a%ugent:-los'

1GU 7;A= );RE;7  astorear o#elhas era uma ocu.a+ão ideal .ara um %ugiti#o' =a#ia .oucas aldeias na serrae <onah as e#ita#a, .assando também ao largo de uma ou outra grana' 0oca#a as o#elhas .ara as encostas mais baias das montanhas desertas, onde sal.ica#am clareiras cheias derel#a' uem e#entualmente cru/asse com ele #eria a.enas um o#em e insigni%icante .astor eremita'  Besmo gente .erigosa .rocuraria e#it:-lo, .ois <onah era alto, %orte e tinha um brilhosel#agem nos olhos' ; cabelo castanho %icara muito com.rido e a barba crescia li#remente' 7o calor do #erão, anda#a quase nu, .ois suas rou.as, com.radas de segunda mão .arasubstituir as que tinham %icado .equenas, esta#am muito .u!das e rasgadas' uando umao#elha so%ria um acidente %atal, ele a mata#a e lim.a#a meio sem eito5 de.ois ia comendocom grande satis%a+ão o .ernil ou a costeleta até a carne %icar com mau cheiro, o queacontecia quase de imediato no #erão' uando um #ento :s.ero so.ra#a no in#erno, eleamarra#a o couro seco de algum animal em #olta dos bra+os e das .ernas .ara su.ortar o%rio' Bas sentia-se bem nos montes' noite, quando esta#a num lugar alto, a#an+a#a comintimidade .or entre estrelas grandes e brilhantes'  ; caado que herdara de )ernimo ico não ser#ia .ara nada e, certa manhã, ele cortouum galho de uma nogueira, um galho com.rido com uma cur#atura natural na .onta'Ee.ois ras.ou com cuidado a casca do galho e usou o .unhal .ara gra#ar na madeira algunsdesenhos geométricos, imitando os .adres que os artesãos mouros tinham usado na

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sinagoga de 0oledo' or %im, come+ou a .assar a mão na lã das o#elhas até os dedos%icarem cheios de gordura e a .assar os dedos no caado, um .rocesso que re.etiu horas a%io até a madeira macia adquirir uma .atina escura'  s #e/es, sentia-se como um animal sel#agem, mas .or dentro culti#a#a o que ha#ia demais sua#e em sua nature/a, re/ando .ela manhã e à noite e tentando não se esquecer do

calend:rio .ara .oder honrar os dias santi%icados' &e/ .or outra, conseguia banhar-se antesda chegada do ?habat' 6ra %:cil no #erão, .ois se alguém o #isse entrar num crrego ounum rio dedu/iria, ob#iamente, que ele %a/ia isso .elo calor, não .ela religião' uando otem.o não esta#a quente, .assa#a um tra.o molhado no cor.o e tremia' Eurante o .er!odomais %rio do in#erno, no entanto, <onah se deia#a %icar cheirando mal5 a%inal, não eracomo uma mulher, obrigada a #isitar a mi>#: .ara .oder se a.roimar do marido' ; D0"B; DE6D 1G9  6le gostaria de dar, um dia, um mergulho muito .ro%undo .ara la#ar sua alma, .oissentia-se escra#i/ado aos .ra/eres da carne' 6ra di%!cil, é claro, achar uma mulher em quem .udesse realmente con%iar' =a#ia uma .rostituta na taberna onde com.ra#a #inho e, .orduas #e/es, <onah lhe deu uma moeda .ara que ela abrisse as .ernas num quartinho escuro,cheio de .er%ume' Dm dia, enquanto os animais .asta#am .regui+osamente, ele se entregouso/inho a um .ra/er lasci#o e derramou sua .r.ria semente, cometendo o .ecado .eloqual o ?enhor tirou a #ida de ;nan'  s #e/es imagina#a como sua eistncia teria sido di%erente sem a cat:stro%e que oeilara da casa .aterna' quela altura, seria .ro#a#elmente um a.rendi/ assalariado deouri#es, casado com uma mulher de boa %am!lia5 tal#e/ até : %osse .ai'  Ao contr:rio de tudo aquilo, e embora tentasse #alentemente se .reser#ar como .essoa,sentia, às #e/es, que esta#a se trans%ormando em alguma coisa baia, bestial, não a.enas no*ltimo udeu da 6s.anha, mas na *ltima criatura do mundo, uma ideia que #:rias #e/es ole#ou a correr os riscos mais absurdos' ?entado à noite diante de uma %ogueira, com osanimais reunidos em #olta, grita#a .ara re.elir os lobos, urrando .ala#ras desconeas ourecitando #elhas .reces .ara o céu escuro' Com elas, subiam também as %a!scas da lenhaestalando' ualquer inquisidor ou delator atra!do .elo brilho do %ogo ou#iria %acilmenteaquela #o/ im.rudente soltando .ala#ras em hebreu ou ladino' 7enhum amais a.areceu'  0enta#a ser ra/o:#el nas coisas que rei#indica#a em suas ora+es' 7unca .ediu que Eeusmandasse o arcano Biguel, guardião de "srael, descer do ara!so .ara usti+ar os quemata#am e %a/iam mal' Bas .ediu que Eeus deiasse <onah ben =el>ias 0oledano ser#irao arcano' 6 di/ia a si mesmo, e a Eeus, e aos animais no silncio dos montes, que queriaoutra o.ortunidade .ara se trans%ormar no %orte bra+o direito do arcano, matador dosmatadores, #erdugo dos #erdugos, carrasco dos eterminadores' 7o outono, na terceira #e/ que <onah de#ol#eu o rebanho à %a/enda, encontrou a %am!lia deernando Rui/ de luto' 6mbora não %osse um homem #elho, o administrador morrera dere.ente, na tarde em que ins.eciona#a o .lantio numa la#oura' =a#ia um al#oro+o na%a/enda' Eom 6milio de &alladolid não sabia como administrar a .ro.riedade e nãoconseguia encontrar um no#o %eitor' 6sta#a mal-humorado e grita#a muito'

11G 7;A= );RE;7  <onah #iu a morte de ernando Rui/ como sinal de que esta#a na hora de .`r os .és acaminho' ela *ltima #e/, tomou #inho no .asto com Adol%o'- ?into muito - disse'

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  ?abia o que era .erder um .ai e ernando era um homem muito bom' Contou a Adol%oque esta#a de .artida e .erguntouI- uem #ai assumir o rebanho- 6u serei o no#o .astor - disse Adol%o'- Ee#o %alar com dom 6m!lio

  - 6u mesmo e.lico a ele' 7ão #ai se im.ortar desde que as o#elhas %iquem longe de seu delicado nari/'  <onah abra+ou Adol%o e .assou-lhe, além do rebanho, o bonito caado que %i/era' Ee.oismontou em Boisés e se a%astou com o burro da %a/enda e de lasencia'  7aquela noite, acordou no escuro, atento, .ois achou que tinha ou#ido alguma coisa'6ntão .ercebeu que %ora a ausncia de ru!do que o assustara, o %ato de os sons .ac!%icos daso#elhas não o rodearem mais' &irou-se de lado e tornou a dormir'  CA0D; 1U_Y; M;M;; in#erno esta#a a caminho e <onah condu/iu Boisés .ara o calor' 0e#e #ontade de daruma olhada no mar meridional do outro lado da ?ierra 7e#ada, mas quando se a.roimoude )ranada, as noites claras : eram muito %rias' 7ão queria en%rentar as cristas cobertas dene#e no alto da serra' 6m #e/ disso, tomou o rumo da cidade .ara gastar .arte do que ha#iaganho num .ouco de con%orto .ara ele e o burro'  icou inquieto quando chegou aos muros de )ranada, .ois sobre o tenebroso .ortãoesta#am sus.ensas as cabe+as, : em decom.osi+ão, de criminosos eecutados' A eibi+ão,no entanto, não .arecia ter desencoraado os salteadores, .ois quando se dirigia .ara uma .ousada, onde es.era#a encontrar #inho e comida, <onah se de.arou com dois sueitos%ortes tentando roubar um anão'  Com metade do tamanho dos dois, o homen/inho tinha uma cabe+a muito grande, ombrosmusculosos, bra+os com.ridos e .ernas min*sculas' ;bser#a#a atentamente os assaltantesse a.roimando de duas dire+es, um brandindo um .orrete de madeira, o outro segurandouma %aca'  - ?olte o dinheiro e li#re a sua cara, merdinha - di/ia o homem com a %aca, %a/endo ummo#imento na dire+ão da #!tima'  ?em .ensar duas #e/es, <onah .egou sua enada amolada e .ulou do lombo do burro'"n%eli/mente, antes que ti#esse tem.o de inter#ir, o ladrão que tinha o .orrete ergueu a mãoe acertou-o na cabe+a' ogo esta#a ca!do no chão, atordoado e %erido, enquanto o homema#an+a#a de no#o, .ronto a acabar com ele'  7ão de todo consciente, <onah #iu o anão tirar da t*nica uma %aca .ontuda e a%iada' As .ernas .equenas dis.araram, #oaram5 os bra+os com.ridos %icaram etremamente #elo/es,:geis5 a .onta da %aca come+ou a %aiscar como l!ngua de ser.ente' 7um instante, eleconseguira .enetrar a ine%iciente de%esa de um dos ladres, que gemeu e deiou cair a %acaquando a l3mina de seu .equeno o.onente gol.eou-lhe o bra+o' 112 7;A= );RE;7  uando os dois assaltantes deram meia-#olta e come+aram a correr, o homen/inho ainda .egou uma .edra e arremessou-a com %or+a su%iciente .ara acertar uma das costas que%ugiam' Ee.ois lim.ou a %aca na cal+a e se a.roimou .ara eaminar o rosto de <onah'- 0udo bem com #oc  - Acho que sim - <onah se ou#iu declarar com #o/ rouca' 6le %e/

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%or+a .ara sentar' - &ou %icar ainda melhor de.ois que entrar na .ousada e tomar um .ouco de #inho'  - , mas não é a! que #ai conseguir um #inho decente - disse ohomen/inho' - e#ante a metade do rabo, de.ois a outra, e #enhacomigo'

  ?egurando a mão estendida, <onah %oi erguido .or um bra+o sur.reendentemente %orte'- 6u me chamo Bingo Mabar'- 6 eu Ramn Callic'  6nquanto Boisés era le#ado .ara %ora da cidade e come+a#a a subir uma trilha, ocorreu a<onah que aquele homem estranho, que ainda h: .ouco lhe .arecera uma #!tima inde%esa, .odia muito bem ser ele .r.rio ladrão e assassino' Bas embora ti#esse se mantidoetremamente atento ao menor sinal de um ataque, nada aconteceu' ; sueito seguia atr:sdo burro num esquisito .asso de aranha, as mãos nas .ontas dos bra+os com.ridos ro+andoa trilha como dois .és adicionais'  ouco de.ois, um #igia em.oleirado numa rocha chamou em #o/ baiaI- Bingo, é #oc- ?ou eu' Com um amigo'  oucos metros à %rente, .assaram .or um buraco na rocha de onde #inha um brilhomorti+o de lam.arinas' 6 então ha#ia outra abertura, e #:rias outras' &inham gritos dasca#ernas'-Ah, Bingo- Bingo, boa-noite, Bingo- Mem-#indo, Bingo  ; homen/inho de#ol#ia todos os cum.rimentos e, a certa altura, dete#e o burro diante deuma das aberturas do morro' <onah desmontou e a#an+ou com Bingo .ela boca escura atéuma esteira de dormir no mais estranho de todos os lugares'icou mara#ilhado quando acordou de manhã' 6sta#a numa ca#erna di%erente de tudo quetinha #isto até então' 6ra como se um che%e de ladres ti#esse organi/ado um esconderiono co#il de um urso' A lumi-

; @0"B; DE6D 11Vnosidade %raca das lam.arinas %undia-se à meia-lu/ que #inha da entrada e <onah #iuta.etes ricamente coloridos cobrindo a terra e a rocha nua' =a#ia .e+as de um .esadomobili:rio de madeira trabalhada, uma .ro%usão de instrumentos musicais e relu/entesutens!lios de cobre'  <onah ti#era uma longa noite de sono, mas as lembran+as da #és.era logo retornaram eele %icou ali#iado ao .erceber como sua cabe+a esta#a l*cida outra #e/'  =a#ia uma mulher de tamanho normal, um tanto gorda, sentada .erto dele' 6la .oliaserenamente um #aso de cobre' <onah cum.rimentou-a e recebeu um sorriso, um brilhor:.ido de dentes'  uando se a#enturou a sair da ca#erna, Bingo esta#a l: %ora, %a/endo um cabresto decouro e cercado .or duas crian+as, um menino e uma menina, quase do tamanho dele'- Dm bom dia .ara #oc'- Dm bom dia, Bingo'  <onah #iu que esta#am no alto do morro' : embaio, estendia-se a cidade de )ranada, amassa de casas que lembra#am cubos rosados e brancos, uma cidade cercada .or um buquede :r#ores'

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- Monita cidade - disse <onah e Bingo assentiu'  - ?im, constru!da .or mouros, .or isso o interior das habita+es é belamente decorado, enquanto os eteriores são sim.les'  Eebru+ada sobre a cidade, na crista de uma colina muito menor que o monte onde%ica#am as ca#ernas, ha#ia uma :rea cheia de ameias e torres rosadas que %i/eram <onah

 .render a res.ira+ão ante sua etrema eleg3ncia, sua maestade'- ue lugar é esse - .erguntou, a.ontando'  - ;ra - disse Bingo sorrindo -, é a cidadela e o .al:cio conhecidocomo Alhambra'<onah .ercebeu que ca!ra entre um gru.o de .essoas muito es.eciais e %e/ muitas .erguntas, todas sem.re res.ondidas de bom humor .or Bingo'As ca#ernas %ica#am num morro chamado ?acromonte'  - ; Bonte ?agrado - Bingo e.licou' - Chamado assim .orqueos cristãos %oram martiri/ados aqui nos .rimeiros dias da religião'  ; homen/inho disse que seu .o#o, ciganos de uma tribo chamada romani, tinha moradonas ca#ernas desde que #ieram .ara a 6s.anha, numa é.oca em que ele, Bingo, ainda eracrian+a'- 6 de onde #ieram os romanis - <onah .erguntou'- Ee l: - disse Bingo, a mão desenhando um c!rculo .ara indicar -" 14 7;A= );RE;7o mundo inteiro' - Dm dia, muito tem.o atr:s, #ieram de um lugar remoto do leste, ondecorre o )anges, um grande rio sagrado' Bais recentemente, antes de chegarem aqui,erraram .ela ran+a e 6s.anha' Bas resol#eram se %iar ao atingir )ranada, .ois asca#ernas ser#iam mara#ilhosamente como casas'  As ca#ernas eram secas e areadas' Algumas tinham o tamanho de um quarto, enquantooutras equi#aliam a #inte quartos se en%ileirando cada #e/ mais %undo na rocha' Besmoalguém tão .ouco militar quanto <onah .odia #er que o lugar seria %acilmente de%endido nocaso de um ataque' Bingo disse que muitas ca#ernas esta#am interligadas .or %issuras ou .assagens naturais, .ro.orcionando meios adicionais de esconderio ou %uga se isso %ossenecess:rio'  A mulher gorducha na ca#erna de Bingo era Bana, sua es.osa' 6 enquanto ela tra/iacomida, o homen/inho contou orgulhosamente a <onah que ele e Bana tinham quatro%ilhos, dois : crescidos e morando %ora'  Bingo sentiu a .ergunta que <onah não te#e coragem de %a/er e sorriu'- 0odos os meus %ilhos são de tamanho normal'<onah andou o dia inteiro entre os romanis' Alguns subiam de um .asto no so.é do morro,onde mantinham ca#alos' <onah dedu/iu que eram criadores e que também negocia#am osanimais'  ;utros iam .ara algum ser#i+o nas .roimidades e outros ainda trabalha#am em mesas na%rente de uma das ca#ernas, consertando #asilhas de co/inha, utens!lios ou %erramentas dascasas e loas de )ranada' <onah contem.lou os metaleiros com .ra/er, a batida dosmartelos lhe tra/endo à memria a o%icina de =el>ias 0oledano'  ;s romanis %oram cordiais e hos.italeiros, aceitando <onah de imediato, .ois #iera comBingo' Eo come+o ao %im do dia, membros da tribo .rocuraram o homen/inho em buscade solu+ão .ara seus .roblemas, .or isso <onah não %icou es.antado quando soube queBingo era o que chama#am de #oi#ode, che%e dos romanis'

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  - 6 quando #oc não est: go#ernando, também trata dos ca#alosou conserta #asilhas como os outros  - ui treinado desde cedo .ara %a/er essas coisas, é claro, mas atérecentemente eu trabalha#a l: embaio - disse ele, a.ontando'- 7a cidade ; que %a/ia l:

- 0rabalha#a no Alhàmbra' 6ra um bobo'- ; que é isso, um bobo-; @0"B; DE6D 11O- Dm comediante na corte do sultão'- ?ério  - ?ério, claro' 6ra o bobo da corte do sultão Moabdil, que go#ernoucomo Buhammad $"", *ltimo cali%a mouro de )ranada'  Assim que a .essoa se acostuma#a ao cor.o irregular, o #oi#ode dos romanis era umhomem de .resen+a' =a#ia dignidade em sua %isionomia, e os homens e mulheres da tribose dirigiam a ele com e#idente res.eito e a%ei+ão' or isso <onah se sentira meioconstrangido ao ou#ir que um sueito tão gentil e inteligente ti#esse %eito .a.el de bobo .ara ganhar o seu .ão'Bingo conseguiu .erceber o mal-estar'  - 6ra um ser#i+o que me agrada#a, .ode acreditar' 6u era bom nacoisa' Binha estatura e meu cor.o mal%eito audaram meu .o#o a .ros .erar, .ois na corte eu %ica#a sabendo com antecedncia de quaisquer  .erigos que os romanis de#essem e#itar ou das o.ortunidades deem.rego que .oderiam surgir .ara eles'- ue ti.o de homem é Moabdil - .erguntou <onah'  - Cruel' oi .ouco amado quando era sultão' &i#e no século errado, .ois o .oderio militar do "slã est: acabado' &indos da F%rica, os mu+ulmanos in#adiram a "béria h: quase oitocentos anos e %i/eram a 6s.anhaisl3mica' ogo a.s, os bascos cristãos lutaram %ebrilmente .ara restaurar sua inde.endncia e os %rancos re.eliram os mouros do nordestees.anhol' 6sse %oi o come+o' elos séculos a%ora, os eércitos cristãos%oram reconquistando a maior .arte da "béria .ara o catolicismo'6le continuouI  - ; sultão mouro de )ranada, BuleJ =acén, recusou-se a .agar tributo aos monarcas catlicos e, em 14U1, lan+ou uma guerra contraos cristãos, a.oderando-se da cidade %orti%icada de ahara' Moabdil,%ilho do sultão BuleJ =acén, te#e uma desa#en+a com o .ai' or algum tem.o, .erseguido .elas %or+as .aternas, buscou asilo na cortedos monarcas catlicos' Bas em 14UO, BuleJ =acén morreu, Moabdil .assou a ocu.ar o trono gra+as ao au!lio de s*ditos leais e''' da! aalguns meses - Bingo concluiu - entrei no Alhambra .ara aud:-lo ago#ernar'- uanto tem.o ser#iu como bobo - <onah .erguntou'  - or quase seis anos' Bas : em 1491 s resta#a uma :rea isl3micaem toda a 6s.anha' 7os *ltimos anos, ernão e "sabel tinham se a.oderado de Ronda, Barbella, oa e B:laga' 7ão .uderam tolerar queMoabdil, o mu+ulmano, .ermanecesse no trono com Bingo Mabar a

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seus .és, di#ertindo-o com conselhos es.ertos' i/eram o cerco a  -11N 7;A= );RE;7)ranada e logo come+amos a e.erimentar dias de %ome até dentro do Alhambra' Algunshabitantes da cidade lutaram bra#amente com suas barrigas #a/ias, mas no %im do ano era

%:cil #er que %uturo nos es.era#a'  embro de uma %ria noite de in#erno quando uma grande lua .rateada brilha#a no .equeno lago dos .eies' ? eu e Moabdil est:#amos na sala do trono'  W6ntão #oc de#e guiar minha #ida, s:bio Bingo' ; que #ou %a/er agoraW, o sultão .erguntou'  WEe#e baiar as armas e con#idar os monarcas catlicos .ara um bom antar, maestade'Ee.ois de#e %icar es.erando no :tio das Burtas .ara cum.riment:-los com eleg3ncia econdu/i-los até o AlhambraW, disse eu'  Moabdil me olhou e sorriu' Wala como um #erdadeiro boboW, disse ele' W7esta hora,quando meu tem.o de go#ernar est: quase no %im, acho que minha maestade é mais .reciosa que rubis' Ao chegar, eles de#em me encontrar sentado na sala do trono como ummonarca' 7estes *ltimos momentos, tenho de me com.ortar com dignidade, como um#erdadeiro cali%a'W  oi o que ele %e/, assinando o tratado de rendi+ão na sala do trono em 2 de aneiro de1492' uando Moabdil %ugiu .ara o e!lio na F%rica, de onde seus ancestrais berberes h:muito tinham #indo, eu e outros, .or uma questão de .rudncia, também abandonamos oAlhambra'  - 6 as coisas mudaram muito em )ranada com os cristãos no .oder - <onah .erguntou'Bingo abanou os ombros'  - As mesquitas #iraram igreas' As .essoas acreditam que s as .reces de suas religies são ou#idas .or Eeus' - 6le sorriu' - Comoisso de#e ser embara+oso .ara o ?enhor 7aquela noite, <onah re.arou que os romanis %a/iam re%ei+es coleti-#as, com os homens eas mulheres em #olta dos %ogos, co/endo ou assando a carne, regando-a com molhossaborosos e enchendo de aromas o ar' Comiam bem e os odres que .assa#am de mão emmão continham gostosos #inhos almiscarados' uando a re%ei+ão termina#a, eram tra/idosinstrumentos das ca#ernasI tambores, guitarras, c!taras, #iolas, ala*des' ?eriam tocados .ara .rodu/ir uma m*sica sel#agem, um som que <onah desconhecia, assim como desconheciaa liberdade e gra+a sensual com que os romanis dan+a#am' Ee re.ente, ele e.erimentouuma onda de %elicidade .or estar no#amente na com.anhia de homens e mulheres'

; D0"B; DE6D 11Q  ;s romanis usa#am rou.as de cores brilhantes e eram bem-a.essoados' 0inham .elesmorenas, com belos olhos negros e cabelos negros e cres.os' <onah sentiu-se %ascinado .or aquela estranha gente da tribo, gente que .arecia ca.a/ de descobrir e saborear os .ra/eresmais sim.les do mundo'<onah agradeceu a Bingo a ami/ade, a hos.italidade'  - ( uma gente boa, sem medo de gade, que é como ns chamamosos estranhos - disse Bingo' - 6u mesmo sou um gade, não nasci natribo' Re.arou como minha a.arncia é di%erente da deles

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  <onah balan+ou a cabe+a' Ambos sabiam que Bingo não esta#a se re%erindo à altura' Dm .ouco do cabelo que ca!a na testa larga %icara grisalho, .ois ele não era um homem o#em,mas a maior .arte das mechas eram quase amarelas, muito mais claras que o cabelo dosoutros romanis' ;s olhos tinham um a/ul muito brilhante'  - ui doado à tribo na é.oca em que acam.aram .erto de Reims'

Dm ca#alheiro se a.roimou deles com uma crian+a que tinha nascidocom bra+os com.ridos e .ernas curtas' ; estranho deu aos ciganosuma gorda bolsa de dinheiro .ara que me criassem'  0i#e muita sorte, Bingo continuou' Como #oc sabe, as .essoas costumam estrangular o recém-nascido que sai de%ormado' Bas os romanis honraram o negcio' 6 nuncaesconderam os detalhes de minha origem' Ee %ato, sem.re re.etem que sou inega#elmentede alta linhagem, tal#e/ mesmo da linhagem real %rancesa' ; homem que me entregouusa#a rou.as caras, tinha armadura e armas, além de um modo aristocr:tico de %alar'  <onah achou que o homen/inho .ossu!a realmente uma %isionomia com tra+os nobres'- 7unca .ensou no que .erdeu  - 7unca - disse Bingo' - ( #erdade que eu .odia ter sido, quemsabe, algum barão ou duque, mas também é #erdade que .odia ter sidoestrangulado ao nascer' - ;s bonitos olhos a/uis esta#am sérios' - 7ãocontinuei sendo um gade' Absor#i a alma dos romanis' 6la entrou nomeu cor.o com o leite da mulher que se tornou minha mãe' 0odos aquisão meus .arentes' 6u morreria .ara de%ender meus irmãos e irmãsromanis, assim como eles morreriam .or mim'i onah %oi %icando dia a.s dia com a tribo, imerso no calor do com.anheirismo das .essoas, embora dormisse so/inho numa ca#erna #a/ia'

=U 7;A= );RE;7  ara retribuir a hos.italidade, come+ou a trabalhar com o gru.o que conserta#a #asilhas'uando <onah era crian+a, o .ai tinha .acientemente lhe ensinado o b:sico do trabalhocom metais e os romanis gostaram muito de a.render certas técnicas de =el>ias .ara %iar ometal com soldas e%ica/es e resistentes' <onah também a.rendeu muita coisa dos artesãosciganos, obser#ando técnicas que, h: centenas de anos, #inham .assando de .ai .ara %ilho'  Dma noite, a.s se di#ertir com a dan+a e a m*sica, <onah .egou a guitarra e come+ou atocar' =: mais de trs anos não %a/ia aquilo e, de in!cio, hesitou um .ouco, mas logo seusdedos recu.eraram a antiga habilidade' 0ocou as melodias do .iJJutim, os salmos cantadosda sinagogaI <ot/er, na .rimeira bn+ão antes do shem: matinal5 ulat, cantado a.s oshem:5 o Xero#ah, acom.anhando as .rimeiras trs bn+ãos da amid:5 .or %im aim.ressionante ?elihah, cantada como ato contrito no <om Xi..ur'  uando <onah acabou, Bana tocou a%etuosamente em seu bra+o enquanto as .essoas sedirigiam .ara suas habita+es' 6le também #iu que os olhos .rudentes e sérios de Bingo oeamina#am'  - ?ão melodias hebraicas, não são - disse Bingo' - 0ocadas comtriste/a'-?im'  ?em re#elar que não era um con#ertido, <onah %alou de sua %am!lia e da sorte terr!#el do .ai =el>ias e do irmão Beir'  - A #ida é gloriosa - disse %inalmente Bingo -, mas a soma do quenela se .assa .ode ser cruel'

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<onah assentiu'  - 6u gostaria muito de recu.erar o relic:rio de meu .ai das mãosde quem o roubou'  - As chances de conseguir ach:-lo são muito .equenas, meu amigo' elo que me contou, o trabalho é *nico' Dma #erdadeira obra de

arte' 7ão seria %:cil #ender um obeto desses em Castela, onde as .essoas tm conhecimento do roubo' ?e ele %oi negociado, a coisa %oi %eita .ara tir:-lo da 6s.anha'- uem meeria com isso  - ( um ti.o de roubo muito es.eciali/ado' =: anos tenho ou#ido%alar que na 6s.anha eistem dois gru.os que com.ram e #endem rel!quias roubadas ou coisas do género' Dm atua no norte e não tenho onome de ninguém .or l:' ; outro est: nesta .arte do sul e é comandado .or um homem que se chama Anselmo a#era'- ;nde .osso encontrar esse a#era- 7ão tenho a menor ideia - disse Bingo, balan+ando gra#emente-; @0"B; DE6D 119a cabe+a' - 6 se soubesse, hesitaria em lhe di/er, .ois a#era é um sueito muito ruim'6le se inclinou .ara a %rente e encarou <onah'  - &oc também de#e dar gra+as a Eeus .or não ter sido estrangulado ao nascer' rocure esquecer a dure/a do .assado e cuide do %uturo'6s.ero que tenha uma noite re.ousante, meu amigo'Bingo .resumia que ele %osse um con#ertido'  - ;s romanis também .ertencem a uma religião .ré-cristã - con%idenciou -, uma %é que cultua os a.stolos da lu/ que lutam contra osa.stolos das tre#as' Bas achamos mais %:cil re/ar .ara o deus do .a!sonde nos encontramos' or isso nos con#ertemos ao cristianismoquando chegamos à 6uro.a' ara di/er a #erdade, quando atingimos oterritrio dos mouros, a maioria de ns também se tornou mu+ulmana'  0inha medo de que <onah não %osse ca.a/ de se de%ender de um ataque'  - ?ua enada quebrada é''' uma enada quebrada' recisa a.render a lutar com uma arma de homem' &ou lhe ensinar a usar uma %aca'  Assim as li+es come+aram' Bingo %e/ .ouco caso do .unhal tosco que ele ganhara deernando Rui/ ao se tornar .astor'- Dse isto - disse Bingo, entregando-lhe uma %aca de a+o mourisco'Bostrou a <onah como segurar a %aca com a .alma da mão 8nãocom o n dos dedos .ara cima' ; obeti#o era conseguir gol.ear com um im.ulsoascendente, ca.a/ de rasgar' 6 ensinou-lhe a reagir com ra.ide/, sem dar tem.o de oad#ers:rio calcular de onde o .rimo gol.e .oderia #ir'  0ambém ensinou como <onah de#ia %icar atento aos olhos e ao cor.o do o.onente, .oisassim .oderia .erceber cada menor ind!cio de mo#imento' <onah de#ia ser como um %elinosel#agem, não abrindo as de%esas nem dando es.a+os .ara o inimigo esca.ar' <onah achouque Bingo lhe ensina#a com a insistncia e a intensidade de um rabino transmitindo aescritura a uma crian+a muito #ocacionada, um ilui' 6le a.rendeu muito de.ressa, sem.rere#erente ao .equeno mestre de cor.o estranhamente %ormado' 6m .ouco tem.o :come+ara a .ensar e agir como um .erito na %aca'

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; #!nculo que se criou entre os dois .arecia #ir de anos de ami/ade, não de um contato detão .oucos meses'  Bingo recebera um recado .ara com.arecer ao Alhambra, onde um no#o administrador .alaciano, um cristão chamado dom Ramn Rodr!gue/, queria con#ersar com ele' 

12G 7;A= )GREG7  - )ostaria de conhecer o Alhambra .or dentro - .erguntou a<onah'- ?im, gostaria muito, senorl  Assim, na manhã seguinte, desceram untos do ?acromonteI um ra.a/ alto, musculoso, de .ernas com.ridas demais e .eso ele#ado demais .ara conceder algum con%orto ao .obre burro, e um homem diminuto, mas em.oleirado 8como rã no lombo de um cachorro emes.lndido garanhão cin/a' 7o caminho, Bingo contou a <onah a histria do Alhambra'  - Buhammad ", que chama#am de Al Ahmar ibn 7asir .orquetinha cabelo rui#o, construiu aqui, no século $""", o .rimeiro .al:cio-%ortale/a' Dm século mais tarde, o :tio das Burtas %oi constru!do .or <usu% "' ;s cali%as que o sucederam e.andiram a cidadela e o .al:cio'; :tio dos ees %oi constru!do .or Buhammad & e a 0orre das"n%antas %oi acrescentada .or Buhammad &""'Bingo dete#e as montarias quando atingiram o alto muro rosado'  - 0re/e torres se erguem a .artir do muro' 6ste é o ortão dausti+a - disse ele a.ontando .ara a mão e a cha#e gra#adas nos doisarcos do .ortão' - ;s cinco dedos re.resentam a obriga+ão de re/ar  .ara Al: cinco #e/es .or diaI ao amanhecer, ao meio-dia, à tarde, aoanoitecer e à noite'  - &oc sabe muita coisa sobre a %é mu+ulmana - comentou <onahe Bingo sorriu, mas não res.ondeu'uando atra#essaram o .ortão, alguém reconheceu Bingo e o saudou, mas ninguém maislhes deu aten+ão' A %ortale/a tinha a ati#idade de uma colmeia, com #:rios milhares de .essoas em.enhadas em manter a bele/a e cuidar das de%esas de seus cator/e hectares'Ee.ois de deiarem o ca#alo e o burro nos est:bulos, Bingo seguiu a .é com <onah .elaalameda com.rida, cercada de .arreiras, que cru/a#a os #astos dom!nios reais'  <onah esta#a sem %`lego' ; Alhambra era mais etasiante do que quando #isto de longe'Dma euber3ncia a.arentemente intermin:#el de torres, arcos, c*.ulas' 0udo %artamentecolorido e ornamentado com rendas de gesso, abbadas trabalhadas como %a#os de mel,mosaicos brilhantes, delicados arabescos' 7os .:tios e corredores internos, rele#osimitando %olhagens, .intados de #ermelho, a/ul ou dourado, cobriam as .aredes e os tetos';s .isos eram de m:rmore, e %ileiras de a/uleos amarelos e #erdes re#estiam a .artein%erior das .aredes' 7os .:tios e ardins internos ha#ia %lores, %ontes orrando, rouiniscantando nas :r#ores' ; @0"B; DE6D 121  Bingo mostrou que, de algumas anelas, tinha-se bonitas #istas do ?acromonte e dasca#ernas dos romanis, enquanto outras re#ela#am a garganta arbori/ada onde a :gua corria'  - ;s mouros sabem lidar com a :gua - disse Bingo' - "nterce.taram o rio Earro a oito quilmetros daqui, no alto das montanhas, e o

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dirigiram .ara o .al:cio .or meio de drenos, etremamente bem concebidos, que enchem os lagos, as %ontes e %ornecem :gua corrente acada dormitrio' - 6le tradu/iu uma senten+a :rabe numa das .aredesI- uem chega até mim torturado .ela sede encontrar: :gua clara e%resca, saborosa e sem mistura'

  ;s .assos dos dois ecoaram na ?ala dos 6mbaiadores, onde o sultão Moabdil assinara ostermos da rendi+ão ante ernão e "sabel' ; trono de Moabdil ainda esta#a l:' Bingomostrou a <onah um salão de banho, os Manos Frabes'  - 6ra neste salão que o harém se des.ia, relaa#a e se banha#a,enquanto o sultão obser#a#a tudo de um balcão l: no alto, de ondeescolhia uma .arceira .ara seu leito' ?e Moabdil ainda reinasse, ambosseriam mortos .or ter entrado ali' ; .ai do sultão eecutou de/esseismembros da %am!lia Abencerrae e em.ilhou as cabe+as na %onte doharém .orque o che%e do clã tinha bulido com uma das es.osas'6nquanto Bingo se entre#ista#a com o administrador, <onah %icou sentado num banco,ou#indo o barulho das %ontes' ; homen/inho não demorou muito' 7a sa!da, caminhandocom <onah .ara .egar os animais no est:bulo, Bingo disse que a rainha "sabel e o reiernão, untamente com a corte, iam morar no Alhambra'  - 7os *ltimos anos eles #m se queiando da melancolia da corte'; mordomo real in#estigou e descobriu que sou cristão .raticante' or isso %ui con#ocado .ara #oltar ao .al:cio Alhambra' uerem que eusir#a como bu%ão aos monarcas conquistadores'- 6 esse con#ite lhe agrada  - Be agrada que membros do .o#o romani #oltem ao Alhambracomo criados .essoais, ardineiros e .ees' uanto a ser um bobo''' (di%!cil %a/er ccegas na cabe+a de monarcas' ( .reciso dan+ar numalinha %ina como l3mina de es.ada' 6s.era-se que um bobo mostre umcerto atre#imento, um certo arroo .ara chegar inclusi#e às in*rias que .ro#ocam o riso' Bas a in*ria tem de ser es.erta e macia' Bantenha oequil!brio certo e #ão lhe %a/er %esta e gostar de #oc' Bas não ultra .asse a linha' Ees.erte a %*ria real e ser: es.ancado, tal#e/ morto'6le deu um eem.lo'

122 7;A=);RE;7  - ; cali%a #i#ia assombrado .elo sentimento de cul.a .orquequando seu .ai, BuleJ =acén, morreu, os dois eram inimigos de sangue' Dm dia, Moabdil ou#iu-me %alar de um %ilho ingrato e .resumiuque eu esta#a me re%erindo a ele' ?acou %urioso a es.ada e a.roimoua .onta do meio das minhas .ernas' Ca! no chão, mas a .onta da es.ada me seguiu'  W7ão me .ique, senhorW, eu gritei' WBais um corte e não sobraria nada de minha .equena .ica, o que é uma .ena, .ois ela é de grande estima+ão, sem.re coberta de mimo e car!cias,contente com as coisas como elas são' Ah, os lugares em que este .au/inho este#e, as#ises que te#eW  W7a #erdade, o seu cor.o inteiro é um caralhinho idiotaW, rosnou Moabdil' A es.ada docali%a continua#a a.ertada contra mim, mas de re.ente ela come+ou a tremer, de.ois a sesacudir numa gargalhada e .ercebi que tinha esca.ado'

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Bingo #iu a cara de <onah e sorriu'  - 7ão tema .or mim, meu amigo - disse' - ( .reciso trabalho esabedoria .ara ser um bu%ão, mas sou o rei dos bobos' - "nclinou-se .ara <onah' - 7a realidade, minha .ica não é de eito nenhum umacoisinha .equena5 sou mais bem-dotado que Moabdil'

  0ornando a montar, .assaram .elos %eitores mouros que esta#am coordenando aconstru+ão de uma ala do .al:cio'  - ;s mouros não acreditam que um dia tenham de sair da 6s.anha,assim como os udeus s acreditaram quando aconteceu - disse Bingo'- Bas #ir: o dia em que também os mouros receberão ordem de .artir';s cristãos tm longas memrias dos muitos catlicos que morreramlutando contra o "slã' ;s mouros cometeram o erro de brandir as es.adas contra os cristãos, assim como os udeus, como .:ssaros #oandocada #e/ mais alto até serem queimados .elo sol, cometeram o erro deaceitar #i#er sob o .oder dos cristãos'uando <onah %icou em silncio, Bingo o encarou'- =: udeus em )ranada - disse'- udeus que se tornaram cristãos'  - Con#ertidos como #oc, é e#idente - disse Bingo, irritado' - ?equer %a/er contato com eles, #: até o mercado, até os .ontos dos #endedores de seda'  -_ CA0D; 19"7(? E67"A<onah #inha e#itando os con#ertidos, .ois não #ia ra/ão alguma .ara associar-se a eles'Contudo, ansia#a .ro%undamente .or manter algum contato com udeus e acha#a que não%aria mal dar uma olhada nos que, um dia, tinham res.eitado o ?habat, embora agora oignorassem'  7uma manhã tranquila, le#ou Boisés .ara a agita+ão da cidade' Bingo lhe contara que omercado de )ranada tinha renascido com a onda de restaura+es e am.lia+es noAlhambra' 6ra um grande ba/ar e <onah gostou de condu/ir o burro .or ele, obser#ando astabuletas, des%rutando os cheiros e os ru!dos, .assando .or barracas que o%ereciam .ães, bolos, enormes .eies sem cabe+a e .eiinhos %rescos, de olhos brilhantes, leites inteirosou s os .ernis, .artes e cabe+as de gordos .or+es de olhar es.antado, cabritos e carneiroscrus ou co/idos, sacos com tu%os de lã, todo ti.o de a#es, com grandes .:ssaros .endurados .ara que as caudas coloridas enchessem os olhos e atra!ssem o com.rador5 e maisdamascos, ameias, romãs rosadas, meles maduros'''=a#ia dois #endedores de seda'  7uma das barracas, um sueito de e.ressão mal-humorada mostra#a rolos de %a/enda adois homens que eamina#am o .ano com a% indeciso'  6m outra, um homem com um turbante negocia#a com meia d*/ia de com.radores maisdis.ostos, mas %oi outro rosto que ca.tou a aten+ão de <onah' unto a uma mesa, ha#ia umamo+a em .é' 6la ia cortando a seda que um garoto desenrola#a de uma bobina' Certamente<onah : #ira rostos mais atraentes e agrad:#eis, mas não conseguia lembrar quando ouonde isso .odia ter acontecido'  ; homem de turbante esta#a e.licando que a di%eren+a entre as sedas se de#ia à nature/adas %olhas comidas .elas lar#as'

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  - A %olha comida .elo bicho na região que .rodu/ esta .reciosaseda .ro.orciona um brilho mais sutil ao %io' 6ntende como é Con%ereao tecido acabado os mais delicados lam.eos de ouro'- Bas, "saac, é tão caro - di/ia o %regus'-

124 7;A=);RE;7  - 0em o seu .re+o - o negociante admitiu' - Bas entenda que é um .ano raro, criado .or lar#as humildes e .or teceles aben+oados .or Eeus'  <onah nem esta#a ou#indo' Continua#a im#el, .aralisado, tentando desa.arecer atr:sdas .essoas que .assa#am e a.reciando a mo+a' 6ra o#em, mas mulher madura, de .ostura%irme' ; cor.o era esguio, mas também arredondado e %orte' 0inha um cabelo #asto,com.rido e solto, da cor do bron/e' ;s olhos não eram .retos5 ele achou que também nãoseriam a/uis, embora não ti#esse conseguido atinar com o tom eato' ; rosto, absor#ido notrabalho, %ora escurecido .elo sol, mas quando ela mediu a seda usando a dist3ncia entre ocoto#elo e os ns do .unho %echado, a manga do #estido correu .elo bra+o e <onah re.arouque, onde o cor.o %icara .rotegido, a .ele era mais clara que o tecido mais branco'  A mo+a ergueu os olhos e #iu que esta#a sendo obser#ada' or um instante, muito bre#e,os olhos dos dois %i/eram um contato im.re#isto' ogo, .orém, ela se #irou e, com umae.ressão incrédula, <onah obser#ou o delicioso contorno do seu .esco+o'6ntre grasnidos, cacareos e o mau cheiro de .enas e titica de galinha, <onah %oi in%ormado .or um barraqueiro de a#es que o #endedor de seda usando o turbante se chama#a "saac?aadi'  <onah %lutuou um bom tem.o nos arredores da barraca de seda' ? alguns .oucoscom.ra#am, mas as .essoas gosta#am de olhar e encostar a mão no tecido' or %im, todosos .otenciais com.radores %oram embora e ele se a.roimou'  Como se dirigir ao homem <onah decidiu usar uma %rmula culturalmente amb!gua'- A .a/ estea con#osco, senor ?aadi'?aadi res.ondeu de modo am:#el àquele tom res.eitosoI- ue estea con#osco a .a/, senr'  Atr:s do homem 8certamente o .ai, a mo+a esta#a atra.alhada com os rolos de seda enem olha#a .ara eles'  <onah .ercebeu instinti#amente que não era hora de ocultar a identidade'  - 6u me chamo <onah 0oledano' ?er: que não .odia me indicar aquem estea o%erecendo em.rego  ; senor ?aadi %ran/iu a testa e olhou descon%iado .ara <onah' ;bser#ou a rou.a de .obre, o osso quebrado do nari/, o cabelo e a barba em desalinho' ; D0"B; DE6D 12O  - 7ão conhe+o ninguém que estea .recisando de em.regado'Como sabia o meu nome  - erguntei ao barraqueiro das a#es' 0enho em grande estima osnegociantes de seda' - 6le sorriu ligeiramente ante aquela tolice' - 6m0oledo, o negociante de seda adoq de aternina era amigo !ntimo demeu .ai, =el>ias 0oledano, que descanse em .a/' 0em rela+es comadoq de aternina

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- 7ão, mas o conhe+o de nome' Como #ai ele<onah abanou os ombros'- 6st: entre os que .artiram da 6s.anha' W- ?eu .ai era um homem de negcios

  - Beu .ai era um grande ouri#es' "n%eli/mente %oi morto duranteum''' contratem.o'  - Ah, ah''' ue descanse em .a/' - ; senor ?aadi sus.irou' 6ra .rinc!.io in#iol:#el do mundo onde ambos tinham sido criados que,quando um %orasteiro udeu se a.roima, alguém lhe de#e o%erecer hos.italidade' ?em d*#ida, no entanto, "saac .resumia que <onah tam bém %osse con#ertido' Além disso, em é.ocas como aquela, o estranhoque um homem con#idasse .ara ir à sua casa .odia .er%eitamente ser in%ormante da "nquisi+ão'  Eeseo-lhe boa sorte, disse ?aadi meio constrangido' &: com Eeus'  - 6 boa sorte também .ara o senhor' - <onah se #irou, mas, antesque ti#esse a#an+ado dois .assos, o negociante esta#a a seu lado'- 0em onde %icar- ?im, tenho um lugar .ara dormir'"saac ?aadi abanou a cabe+a'  - &enha sentar-se à minha mesa .ara um antar' - <onah .`deou#ir as .ala#ras não-ditasI a%inal ele era alguém que conhecia adoqde aternina' - 7a seta-%eira, bem antes do .`r-do-sol'  Agora a mo+a tinha le#antado a cabe+a do rolo de seda e <onah .`de #er que esta#asorrindo'6le remendou sua rou.a, %oi até um crrego e es%regou-a' Ee.ois la#ou o cor.o, o rosto e a barba com igual #igor' Bana a.arou-lhe o cabelo e a barba, enquanto Bingo, que come+arade no#o a .assar .arte do dia entre os es.lendores do Alhambra, acom.anha#a os .re.arati#os com grande deleite'  - 0udo isto .ara antar com um negociante de tra.os - o homen/inho /omba#a' - 7em .ara antar com a reale/a eu %aria esse es.a-"ha%ato 12N 7;A=);RE;7  6m outra situa+ão, <onah le#aria uma o%erenda de #inho >osher' 7a tarde de seta-%eira,ele %oi ao mercado' 7ão esta#a na é.oca das u#as, mas com.rou belas t3maras, doces deseu .r.rio néctar'  0al#e/ a mo+a nem esti#esse l:' 0al#e/W%osse em.regada da loinha e não %ilha donegociante, <onah di/ia a si mesmo enquanto seguia as instru+es do senor ?aadi sobrecomo chegar à casa dele' 7ão .assa#a de uma .equena casa no Albaicin, o #elho bairro:rabe que %ora abandonado .elos que tinham %ugido a.s a derrota dos mouros .elosmonarcas catlicos' <onah %oi cautelosamente recebido .or ?aadi, que e.ressou umagratidão %ormal ao aceitar o .resente das t3maras'  A mo+a esta#a l: e era %ilha dele5 chama#a-se "nés' ?ua mãe era ulai>a Eenia, umamulher magra, silenciosa, de olhos t!midos' A irmã mais #elha, quase gorda, com seios .esados, era eli.a' Dma crian+a, uma bela menina de seis anos, era Adriana, %ilha de

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eli.a' ?aadi disse que oaquim Chacon, marido de eli.a, esta#a #iaando, negociando .artidas de seda nos .ortos do sul';s quatro adultos olharam ner#osos .ara ele' ? a menininha sorria'  ulai>a ser#iu as t3maras aos dois homens e %oi acabar de .re.arar a re%ei+ão com as%ilhas'

  - ?eu .ai, que Eeus o tenha''' &oc disse que ele era ouri#es - .erguntou "saac ?aadi, cus.indo caro+os de t3maras na .alma da mão'- ?im, senor'- 6m 0oledo, %oi o que disse-?im'  - Bas est: .rocurando em.rego' 7ão %icou com a o%icina de seu .ai quando ele morreu  - 7ão - disse <onah' 6le não a.ro%undou, mas ?aadi não hesitouem %a/er as .erguntas'- ; negcio não esta#a indo bem, tal#e/  - Beu .ai era um ecelente ouri#es, muito .rocurado' ?eu nomeera bem conhecido no ramo'-Ah'  Antes da escuridão cair, ulai>a Eenia so.rou as brasas mantidas num reci.iente de metale .`s %ogo numa lasca de madeira que usou .ara acender trs lam.arinas' Ee.ois acendeu#elas no cmodo #i/inho' As #elas do ?habat uem sabe ulai>a Eenia esta#a de costas .ara <onah, que não ou#iu nenhuma .rece' A .rinc!.io não soube se ela esta#a reno#ando aalian+a ou su.lementando a ilumina+ão, mas de.ois #iu o quase im.erce.t!#el balan+o'A mulher re/a#a diante dos c!rios do ?habat

; @0"B; DE6D 12Q  ?aadi re.arou que ele obser#a#a' 6sta#a tenso o rosto magro, anguloso do an%itrião' ;sdois se sentaram e con#ersaram .ouco à #ontade' 6nquanto o aroma das #erduras co/idas edos molhos da galinha enchiam a .equena casa, os cmodos escureceram um .ouco mais eas lam.arinas e as #elas se destacaram' ogo "saac ?aadi le#a#a <onah .ara a mesa,enquanto "nés tra/ia .ão e #inho'  uando se instalaram, %icou e#idente .ara <onah que seu an%itrião ainda esta#a inquieto'  - Eeiemos nosso hs.ede e no#o amigo %a/er a in#oca+ão - disse astuciosamente ?aadi, .assando a res.onsabilidade a <onah'  <onah sabia que, se ?aadi %osse um cristão sincero, .odia querer agradecer a esus .eloque iam comer' A rea+ão segura, a rea+ão que <onah .retendia ter, era sim.lesmente dargra+as a Eeus .ela comida' 6m #e/ disso, quando abriu a boca, tomou quasein#oluntariamente outro caminho, res.ondendo à mulher que não soubera dis%ar+ar com .er%ei+ão suas ora+es' 6rguendo o co.o de #inho, <onah come+ou a cantar em #igorosohebraico, saudando o ?habat, soberano dos dias, e agradecendo a Eeus .elos %rutos da#ideira'  6nquanto os outros adultos sentados à mesa %ita#am-no em silncio, ele tomou um goledo #inho e .assou o .ão a ?aadi' ; homem mais #elho hesitou, de.ois tirou um .eda+o do .ão e come+ou a cantar seu agradecimento .elos %rutos da terra'  As .ala#ras e melodias soltaram a memria de <onah, tra/endo so%rimento .araacom.anhar seu .ra/er' 7ão %oi Eeus quem ele e#ocou em sua no#a .rece, mas os .ais, osirmãos, o tio e a tia, os amigos - os que se %oram'

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  uando as bn+ãos terminaram, s eli.a .arecia desgostosa, irritada com algo que a%ilha .erguntara num sussurro' A %isionomia de "saac ?aadi esta#a cautelosa e triste, masrelaada, e ha#ia l:grimas nos olhos de ulai>a' <onah #iu "nés contem.l:-lo com interessee curiosidade'  ?aadi tomara uma decisão' `s uma lam.arina na %rente da anela e as trs mulheres

ser#iram a comida com que <onah sonha#aI a tenra galinha enso.ada e legumes, um .udimde arro/ com .assas e a+a%rão, romãs .re.aradas no #inho' Antes de a re%ei+ão terminar, a .rimeira .essoa chamada .ela lu/ na anela : tinha chegado' 6ra um homem alto, bonitão,com uma marca #ermelha 8que .arecia uma amora amassada no .esco+o, logo abaio doqueio'  - 6ste é nosso bom #i/inho, Bicah Men/aquen - ?aadi disse a<onah' - 6 este o#em é <onah ben =el>ias 0oledano, um amigo de0oledo' 12U 7;A=);RE;7Men/aquen disse a <onah que ele era bem-#indo'  ouco de.ois entrou um casal que %oi a.resentado a <onah como ineas ben ?agan e suaes.osa, ?ancha ortal' 6m seguida %oi a #e/ de Abram Bontel#an com a es.osa, eonaatras' 6 mais dois homens, 7achman Redondo e edro ?errano' A .orta se abria maisseguidamente agora, até ha#er mais no#e homens e seis mulheres amontoados na .equenacasa' <onah re.arou que todos usa#am rou.as de trabalho .ara não chamar aten+ão#estindo-se %ormalmente no ?habat udeu'?aadi a.resentou-o a todos como um amigo de #isita'  Dm dos %ilhos do #i/inho esta#a .ostado do lado de %ora como #igia, enquanto no interior da casa as .essoas : tinham come+ado a re/ar como udeus'  7ão ha#ia 0ora5 Bicah Men/aquen inicia#a as .reces de cor e os outros, ao mesmo tem.oreceosos e ealtados, unta#am-se a ele' As .reces eram %eitas .raticamente em sussurro, .ara que o som da liturgia não esca.asse da casa e os denunciasse' Recitaram as de/oito bn+ãos do shem:' Ee.ois, numa .ro%usão de melodias, cantaram hinos, ora+es e otradicional c3ntico sem .ala#ras conhecido como nigun'  A com.anhia dos outros, a e.erincia de re/ar em gru.o, que : ha#iam sido coisas tãocomuns na #ida de <onah e esta#am agora .roscritas, ti#eram um .ro%undo e%eito sobre ele'ogo, .orém, as .reces se encerra#am' As .essoas se abra+aram e trocaram, em murm*rios,#otos de um %eli/ ?habat, #otos que inclu!am o %orasteiro que lhes %ora a.resentado .or"saac ?aadi'  - 7a .rima semana é em minha casa - Bicah Men/aquen sussur rou .ara <onah, que abanou satis%eito a cabe+a'  "saac ?aadi estragou o momento' 6nquanto as .essoas sa!am discretamente da casa, umaou duas de cada #e/, ele encarou <onah e disse sorrindoI- 7ão #ai querer nos acom.anhar à igrea domingo de manhã- 7ão, não .osso'  - 6ntão tal#e/ no outro domingo' - ?aadi continuou encarando<onah' - ( im.ortante' 0odos ns estamos sendo #igiados, entendeisso, não éEurante #:rios dias, <onah não tirou os olhos do .onto do #endedor de seda' 6 "saac ?aadi .areceu demorar muito tem.o .ara deiar a %ilha so/inha na barraca'<onah se a.roimou como .or acaso'

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- Mom-dia, senorita'- Mom-dia, senor' Beu .ai não est:'''

0

; @0"B; DE6D 129  - Ah, sim, estou #endo' 7ão im.orta' ? .arei .ara agradecer no#amente .ela hos.italidade de sua %am!lia' ode transmitir a seu .aiminha gratidão  - ?im, senor - disse ela' - 7s''' ; senhor %oi etremamente bem-#indo à nossa casa' - 6sta#a %icando muito #ermelha, tal#e/ .orque<onah ti#esse cra#ado os olhos nela desde o momento em que se a.roimara da barraca' 6ra uma mo+a de olhos grandes, nari/ reto, osl:bios não muito cheios, mas bastante re#eladores de suas emo+es,sens!#eis nos cantos' <onah ti#era medo de olh:-la .or muito tem.o nacasa do .ai5 não queria que a %am!lia se sentisse o%endida' 7a .equenacasa, sob a lu/ das lam.arinas, achara que seus olhos eram castanhos'Contem.lando-os agora, à lu/ do dia, .areciam a/uis, mas tal#e/ %ossea.enas um e%eito das sombras na barraca'- ;brigado, sehorita'- or nada, senor 0oledano' 7a seta-%eira seguinte, ele tornou a .artici.ar dos ser#i+os do ?habat com o .equenogru.o de con#ertidos, desta #e/ na casa de Bicah Men/aquen' 6 continuou roubandoolhares de "nés Eenia, que esta#a entre as mulheres' Besmo sentada, seu .orte eraes.lndido' 6 como era atraente o rosto  7o correr da semana, continuou a %requentar o mercado .ara obser#:-la de longe, massabia que teria de .arar com essa atitude %urti#a' Alguns comerciantes : come+a#am aolh:-lo com dure/a, tal#e/ achando que esti#esse .laneando roubar alguma coisa'  Dm dia %oi ao mercado no %inal da tarde, não de manhã e, .or sorte, chegou a tem.o de#er eli.a substituindo a irmã na barraca de tecidos' "nés, que queria com.rar mantimentos,come+ou a atra#essar o mercado com a .equena sobrinha Adriana' <onah, então, organi/ouseus .assos de modo a encontr:-la'- ;l:, senorital  - ;l:, senor' - A boca sens!#el re#elou um sorriso caloroso'0rocaram algumas .ala#ras e <onah %icou rodando .or .erto enquantoela com.ra#a lentilhas, arro/, .assas, t3maras e romãs' Ee.ois acom .anhou-a até outra quitanda, onde ela com.rou dois re.olhos' : então,a bolsa esta#a .esada'- ermita, .or %a#or'- 7ão, não'''- ?im, é claro - ele insistiu de bom humor'-1VG 7;A=);RE;7  <onah le#ou a sacola carregada até a casa de "nés' oram con#ersando todo o caminho,mas de.ois <onah não conseguiu se lembrar do que %alaram' 6le se sentira muito bemacom.anhando a mo+a'

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Agora que sabia qual era a melhor hora .ara ir até o mercado, seria mais %:cil arranar ascoisas' Eois dias mais tarde, #iu-a de no#o andando com a crian+a'  ogo esta#a se encontrando regularmente com "nés e a .equena sobrinha'  - Moa-tarde - di/ia com ar sério cada #e/ que a #ia e "nés res.ondia no mesmo tom'

- Moa-tarde, sehor'A.s alguns desses encontros, a .equena Adriana .assou a gostar dele' Chama#a-o .elonome e corria .ara abra+:-lo'  <onah achou que "nés esta#a interessada' ica#a atordoado com a inteligncia que #ia emseu rosto e .ela timide/ do seu charme' ica#a atormentado .ressentindo o cor.o o#emdentro da rou.a modesta' Dma tarde, caminharam até a la/a BaJor, onde um m*sicoambulante, encostado num muro de .edra, toca#a no sol uma gaita de %oles'  <onah come+ou balan+ando o cor.o ao ritmo da m*sica e, de re.ente, esta#a se meendocomo #ira os romanis %a/er, sentindo-se ca.a/ de di/er coisas com os ombros, com acintura, com os .és, assim como %a/iam os ciganos' Coisas que nunca tinha dito antes'?ur.resa, "nés o contem.la#a com um meio sorriso mas, quando ele estendeu a mão, elanão a .egou' <onah imaginou que se a o#em sobrinha não esti#esse ali, se os doisesti#essem so/inhos e não em .ra+a .*blica, se'''  6le .egou Adriana, e a menininha da#a gritinhos de satis%a+ão enquanto roda#am eroda#am'  Bais tarde, sentaram-se não muito longe do m*sico e con#ersaram enquanto Adriana brinca#a com uma .edrinha #ermelha e lisa' "nés contou que nascera em Badri, onde h:cinco anos sua %am!lia se con#ertera ao catolicismo'  7unca esti#era em 0oledo' uando <onah disse que os seus tinham morrido ou .artido da6s.anha, os olhos de "nés se encheram de l:grimas, a mão tocou-lhe o bra+o' oi a *nica#e/ que ela o tocou' <onah %icou im#el, mas logo ela tirou a mão' 7a tarde seguinte, como era agora seu costume, <onah %oi até o mercado e, enquantoes.era#a eli.a liberar "nés da loinha de seda, caminhou entre as barracas' Bas quando .assou .elo balcão das a#es, #iu que ulai>a Eenia esta#a l:, con#ersando com o barraqueiro' ;

; @0"B; DE6D 1V1homem deu uma es.iada em <onah e disse alguma coisa a ulai>a' 6ntão a mãe de "nés se#irou e olhou duramente .ara <onah, como se eles não se conhecessem' 6la %e/ uma .ergunta ao homem das a#es e, de.ois do que ou#iu, #irou-se de no#o e %oi direto .ara a barraca do marido, "saac ?aadi'  uase de imediato rea.areceu' Eesta #e/, a %ilha esta#a com ela e <onah .ercebeu a#erdade que andara a.enas tateando ao se concentrar no modo orgulhoso como "nésmantinha o cor.o, no mistério dos olhos grandes, no encanto da boca que reagia a tudoIsim, ela era muito bonita  <onah obser#ou-as caminhar ra.idamente .ara a sa!da, a mãe agarrando o bra+o da %ilhacomo um algua/il condu/indo um .risioneiro .ara a cela' 7ão acredita#a que "nés ti#esse mencionado os encontros à %am!lia' ?em.re que aacom.anha#a, ela .edia de #olta a saca de com.ras antes de .oderem #er sua casa, e osdois se se.ara#am' 0al#e/ o negociante do mercado ti#esse dito alguma coisa à mãe' ;utal#e/ algum coment:rio inocente da .equena Adriana ti#esse %eito a clera de ulai>a cairsobre eles'

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  7ão trouera desonra a "nés' 7ão era uma coisa tão terr!#el a mãe saber que tinhamcaminhado untos, ele disse a si mesmo'  Contudo, <onah %oi dois dias seguidos ao mercado e não encontrou "nés na barraca'eli.a trabalha#a no lugar da irmã'  7a noite do segundo dia, %icou rolando na cama, sem sono, querendo muito descobrir

como seria deitar com uma mulher que amasse, como seria ter "nés como es.osa e untarseu cor.o ao dela .ara obedecer ao mandamento de crescer e multi.licar' ?eria uma no#aemo+ão, mas seria timo'  <onah tentaria reunir a coragem necess:ria .ara %alar com o .ai dela'Bas quando chegou ao mercado dis.osto a %a/er isso, Bicah Men-/aquen, #i/inho da%am!lia de "saac ?aadi, esta#a l:, à sua es.era' or sugestão de Bicah, %oram .ara a la/aBaJor'  - <onah 0oledano, meu amigo "saac ?aadi acha que #oc tem re.arado em sua %ilha mais no#a - Men/aquen disse delicadamente'- "nés' ?im, é #erdade'- ?im, "nés' Dma ia além de qualquer .re+o, não<onah assentiu, aguardando'

1V2 7;A=);RE;7  - Mela, .er%eita num balcão de #endas ou no lar' ?eu .ai "saacsente-se honrado com o %ato do %ilho de =el>ias, ouri#es de 0oledo,que descanse em .a/, ter aben+oado com ami/ade sua %am!lia' Bas osenor ?aadi tem algumas .erguntas .ara lhe %a/er' Acha con#eniente- ( claro'- or eem.lo' am!lia  - ?ou descendente de rabinos e eruditos tanto do lado maternoquanto do lado .aterno' Beu a#` materno'''  - ( claro, é claro' Ante.assados distintos' Bas me re%iro a .arentes #i#os, tal#e/ com algum negcio onde um o#em .ossa ingressar- 0enho um tio' 6le .artiu na é.oca da e.ulsão' 7ão sei onde'''- Ah, que .ena'  Bas Men/aquen comentou que o tal o#em ha#ia mencionado ao senor ?aadi a .ro%issãoque tinha a.rendido do .ai ouri#es'- &oc então é um mestre-ouri#es- uando meu .ai morreu, eu esta#a .restes a me tornar um art!%ice'- Ah''' meramente um a.rendi/' Dma .ena, uma .ena'''- A.rendo %acilmente' osso a.render a negociar com a seda'  - 0enho certe/a que sim' ( Claro que "saac ?aadi : tem um genroem seu comércio de seda - Men/aquen disse com #o/ %raca'  <onah sabia que alguns anos antes teria sido um noi#o etremamente aus.icioso .ara a%am!lia ?aadi' 0odos teriam a.laudido, "saac ?aadi mais do que ninguém, mas a realidadeera que se tornara um .retendente indese:#el' 6 ainda nem sabiam que era um %ugiti#onão-bati/ado'Men/aquen %ita#a o nari/ quebrado'  - or que não #ai à igrea - .erguntou, como se .udesse ler amente de <onah'- 0enho andado''' ocu.ado'

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  Men/aquen deu de ombros' Dm olhar nas rou.as surradas do ra.a/ torna#a dis.ens:#elinterrog:-lo sobre recursos .essoais'  - 7o %uturo, quando em.arelhar e con#ersar com uma mo+a solteira, deie que ela carregue a sacola de com.ras - disse se#eramente' - 7ão queremos que .retendentes mais''' #i:#eis''' .ossam ulg:-la %raca

demais .ara corres.onder aos etenuantes de#eres de uma es.osa'6le se des.ediu com um bom-dia em #o/ baia'

_ CA0D; 2G Zf; D6 B"7); "C;D ?AM67E;Bingo .assa#a cada #e/ mais tem.o no Alhambra, s #oltando às ca#ernas do ?acromonteuma ou duas noites .or semana' 7uma dessas #e/es, abordou <onah com not!cias .erturbadoras'  - Como os monarcas logo chegarão ao Alhambra .ara uma longaestada, a "nquisi+ão est: .laneando in#estigar muito intimamentetodos os marranos e mouriscos[ na :rea ao redor da %ortale/a' 7ãoquerem que nenhum ind!cio de culto clandestino o%enda os olhos reais'<onah ou#ia em silncio'  - Muscarão heréticos até conseguir um bom su.rimento deles' ?emd*#ida, organi/arão um auto-de-%é .ara demonstrar seu /elo e sua e%icincia5 tal#e/ mais de um, com membros da corte, ou até mesmo acoroa, assistindo'6le continuou num tom gentilI  - ; que estou tentando lhe transmitir, meu bom amigo <onah, éque seria .rudente .artir de imediato .ara outro lugar, onde a necessidade de eaminar cada .adre-nosso que #oc tenha dito sea menosurgente'Cum.rindo uma sim.les obriga+ão de homem decente, <onah não .oderia deiar dead#ertir os que recentemente tinham re/ado com ele' 0al#e/, l: no %undo, ainda culti#asse asel#agem es.eran+a de que a %am!lia de "saac ?aadi o #isse como um sal#ador e .assasse a ulg:-lo sob um 3ngulo mais %a#or:#el'Bas quando chegou à .equena casa no Albaicin, ela esta#a #a/ia'  6 o mesmo acontecia com a casa #i/inha, onde mora#a a %am!lia Men/aquen, e as casasdos outros cristãos-no#os' As %am!lias de con#ertidos : tinham sabido da .rima chegadade ernão e "sabel' 0odos ha#iam com.reendido nitidamente o .erigo' 0odos ha#iam%ugido'[ Bourisco é o mouro es.anhol5 marrano, o udeu ou mouro cristiani/ado na 6s.anha do%im do século $&' 87' do 0'

1V4 7; A= );RE;7  arado na %rente das casas abandonadas, <onah se acocorou na sombra de um olmo' Comdes3nimo, tra+ou quatro .ontos na terra' ; .rimeiro re.resenta#a os #elhos cristãos da6s.anha, o segundo, os mouros, o terceiro, os cristãos-no#os' 6 o quarto .onto re.resenta#a<onah ben =el>ias 0oledano'  6le sabia que não era o ti.o de udeu que o .ai tinha sido ou que as gera+es antigastinham sido' 7o !ntimo, ansia#a .or ser aquele ti.o de .essoa, mas : se tornara algodi%erente'

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  ?ua #erdadeira religião agora era manter-se como udeu #i#o, re.resentante isolado esolit:rio do seu gru.o'  A .oucos metros da casa deserta, encontrou a .edrinha #ermelha que %ora o brinquedo deAdriana'<onah .egou a .edra e guardou-a em sua sacola' Dma lembran+a da tia da menina,que certamente ia assedi:-lo nos sonhos'

Bingo #oltou às ca#ernas #indo do Alhambra .ara narrar urgentemente as no#asin%orma+es que .udera ca.tar'  - As a+es contra os cristãos-no#os serão .ostas em .r:tica deimediato' Ee#e .artir hoe, <onah'  - 6 os seus romanis - <onah .erguntou' - Acha que estarão asal#o  - Beu .o#o é %ormado de criados e ardineiros' 7ão h: nada entrens tão ambicioso quanto os arquitetos ou os mestres-de-obras mouriscos, os %inancistas e os médicos udeus' ;s gade não tm .or que nosin#ear' 7a realidade, a maioria deles raramente nos #' uando a"nquisi+ão nos obser#a, energa a.enas .ees que são bons cristãos'  Bingo deu outra sugestão que deiou <onah dolorosamente .erturbado'  - 6 de#e ir embora sem o burro' A #ida da criatura est: muito .er to do %im e se ela ti#er de en%rentar os grandes estires da estrada, logo#ai %icar doente e morrer'"ntimamente, <onah sabia que era #erdade'- 6ntão eu lhe dou o burro - disse .or %im, e Bingo assentiu'<onah le#ou uma ma+ã .ara o .asto e deu-a a Boisés, co+ando carinhosamente o burro entre as orelhas' 7ão era %:cil se a%astar do animal'restando-lhe um *ltimo %a#or, o homen/inho conseguiu que <onah .artisse com doisromanis, os irmãos Banigo, 6usabio e Bacot, que iam entregar ca#alos a negociantes deMaena, aén e Anduar'  - Bacot Banigo também est: le#ando uma encomenda destinadaa 03nger, que de#e seguir .or um barco que ele encontrar: em ; @0"B; DE6D 1VOAnduar' ; barco é de contrabandistas mouros com quem durante muitos anos %i/emosnegcios' Bacot tentar: colocar também #oc nesse barco, .ara descer o rio )uadalqui#ir'  =a#ia .ouco tem.o .ara des.edidas' Bana deu-lhe .ão e queio embrulhados numguardana.o' Bingo deu-lhe dois belos .resentes de des.edida, um .unhal de a+o mouriscoque era %:cil manter sem.re a%iado e a guitarra que <onah tocara e admirara'  - or %a#or, Bingo, tome cuidado .ara não irritar demais os reiscatlicos'  - 7ão .recisa se .reocu.ar comigo' ue a #ida lhe sorria, meuamigo'<onah caiu de oelhos e abra+ou o #oi#ode dos romanis';s irmãos Banigo eram homens de bom tem.eramento e .ele morena' 0inham tanto eito .ara lidar com animais que ulga#am %:cil entregar uma tro.a de #inte ca#alos' <onah se%amiliari/ara com eles no ?acromonte e agora eles se mostra#am agrad:#eis com.anheirosde #iagem' Bacot era bom co/inheiro e le#a#am um bom su.rimento de #inho' 6usabiotinha um ala*de e toda noite toca#a em conunto com <onah, banindo com m*sica as doresno cor.o que as selas .ro#oca#am'

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  Eurante as longas horas de #iagem sob o sol quente, <onah com.ara#a mentalmente doishomens, ambos %ormados de maneira inco-mum .ela nature/a' Acha#a es.antoso queMonestruca, o %rade belo e alto, ti#esse se tornado odioso e maligno, enquanto Bingo, oanão cigano, conseguisse reunir tanta generosidade no .equeno cor.o'  ; cor.an/il de <onah do!a .elo %ato de %icar muito tem.o na sela, mas sua alma do!a .or

causa da solidão' 0endo saboreado de no#o a c:lida hos.italidade de uma %am!lia, eraterr!#el #oltar à in%eli/ #ida de #agabundo'  embrou-se de "nés ?aadi Eenia' oi %or+ado a aceitar o %ato de que o caminho dela .ela#ida seria muito di%erente do seu5 acabou, no entanto, meditando ainda mais .ro%undamentesobre outra .erda' Eurante mais de trs anos, um animal de carga, que era dcil e nadaeigia, %ora sua *nica, sua constante com.anhia' 6 .or um bom tem.o, <onah lamentariaamargamente a ausncia do burro que ele chama#a de Boisés' AR06 C"7C;; ARB6"R; E6 )"MRA0AR Andalu/ia 12 de abril de 149N_% 

_ CA0D; 21 _f DB ?"B6? BARD;;s negociantes de ca#alos que o acom.anha#am demoraram-se muito em Maena, ondedeiaram cinco animais com um intermedi:rio cigano que lhes o%ereceu um banquete'0ambém se demoraram em aén, onde deiaram outra meia d*/ia de animais' uandoentregaram os *ltimos no#e ca#alos a um #endedor de gado em Anduar, : esta#am comquase um dia de atraso' <onah e os dois irmãos %oram até a margem do rio achando que ona#io a%ricano : ti#esse .artido, mas o barco ainda esta#a l:, ancorado na doca' Bacot %oirecebido calorosamente .elo comandante, um berbere que usa#a um alborno/ e tinha umagrande e es.essa barba grisalha' 6le recebeu o .acote que Bacot trouera e e.licou que o barco também se atrasara' ?a!ra de 03nger com uma carga de uta, que %ora #endendo rioacima' Agora #oltaria a 03nger, mas de.ois de carregar em Crdoba, ?e#ilha, nos .equenos .ortos do gol%o de C:di/ e em )ibraltar'  Bacot con#ersou animadamente com o comandante, #irando-se e a.ontando .ara <onah'Ee.ois de ou#ir algum tem.o o que o outro di/ia, o homem abanou entusiasmado a cabe+a'  - 6st: resol#ido - disse Bacot a <onah, abra+ando-o untamentecom o irmão' - &: com Eeus'  - 6 #ocs também %iquem com Eeus - res.ondeu <onah, obser #ando com ar abatido os dois se a%astando com o ca#alo que ele montara' ?ua #ontade era #oltar com eles .ara )ranada'  ogo o ca.itão esclareceu que ele ia #iaar como sim.les maruo, não como .assageiro, emandou-o audar a tri.ula+ão a embarcar o a/eite que seria le#ado .ara a F%rica'  7aquela noite, enquanto o comandante :rabe deia#a o .equeno calado do barco seguir acorrente/a do canal estreito do alto )uadal-qui#ir, <onah sentou-se encostado num grandetonel de a/eite' As margens sombrias iam .assando e ele toca#a baio a guitarra, .rocurando esquecer que não tinha a menor ideia do rumo que sua #ida ia tomar' 14G 7GA=)GREG7 7o barco a%ricano, <onah esta#a abaio de todos, .ois tinha de a.render tudo sobre a #ida a bordo, desde sus.ender e enrolar a #ela triangular até o modo mais seguro de arrumar a

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carga no con#és aberto .ara que um caiote ou um tonel não tombassem durante umatem.estade, .ro#ocando danos na embarca+ão ou mesmo a%undando-a'  ; ca.itão, chamado Bahmouda, era um sueito rude que batia com os .unhos quando seaborrecia' A tri.ula+ão 8dois negros, esus e Cris-tbal, e dois :rabes, <e.het e Earb, quedi#idiam o trabalho na co/inha dormia onde quer que hou#esse um canto #a/io, sob as

estrelas ou sob a chu#a' ;s quatro mora#am em 03nger, .ees %ortes com quem <onah seda#a bem, .ois eram o#ens e engra+ados' s #e/es, à noite, enquanto ele toca#a guitarra,quem não esta#a de #igia canta#a até Bahmouda berrar .ara ta.arem os %ocinhos e iremdormir'  ; trabalho s %ica#a realmente duro quando chega#am a um .orto' 7as .rimeiras horasda madrugada do terceiro dia de #iagem, o na#io atracou em ?e#ilha .ara embarque decarga' <onah %e/ du.la com Cristbal, cada qual .egando uma .onta dos caiotes grandes e .esados' 0rabalha#am à lu/ de tochas de betume que des.rendiam um tremendo maucheiro' 7o outro lado da doca, um gru.o cabisbaio de .risioneiros em grilhes era le#ado .ara um barco'Cristbal sorriu .ara um dos guardas armados'- egaram muitos criminosos'- Con#ertidos - disse o guarda cus.indo'  <onah obser#ou-os enquanto trabalha#a' areciam atordoados' Alguns se mo#iamdolorosamente .or causa dos %erimentos, arrastando as cadeias como gente muito #elha queso%re .ara andar'A carga do na#io era constitu!da de cordas e %ibras grosseiras .ara tecer, %acas, .unhais ea/eite, que esta#a em %alta naquele ano, quando também os estoques do #inho es.anholesta#am baios' 7os oito dias que le#aram .ara atingir a %o/ larga e com.rida do)uadalqui#ir, o ca.itão mostrou-se ansioso .ara obter mais a/eite, .ois era o que osmercadores de 03nger es.era#am com mais a#ide/' Contudo, em ere/ de "a rontera, ondeconta#a receber uma grande .artida de ecelente a/eite de oli#a, ha#ia a.enas umnegociante com ar de escusas'- 7enhum a/eite Berda  - 6m trs dias chega' ?into muito' Bas .or %a#or, es.ere' 6m trsdias ter: a quantidade que quiser com.rar'- &: se %oder-; @0"B; DE6D 141  Bahmouda mandou a tri.ula+ão %a/er .equenas tare%as no con#és enquanto es.era#am' 7o .ior dos seus humores, bateu em Cristbal, que não estaria se meendo com a#elocidade requerida'  6ra .ara ere/ de "a rontera que tinham sido le#ados os .risioneiros que <onah #ira derelance em ?e#ilha' Ali se reuniriam a outro gru.o de e-udeus e e-mu+ulmanos queha#iam sido condenados em meia d*/ia de cidades ribeirinhas .or renegaremclandestinamente a de#o+ão a Cristo' Dm grande destacamento de soldados esta#a nacidade' ; estandarte #ermelho, .rometendo iminente a.lica+ão de .ena ca.ital, %orades%raldado e as .essoas come+a#am a chegar a ere/ de "a rontera .ara testemunhar umgigantesco auto-de-%é'  uando o na#io : esta#a h: dois dias atracado na doca, o genioso Bahmoudae.lodiu'<e.het, em.urrando a carga .ara dar es.a+o ao es.erado a/eite, %e/ tombar um

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 barril' 7ão hou#e rachaduras, e o barril %oi logo endireitado, mas Bahmouda %icou .ossesso'

  - Biser:#el - ele gritou' - orco 6scria da terra - Eeu um socoem <e.het que o ogou no chão' Ee.ois, .egou um .eda+o de corda e

come+ou a a+oit:-lo'  <onah sentiu uma s*bita e .oderosa onda de rai#a crescer dentro dele e #iu-se dar um .asso à %rente' Cristbal, no entanto, agarrou-o .elo bra+o e o %e/ %icar .arado até o %im does.ancamento'  7aquela noite, o ca.itão deiou o barco .ara .rocurar um endere+o na beira do rio, umlugar que o%erecia bebida e mulheres, e a tri.ula+ão .`de es%regar um .ouco do .reciosoleo de co/inha no cor.o mo!do de <e.het'  - Acho que #oc não .recisa ter medo de Bahmouda - disse a<onah' - 6le sabe que est: sob a .rote+ão dos romanis'  <onah sabia que, num momento de rai#a, Bahmouda era inca.a/ de ser racional' ; quenão sabia era se ia conseguir %icar .arado #endo outros es.ancamentos' or isso, quando anoite caiu, .egou suas coisas e .ulou sem %a/er barulho .ara o cais' Ee.ois se a%astou,sumindo no escuro'Andou cinco dias com calma, .ois não tinha destino' A estrada seguia o litoral e ele gosta#ade a.reciar o mar' s #e/es, a estrada .arecia estar guinando .ara o interior, mas a.s umcurto trecho <onah #ia no#amente as :guas a/uis' 7as .equenas aldeias da costa ha#ia barcos de .esca' ; sol e o sal deia#am alguns mais .rateados que outros, mas todos erammantidos em boas condi+es .or quem de.endia deles .ara #i#er' <onah #iu homens daAndalu/ia absortos em suas tare%as coti-

142 7;A=);RE;7dianas, emendando enormes redes ou #edando e cobrindo de .iche o %undo de algum barco's #e/es, tenta#a .uar con#ersa, mas ninguém tinha muito a di/er quando ele .ergunta#aonde .odia arranar trabalho' icou sabendo que as tri.ula+es dos barcos de .escageralmente eram ligadas .or la+os de sangue ou anos de ami/ade entre as %am!lias' 7ãoha#ia lugar .ara um estranho'  7a cidade de C:di/, sua sorte mudou' uando esta#a .arado à beira-mar, um dos homensque descarrega#a um .aquete so%reu um acidente' Como o grande %ardo de rou.a quecarrega#a lhe ta.a#a a #isão, ele .isou em %also, .erdeu o equil!brio e caiu do .assadi+o' Arou.a bateu na areia macia, mas a cabe+a do sueito bateu com %or+a num cabo de %erro'  <onah es.erou o %erido ser trans.ortado .ara o consultrio de um médico e os curiosos sedis.ersarem' Ee.ois se a.roimou do homem com um len+o amarrado na cabe+a' 6ra oimediato do na#io, um maruo de meia-idade, de cabelo grisalho e cara %echada, marcada .or cicatri/'- 6u me chamo Ramn Callic e .osso audar na carga'  &endo o cor.o alto e musculoso do ra.a/, o imediato deiou que subisse a bordo, ondelhe disseram o que .egar e onde largar' <onah come+ou a le#ar caiotes .ara o .orão, ondedois tri.ulantes, oan e César, trabalha#am quase nus .or causa do calor' )eralmente <onahconseguia entender as ordens, mas às #e/es tinha de .edir que re.etissem, .ois %ala#amuma l!ngua que .arecia, mas não era es.anhol'- 7ão escuta bem - César .erguntou num tom irritado'- ue l!ngua #ocs %alam - <onah .erguntou e oan sorriu'

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- Catalão' ?omos catalães' Como todo mundo neste barco'Acabaram, no entanto, %alando es.anhol com <onah, o que %oi umal!#io .ara ele'  Antes de o trabalho terminar, um mo+o de recados do médico #eio di/er que o maruoacidentado esta#a gra#emente %erido e teria de %icar em C:di/ .ara tratamento'

  ; ca.itão a.arecera no con#és' Bais no#o que o imediato, era um homem de bom .orte,cuo cabelo e barba rente ainda não .ossu!am qualquer toque grisalho' ; imediato sea.roimou dele, e <onah, que trabalha#a .erto, .`de escutar a con#ersa'- ose. tem de %icar aqui .ara um tratamento - disse o imediato'  - =um''' - ; ca.itão %ran/ia a testa' - 6ssa baia na tri.ula+ão nãome agrada'  -6u sei' Bas #ea o sueito que entrou no lugar do nosso homem''' arece trabalhar com#ontade'

0

; @0"B; DE6D 14V<onah .ercebeu que o ca.itão o eamina#a'- Buito bem' ode %alar com ele'; imediato %oi até <onah'- 0em e.erincia no mar, Ramn Callic  <onah não gosta#a de mentir, mas esta#a quase sem dinheiro e .recisa#a de comida eabrigo'  - 0i#e e.erincia num barco de rio - disse, escolhendo um as.ecto da #erdade, um as.ecto que também não deia#a de ser mentira, .ois não %a/ia men+ão ao .ouco tem.o que ele ser#ira na embarca+ão'Ee qualquer modo, <onah %oi contratado' ouco de.ois : .ua#a, aolado dos outros, as cordas que i+a#am trs .equenas #elas triangulares'uando o na#io se a%astou o su%iciente da costa, o .essoal do con#ésergueu uma grande #ela mestra, que sacudiu barulhentamente a ser desenrolada e logo %oi in%lada .elo #ento, le#ando a embarca+ão .araornar'6ram sete homens na tri.ula+ão e, a.s alguns dias, <onah .assou a conhec-los bemIaume, o car.inteiro de bordo5 Caries, que conserta#a cordas e esta#a sem.re trabalhandonas amarras5 Antoni, que .re.ara#a as re%ei+es e .erdera o dedo m!nimo da mão esquerda'B:rio, César, oan e <onah eram .au .ara toda obra' ; contramestre, um homem .equeno,conseguia ter o rosto .:lido quando todos à sua #olta .areciam queimados de sol' <onahsem.re o ou#ia ser chamado de sehor Be/quida5 nunca soube qual era seu .rimeiro nome'; nome do ca.itão era au Roure' assa#a muito tem.o na c:bine, raramente sendo #isto'uando subia ao con#és, não se dirigia à tri.ula+ão, dando sem.re suas ordens atra#és doimediato, cuo nome era )as.ar )atuelles' s #e/es )atuelles se e.ressa#a .or meio de berros, mas ninguém era es.ancado'  ; na#io chama#a-se a eona, a leoa' 0inha dois mastros e seis #elas, que <onah logoa.rendeu a identi%icarI uma grande #ela quadrada, que era a #ela mestra, a me/ena, um .ouco menor, duas g:#eas triangulares, em cima de cada uma das outras #elas, e duas .equenas buarronas, esticadas sobre o guru.és, que tinha um cor.o amarelado de leão como rosto de uma mulher em alabastro' ; mastro .rinci.al era mais alto que o mastro da

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me/ena, na realidade tão alto que, desde o momento em que o barco come+ou a a#an+ar sobuma brisa %orte, <onah te#e medo de que o mandassem subir l: em cima'  7um dos %inais de turno de sua .rimeira noite a bordo, em #e/ de dormir as quatro horasa que tinha direito, <onah se a.roimou da escada de corda e subiu até a metade do mastro .rinci.al' ? o brilho %raco

 144 7;A= );RE;7das lu/es de na#ega+ão ilumina#a o con#és l: embaio' 0udo ao redor do na#io era marsem limites, escuro como #inho tinto' <onah não te#e coragem de subir mais e desceuquase escorregando .ela corda'  "n%ormaram-no que o na#io era .equeno .ara uma embarca+ão de mar aberto, embora .arecesse imenso em com.ara+ão com um barco de rio' =a#ia um .orão *mido, quecontinha uma diminuta cabine com seis camas .ara .assageiros, e uma cabine ainda menor,com.artilhada .elos trs o%iciais' A tri.ula+ão dormia es.alhada .elo con#és' <onah achouum lugar atr:s do timão' Eeitado l:, .odia ou#ir a :gua assobiando ao .assar .ela cur#aturado casco e, sem.re que o curso era alterado, sentia as #ibra+es do leme se deslocando'  ; mar aberto era com.letamente di%erente do rio' <onah saborea#a os so.ros do arre%rescante, com seus gostos de umidade e sal, ainda que a marcha do barco manti#esse seuest`mago embrulhado a maior .arte do tem.o' Ee #e/ em quando, .ara di#ertimento dequem a.recia#a, tinha es.asmos e #omita#a' 0odos no na#io conta#am mais de de/ anos de#ida no mar e todos %ala#am catalão' uando lembra#am, %ala#am com <onah emes.anhol, mas era raro lembrarem5 de qualquer modo, não %ala#am muito com ele' Eesdeque .usera os .és no na#io, <onah .ercebera que seria uma #iagem solit:ria'  ?ua ine.erincia %icou logo .atente .ara o%iciais e maruos' 7a maior .arte do tem.o, oimediato lhe atribu!a os trabalhos de %aina de um .eão mar!timo' 7o quarto dia, sobre#eiouma tem.estade e o na#io come+ou a ogar' 7o momento em que <onah cambalea#a .ara#omitar a sota#ento, o imediato ordenou que subisse no mastro .rinci.al' or sorte, ao subir  .ela escada de corda, o medo %e/ com que se esquecesse do enoo' Chegou mais alto que daoutra #e/, conseguindo ultra.assar o to.o da #ela mestra' ;s cabos que mantinham esticadaa g:#ea triangular ha#iam sido soltos do con#és, mas mãos humanas tinham de .uar a #ela .ara baio e og:-la sobre a #erg`ntea' ara %a/er isso, era .reciso .assar da escada decorda .ara um cabo estreito, agarrando-se à #erg`ntea' Dm marinheiro : come+ara aa#an+ar .ela escada de corda quando <onah segurou a #erg`ntea' uando <onah hesitou,%oi ingado .or ele e .or outros dois homens, que também tinham come+ado a subir'Agarrado à #erg`ntea, <onah %oi tirando os .és da corda oscilante e %a/endo-os desli/ar aolongo do %r:gil cabo' inalmente, os quatro conseguiram se agarrar à #erg`ntea e .uar a#ela .esada5 os mastros balan+a#am, tremiam' ; na#io tomba#a .ara um lado, de.ois .arao outro' ?em.re que o con#és atingia o m:imo ; @0"B; DE6D 14Oe #ertiginoso limite de cada inclina+ão, a *nica coisa que se #ia do mastro era a es.uma branca do mar %urioso'  uando %inalmente a #ela %oi arrumada, <onah encontrou de no#o a escada de corda e %oidescendo, trémulo, até o con#és' 7ão .odia acreditar no que tinha %eito' or algum tem.oninguém re.arou nele5 de.ois o imediato mandou-o #eri%icar o acondicionamento da cargano .orão rangente'

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s #e/es, gol%inhos de lombo escuro e muito liso nada#am ao longo do na#io e, um dia,a.areceu um .eie tão grande que sua sim.les #isão deiou <onah a.a#orado' 6le era bomnadador, .ois %ora criado unto de rio, mas não eram in%initas as dist3ncias que .odia nadar'6 não ha#ia terra alguma à #ista5 a.enas mar em todas as dire+es' Besmo que ti#esse%`lego de nadar .ara terra, ia se trans%ormar numa a.etitosa isca de monstros' Recordando a

histria de seu ar: b!blico, imaginou um e#iatã subindo do abismo sem %undo, atra!do .ara aquele alimento que o es.era#a na su.er%!cie mo#imentando bra+os e .ernas, assimcomo uma truta é atra!da .elos mo#imentos da isca #i#a num an/ol' ; tombadilho,embaio dos seus .és, .arecia e%émero e %r:gil'oi mandado mais quatro #e/es até o alto do mastro, mas não a.rendeu a gostar da coisa5tal#e/ nunca se tornasse um #erdadeiro maruo, ca.a/ de con#i#er com di%erentes graus deenoo' ; na#io continuou se a#enturando .ara o norte atra#és da costa, %a/endo escalas .aracarregar, descarregar e a.anhar .assageiros em B:laga, Cartagena, Alican-te, Eenia,&alncia e 0arragona' Ee/esseis dias a.s terem .artido de C:di/, chegaram a Marcelona,de onde na#egaram .ara sudeste, .ara a ilha de Benorca'  Benorca, bem no alto-mar e com um litoral bastante acidentado, era uma ilha de .escadores e graneiros' <onah gosta#a da ideia de #i#er num lugar tão cheio de escar.as';correu-lhe que tal#e/ a ilha %osse su%icientemente remota .ara esca.ar de olhosindiscretos' Bas em Ciutadella, um .orto de Benorca, o na#io .egou trs %radesdominicanos de ca.elos .retos' Dm dos %rades %oi logo sentar-se num barril .ara ler seu bre#i:rio, enquanto os outros dois se encostaram na amurada do con#és, con#ersando em#o/ baia' Ee re.ente, um deles olhou .ara <onah e %e/ um gancho com o dedo .aracham:-lo'<onah obrigou-se a caminhar até l:'- ?im, senorl - Achou que sua #o/ sa!a como um grasnido'- ara onde o na#io #ai quando .artir das ilhas-14N 7;A= );RE;7  ; %rade tinha .equenos olhos castanhos' 6m nada se .areciam com os olhos cin/entos deMonestruca, mas a t*nica negra dos dominicanos era su%iciente .ara encher <onah de terror'- 7ão sei, sehor'; ouo %rade deu uma risada e olhou se#eramente .ara <onah'  - ( um ignorante' &ai .ara onde %or o barco' Ee#e .erguntar a umo%icial'  <onah a.ontou .ara )as.ar )atuelles, de .é na .roa con#ersando com o car.inteiro'  - 6le é o imediato, sehor - disse, e os dois %rades %oram %alar com)atuelles'  a eona deiou aqueles dois numa ilha maior, Baiorca' ; terceiro %rade .arou de ler seu bre#i:rio a tem.o de desembarcar na .equena ilha de "bi/a, mais ao sul'  <onah .ercebeu que, .ara sobre#i#er, teria de continuar a agir de um modo ca.a/ dedes.istar as .essoas, .orque a "nquisi+ão esta#a .or toda .arte' S CA0D; 22 0RAMA=; 6B B60A; na#io retomou a C:di/ e, mal tinham come+ado a descarregar, o marinheiro cuo lugar<onah tomara rea.areceu' 6sta#a em .er%eita %orma, tendo a.enas uma cicatri/esbranqui+ada na testa como lembran+a do acidente'

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com cabelo .reto e um .equeno bigode' - ?em.re querendo entornar mais um .ouco, hein, &icente, seu #elho rato  - , uis, %eche essa maldita boca - disse mais alguém num tomsaturado'- ue tal %ech:-la .ara mim, osé )ri.o

  6sse coment:rio .areceu engra+ado a <onah, .ois osé )ri.o era alto, .arrudo, não o#emsem d*#ida, mas muito mais o#em e %orte que o outro5 <onah achou que uis não teria amenor chance numa briga'  ; .roblema é que ninguém riu' <onah #iu o homem sentado ao lado de uis se le#antar'arecia mais no#o, de altura média, mas %irme e musculoso, realmente bem condicionado'0odos os tra+os de sua %isionomia eram :s.eros, mesmo o nari/ %orma#a um 3ngulo agudo'; hnmem olhou osé )ri.o com interesse e deu um .asso em sua dire+ão' ; @0"B; DE6D 149  - ?ente agora ou tire seu rabo daqui, Angel - disse Mernaldo, o .ro.riet:rio' - ?eu .atrão mandou que eu lhe comunicasse de imediato qualquer .roblema criado .or #oc ou .elo uis'  ; homem se dete#e e encarou o .ro.riet:rio' Ee.ois deu de ombros e sorriu' egou suacaneca, tomou de um s gole o resto do #inho e .ousou a caneca na mesa com uma .ancada'  - ( melhor a gente sair, uis' 7ão estou com #ontade de acertar acara do amigo de Mernaldo'  ; .ro.riet:rio #iu-os deiar a taberna e, então, ser#iu a no#a tigela de enso.ado a <onah'ouco de.ois, tra/ia o #inho que o #elho .edira'  - Aqui est:, &icente' &ai ser .or minha conta' Aqueles dois nãosão %lor que se cheire'  - ormam uma du.la bem estranha - disse osé )ri.o' - : #i acoisa antes' uis .ro#oca, mas é Angel Costa quem se le#anta e come+a a briga'- 6 Angel Costa sabe brigar - disse um homem na outra mesa'  - ?im, é um #elho soldado e sabe lutar muito bem - disse )ri.o -,mas é um desgra+ado'  - uis também não %ica atr:s - acrescentou &icente' - Bas, #erdade sea dita, é ecelente no trabalho com metal'A con#ersa interessou a <onah'  - ?ei trabalhar com metal e estou .rocurando em.rego' ue ti.ode .e+a de metal %a/em aqui  - Eescendo um .ouco a estrada, h: uma o%icina de armeiro - disse)ri.o' - 0em e.erincia com armas

- ?ei usar o .unhal')ri.o sacudiu a cabe+a'- 6stou me re%erindo à manu%atura de armas'  - 7ão tenho e.erincia nisso' Bas %ui a.rendi/ de ouri#es durante muito tem.o e sei meer um .ouco com %erro e a+o'&icente acabou de tomar seu #inho e sus.irou'  - 6ntão de#e .rocurar um mestre de o%!cio chamado ierro - disse

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ele -, que é o armeiro de )ibraltar' 7aquela noite, <onah .agou alguns sueldos a Mernaldo e .`de dormir ao lado do %ogão alenha' A taa também lhe deu direito a uma tigela de mingau no deseum da manhã' 6 bemdescansado e alimentado seguiu a estrada con%orme as indica+es do taberneiro' Dmacaminhada bre#e' A curiosa montanha de .edra de )ibraltar se erguia na %rente dos

 barraces com.ridos, de teto baio, e dos terrenos da o%icina de Banuel ierro' Bais além%ica#a o mar'

1OG 7;A=);RE;7  ; armeiro era um homem baio, de ombros largos, tra+os bem marcados e um :s.eroemaranhado de cabelos brancos' osse de nascen+a ou em #irtude de algum acidente, onari/ .arecia ligeiramente #irado .ara a esquerda' ?e isso estraga#a um .ouco a simetria dorosto, era o detalhe que torna#a sua e.ressão sim.:tica, doméstica' <onah contou-lhe umahistria quase #erdadeira' Chama#a-se Ramn Callic5 %ora a.rendi/ de =el>ias 0oledano,mestre-ouri#es de 0oledo, até a e.ulsão dos udeus des.achar 0oledano e .`r uma .: decal nos ser#i+os do seu a.rendi/ado' or alguns meses, trabalhara com metais na o%icina dere.aros dos romanis em )ranada'- Romanis- Ciganos'- Ciganosierro tinha um ar mais di#ertido que desdenhoso'- reciso test:-lo'  Eurante a con#ersa, o mestre esti#era trabalhando num .ar de es.oras de .rata' 6le as .ousou e .egou uma .equena cha.a de a+o'- a+a o engaste como se esta cha.a de a+o %osse a es.ora de .rata'  - 6u .re%eriria trabalhar com a es.ora - disse <onah, mas o mestresacudiu a cabe+a' ierro es.erou sem coment:rios e #isi#elmente semgrandes e.ectati#as'  Bas sua aten+ão cresceu quando <onah eecutou sem .roblemas o engaste na cha.a ede.ois, num segundo teste, soldou .er%eitamente o a+o das duas .artes de um .rotetor decoto#elo'- ; que mais sabe %a/er- ?ei ler' 6 escre#o com uma boa letra'  - ala sério - ierro se inclinou .ara a %rente e estudou-o cominteresse' - 7ão são talentos encontrados com %requncia num a.rendi/' Como os conseguiu- Beu .ai me ensinou' 6ra um homem instru!do'- osso o%erecer um .er!odo de a.rendi/agem' Eois anos'- 6stou dis.osto'  - Bas é h:bito em minha o%icina o a.rendi/ .agar .ela instru+ão'0em meios .ara isso- Ai de mim, não tenho'  - 6ntão, no %inal dos dois anos ter: de trabalhar um ano com sal:rioredu/ido' Ee.ois disso, Ramn Callic, é que %alaremos sobre sua entrada a meu ser#i+o, em car:ter .ermanente, como armeiro contratado'- Concordo - disse <onah'-

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; @0"B; DE6D 1O1A armaria corres.ondia às suas e.ectati#as' )osta#a de trabalhar no#amente com metais'A *nica di%eren+a era que a %abrica+ão de armaduras e armas em.rega#a técnicas que lheeram totalmente desconhecidas' Com isso, <onah ia a.rendendo, sem deiar, no entanto, deutili/ar os métodos que h: muito domina#a'

  )osta#a do lugar' =a#ia sem.re o barulho dos martelos no metal, um tilintar, um clangor,às #e/es ritmado, às #e/es não' 6m geral o barulho sa!a simultaneamente de #:rios barraces5 uma es.écie de m*sica met:lica' 6 ierro era ecelente instrutor'  - A 6s.anha tem muito do que se orgulhar no desen#ol#imento do%erro - disse ele, iniciando uma li+ão' - or milhares de anos o minérioera colocado num %ogo de car#ão, um %ogo intenso, não quente o bastante .ara %undir o %erro que resulta#a do .rocesso, mas ca.a/ de amolec-lo .ara que ele .udesse ser moldado .elo martelo ou .ela %ora'  Aquecer e martelar, aquecer e martelar, tirar as im.ure/as até obter um %erro resistente,era esse o método'  Bas então nossos armeiros a.renderam a deiar o %ogo mais quente so.rando sobre eleatra#és de um tubo oco e, mais tarde, usando %oles' 7o século &""", %erreiros es.anhisconstru!ram uma %ornalha melhor, que %oi chamada de %ora catalã' Binério e car#ão erammisturados na %ornalha e o ar so.rado no %ogo .or meio de %or+a hidr:ulica' "sso nosca.acitou a .rodu/ir um %erro batido de melhor qualidade e .rodu/i-lo muito mais de.ressa'Como #oc sabe, obtém-se o a+o remo#endo as im.ure/as e a maior .arte do carbono do%erro' or mais .erito que se ulgue o armeiro, suas armaduras serão a.enas tão boas quantoo a+o do qual são %abricadas'  ierro tinha a.rendido a trabalhar o a+o com um mouro que %a/ia es.adas'  - ;s mouros %a/em o melhor a+o e as melhores es.adas' - 6le sor riu .ara <onah' - ui a.rendi/ de um mouro e #oc de um udeu'  <onah concordou que era di#ertido e come+ou a lim.ar o local de trabalho' ueria .`rum .onto %inal na con#ersa' 7o décimo quinto dia da a.rendi/agem de <onah, Angel Costa se a.roimou do bancoonde ele esta#a sentado no barracão-re%eitrio, %a/endo seu deseum de mingau' Costaesta#a a caminho de uma ca+ada, carregando um arco com.rido e um .unhado de %lechas'arou diante de <onah com os olhos brilhantes, contem.lando-o sem di/er uma .ala#ra'<onah achou melhor assim e terminou tranquilamente a re%ei+ão'  : tinha .ousado a tigela na mesa e se le#antado' uando ia sair, Angel Costa lhe cortou o .asso' 1O2 7;A= );RE;7- ; que é - <onah .erguntou em #o/ baia'- ( bom com uma es.ada, a.rendi/- 7unca usei uma es.ada'  ; sorriso de Costa não era mais agrad:#el que seu olhar' 6le balan+ou a cabe+a, de.ois%oi embora'  ; co/inheiro, a quem os homens se re%eriam como o outro Banuel, .ois com.artilha#ao .rimeiro nome com o mestre, tirou os olhos da #asilha que es%rega#a com areia eacom.anhou a sa!da do mestre-de-armas'  - ( %:cil anti.ati/ar com esse cara - disse de.ois de cus.ir' - Ei/que é o re.resentante de Eeus na Casa da uma+a, o lugar onde mora

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mos, e nos %a/ re/ar de oelhos de manhã e à noite'- 6 .or que se submetem a isso; co/inheiro .areceu .enali/ado com a ignor3ncia de <onah'  - 0emos medo dele - disse .or %im o homem a quem chama#am deo outro Banuel'

<onah acha#a que a #antagem de ser a.rendi/ era que também o manda#am %a/er .equenosser#i+os eternos' Com isso, acabou circulando .or loas e arma/éns de toda )ibraltar,tendo assim a o.ortunidade de a.render alguma coisa sobre seu no#o re%ugio' Acomunidade esta#a aloada no so.é da grande rocha, es.alhada .ela encosta mais baia'ierro negocia#a com muitos %ornecedores e alguns, orgulhosos de seus arrabaldes,res.ondiam de bom grado às .erguntas de <onah'  ; %uncion:rio de um atacadista de cobre contou-lhe que a etica )ibraltar .ossu!a um ar mourisco .orque os mouros tinham #i#ido ali durante setecentos e cinquenta anos, até a6s.anha reconquistar a cidade em 14N2, no dia da %esta de ?ão Mernardo' 7a mercearia, o .ro.riet:rio era o osé )ri.o, que <onah conhecera na taberna' )ri.o esta#a ocu.ado, masenquanto media e enrola#a alguns metros de corda re#elou que o nome )ibraltar era umacorru.tela de ebel 0ariq, ou sea, Rocha de 0ariq, em :rabe' 6 um #elho em.regado de)ri.o, um homem magro, bem-a.essoado, cuo nome era 0adeo Ee/a, acrescentouI  - 0ariq %oi o comandante mouro que construiu o .rimeiro %orte na base da rocha'  <onah a.rendeu .ouca coisa de )ibraltar com os que trabalha#am com ele na armaria'6ram seis .ees, cua .rinci.al tare%a era manter lim.a a :rea e trans.ortar o metal dosde.sitos .ara as o%icinas e #ice-#ersa' 6les mora#am com Angel Costa e com o outroBanuel num barracão que lembra#a um celeiro, a Casa da uma+a' ;s dois artesãos, uislanas e a+o armiento, eram homens maduros, encarnando a ; @0"B; DE6D 1OVaristocracia da armaria' armiento, um #i*#o, era o mestre es.eciali/ado na %abrica+ão dees.adas, enquanto lanas, que nunca se casara, era mestre em armaduras' <onah %oi morarnum aloamento de trabalhadores com eles e com &icente, o homem cua bebida seo%erecera .ara .agar na taberna' ; #elho &icente tinha di%iculdade em lembrar o nome doa.rendi/'  - Como é mesmo que #oc se chama, mo+o estrangeiro - ele .er guntou mais uma #e/, a.oiando-se na #assoura com a qual #arria ochão'- Ramn Callic, tio'  - 6u me chamo &icente Ee/a e não sou seu tio, a não ser que seaalgum bastardo que me tenham escondido' - 6le riu, saboreando a .r .ria tirada' <onah te#e de sorrir'- ; senhor então é .arente de 0adeo Ee/a da mercearia  - ?im, sou .rimo de 0adeo, coisa que ele não gosta de con%essar, .ois às #e/es o en#ergonho chamando-o .ara beber' - ; #elho riu deno#o e olhou com curiosidade .ara <onah' -6ntão #i#eremos aqui ladoa lado, unto com uis e a+o' &oc te#e sorte, .ois este aloamento é à .ro#a de som e à .ro#a dW:gua, constru!do cuidadosamente .or udeus'  - 6 .or que %oi constru!do .or udeus - <onah .erguntou, mantendo a #o/ descontra!da'

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  - Antigamente ha#ia muitos udeus aqui' Bas h: cerca de #inteanos, tal#e/ um .ouco mais, catlicos %iéis rebelaram-se contra aqueles que se autodenomina#am cristãos-no#os' 7ão eram #erdadeiroscristãos' udeus é o que eram' Centenas deles, #indos de Crdoba e?e#ilha, acharam que )ibraltar, recentemente ca.turada dos mouros e

com .oucos habitantes, .oderia ser um abrigo seguro e hos.italeiro'6les negociaram a coisa com o duque de Bedina ?idonia, senhor deste lugar'  Eeram dinheiro ao duque e concordaram em .agar uma %or+a de ca#alaria que %icariaaqui estacionada' &ieram centenas de colonos, que le#antaram os alicerces das casas e .ontos comerciais' Bas o custo da manuten+ão dos militares e das e.edi+es contra os .ortugueses logo se tornou ecessi#amente .esado' uando o duque soube que os recursosda comunidade esta#am no %im, #eio com soldados e eles ti#eram de .artir'  0inham constru!do esta cabana e a Casa da uma+a, um local onde de%uma#am o .eieque era le#ado .or mar .ara cidades .ortu:rias' ?e cheirar com aten+ão nos dias *midos,ainda #ai .erceber a %uma+a' 7osso mestre arrendou do duque a .ro.riedade abandonada ele#antou o 1O4 7;A= );RE;7celeiro e todos os barraces que agora #oc #' ; #elho torceu a cara numa .iscadela doolho esquerdo' Ee#e me .rocurar sem.re que quiser saber do .assado, sehor' &icente Ee/asabe de muita coisa'  7o %inal daquele dia, <onah le#ou su.rimentos .ara a bancada dirigida .or outro de seuscom.anheiros de aloamento, a+o armien-to, que %a/ia es.adas' 6le te#e a im.ressão deque seria %:cil lidar com armiento' 6ra um homem cal#o, : meio gordo' ; rosto barbeadotinha uma cicatri/ esbranqui+ada do lado direito e os olhos às #e/es .areciam distantes, .ois esta#a sem.re .ensando em no#as maneiras de conceber e modelar as es.adas, o que odeia#a um tanto alheio ao mundo à sua #olta' Burmurou .ara <onah que todos tinhamobriga+ão de audar a manter o aloamento lim.o e arrumado'  - Bas ti#emos sorte, .ois o #elho &icente Ee/a cuida so/inho dessas tare%as'- &icente %a/ armaduras ;u trabalha com es.adas, como #oc  - &icente Ee/a 7ão, ele não %a/ qualquer trabalho com metal'&i#e conosco .or caridade do mestre' 6 não acredite em nada queou#ir do #elho &icente - disse o homem das es.adas -, .ois sua inteligncia é redu/ida' 6le tem a mente de uma crian+a obtusa' 6 %requentemente # coisas que não eistem'Como a maioria dos locais .edregosos que <onah conhecera na 6s.anha, )ibraltar .ossu!aca#ernas' A maior delas era a gruta es.a+osa bem no to.o da rocha' ierro com.ra#a amaior .arte de seu a+o dos mouros de Crdoba, mas sem.re dis.unha de um su.rimento deminério de %erro etra!do de uma .equena :rea da gruta' Chega#a-se a esse lugar .ela trilhaestreita que subia .or uma das encostas'  0rs #e/es o mestre seguiu o caminho/inho !ngreme com <onah, cada um montado num burro' 6m todas as trs ocasies, <onah imaginou como seria bom que seu animal %osse oBoisés, .ois a trilha subia muito, realmente muito, chegando mais alto que a g:#ea dequalquer na#io' ; resultado de um .asso em %also da montaria seria uma queda #ertiginosa,

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%atal' Bas os burros esta#am acostumados, não entrando em .3nico sequer ao se #erem bloqueados .or um bando de macacos de .lo .ardo'  ierro se di#ertiu com o susto de <onah' 6ram seis macacos grandes, sem caudas, quea.areceram de re.ente' Dma das %meas amamenta#a um .equeno %ilhote'  - &i#em nessa .arte mais alta - disse ierro, tirando %rutas #elhas

e .ão dormido de uma sacola e atirando-os na encosta, ao largo da tri- ; @0"B; DE6D 1OOlha' ;s animais, então, sa!ram correndo .ara .egar a comida, liberando a .assagem'- 7unca imaginei que esses animais eistissem na 6s.anha'  - Ei/ a lenda que #ieram da F%rica atra#és de um t*nel natural quecorre sob o estreito e termina numa das ca#ernas de )ibraltar - disseierro' - Bas acho mais .ro#:#el que tenham %ugido de algum barcoem tr3nsito .elo nosso .orto'  Eo alto da trilha, a lenda soa#a menos absurda, .ois a costa da F%rica, .elo menosnaquela manhã clara, .arecia realmente muito .erto'- A que dist3ncia %ica a F%rica, sehor ierro  - Beio dia .or mar, com o #ento audando' 6stamos situados numadas lend:rias colunas de =ércules - disse o mestre, a.ontando .ara aoutra coluna de =ércules, uma montanha no Barrocos, do outro ladodo estreito' A :gua que se.ara#a as colunas, brilhando sob o sol dourado, era a/ul, muito a/ul'Cinco dias a.s o .rimeiro encontro dos dois, Angel Costa #oltou a se a.roimar de <onah'- : .assou muito tem.o no lombo de um ca#alo, Callic- 7ão, não, muito .ouco' 6u tinha um burro'- Dm burro combina com #oc'- or que .erguntou 6st: recrutando .ara uma e.edi+ão militar- 7ão eatamente - disse Costa indo embora'A.s dias le#ando recados, .uando minério, carregando a+o, <onah recebeu %inalmenteuma tare%a que lhe .ermitiria trabalhar com metal, embora %osse uma tare%a humilde'6sta#a ner#oso .or trabalhar sob as ordens de uis lanas, cuo tem.eramento di%!cil e mauhumor : lhe eram conhecidos' ara seu al!#io, embora uis se dirigisse a ele de modo rude,trabalha#a com .ro%issionalismo' Bandou <onah #estir #:rias se+es da armadura'  - 0em de estar atento às menores im.er%ei+es na su.er%!cie do a+o- di/ia ele -, mesmo ao #est!gio do mais le#e arranhão' ?e #ir algumacoisa, .recisa .olir, .olir cada #e/ mais, até o de%eito desa.arecer detodo'  6ntão <onah .olia com #ontade e, quando mais de uma semana de %iel e dura es%rega+ãotrans%ormou as .e+as em .ura radi3ncia, <onah soube que ha#ia trabalhado em .artes dacoura+a, se+es geminadas do .eitoral'- Cada .e+a tem de ser .er%eita - di/ia uis se#eramente' - a/

1ON 7;A= );RE;7 .arte da armadura es.lndida que as o%icinas de ierro #m criando hW mais de trs anos'- ara quem est: sendo criada - <onah .erguntou'- ara um nobre de 0embleque' Dm conde chamado ern:n &asca; cora+ão de <onah come+ou a .ular' Dm ritmo mais .ronunciado

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que os gol.es do martelo de uis lanas' 7ão im.orta#a .ara onde %ugisse' 6ra como se 0oledo %osse atr:s  embra#a-se muito bem do débito do conde &asca de 0embleque .ara com o .aiI sessentae no#e reales e de/esseis mara#edis .or um belo e art!stico conunto de .e+as deouri#esaria, entre as quais a not:#el rosa dourada com um caule de .rata, di#ersos es.elhos,

 .entes de .rata, um a.arelho com do/e ta+as'''  7ão se trata#a de uma soma insigni%icante e teria tornado sua #ida considera#elmentemais %:cil' ? era .reciso cobr:-la'; que <onah ben =el>ias sabia muito bem que não seria .oss!#el'

_[ CA0D; 2V [f?A70;? 6 )AE"AE;R6?uando ierro .ercebeu que o no#o a.rendi/ era con%i:#el sob todos os as.ectos, atribuiu-lhe a tare%a de gra#ar um desenho na coura+a da armadura do conde &asca' "sso requeriaque <onah %i/esse .equenos entalhes no a+o com um martelo e um .icador, seguindo tra+osle#emente marcados na su.er%!cie do metal .or ierro ou uis lanas' 6ra muito mais %:cilgra#ar .rata que a+o5 em com.ensa+ão, a maior dure/a do metal .rotegia contra certoserros que teriam sido desastrosos em .rata' 7o in!cio, <onah da#a uma .ancada le#e .ara#eri%icar se o .icador esta#a corretamente colocado, de.ois uma .ancada %orte .aracom.letar o entalhe' medida, .orém, que continua#a a gra#ar, o toque %oi se tornandocada #e/ mais seguro' ogo os gol.es r:.idos e %ortes do martelo re#ela#am suaautocon%ian+a'- Banuel ierro se .reocu.a em testar %requentemente as armaduras -a+o armiento disseuma manhã a <onah' - or isso temos torneios de #e/ em quando' ; mestre gosta que seustrabalhadores se coloquem no lugar dos ca#aleiros e descubram .or si mesmos o que de#eser alterado no molde das armas' 6le queria que #oc .artici.asse'  ela .rimeira #e/, as .erguntas de Angel Costa assumiam um desagrad:#el sentido'- ( claro, senor'  6ntão, no dia seguinte, .arado numa grande arena redonda e #estindo rou.as de baiocom %orros de algodão, <onah contem.la#a, meio a.reensi#o, as .artes um tantoen%erruadas e maltratadas da armadura que a+o armiento austa#a a seu cor.o' 7a outra .onta da arena, Angel Costa esta#a sendo #estido .elo amigo uis, enquanto ostrabalhadores se agru.a#am ao redor da arena como es.ectadores numa rinha de galos'  - &icente, #: até o aloamento e .egue alguma coisa que sir#a demaca .ara o garoto - uis gritou' - ogo #amos .recisar - =ou#ea.u.os e risos' 1OU 7;A=);RE;7  - 7ão se im.orte com ele - disse a+o a <onah' )otas de sescorriam .ela cabe+a cal#a de a+o armiento' ;r   A coura+a %oi erguida sobre <onah e logo %iada, .rotegendo-lhe .eito e as costas' Dmacota de malha cobria seus bra+os e .erna P enquanto a escarcela cerca#a-lhe as coas'rotetores de a+o %ora^ colocados em seus ombros, coto#elos, oelhos e bra+os5 nas .ernas .renderam-se .lacas de metal até as canelas' <onah en%iou os .és em sa.atos de a+olaminado' uando o elmo %oi instalado na cabe+a, a+o baiou a #iseira'  - 7ão consigo res.irar, não consigo energar - disse <onah, .rocurando manter a #o/ calma'

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- As .er%ura+es #ão dei:-lo res.irar - disse armiento'- 7ão estão deiando'"rritado, a+o ergueu a #iseira'  - Eeie le#antada - disse ele' - ( como todo mundo %a/' - <onah .odia entender .or qu'

  Eeram-lhe mano.las com .rotetores de a+o .ara os dedos e um escudo redondo, queaumenta#a ainda mais o .eso : su.ortado .elo cor.o'  - A l3mina não tem gume e a .onta %oi arredondada .ara a seguran+a de #ocs - disse armiento .assando a es.ada' - ( mais um .or rete que uma es.ada'  <onah estranhou quando .egou a es.ada, .ois sua mão tinha .ouca %leibilidade dentroda mano.la'  Angel Costa esta#a igualmente #estido com uma armadura e, da! a .ouco, os doiscaminharam trabalhosamente um .ara o outro' <onah ainda não sabia muito bem como ialutar quando #iu a es.ada de Costa descendo sobre seu elmo' 6le mal conseguiu le#antar oescudo'  Com o .eso do escudo, o bra+o logo se tornou .esado como chumbo, mas Costa não .ara#a' ;s gol.es eram tantos e tão #elo/es que <onah, mesmo quando a es.ada chegoumais baio, continuou inca.a/ de se de%ender' A .ancada que Costa lhe deu nas costelas %oitão tremenda que teria .artido ao meio seu cor.o se a l3mina esti#esse a%iada e a armadura%osse menos resistente' Besmo assim, embora .rotegido .or rou.a acolchoada e a+o de boaqualidade, <onah sentiu a es.ada #ibrar nos seus ossos' 6 o ataque %oi a.enas o .recursorde muitos outros, .ois Costa a.lica#a uma sarai#ada de gol.e atr:s de gol.e, todosterr!#eis'  <onah s conseguiu acertar Costa duas #e/es antes de a luta ser interrom.ida .elo mestre,que .`s uma #ara entre os dois' icou claro ; @0"B; DE6D 1O9  dos que assistiamI se a batalha %osse a sério, Angel o teria matado a t;seinstantaneamente' A qualquer momento, Costa .oderia ter dado !%eol.e de misericrdia'  <onah sentou-se num banco, com dores e sem %`lego, enquanto a+o o li#ra#a da .esadaarmadura'  ; mestre se a.roimou e %e/ muitas .erguntas' A armadura o cons-Z ^gera em ecessoAlgum encaie em.errara 0eria <onah alguma  estão .a-a tomar a armadura mais .rotetora e menos a.risionante <onah res.ondeu comsinceridade, di/endo que a luta %ora tão di%erente de todas as suas e.erincias .assadas queele nem se .reocu.ara com esses detalhes'  ; mestre s .recisou encarar o rosto de <onah .ara .erceber a humilha+ão'  - 7ão .ense que .oderia ter sido melhor que Angel Costa nessegénero de dis.uta - disse o armeiro' - 7inguém aqui seria ca.a/ desu.er:-lo' Costa era sargento e .assou de/oito anos .ro#ando o gostode sangue num constante e :rduo combate contra os sarracenos' 7esses ogos que %a/emos .ara testar o a+o, nosso mestre-de-armasgosta de imaginar que ainda .recisa lutar até a morte'=a#ia um grande hematoma roo no lado esquerdo das costelas de <onah e a dor erasu%icientemente %orte .ara %a/-lo acreditar que .udesse ha#er alguma lesão mais séria' or

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#:rias noites, s .`de dormir de costas e, no meio de uma dessas noites, a dolorida insnia .ermitiu que ou#isse resmungos de ang*stia #indos da outra .onta do aloamento'  6le su%ocou alguns de seus .r.rios gemidos e concluiu que o lamento rouco #iera de&icente Ee/a' 6ntão se le#antou no escuro e %oi se a.roimando do catre do #elho, à beirado qual se aoelhou'

-&icente- eregrino''' ?anto eregrino'''&icente esta#a tomado .elo choro'- 6l Com.asi#o ?anto eregrino, 6l Com.asi#o?ão eregrino, o misericordioso' ; que aquilo signi%ica#a  - &icente - <onah tornou a di/er, mas o homem mergulhara numatorrente de .reces, in#ocando Eeus e aquele santo .eregrino' <onahestendeu a mão e sus.irou quando sentiu o calor na testa'  Ao se le#antar, esbarrou na garra%a de :gua de &icente, que caiu com um estrondo'  - ue .orra é essa - .erguntou uis lanas, acordado na outra .onta e acordando a+o armiento' 1NG 7;A=);RE;7- ue %oi - disse a+o'- ( &icente - res.ondeu <onah' - 6st: ardendo em %ebre'- a+a ele %icar quieto ou le#e-o .ara morrer l: %ora - disse uis'Ee in!cio, <onah não soube o que %a/er' Bas se lembrou do que oabba %i/era quando ele e Beir ti#eram a %ebre' ?aiu do aloamento e tro.e+ou .ela noiteescura até a %ora' "nclinado como l!ngua de dragão, o %ogo lan+a#a um clarão #ermelhosobre bancadas e %erramentas' 6le acendeu um c!rio com as brasas e usou o c!rio .araacender uma lam.arina, gra+as à qual encontrou uma bacia' 6ncheu a bacia com :gua deuma moringa5 de.ois .egou os tra.os que esta#am em.ilhados num monte e ser#iriam .ara .olir os metais'<onah #oltou ao aloamento, onde .ousou a lam.arina no chão'- &icente'''  ; #elho &icente se deitara #estido e <onah come+ou a lhe tirar a rou.a' 0al#e/ tenha %eitomais barulho do que de#ia ou tal#e/ a lu/ trémula da lam.arina bastasse .ara arrancarno#amente uis lanas de seu sono'  - Baldi+ão - disse uis se sentando na cama' - 7ão mandei queo tirasse daqui?a%ado cruel' Alguma coisa e.lodia dentro de <onah'- 6scute aqui''' - come+ou uis'<onah se #irou e deu um .asso na dire+ão dele'  - &: dormir' - rocura#a manter um tom de res.eito, mas a rai#amarca#a de as.ere/a a sua #o/'  uis continuou algum tem.o reclinado, encarando o a.rendi/ que %ala#a daquele eitocom ele' or %im, acabou se deitando de no#o e #irando a cara .ara a .arede'  a+o também ha#ia acordado' ;u#ira a troca de .ala#ras entre uis e <onah e esta#arindo baio em seu catre'  ; cor.o de &icente .arecia com.osto de .ele sua sobre ossos e a sueira %orma#a uma .asta nos .és' <onah, .orém, acabou lhe dando um banho ca.richado, trocando duas #e/esa :gua, es%regando-o cuidadosamente com tra.os secos .ara .roteg-lo da %riagem'

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Ee manhã, a %ebre tinha cedido' <onah %oi até a co/inha e .ediu ao outro Banuel .ara diluir o mingau da manhã em :gua quente' Ee.ois le#ou a tigela .ara o aloamento e, com umacolher, ser#iu o mingau ao #elho &icente' 6nquanto isso, .erdeu a hora de seu .r.riodeseum' uando corria .ara se a.resentar ao trabalho na bancada de uis, %oi interce.tado

 .elo mestre'  ?abia que uis de#ia ter contado a ierro sua desobedincia e %icou à es.era de encrenca,mas o mestre %alou calmamenteI ; @0"B; DE6D 1N1- Como est: o &icente- Acho que #ai %icar bom' A %ebre .assou'  - ktimo' ?ei que às #e/es é di%!cil ser a.rendi/' embro de meua.rendi/ado com Abu Adal Xhira, em B:laga' Eentre os mu+ulmanosque %abrica#am armaduras, ele era um dos .rimeiros' : morreu e suao%icina acabou'  uis também %oi a.rendi/ de Abu e, quando cheguei a )ibraltar e abri minha .r.riaarmaria, %ui busc:-lo .ara trabalhar comigo' ?ei que uis tem um génio muito di%!cil, mas éinsu.er:#el .ara %a/er uma armadura' reciso dele em minha o%icina' 6ntende o que estoudi/endo- ?im, mestre'  - Cometi um erro colocando &icente no mesmo lugar que uislanas - disse ierro balan+ando a cabe+a' - Conhece o .equeno bar racão de.ois da %ora<onah assentiu'  - ( bem constru!do' 6 s tem algumas %erramentas' Coloque as%erramentas em outro lugar e se mude .ara l: com o &icente' 6le te#esorte .or #oc querer aud:-lo ontem à noite, Ramn Callic' e/ bem'Bas um a.rendi/ sensato não #ai esquecer que a desobedincia a ummestre-artesão não ser: tolerada duas #e/es nesta armaria' &oc com .reendeu- ?im, sehor - disse <onah'uis %icou %urioso, .ois acha#a que ierro de#ia ter batido no a.rendi/ e o mandadoembora' Eurante alguns dias, %oi se#ero e %rio com <onah, que tomando o maior cuidado .ara não dar moti#o a queias .olia intermina#elmente a armadura' ; trae de a+o .ara oconde de 0embleque esta#a nos *ltimos est:gios de acabamento e <onah es%rega#a .e+a .or  .e+a até dei:-las realmente brilhantes, cintilantes, %a/endo o .r.rio uis reconhecer quenão .odiam %icar melhor'  oi um al!#io quando o mandaram .egar su.rimentos com os mercadores da #ila'  Con#ersando com 0adeo Ee/a na mercearia, enquanto o #elho em.regado ia a.rontandoa encomenda do armeiro, <onah contou que &icente, .rimo de 0adeo, esti#era com muita%ebre'0adeo %e/ uma .ausa no seu trabalho'- Acha que a hora dele est: chegando  - 7ão' A %ebre cede e #olta, cede e #olta, mas mesmo assim .arece estar melhorando'  - 7ão é im.oss!#el que tenha uma reca!da %atal - 0adeo comentou

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num tom de des.re/o'  -1N2 7;A=);RE;7  <onah : esta#a saindo com os su.rimentos quando uma s*bit lembran+a o %e/ #oltar'  - 0adeo, sabe alguma coisa do ?anto eregrino, 6l Com.asi#o

''-'''- ?im, é um santo local'- ?ão eregrino, o misericordioso' ( um nome estranho'  - &i#eu nesta região h: #:rias centenas de anos' Ei/em que eraestrangeiro, tal#e/ natural da ran+a ou da Alemanha' Ee qualquer modo, tinha #indo a ?antiago de Com.ostela .ara re#erenciar as rel!quias do a.stolo' A.osto que : %e/ a .eregrina+ão a ?antiago deCom.ostela'- Ainda não, senor'  - Ah, tem de ir l: um dia' 0iago %oi o terceiro a.stolo escolhido .or 7osso ?enhor e este#e .resente na 0rans%igura+ão' ; lugar é tãosagrado que o im.erador Carlos Bagno decretou que seus s*ditosde#iam %ornecer :gua, abrigo e %ogo a todos os .eregrinos que esti#essem #iaando .ara #isitar as rel!quias do santo'  ?ea como %or, o .eregrino estrangeiro de que estamos %alando %oi ele .r.riotrans%ormado a.s dias de ora+es unto às rel!quias do a.stolo' 6m #e/ de #oltar à #idaque tinha le#ado antes da .eregrina+ão, .erambulou .ara o sul e terminou nesta região'Aqui .assou o resto de sua #ida, cuidando das necessidades dos doentes e dos .obres'- ual era seu nome de batismo  - 7ão se sabe - disse 0adeo, dando de ombros' - or isso ele %oichamado de ?ão eregrino, o misericordioso' 0ambém não sabemosonde est: enterrado' Alguns di/em que, : muito #elho, sim.lesmentecaminhou .ara longe, do mesmo modo como tinha chegado' ;utros,no entanto, garantem que mora#a so/inho e que morreu so/inho, emalgum lugar .erto daqui' ; %ato é que, em cada gera+ão, a .rocura deseu t*mulo #ira um es.orte das .essoas, sem.re sem sucesso''' Bascomo soube de nosso santo local  <onah não quis mencionar &icente e dar ao .rimo moti#o .ara no#as des%eitas'- ;u#i alguém %alando e %iquei curioso'  - Alguém na taberna, sem d*#ida - disse 0adeo com um sorriso -, .ois %requentemente a bebida agra#a a nossa conscincia do .ecado e .ro#oca o deseo de conquistar a gra+a sal#adora dos anos'<onah %icou %eli/ quando ierro mandou-o audar no barracão de a+o armiento, o%abricante de es.adas' "mediatamente, a+o .`s <onah .ara trabalhar, a%iando e .olindosabres curtos da ca#alaria e as com-

; @0"B; DE6D 1NV  das e belas es.adas de nobres e ca#aleiros, armas que tinham gume u "o e iam seestreitando do cabo à .onta' 0rs #e/es a+o de#ol#eu a .rimeira es.ada que <onah a%iou'  \ ; bra+o do es.adachim %a/ o trabalho, mas a es.ada tem de audar Cada gume de#e sertrabalhado com a .er%ei+ão m:ima que o a+o .ermite'6mbora a+o %osse um instrutor eigente, <onah gosta#a dele' ?e

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uis .arecia uma ra.osa, a+o lembra#a um urso cordial, gentil' onge da bancada detrabalho, armiento era negligente e estabanado, mas assim que come+a#a a trabalhar tinhamo#imentos seguros, e%icientes, e o mestre dissera que as l3minas de armiento eram muito .rocuradas'  7a bancada de uis, <onah tinha de se manter em silncio .raticamente total, mas logo

descobriu que a+o, sem interrom.er o trabalho, res.ondia de bom grado às suas .erguntas'- oi a.rendi/ com uis e com o mestrea+o balan+ou a cabe+a'  - ?ou mais #elho que os dois' 7a é.oca em que eles eram a.rendi/es eu : trabalha#a em alma' ; mestre me encontrou e me troue .ara c:'- ; que Angel %a/ na armariaa+o deu de ombros'  - Banuel ierro o conheceu quando ele deu baia no eército e ocontratou como mestre-de-armas, .ois Angel é de %ato um guerreiro,um .erito em cada ti.o de arma' 0entamos ensin:-lo a trabalhar com oa+o, mas ele não tem eito .ara isso' 6ntão o senor ierro encarregou-o de tomar conta dos .ees'  ala#am menos quando o mestre esta#a .resente, mas aquela bancada continua#a sendoum lugar relaante .ara trabalhar' 6m seu .osto na o%icina das es.adas, Banuel ierro#inha cuidando .essoalmente de um .roeto que tinha um signi%icado es.ecial .ara ele' ;irmão, 7uno ierro, médico de ?arago+a, mandara atra#és de caieiros-#iaantes uma sériede desenhos de instrumentos cir*rgicos' Com o a+o duro %eito do minério es.ecial que ele e<onah tinham tra/ido da ca#erna de )ibraltar, ierro ia modelando as %erramentas com suas .r.rias mãos' 6ram bisturis, lancetas, serras, ras.adores, sondas e tena/es'  7a ausncia do mestre, a+o mostrou a <onah os instrumentos, di/endo quere.resenta#am um .adrão de ecelncia no trabalho com metal' 1N4 7;A= );RE;7  - Cada .equena .e+a recebe o mesmo cuidado que ele daria a umagrande es.ada ou lan+a' ( um trabalho de amor'  ;rgulhoso, contou a <onah que audara a con%eccionar a es.ada do .r.rio mestre, %eitade a+o es.ecial'  - A l3mina tinha de ser soberba, .ois de#ia estar à altura do dono'Banuel ierro domina uma es.ada melhor do que qualquer outro'<onah .arou de .olir um instante'- Belhor que Angel Costa  - A guerra ensinou Angel a ser um matador insu.er:#el' 7inguémse com.ara a ele no uso das armas em geral, mas no caso es.ec!%ico daes.ada, o mestre é melhor'Bal as costelas de <onah come+aram a sarar, ele %oi no#amente instado a .artici.ar de umadis.uta com Angel Costa' Eesta #e/, sem.re com armadura com.leta, #iu-se montado numca#alo :rabe cin/a, um animal de batalha' e#anta#a a lan+a com uma bola de madeirare#estida de algodão na .onta e galo.a#a na dire+ão do ad#ers:rio' Angel a.onta#a umalan+a semelhante e também a#an+a#a num ca#alo de batalha, um lustroso animal de .locastanho'

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  <onah não esta#a acostumado a montar em ca#alos bra#os e se concentrou em não cair' A bola na .onta da lan+a mo#ia-se descontrolada de um lado .ara o outro enquanto eleescorrega#a, .ula#a no lombo do animal'  ;s ca#alos esta#am .rotegidos .elo ta.ume de madeira que se.ara#a os o.onentes, masos ca#aleiros .odiam se gol.ear .or cima da barreira'

  7ão hou#e .re.ara+ão, meramente um estré.ito de cascos e os dois se cru/aram' <onah#iu a bola na lan+a de Costa se tomar cada #e/ maior, assumindo o tamanho de uma luacheia e tomando, a%inal, conta do mundo' oi essa bola que o acertou, tirando-lhe oequil!brio, ogando-o no chão em barulhenta e #ergonhosa derrota'  7ão gosta#am de Costa e não hou#e grandes a.lausos, mas uis des%ruta#a cadamomento' uando a+o e outros libertaram o transtornado <onah da armadura, ele #iu uisa.ontar em sua dire+ão' ; homem riu até o rosto %icar molhado de l:grimas'  7aquela tarde, <onah tentou esconder um andar meio manco' 6ntrou na Casa da uma+ae encontrou Angel Costa amolando .ontas de %lecha num esmeril' - =ola - disse, mas Costa continuou a trabalhar e não res.ondeu' 7ão sei lutar' ; @0"B; DE6D 1NO- 7ão - Costa concordou com um riso que lembra#a um latido'  - )ostaria de a.render a usar armas' uem sabe não .oderia medar algumas aulas'Costa olhou-o de lado'  - 7ão dou aulas' - 6le testou cuidadosamente a .onta de uma %lecha com o dedo' - 6 #ou lhe di/er o que tem de %a/er .ara a.render oque eu sei' 0em de #irar um soldado e .assar #inte anos lutando contraos mouros' 0em de matar e matar, usando todo ti.o de arma, às #e/esas .r.rias mãos, e sem.re que .oss!#el cortando o .au do morto'uando ti#er mais de cem .aus circuncidados, #olte e me desa%ie,a.ostando sua cole+ão de caralhos contra a minha' A!, então, eu #ouacabar ra.idamente com #oc'  <onah encontrou o mestre na %rente do barracão e ierro %oi mais sim.:tico'  - Dm desastre, não, Ramn - ele .erguntou num tom cordial' -6st: %erido- ? no meu orgulho, mestre'  - &ou lhe dar alguns conselhos' Eesde o in!cio do galo.e, tenteagarrar a lan+a com mais %irme/a, com as duas mãos, e com a .arte de baio en%iada com %or+a entre o coto#elo e o cor.o' rocure de imediato cra#ar os olhos no inimigo e não os des#ie enquanto ele se a.roima' ?iga-o com a .onta da lan+a' 6la encontrar: o cor.o dele, com.letando um mo#imento .reestabelecido'  - ?im, senor - disse <onah, mas tão resignadamente que ierrosorriu'  - &oc também ca#alga sem con%ian+a, mas .ode-se dar um eitonisso' rocure se tornar uma s coisa com o ca#alo' Assim .oder: soltar as rédeas e se concentrar inteiramente na lan+a' 7os dias em quenão .recisarem de #oc nas o%icinas, tire o ca#alo cin/a do est:bulo e%a+a eerc!cio com ele' 6sco#e-o, d-lhe de comer e beber' Acho que

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tanto #oc quanto o animal serão bene%iciados com isso'i onah esta#a cansado e dolorido quando #oltou .ara o aloamento e caiu em seu catre'&icente olhou-o de longe'  - elo menos sobre#i#eu - disse' - Angel tem um !ntimo ruim' -&icente %ala#a normalmente e .arecia racional'

- A %ebre não #oltou- Até agora não'- ktimo, &icente, gosto disso'-1NN 7;A= );RE;7  - ;brigado .or cuidar de mim, Ramn Callic' - 6le tossiu e =m- .ou a garganta' - 0i#e sonhos assustadores durante a %ebre' Cheguei adelirar  - ? algumas #e/es - disse <onah com um sorriso' - s #e/esre/a#a .ara ?ão eregrino'- ?ão eregrino ( mesmo  icaram um instante em silncio5 de.ois &icente %e/ %or+a .ara se le#antar'  - 0enho uma coisa .ara lhe contar, Ramn' Algo que quero com .artilhar com #oc, que %oi a *nica .essoa que se im.ortou comigo'  ?entindo a tensão e uma certa estridncia na #o/ dele, <onah olhou-o com .reocu.a+ão,achando que a %ebre tinha #oltado'- ; que é, &icente- 6u descobri'- Eescobriu o qu  - Eescobri o ?anto eregrino, 6l Com.asi#o - disse &icente Ee/a'- 6ncontrei o santo das romarias'  - &icente, o que est: di/endo - <onah olhou a%lito .ara o homem'? tinham se .assado trs dias desde a noite em que a %ebre o %i/eradelirar'- Acha que não estou regulando bem ( com.reens!#el'&icente tinha ra/ão' <onah acha#a que uma loucura mansa esta#atomando conta do homem'  As mãos de &icente tatearam embaio da cama' 6ntão, segurando alguma coisa, eleengatinhou como uma crian+a .ara .erto de <onah'  - egue - disse, e <onah sentiu um obeto na mão' 6ra .equeno,%ino' 6le o ergueu, tentando energar sob a luminosidade %raca'- ; que é  - Dm osso' Eo dedo do santo' - 6le a.ertou o bra+o de <onah' -recisa #ir comigo, Ramn, e #er .or si mesmo' &amos domingo demanhã'  Baldi+ão' 7as manhãs de domingo os trabalhadores tinham %olga .ara .oderemcom.arecer à igrea' <onah achou uma .éssima ideia des.erdi+ar as .oucas e .reciosashoras que tinha .ara si mesmo' ueria seguir o conselho do mestre e .egar no est:bulo oca#alo :rabe cin/a, mas descon%ia#a que não teria sossego se continuasse a ignorar acon#ersa de &icente'  - &amos no domingo se ns dois ainda %ormos ca.a/es de andar -disse de#ol#endo o osso'

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 ; @0"B; DE6D 1NQ6sta#a .reocu.ado com &icente, que continua#a a sussurrar %ebril-mente em seu ou#idosobre a descoberta' ?ob todos os outros as.ectos,  entanto, a.arenta#a estar com.letamente restabelecido' arecia até mesmo alerta, bem-

dis.osto' ; a.etite .ara comer e beber tinha #oltado de %orma .rodigiosa'  <onah descon%iou que não teria sossego se continuasse a ignorar os a.elos de &icente'  7a manhã de domingo, os dois atra#essaram a .lana l!ngua de terra que liga#a )ibraltar à6s.anha' 6, uma #e/ na 6s.anha, de.ois de caminharem meia hora .ara o leste, &icentele#antou a mão'- Chegamos'  <onah s #iu um lugar desolado, de solo arenoso, sal.icado de numerosos a%loramentosde rochas de granito' 7ão .`de detectar nada de incomum, mas %oi atr:s quando &icentecome+ou a saltar .or algumas .edras' 7inguém acreditaria que h: .oucos dias esti#eragra#emente en%ermo'  6ntão, bem .rimo da trilha, &icente encontrou as rochas que esta#a .rocurando e<onah #iu, no centro da %orma+ão, uma grande %issura' Dma ram.a natural de rocha le#a#aa uma abertura' Dma abertura que s se torna#a #is!#el quando a .essoa chega#a quase aoto.o da ram.a'  &icente trouera car#ão numa .equena caia de metal e <onah .assou alguns segundosso.rando .ara rea#i#ar a brasa' oi com ela que acendeu um .ar de #elas .equenas egrossas'  A :gua da chu#a seria des#iada da abertura .ela ram.a de .edra, que termina#a numtrecho de areia na base da rocha' Ao entrar, <onah #iu que a ca#erna, mais ou menos dotamanho da gruta de Bingo no ?acromonte, esta#a realmente seca' 0ermina#a numa %endaestreita que, de alguma %orma, de#ia se conectar com a su.er%!cie, .ois <onah .`de sentir oar %resco'- ;lhe aqui - disse &icente'  7o bruuleio das #elas, <onah #iu um esqueleto' ;s ossos da metade su.erior do cor.o .areciam estar intactos, mas os ossos de ambas as .ernas e dos .és tinham sido deslocadosum .ouco .ara o lado' Ao se aoelhar, <onah re.arou que ha#iam sido mordidos .or algumanimal' Eas #estes que cobriam o cor.o, s resta#a uma meia d*/ia de tu%os do tecido'<onah calculou que a rou.a de#ia ter sido consumida h: muito tem.o, .ois os animais eramatra!dos .elo sal do suor'-6 aqui6ra um altar r*stico, %eito de galhos de :r#ores' Eiante dele, ha#ia

1NU 7;A'=)GRE;7trs .otes rasos de barro' =: muito seus conte*dos tinham sido comidos, tal#e/ .ela mesmacriatura que mordera os ossos'- ;%erendas - disse <onah' - 0al#e/ .ara um deus .agão'  - 7ão - disse &icente' 6le a.roimou sua #ela da .arede o.osta,onde tinham encostado uma grande cru/'  6 então &icente iluminou a .arede ao lado da cru/, .ara que <onah .udesse #er, rabiscadana .edra, a marca dos .rimrdios da cristandade, o desenho do .eie'- uando o encontrou - <onah .erguntou no caminho de #olta .ara as o%icinas do armeiro'  - 0al#e/ um ms a.s sua chegada' 7o mesmo dia em que achei,

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entre minhas .osses, uma garra%a de #inho'''- Achou entre suas .osses  - Roubei o #inho da taberna quando Mernaldo esta#a ocu.ado'Bas certamente %ui ins.irado .or anos .ara agir assim, .ois ti#e de mea%astar com a garra%a' ueria beber sem ser incomodado e meus .és

me trans.ortaram àquele lugar'- ; que .retende %a/er com o que descobriu  - =: quem .ague muito dinheiro .or rel!quias de santos' 6u gostaria que as negociasse .ara mim' Consiga o melhor .re+o'- 7ão, &icente'- &ou lhe .agar muito bem, é claro' ,- 7ão, &icente'Dm ar de ast*cia brilhou nos olhos de &icente'  - ?ei que est: .ensando no que .ode realmente conseguir' Buito bem' 0er: metade de tudo' Dma metade inteira'  - 7ão estou barganhando com #oc' ;s homens que com.ram e#endem rel!quias são .erigosos' 7o seu lugar, eu iria à igrea de )i braltar e traria o .adre''' Como ele se chama- adre &asque/'  - ?im' 6u traria o .adre &asque/ até aqui e o deiaria determinar se os restos mortais são mesmo de um santo'  - 7ão - &icente .arecia no#amente %ebril e tinha o rosto #ermelho de rai#a' - Eeus condu/iu meus .és .ara o santo' Eeus raciocinouI0irando a %raque/a .elas bebidas %ortes, &icente não é um mau sueito' &ou tra/er-lhe alguma sorte, .ara que .ossa terminar seus dias comum .ouco de con%orto'- a+a como achar melhor, &icente' Bas não #ou .artici.ar disso'- 6ntão %ique de boca %echada sobre o que #iu esta manhã'-; @0"B; DE6D 1N9- raticamente : esqueci'  - 6 se ti#er a ideia de #ender as rel!quias so/inho, me deiando de%ora, #ou %a/er com que sea se#eramente .unido'  <onah olhou-o es.antado' &icente : esquecera quem tinha tratado dele durante a doen+a'  - a+a o que bem entender com essas rel!quias e #: .ara o in%erno- disse as.eramente e, num silncio .esado, os dois seguiram .ara)ibraltar' CA0D; 24 ; 66"0;7 o domingo seguinte, na sombra do amanhecer, <onah tirou do est:bulo o ca#alo :rabecin/ento e .artiu da armaria antes que os outros trabalhadores acordassem' 7o in!cio,tentou a.enas se acostumar ao %ato de estar no lombo da criatura' Eemoraria trs semanascriando coragem .ara soltar as rédeas' ; mestre lhe dissera que não basta#a se manter emcima da sela5 de#ia a.render a dar dire+es ao ca#alo sem usar as rédeas ou as es.oras' Dmchute com os calcanhares, o animal galo.a#a, uma .ressão dos oelhos, .ara#a, umasucessão de .resses, recua#a'

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  ara sua satis%a+ão, descobriu que o ca#alo %ora bem treinado e era ca.a/ de obedeceràquelas instru+es' <onah .raticou-as #:rias #e/es, a.rendendo a %lutuar nos altos e baiosdo galo.e, a anteci.ar a .arada brusca, a retroceder diante de um obst:culo'?entia-se um escudeiro treinando .ara ca#aleiro'<onah : .assara um %inal de #erão, um outono e um in#erno como a.rendi/' 7aquele

 .onto do sul, a .rima#era #inha cedo' 7um dia de sol e ar %resco, Banuel ierro eaminoucada .arte da armadura do conde &asca e .ediu que uis lanas a montasse'  A armadura esta#a no .:tio, ao lado de uma ecelente es.ada %eita .or a+o armiento, eo sol trans%orma#a o metal .olido num es.lendor %lameante' ; mestre disse que .lanea#amandar um gru.o de homens entregar a armadura ao nobre em 0embleque, mas isso teriade es.erar a conclusão de certos trabalhos mais urgentes'  6ntão a armaria transbordou de marteladas e sons met:licos ante a reno#ada energia dequem queria ser escolhido .ara a #iagem' 6stimulado .elas encomendas .rontas e .elachegada da .rima#era, ierro anunciou que, antes da .artida da equi.e de entrega, ha#eriaoutro ogo' 7as manhãs dos dois domingos seguintes, <onah %oi .ara um cam-

; @0"B; DE6D 1Q1%irmemente em riste enquanto o ca#alo :rabe galo.a#a .ara um arbusto que ser#ia de al#o'  #:rias e di%erentes noites, &icente chegou muito tarde ao aloamento, onde se deia#acair no catre e, num estu.or de bbado, come+a#a a roncar de imediato' 7a mercearia,0adeo Ee/a %ala#a com desdém do .rimo &icente'  - ica bbado muito de.ressa e se torna desagrad:#el' 6nto.e dehistrias malucas quem bebe aquelas coisas baratas com ele ou quemest: sim.lesmente .or .erto'- ue ti.o de histrias malucas - <onah .erguntou'  - ala que é um dos eleitos .or Eeus' Ei/ que encontrou os ossosde um santo' Ei/ que logo %ar: uma generosa doa+ão à ?anta Badre"grea, mas não tem dinheiro sequer .ara .agar o #inho'  - Mem - disse <onah .ouco à #ontade -, ele não .reudica ninguém, sal#o, tal#e/, a si .r.rio'  - Acho que meu .rimo &icente #ai acabar se matando de tanto beber - disse 0adeo'Banuel ierro .erguntou se <onah não queria .artici.ar do no#o ogo a ca#alo, en%rentandooutra #e/ Angel Costa' Ao concordar, <onah achou que o mestre queria saber se ele esta#aa.ro#eitando a autori/a+ão de .raticar com o ca#alo :rabe'  6ntão, dois dias mais tarde, na %riagem da manhã, a+o armiento audou-o mais uma #e/a #estir a amassada armadura de testes, enquanto, na etremidade da arena de combate,uis da#a risadas e a.ronta#a Costa, como se %osse seu escudeiro e camareiro'  - Ah, uis - Costa grita#a, a.ontando .ara <onah num %also .3nico' - & o tamanho dele Ai de mim, é um gigante' ue desgra+a ;que #amos %a/er - 6 tremia de rir quando uis lanas unta#a as mãose as erguia .ara o céu, como se .edisse misericrdia'A %isionomia de armiento, geralmente tranquila, brilha#a de rai#a'- ?ão a escria - di/ia'  ;s o.onentes subiram nas montarias' Costa .rimeiro, instalando-se ra.idamente na sela'<onah %oi mais desaeitado' Achando di%!cil le#antar a .erna e .ass:-la .elo lombo do

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ca#alo :rabe, %e/ a obser#a-pao mental de que de#ia descre#er aquela di%iculdade .ara omestre, embora tal#e/ isso %osse desnecess:rio, .ois ierro assistia à com.eti-pao ao ladodos trabalhadores e era seu h:bito re.arar em muita coisa'  Ee.ois de montar, cada um dos contendores #irou o ca#alo .ara encarar o outro' <onah .rocurou .arecer ner#oso, agarrando as rédeas

 1Q2 7;A=);RE;7com a mão esquerda e segurando %rouamente a lan+a com a direita, deiando a .onta cair .ara o lado'  Bas quando o mestre deiou o len+o cair .ara dar in!cio à dis.uta, <onah largou as rédease agarrou a lan+a com toda a %or+a' 7esse momento, o ca#alo :rabe se atirou .ara a %rente'<onah ainda não se acostumara de todo a correr .ara um al#o e era ener#ante #er que oal#o também corria em sua dire+ão, mas conser#ou a lan+a na mira do ca#aleiro que sea.roima#a' 6 de re.ente, a bola na .onta da lan+a encontrou eatamente o centro do .eitoral de Angel' A lan+a de Costa ras.ou sem causar dano .elo ombro de <onah que, .orum instante, acreditou que tinha #encido' A lan+a de <onah, no entanto, #ergou, quebrou, eAngel Costa, que continuou a.rumado, .assou a galo.e .or ele'  Ambos #iraram os ca#alos na .onta do ta.ume que di#idia as can-chas' Como o mestrenão deu sinal de que ia declarar o %im da com.eti+ão, <onah ogou no chão a haste da lan+aquebrada e a#an+ou desarmado ao encontro de Angel'  A .onta da lan+a de Costa ia %icando maior à medida que eles se a.roima#am, masquando Costa esta#a a dois .assos de galo.e, <onah .ressionou os oelhos contra o lombodo ca#alo cin/ento e o :rabe .arou de imediato'  A lan+a errou o .eito de <onah .or um .almo, ou sea, .erto o bas- tante .ara ele .oderagarr:-la e sacudi-la com %or+a, enquanto seus oe- lhos da#am ao bom animal o sinal derecuo' Angel Costa quase %oi .uado da sela, s conseguindo se equilibrar .orque soltou alan+a e %e/ seu ca#alo .assar .elo outro' <onah %oi até a outra .onta da arena segurandocom %or+a a lan+a ca.turada' uando os dois se #iraram e %icaram de no#o %rente a %rente,era ele quem esta#a armado5 o inde%eso era Angel'  ;s gritos dos trabalhadores eram uma gostosa m*sica nos ou#idos de <onah, mas todoesse *bilo %oi .or :gua abaio quando o mestre %e/ sinal .ara a dis.uta acabar'  - &oc %oi bem, incri#elmente bem - disse a+o, audando <onaha se li#rar da armadura' - Acho que o mestre interrom.eu .ara que seucam.eão não %osse humilhado'  <onah olhou .ara o outro lado da arena, onde uis auilia#a Angel' 6 Angel Costa nãoesta#a mais rindo' uis reclama#a com o mestre, que se limita#a a olh:-lo %riamente'  - ;h, não %oi um bom dia .ara nosso mestre-de-armas - disse a+oem #o/ baia' ; @0"B; DE6D 1QV- or qu 6le não caiu do ca#alo' ; ogo terminou sem #encedor'  - ( .or isso que est: %urioso ara um desgra+ado sel#agem comoAngel Costa, não #encer é a mesma coisa que .erder' 6le não #aiesquecer tão cedo o trabalho que #oc lhe deu hoe'<onah não #iu ninguém ao entrar no barracão .ara onde se trans%erira com &icente' 6sta#adece.cionado .or não ter encontrado o #elho entre os que assistiam à com.eti+ão, mas .ensa#a na alegria de contar a histria em detalhes'

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  ; .eso da armadura e a tensão do combate tinham sido tremendos' A eaustão omergulhou no sono assim que bateu no catre' ? acordou de manhã, ainda so/inho,dedu/indo que &icente .assara a noite %ora'  a+o e Banuel ierro : esta#am trabalhando quando ele se a.roimou da bancada dases.adas'

- oi bem %eito o que aconteceu ontem - disse o mestre sorrindo'- ;brigado, senor - <onah res.ondeu com .ra/er'Bandaram-no amolar alguns .unhais'- &iram o &icente;s dois sacudiram a cabe+a'- 6le não dormiu aqui'  - ( um beberrão' Ee#e ter se embriagado e dormido atr:s de alguma moita, de alguma :r#ore' - a+o logo se interrom.eu, lembrandoda estima que ierro sentia .elo #elho &icente'  - 6s.ero que a %ebre não tenha #oltado - disse ierro' - 6 que nãotenha acontecido nada de mau'<onah assentiu, meio inquieto'  - )ostaria que me a#isassem quando ele a.arecer - disse o mestree <onah e a+o concordaram'?e ierro não ti#esse %icado sem tinta de escre#er ao %a/er as contas da armaria, <onah nãoestaria na #ila quando &icente %oi encontrado' 6le se a.roima#a da mercearia quando um#o/erio e um grito ergueram-se da doca que %ica#a no %im da rua .rinci.al'- Dm a%ogado Dm a%ogado  <onah untou-se aos que corriam .ara a doca e chegou a tem.o de #er as .essoas tirando&icente do estreito' A :gua escorria do cor.o dele'  )rudado na cabe+a, o cabelo ralo re#ela#a o couro cabeludo e um talho lateral' ;s olhosse arregala#am .ara o #a/io'- A cara est: tão machucada - disse <onah'  - ?em d*#ida ele %oi ogado contra as .edras e os molhes - disseosé )ri.o em #o/ baia'  -1 Q4 7;A= );RE;7  0adeo Ee/a #eio da mercearia .ara #er que barulho era aquele' ouco de.ois, ca!a de oelhos ao lado do cor.o e .unha a cabe+a molhada de &icente contra o .eito'- Beu .rimo''' Beu .rimo'''- ara onde #amos le#:-lo - .erguntou <onah'  - ; mestre ierro gosta#a dele - disse )ri.o' - 0al#e/ deie&icente ser enterrado atr:s da armaria'  uando le#aram &icente, <onah seguiu com )ri.o e 0adeo atr:s do cor.o' 0adeo esta#aabalado'  - Mrinc:#amos untos quando éramos garotos' (ramos amigos inse .ar:#eis''' Dm homem com seus de%eitos, mas de bom cora+ão' - ; .rimo, que %alara tão mal do &icente #i#o, agora irrom.ia em l:grimas')ri.o calculara acertadamente que, gra+as à sim.atia que ti#era .or &icente, o mestreconcordaria em %a/er um *ltimo ato de caridade' &icente %oi enterrado num .equeno trechogramado atr:s do barracão das es.adas' iberados do ser#i+o, os homens se reuniram sob o

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sol quente .ara #er o se.ultamento e ou#ir a ora+ão %*nebre do .adre &asque/' Ee.ois#oltaram ao trabalho'5,'  A morte deiou uma sensa+ão no ar' ; barracão onde <onah dormia %icou #a/io esilencioso com o desa.arecimento de &icente' or #:rias noites, ele te#e sonos agitados,

acordando de madrugada, %icando deitado no escuro, atento à correria dos camundongos'!I Antes da .artida do gru.o que ia a 0embleque entregar ao conde&asca a armadura e uma no#a es.ada, trabalha#a-se duro .ara concluir algumasencomendas .endentes' oi .or isso que Banuel ierro %ran/iu a testa quando um meninotroue o recado .ara Ramn Callic' Dm .arente dele esta#a em )ibraltar e queriaencontr:-lo na taberna'  - &oc de#e ir, é claro - disse ierro a <onah, que a%ia#a es.adas'- Bas #olte assim que ti#er %alado com ele'  <onah agradeceu com ar con%uso e %oi andando bem de#agar .ara a #ila, a cabe+arodando' uem o es.era#a não era o tio Aron, isso esta#a claro' Ramn Callic era umnome in#entado, criado .ara atender a %inalidades .r:ticas' ?eria .oss!#el que eistisserealmente um Ramn Callic nas redonde/as e que <onah 0oledano esti#esse .restes a seencontrar com um .arente dele  Eois homens es.era#am na %rente da taberna, untamente com o menino que trouera amensagem' <onah #iu o garoto a.ont:-lo .ara a du.la, ganhar uma moeda e ir emboracorrendo'  Ao caminhar na dire+ão deles, <onah re.arou que um esta#a #estido como ca#aleiro, comum colete de malha sobre rou.as de boa qualidade' ; @0"B; DE6D 1QODsa#a uma barba rente, muito bem cuidada' ; outro tinha a barba re#olta, rou.as maisgrosseiras, embora também carregasse uma es.ada' Dma .arelha de bons ca#alos %oraamarrada no .ortão dos %undos da taberna'- ?ehor Callic - disse o homem da barba rente'-?im'  - &amos andar um .ouco enquanto con#ersamos, .ois estamoscansados da sela'- uem são os senhores 6 qual dos dois é meu .arente; homem sorriu'- 0odos sob a mão de Eeus são como .arentes, não é assim<onah os encarou'- 6u me chamo Anselmo a#era'  <onah lembrou-se do nome' Bingo tinha se re%erido a a#eraI 6ra o sueito quecontrola#a, no sul da 6s.anha, a #enda de rel!quias roubadas'a#era não a.resentou o .arceiro, que .ermaneceu em silncio'- ; senor &icente Ee/a nos .ediu que %al:ssemos com #oc'- &icente Ee/a est: morto'- amento' Algum acidente- 6le se a%ogou e acabou de ser enterrado'  - Dma %atalidade' &icente nos disse que #oc conhecia a locali/a+ão de uma certa ca#erna'

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6ntão <onah te#e certe/a de que ha#iam assassinado &icente'- 6stão .rocurando uma das ca#ernas da rocha de )ibraltar  - 6la não %ica na rocha' Eedu/imos a .artir do que Ee/a nos contou que %ica um tanto distante de )ibraltar'- 7ão sei nada dessa ca#erna, senor'

  - Ah, entendo, às #e/es é di%!cil lembrar certas coisas' Bas #amosaudar sua memria' 6 também #amos recom.ensar generosamentesuas recorda+es'  - ?e &icente lhes deu o meu nome, .or que não ensinou o caminho .ara a ca#erna  - Como eu disse, a morte dele %oi uma %atalidade' 6sta#a sendoencoraado a lembrar e o encoraamento %oi desastrado, entusi:sticodemais'  <onah te#e um cala%rio ante a %rie/a com que a#era admitia um %ato tão horr!#el'  - 6u não esta#a aqui, .ercebe - o homem continuou' - ?e esti#esse, o resultado seria melhor' uando &icente %inalmente se dis.`s a 1QN 7;A=);RE;7ensinar o caminho, a morte o sur.reendeu' Bas antes, ao ser estimulado a di/er quem mais .odia audar, .ronunciara seu nome'  - ?er: mesmo que alguém mais %icou sabendo dessa ca#erna que&icente conhecia - disse <onah'; homem com a barba rente sacudiu a cabe+a e .erguntouI- 0e#e o.ortunidade de olhar .ara o &icente antes do enterro-?im'- obre a%ogado' 6sta#a com m: a.arncia-?im'- 0err!#el' ; mar não tem .iedade'Anselmo a#era encarou <onah'  - ?omos es.erados em outro lugar e estamos nos atrasando - disse -, mas em de/ dias estaremos no#amente aqui' ense na recom.ensa e no que o .obre &icente ia .re%erir que %i/esse'  <onah entendeu que .recisaria estar longe de )ibraltar quando os dois #oltassem' ?abiaque, se não re#elasse a locali/a+ão da ca#erna do santo, eles o matariam' 6 se re#elassetambém ia morrer, .ois não deiariam uma testemunha #i#a'+I icou abatido .orque .ela .rimeira #e/, desde que sa!ra de 0oledo, gosta#a de onde esta#a e do que esta#a %a/endo' ierro era um homemv bom, generoso, um ti.o de mestre etremamente di%!cil de achar'] - ueremos que re%lita um .ouco, assim se lembrar: do que .reci-" samos saber Ee acordo, amigo  A #o/ de a#era %ora sem.re agrad:#el, mas <onah tinha #isto o %erimento na cabe+a de&icente e o terr!#el estado do rosto e do cor.o'- &ou %a/er o .oss!#el .ara lembrar, senor- ele disse gentilmente'- alou com seu .arente - ierro .erguntou'- ?im, mestre' 6ra um .arente distante do meu lado materno'  - am!lia é im.ortante' 6 é bom que tenha #indo neste momento, .ois daqui a alguns dias não o encontraria mais' - Eisse que decidira

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mandar a+o armiento, uis lanas, Angel Costa e Ramn Callicentregar a armadura do conde &asca' - a+o e uis tinham a com.etncia necess:ria .ara %a/er os austes de que a armadura .recisasse a.sser e.erimentada' Angel seria o che%e da .equena cara#ana'  ierro queria que Ramn Callic a.resentasse a armadura ao conde .orque %ala#a um

es.anhol melhor que os outros e .orque sabia ler e escre#er'  - uero que o conde de 0embleque me con%irme .or escrito o rece bimento da armadura' "sso est: claro1

; @0"B; DE6D 1QQ  <onah demorou um .ouco .ara res.onder, .ois esta#a recitando uma ora+ão de gra+as'- ?im, senor, est: claro'A.esar do al!#io ao saber que estaria bem longe de )ibraltar quando Anselmo a#era#oltasse, <onah %icou um tanto a.reensi#o .or #iaar .ara o distrito de 0oledo' onderou,no entanto, que sa!ra de 0oledo quando menino e ia #oltar como homem %eito, os tra+osalterados .elo crescimento, .ela maturidade, .elo nari/ quebrado, sem %alar na barbaes.essa e no cabelo com.rido' Além disso, tinha outra identidade, conhecida .or todos'  ierro reuniu os quatro membros do gru.o e .rocurou instru!-los com absoluta clare/a'  - ( .erigoso #iaar .ara lugares desconhecidos e ordeno que trabalhem em conunto, não brigando um com o outro' Angel é o l!der dogru.o, encarregado da de%esa e res.ons:#el .erante mim .ela seguran+a de cada um de #ocs' uis e a+o são res.ons:#eis .ela condi+ão daarmadura e da es.ada' Ramn Callic entregar: a armadura ao conde&asca, #eri%icando se ele %icou satis%eito com nosso trabalho e lhe .edindo um recibo .or escrito das armas'  erguntou a um .or um se tinham com.reendido suas instru+es e todos res.onderama%irmati#amente'  ierro su.er#isionou os cuidadosos .re.arati#os da #iagem' A *nica coisa que le#ariam .ara comer eram alguns sacos de biscoito duro e er#ilhas secas'  - Angel ter: de ca+ar no caminho .ara conseguir carne %resca -disse o mestre'  oi atribu!do um ca#alo a cada um, enquanto a armadura do conde &asca seriatrans.ortada .or quatro mulas de carga' ara que a a.arncia de seus trabalhadores não oen#ergonhasse, ierro lhes deu rou.as no#as e %e/ se#eras recomenda+es de que sde#eriam #esti-las quando esti#essem se a.roimando de 0embleque' 0odas as quatro .e+astinham bainhas .ara es.adas, e as de Costa e <onah eram cotas de malha' Costa amarrougrandes es.oras en%erruadas nas botas, .egando também um arco e #:rios .acotes de%lechas'a+o sorriu'  - Angel #ai andar de cara .ermanentemente %eia .ara não ha#er d*#ida sobre quem é o l!der - ele sussurrou .ara <onah, que acha#auma sorte ter a+o a seu lado além dos outros dois' 1QU 7;A=);RE;7

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uando tudo esta#a .ronto, os quatro subiram com os animais na .rancha do .rimeirona#io costeiro a tocar em )ibraltar, que, .ara sur.resa de <onah, %oi o a eona' ;comandante do barco saudou cada .assageiro com uma .ala#ra calorosa'  - ;l:, é #oc - disse .ara <onah' 6mbora nunca ti#esse %aladocom <onah quando ele era membro da tri.ula+ão, o homem agora se

inclina#a e sorria' - Mem-#indo outra #e/ ao eona, senor' a+o,Angel e uis #iram com es.anto os demais membros da tri.ula+ãocum.rimentarem-no'  ;s animais %oram amarrados nas amuradas do con#és de ré' Como a.rendi/, era de#er de<onah .egar todo dia %orragem no .orão e aliment:-los'  Eois dias a.s a .artida de )ibraltar, o mar %icou enca.elado e uis come+ou a enoar e#omitar' Angel e a+o continuaram indi%erentes ao ogo do barco e, .ara sur.resa e .ra/erde <onah, ele também' uando o imediato gritou a ordem de recolher as #elas, <onahobedeceu ao im.ulso de sair correndo .ara a escada de corda do mastro .rinci.al' oisubindo e logo auda#a, com mo#imentos :geis, os marinheiros a .uar a #ela' uandodesceu no#amente .ara o con#és, o homem chamado ose., #!tima do acidente que dera a<onah o.ortunidade de untar-se à tri.ula+ão, sorriu e deu-lhe um ta.inha nas costas' Baistarde, re%letindo sobre o %ato, ele .ercebeu que se ti#esse ca!do no mar a cota de malha ocarregaria .ara o %undo' 6 .elo resto da #iagem se lembraria de que era a.enas um .assageiro'  ara os quatro que embarcaram em )ibraltar, os dias a bordo seriam de .uro tédio' 7oterceiro dia, de manhã bem cedo, Angel desem.acotou seu arco, .egou um .acote de%lechas e se .re.arou .ara atirar nos .:ssaros' ;s outros sentaram-se .ara #er'  - Angel é tão bom com o arco quanto um maldito ingls - dissea+o a <onah' - &eio de uma aldeia da Andalu/ia %amosa .or seus ti-mos arqueiros e %oi como arqueiro que entrou na mil!cia'Bas )as.ar )atuelles, o imediato, correu .ara Costa'- ; que est: %a/endo, sehori  - &ou matar alguns .:ssaros marinhos - disse Angel num tom descontra!do, encaiando uma %lecha'; imediato esta#a horrori/ado'  - 7ão, senor' 7ão #ai matar nenhum .:ssaro do con#és do eona, .ois isso traria desgra+as .ara o barco e .ara ns' %echou a cara .ara )atuelles, mas a+o correu .ara a.lac:-lo'

; @0"B; DE6D 1Q9  - ogo #amos desembarcar, Angel, e #oc ter: muito o que ca+ar'recisamos de sua habilidade .ara nos abastecermos de carne' - araal!#io geral, Costa baiou e guardou o arco'6ntão os quatro sentaram-se lado a lado, contem.lando o mar e o céu'  - Conte alguma coisa da guerra, Angel - disse uis' Costa aindaesta#a de cara %eia, mal-humorado, mas uis insistiu até ele concordar' 7o .rinc!.io, todos ou#iram com interesse suas memrias de soldado, .ois nenhum deles esti#era na guerra' ogo, no entanto, cansaram-sede histrias de massacres, carni%icinas, aldeias incendiadas, gado abatido e mulheres #ioladas' Eeram-se .or satis%eitos antes mesmo deAngel .arar de %alar'

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;s quatro : esta#am a bordo ha#ia no#e dias' A monotonia da #iagem come+ou a a%et:-los5às #e/es a im.acincia #inha à tona e e.lodia' or acordo t:cito, cada homem .assa#alongas horas do dia isolado e <onah não .arou de re#irar um .roblema em sua mente' ?e#oltasse .ara )ibraltar, era certo que Anselmo a#era ia mat:-lo' Contudo, o con%rontoentre Costa e )as.ar )atuelles come+ara a lhe .ro.orcionar uma no#a #isão do .roblema'

A autoridade de Angel %ora sobre.uada .ela maior autoridade que o imediato detinha a bordo' Dma %or+a %ora mantida sob controle .or uma %or+a maior'  <onah disse a si mesmo que .recisa#a encontrar alguma %or+a maior que Anselmoa#era, uma %or+a ca.a/ de erradicar .ara sem.re a amea+a do ladrão de rel!quias' A .rinc!.io isto .areceu absurdo, mas enquanto continua#a sentado no con#és, olhando horase horas o mar, um .lano come+ou lentamente a tomar %orma em sua cabe+a'?em.re que o na#io se a.roima#a de um .orto e atraca#a, eles desciam com os animais .ara eercit:-los' uando %inalmente a eona a#an+ou .ara as docas de &alncia, osca#alos e as mulas de carga esta#am saud:#eis'  <onah tinha ou#ido histrias terr!#eis do .orto de &alncia durante os dias da e.ulsão'?oubera como o .orto %icara re.leto de na#ios, alguns em .éssimo estado, equi.ados com#ela somente .ara a.ro#eitar a maré de altas tari%as .agas .elos deslocados' ?oubera comohomens, mulheres e crian+as tinham se amontoado em cada .orão' ?oubera como, aoirrom.erem e.idemias, os .assageiros atingidos eram abandonados em ilhas desertas .aral: morrer' ?oubera que, assim que não eram mais #istos de terra, algumas tri.ula+estinham matado os .assageiros e ogado os cor.os no mar' 1UG 7;A= );RE;7  Contudo, no dia em que Angel tirou a comiti#a do a eona, o sol esta#a brilhando e o .orto de &alncia .arecia tranquilo, silencioso' W  <onah sabia que a tia, o tio e o irmão ca+ula tinham ido .ara alguma .equena aldeialitor3nea à .rocura de trans.orte' 0al#e/ esti#essem #i#endo em solo estrangeiro' 7o!ntimo, sentia que nunca mais ia encontr:-los, mas sem.re que um garoto da idade que oirmão teria .assa#a .or ele, da#a uma boa olhada, buscando os tra+os da %isionomia de6lea/ar' ; irmão estaria com tre/e anos' ?e não ti#esse morrido e ainda %osse udeu, : seriacontado entre os homens do minJan'Bas <onah s #ia rostos desconhecidos'&iaaram .ara oeste, deiando &alncia .ara tr:s' 7enhum dos ca#alos .odia se com.ararcom o garanhão :rabe que ele ca#algara nos torneios' ?ua montaria era uma grande égua decor .arda, com orelhas chatas e uma cauda %ina balan+ando entre imensas n:degas equinas'A égua realmente não .ossu!a um .orte #istoso, mas era es%or+ada, %:cil de le#ar, e <onahs tinha de lhe agradecer'  Angel ia na %rente, seguido .or a+o, que le#a#a duas mulas, e uis, le#ando as outrasduas' <onah ia na retaguarda, o que lhe agrada#a' Cada um desen#ol#ia seu .r.rio estilona trilha' Ee #e/ em quando, Angel solta#a alguns sons dissonantes, tão dis.osto a cantarum hino religioso quanto uma cantiga obscena' a+o unta#a-se a qualquer m*sica comuma retumbante #o/ gra#e' uis cochila#a na sela, enquanto <onah .assa#a o tem.o .ensando em muitas coisas' s #e/es .ondera#a longamente sobre o que de#ia %a/er .aracolocar em .r:tica seu .lano contra Anselmo a#era' 6m algum lugar .erto de 0oledoha#ia homens que negocia#am com rel!quias roubadas, com.etindo com a#era nocomércio il!cito' A.ega#a-se à ideia de que, se conseguisse con#enc-los a eliminar a#era,estaria sal#o'

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  requentemente ele .assa#a o tem.o .rocurando lembrar de trechos hebreus que ha#iaesquecido' A.s alguns .oucos anos, a rica linguagem hebraica %ugira de sua mente,le#ando .ala#ras e melodias'  oi ca.a/ de recu.erar alguma coisa, %ragmentos que re.etia, #e/es sem conta, numsilncio im.er%eito' `de lembrar, com rigorosa .er%ei+ão, um trecho curto do )énesis 22,

 .ois %ora a .assagem que cantara 8como menino que se torna#a homem quando deiaramque lesse a 0ora .ela .rimeira #e/I Chegaram ao lugar do qual Eeus %alara e Abraãoconstruiu o altar ali e .egou "saac, seu %ilho, estendendo-o no altar, sobre a madeira' 6Abraão esticou a mão e .uou a %aca .ara matar seu %ilho' ; trecho o assustara na é.oca econtinua#a a assusta- ; @0"B; DE6D 1U1"o agora' Como .odia Abraão ter mandado o %ilho cortar madeira .ara o .r.rio sacri%!cioComo .odia ter concordado em matar "saac e queimar-lhe o cor.o or que não ha#iaquestionado a ordem de Eeus, até mesmo discutido com ele Abba não teria sacri%icado um%ilho5 abba sacri%icara a si mesmo .ara o %ilho #i#er'  Bas <onah %oi acossado .or outro .ensamento' ?e Eeus era um Eeus usto, .or queesta#a sacri%icando os udeus da "béria  ?abia como o .ai e o rabino ;rtega res.onderiam a essa .ergunta' Eiriam que o homemnão .ode questionar as ra/es de Eeus .orque o homem não .ode #er os des!gnios maisabrangentes' Bas se os des!gnios inclu!am humanos usados em holocausto, <onahquestiona#a Eeus' 7ão era .or um Eeus assim que continua#a no ogo .erigoso de ser diaa.s dia Ramn Callic' 6ra .elo abba, .elos outros como o abba e .elas boas coisas quea.rendera na 0ora, #ises de um Eeus misericordioso e con-solador, um Eeus que %or+a#aas .essoas a #agarem .ara o e!lio, mas %inalmente as entrega#a à terra que ele .rometera'  ?e %echasse os olhos era ca.a/ de se imaginar como .arte da cara#ana no deserto, como .arte de uma hoste de udeus, de uma multidão de udeus' &ia-os %a/er toda noite uma .ausa .ara le#antar as tendas e os ou#ia re/ar em conunto diante do santu:rio da arca e dasagrada alian+a'''  ;s de#aneios de <onah %oram interrom.idos quando o alongamento das sombrasin%ormou a Angel que esta#a na hora de .arar' 6les amarraram os oito animais sob algumas:r#ores e se .ermitiram uma %olga .ara miar, .eidar e se #erem li#res da dure/a da sela'Ee.ois .rocuraram madeira, acenderam um %ogo e, quando a .a.a da noite come+ou a%er#er, Angel caiu de oelhos e ordenou que todos %i/essem o mesmo .ara recitar o .adre-nosso e a a#e-maria'  <onah %oi o *ltimo a obedecer, mas ante o olhar %ebril do mestre-de-armas aoelhou-se naterra e acrescentou um resmungo à #o/ alta, rude, de Angel Costa e aos murm*rioscansados de a+o e uis'A .rimeira lu/ da manhã, Costa saiu com seu arco' uando os outros acaba#am de carregaras mulas, ele : esta#a de #olta com quatro .ombos e duas .erdi/es' ;s quatro de.enaramas a#es enquanto ca#alga#am, seguindo de#agar e deiando um rastro de .enas' Ee.ois .araram, lim.aram o alimento e .useram-no .ara assar num %ogo de gra#etos #erdes' Costaca+ou todas as manhãs ao longo do traeto, tra/endo uma ou duas lebres e uma grande#ariedade de a#es, de modo que nunca %altou comida' &iaa#am quase continuamente' 7as .oucas .aradas, seguiam as ordens de ierro e toma#am cuidado .ara não brigar'

1U2 7;A=);RE;7

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  Ee.ois de on/e dias na sela, num %inal de tarde, quando interrom.iam a marcha .araacam.ar, a#istaram 0embleque, cuos muros come+a#am a mergulhar na escuridão' 7amanhã seguinte, enquanto ainda esta#a escuro, <onah saiu de .erto do %ogo e tomou banhonum crrego' Ee.ois #estiu as rou.as no#as que ganhara de ierro' Beio angustiado, achouque nenhuma don/ela esconderia a genit:lia com mais cuidado' Ao acordar, os outros

/ombaram de sua 3nsia em se #estir com a.uro'6le se lembra#a da #iagem que %i/era com o .ai até aquele castelo'  Agora, ao se a.roimar com os outros do .ortão, ou#ia Angel res.onder à sentinela comum tom igualmente con%iante e alto'  - ?omos artesãos da armaria de Banuel ierro, em )ibraltar'0ra/emos a no#a es.ada e uma armadura .ara o conde ern:n &asca'  Ao serem introdu/idos no castelo, <onah constatou que o mordomo não era o mesmo deanos atr:s, mas a in%orma+ão que ele deu tinha um eco %amiliar'- ; conde &asca est: ca+ando nas %lorestas do norte'- uando #ai #oltar - Angel .erguntou' .i - ; conde #olta quando quer - disse o homem de mau humor, mas,I55 ao #er a e.ressão que brota#a nos olhos de Angel, resol#eu ra.ida-!i mente acrescentar mais alguma coisa, .ois seus .r.rios guardasrW tinham %icado inquietos em cima do muro' - 7ão acredito que #:_si demorar muitos dias - disse com relut3ncia'11 Costa se a%astou .ara con%erenciar com seus com.anheiros de#iagem'  - Agora : sabem que as mulas carregam bens de #alor' ?e sairmosdaqui com a es.ada e a armadura .odemos ser atacados, .odemos ser mortos .or esses ou outros %ilhos-da-.uta, e a.osto que seriam sem.remais de quatro' "am nos roubar a armadura e a es.ada' - 0odos concor daram e <onah se a.roimou do mordomo'  - Con%orme as ordens que recebemos, : que não encontramos oconde &asca, de#emos deiar a es.ada e a armadura nas de.endnciasdo castelo - disse ele' - Ee#emos também .egar um recibo escrito,atestando que a encomenda %oi entregue em seguran+a'  ; mordomo %ran/iu a testa, um tanto irritado .or receber ordens de desconhecidos'  - 0enho certe/a de que o conde est: es.erando com im.acincia aarmadura %eita .elo mestre ierro - disse <onah' 6le não .recisou' acrescentarI se .or sua causa não receber a encomenda'''; mordomo condu/iu-os até um recinto %orti%icado, onde abriu^ ww ̂ o nnnQnR clamando .or um .ouco de leo' 6le mos-

; @0"B; DE6D 1UVtrou onde .`r a armadura e onde .`r a es.ada' <onah redigiu o recibo, mas o mordomo era .ouco letrado e %oi muito demorado aud:-lo a ler' a+o e uis arregala#am os olhos,im.ressionados com a cena, mas Angel .arecia desligado'  - Ee.ressa, de.ressa - ele murmura#a, ressentido da .er!cia de<onah'inalmente o mordomo rabiscou sua assinatura'

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;s homens que #ieram de )ibraltar encontraram uma estalagem nas .roimidades' 0inhamos es.!ritos le#es, .ois a guarda das encomendas %ora trans%erida .ara o castelo de0embleque'  - )ra+as a Eeus, entregamos tudo em ordem - disse a+o, e o al!#io em sua #o/ %ala#a .or todos eles'

- Agora s quero relaar e dormir - disse uis'  - Agora s quero beber - Costa declarou, batendo com a mão namesa onde tinham sentado' 6ra um #inho amargo, muito %orte, ser#ido .or uma mulher baia e troncuda, de olhos cansados' 6nquanto elaenchia os co.os, Angel es%regou as costas da mão no a#ental manchado que lhe cobria as coas e o traseiro5 quando não hou#e obe+e^, amão %icou mais arroada'  - Ah, #oc é gostosa - disse ele, e a mulher %or+ou um sorriso'6sta#a acostumada aos homens que entra#am na estalagem a.s longas semanas de #iagem' ouco de.ois, ela e Angel se a%asta#am dosoutros .ara trocar algumas .ala#ras, uma %ebril negocia+ão seguida .or um gesto de concord3ncia'Antes de sa!rem, Angel se #irou .ara os com.anheiros'  - 6ntão nos encontramos aqui, na estalagem, em trs dias, .ara #er se o conde chegou'6 #oltou r:.ido .ara unto da mulher'

_ CA0D; 2O A C"EAE6 E6 0;6E; aco e uis %icaram contentes em conseguir camas na estalagem e .rocuraram curar .elosono o cansa+o da longa ornada' 6ntão aconteceu que <onah ben =el>ias 0oledano,ultimamente chamado Ramn Callic, #iu-se ca#algando so/inho, no sol do %im da manhã,como se esti#esse num sonho'  ?eguia a estrada entre 0embleque e 0oledo' 6 canta#a como o .ai tinha cantado';h, o cordeiro habitar: com o lobo, 6 com o menino o leo.ardo #ai brincar, 6 a #aca untoao urso .astar:, 6nquanto o leão come %orragem como o boi'''  medida que 0oledo se a.roima#a, cada no#o .anorama da estrada era uma coisasimultaneamente alegre e dolorosa' s #e/es ele e outros meninos #inham da cidade atéaquele cen:rio .ara con#ersas sérias, de gente adulta' ala#am das li+es do 0almud, da#erdadeira nature/a e #ariedade do ato seual, do que iam ser quando crescessem e dasra/es .ara os di%erentes %ormatos do seios das mulheres'  : esta#a a rocha onde, a.enas dois dias antes de ser assassinado, seu irmão Beir, quedescansasse em .a/, sentara-se com ele .ara se re#e/arem na guitarra mourisca'  : esta#a o caminho .ara a casa onde mora#a Mernardo 6s.ina, antigo médico de 0oledo, .udesse Eeus também garantir um .er%eito re.ouso à sua alma catlica': esta#a a trilha que le#a#a ao lugar onde Beir %ora morto'  Ali era onde <onah às #e/es cuida#a do rebanho do tio Aron, o %abricante de queios' :esta#a a casa de %a/enda onde Aron e uana tinham morado, s que agora ha#ia crian+asdesconhecidas brincando unto à .orta'<onah atra#essou correndo o rio 0eo, os cascos da égua molhan-

; @0"B; DE6D

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1UO

do suas .ernas ao e.lodir nos cintilantes, radiantes bancos de areia' 6ra um brilho muito%orte de sol, que %eria seus olhos'

  Ee.ois ele come+ou a seguir a trilha do rochedo, a trilha que Boisés, o burro, desceracom tanta seguran+a na escuridão da noite e que agora, em .lena lu/ do dia, a .obre éguasubia desaeitada, ner#osa' 7o to.o, nada mudara'  Eeus, ele .ensou, &oc nos dis.ersou e nos destruiu, mas deiou este lugar .raticamentena mesma'  A#an+ou lentamente .elo caminho estreito que margea#a o rochedo' As casascorres.ondiam à lembran+a que tinha delas' ; #elho #i/inho, Barcelo 0roca, ainda #i#ia': esta#a ele, moureando no ardim' erto dele, outro burro comia a.aticamente seu lio'  A casa dos 0oledano ainda esta#a de .é' =a#ia um mau cheiro no ar5 quanto mais <onahse a.roima#a, maior era o %edor' A casa tinha sido re%ormada' ?''' se a .essoa soubesse .ara onde olhar e .rocurasse com muito cuidado seria .oss!#el #er alguns sinais do antigoincndio'6le dete#e a égua e saltou'  A casa esta#a ocu.ada' ; homem de meia-idade atra#essou a .orta e assustou-se ao #-lo .arado ali, um desconhecido segurando as rédeas de um ca#alo'- Muenos dias, senor' recisa de alguma coisa  - 7ão, senor, mas estou meio tonto, acho que é e%eito do sol' ossodescansar um instante na sombra atr:s da casa  ; homem eaminou-o um tanto a.reensi#o, obser#ando a montaria, a cota de malha, a%aca do Bingo, a es.ada no lado esquerdo, o olhar agu+ado no rosto estranho e barbado'  - ode usar nossa sombra - disse com relut3ncia' - 0enho :gua%resca' &ou lhe tra/er um co.o'Atr:s da casa, as coisas eram simultaneamente as mesmas e etremamente di%erentes'<onah %oi de imediato .ara o lugar secreto, .rocurando a .edra solta atr:s da qual deiara amensagem .ara o irmão 6lea/ar' 7ão ha#ia mais uma .edra solta' A .arede %ora todaembo+ada'  ; cheiro #inha dos %undos, onde %ica#a antigamente a o%icina do .ai' =a#ia couros e .elesde animais, alguns mergulhados em tinas .ara amolecerem e .oderem ser ras.ados, outrossecando no ar' 0entou identi%icar o .onto eato onde o .ai %ora enterrado e #iu que umcar#alho esta#a brotando l:, quase tão alto quanto ele'  ; dono da casa #oltou com uma caneca de madeira e, mesmo com a sensa+ão de estarsor#endo também o mau cheiro, <onah bebeu até a *ltima gota' 1UN

 7;A= );RE;7

- 6stou #endo que é um curtidor'  - 6ncaderno li#ros e .re.aro meu .r.rio couro - disse o homem,eaminando-o com aten+ão'- osso sentar mais um instante

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  - Como quiser, senor' - Bas o homem .ermaneceu ali, #igilante'0al#e/, .ensou <onah, com medo de que ele roubasse alguma .elemolhada, %edorenta' Bais .ro#a#elmente temendo .or li#ros #aliososque .udesse ter na o%icina' uem sabe não teria ouro <onah %echou osolhos e recitou o >adish' ercebeu, com deses.ero, que amais remo#e

ria o cor.o do .ai daquele lugar annimo, que cheira#a mal' 7unca #ou deiar de ser udeu' 6u uro, abba  uando abriu os olhos, o homem que encaderna#a li#ros ainda esta#a l:' <onah .ercebeuque, ao entrar .ara .egar :gua, ele colocara uma coisa no cinto, uma %aca a%iada, de .ontacur#a, su.ostamente .ara cortar o couro' Bas <onah não brigou com o homem' icando de .é, agradeceu a gentile/a' Ee.ois #oltou .ara o ca#alo e se a%astou da casa onde ha#iamorado'A sinagoga tinha eatamente a mesma a.arncia, mas agora era uma igrea, com uma cru/alta de madeira brotando da crista do telhado'  ; cemitério udeu desa.arecera' 0odas as l:.ides tinham sido le#adas' <onah tinha #isto,em #:rios .ontos da 6s.anha, .edras tumulares com inscri+es em hebraico serem usadasem muros e na re.ara+ão de estradas' ; cemitério %ora trans%ormado num cam.o de .astagem' ?em as l:.ides, s .odia identi%icar a.roimadamente as :reas das se.ulturas desua %am!lia, mas .arou algum tem.o ali, di/endo a .rece dos mortos, consciente de como .areceria estranho no meio daquelas o#elhas e cabras'Eirigindo-se ao centro da cidade, chegou aos %omos comunais, onde um gru.o de mulheres briga#a .ara o .adeiro assar ra.idamente seus .ães' <onah conhecia bem os %omos' :tinham ser#ido .ara .re.arar o alimento ritual' uando garoto, toda seta-%eita le#a#a o .ãoda %am!lia .ara assar ali' 7aquele tem.o, quem toma#a conta dos %omos era um udeuchamado &idal, mas agora o .adeiro era um homem gordo, um sueito in%eli/ no meio detantos ataques'  - ( um .regui+oso, sueitinho suo, maluco - di/ia uma delas' 6ra o#em e bonita, bem cheia de cor.o' 7o momento em que <onah olha#a, ela tirou um dos .ães de sua cesta e atirou-o .erto do nari/ do .adeiro com uma e.ressão #ingati#a' - Acha que #im aqui .ara #er  &oc é que de#ia com-lo, seu asno

; @0"B; DE6D 1UQ  uando ela se #irou, <onah #iu que era uc!a Bartin, que amara quando garoto'  ;s olhos da mo+a desli/aram .or ele, .assaram, retornaram' Bas ela nem chegou a .arar,a%astando-se com ar %atigado e com uma cesta de .ão queimado'  <onah %oi descendo a rua estreita, lentamente, .ois não queria em.arelhar com uc!a'Contudo, mal ultra.assara as casas e os olhares dos curiosos, ela saiu detr:s da :r#ore onde%icara à es.era'- &erdade mesmo ( #ocA.roimou-se do ca#alo e ergueu a cabe+a'  <onah sabia o que tinha a %a/er' 7egar que a conhecesse, sorrir ante um engano deidentidade, dar-lhe um adeus educado e se a%astar' Bas ele desmontou'- Como tem .assado, uc!a  Arregalando os olhos numa es.écie de triun%o, ela segurou a mão de <onah'  - , <onah 7ão acredito que sea #oc' ara onde %oi or que %oise .odia se tornar %ilho do meu .ai Dm irmão .ara mim'

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  uc!a %ora a .rimeira mulher que #ira nua' 6ra uma linda mo+a, ele se lembra#a, e amemria agitou seu cor.o'- 6u não queria ser seu irmão'  6sta#a casada h: trs anos, ela contou ra.idamente, mantendo a mão dele sob um %ortea.erto'

  - Casei-me com 0om:s Cabreri/o' A %am!lia dele tem #inhedos dooutro lado do rio' 7ão se lembra de 0om:s Cabreri/o  <onah tinha uma recorda+ão muito #aga de um ra.a/ emburrado, atirador de .edras, queim.lica#a com os udeus'  - 0enho duas %ilhas .equenas e estou com outra crian+a a caminho- disse uc!a' - e+o à Bãe ?ant!ssima que sea um %ilho'  6la o contem.lou mara#ilhada, re.arando no nari/, nas rou.as, nos bra+os'- <onah' <onah or onde #oc andou, <onah Como est: #i#endo  - Belhor #oc não saber - ele disse gentilmente, mudando deassunto' - ?eu .ai #ai bem  - ; .ai morreu h: dois anos' arecia cheio de sa*de, mas morreude re.ente, num dia de manhã'  - Ah, que descanse em .a/ - disse <onah, com sincero .esar'Menito Bartin sem.re %ora um homem bom'- ossa sua alma descansar com o ?al#ador - disse ela se ben/en--1UU 7;A=);RE;7do' ; irmão 6nrique entrara .ara a ordem dos dominicanos, contou com e#idente orgulho'- 6 sua mãe  - Binha mãe ainda #i#e' Bas nunca se a.roime dela, <onah' 6lao denunciaria'A religiosidade dela troue à tona os receios de <onah'- 6 #oc não #ai me denunciar  - 7em hoe nem nunca - ;s olhos de uc!a se encheram de l:gri-" mas, mas ela o encarou com rai#a'

  - ue o ?enhor a acom.anhe, uc!a - disse ele, sucumbindo ànecessidade de %ugir'- &: com Eeus, amigo da minha in%3ncia'  6le soltou sua mão, mas não .`de resistir e se #irou .ara uma *ltima .ergunta'- Beu irmão 6lea/ar' 0ornou a #-lo .or aqui- 7unca'- 7unca soube de seu .aradeiro, do que %oi %eito deleW I " - 7unca ti#e not!cias de 6lea/ar - disse ela balan+ando a cabe+a' -I 7em de qualquer um deles' &oc %oi o *nico udeu a #oltar .or aqui,5 <onah 0oledano'x5 ?e queria realmente esca.ar de a#era, ele sabia o que tinha a %a/er eN1 quem de#ia encontrar'  A#an+ou de#agar .ela .arte central da cidade' ; muro ao redor do bairro udeu aindaeistia, mas os .ortes esta#am abertos de .ar em .ar e em todas as casas mora#amcristãos' A catedral de 0oledo domina#a o cen:rio'" =a#ia muita gente'

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] ?em d*#ida naquele lugar, atr:s da catedral da la/a BaJor,W alguém .oderia reconhec-lo, assim como uc!a o %i/era' 6 <onah .er-] cebeu que àquela altura ela : .odia t-lo tra!do' 0al#e/ os dedos cruéis da "nquisi+ão : esti#essem se esticando em sua dire+ão, assim comoI um homem se estica .ara bater numa mosca' =a#ia soldados na .ra+a

e membros da guarda' <onah %e/ %or+a .ara .assar naturalmente .or eles, mas nenhum doshomens dis.ensou-lhe mais que um olhar distra!do'  rometeu uma moeda a um garoto sem os dentes da %rente' ueria que ele tomasse contada égua'  Chama#am a .orta que usou .ara entrar na catedral de orta da Alegria' uando crian+a,ele se .ergunta#a se a .orta cum.riria mes- ; @0"B; DE6D 1U9mo o que .rometia seu nome, mas .elo menos naquele momento não sentiu qualqueres.écie de *bilo' 7a sua %rente, um homem com rou.as es%arra.adas mergulhou os dedosnuma .ia de :gua benta e se aoelhou' <onah es.erou até não ha#er mais ninguém à #ista ea#an+ou .ela na#e'  ; es.a+o era #asto, com um teto alto e abobadado, su.ortado .elas colunas de .edra quedi#idiam o salão em cinco alas distintas' ; interior .arecia quase #a/io .orque era muitogrande, mas ha#ia bastante gente es.alhada .ela igrea e um bom n*mero de clérigos de batinas .retas' A mistura de suas .reces ecoa#a, ele#ando-se .ara as alturas' <onah achouque as #o/es que se combina#am nas igreas e catedrais, de uma .onta à outra da 6s.anha, .odiam aba%ar sua #o/ assustada quando ele se dirigia a Eeus'  Eemorou um bom tem.o .ara com.letar o caminho atra#és do cor.o central da na#e, masnão #iu a .essoa que esta#a .rocurando'  Ao sair, .iscando os olhos sob o brilho do sol, deu ao garoto a moeda que .rometera e .erguntou se ele não conhecia um %rade que se chama#a Monestruca'; sorriso do garoto desa.areceu'- Conhe+o'- ;nde .osso encontr:-lo; garoto deu de ombros'- =: muitos deles na casa dos dominicanos'  Eedos encardidos %echaram-se sobre a moeda e logo, como se alguém o .erseguisse, ogaroto saiu correndo'?entado numa :rea im.ro#isada .ara beber 8trs t:buas colocadas sobre barris, <onahobser#a#a o .rédio da ordem dominicana do outro lado da rua e toma#a um #inho amargo'inalmente #iu sair um %rade da casa e, um bom tem.o de.ois, uma du.la que discutia%ebrilmente'  uando %rei oren/o de Monestruca a.areceu, esta#a se a.roimando da casa, em #e/ dedei:-la' <onah reconheceu-o de longe, logo que ele entrou no come+o da rua, .ois era %:cilidenti%icar o cor.o alto'  ; homem entrou na casa da ordem e demorou-se o su%iciente .ara <onah .edir um .oucomais de #inho ao dono da birosca' Assim que #iu o %rade sair, no entanto, <onah não seim.ortou de deiar a caneca cheia' ogo esta#a montado na égua, come+ando a descerlentamente a rua' 7ão queria .erder Monestruca de #ista, mas .rocura#a %icar bem atr:s'  inalmente Monestruca cru/ou a .orta de uma .equena taberna, um lugar de .ees'uando <onah, de.ois de amarrar a égua, .enetrou

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 19G 7;A= );RE;7no recinto escuro, o %rade : se instalara nos %undos e : esta#a no meio de uma discussãocom o .ro.riet:rio'  - 0al#e/ .ossa .agar ao menos uma .equena soma .ara diminuir a

d!#ida- Como se atre#e, seu miser:#el, sa%ado  ; .ro.riet:rio .arecia totalmente aco#ardado' Aterrori/ado, não conseguia sequer olhar .ara o inquisidor'  - 6u lhe im.loro, %rei, que não %ique o%endido - disse ele num tomde deses.ero' - ?eu #inho ser: ser#ido, é claro' 7ão .retendi ser desa%orado'- &oc é uma titica  ; %rade engordara, mas suas %ei+es tinham a bele/a que <onah não esqueceraI umae.ressão aristocr:tica com bochechas altas, nari/ %ino e longo, boca grande, de l:biosgrossos, queio %irme e quadrado' A %isionomia s era tra!da .elos olhos, grandes e o.acos,cheios de %ria a#ersão .elo mundo'  ; dono do estabelecimento tinha dis.arado e : #olta#a com a caneca que .ousou na%rente de Monestruca' ? de.ois se #irou .arac <onah' - Dma caneca de #inho .ara mim' 6 mais uma caneca .ara o bomO'' %rade'p - ?im, senor'v ;s olhos ba+os de Monestruca %ocali/aram <onah'  - ue esus o aben+oe - ele murmurou, como se quisesse .agar a bebida com a bn+ão'  - ;brigado' ; senhor .ermite que eu me sente ao seu lado - ele .erguntou e Monestruca assentiu com indi%eren+a'  6ntão <onah sentou-se à mesa do homem que causara as mortes do seu .ai, do seu irmão,de Mernardo 6s.ina e, é claro, de muitos outros'- 6u me chamo Ramn Callic'- rei oren/o de Monestruca'  ; %rade ob#iamente tinha sede' 6s#a/iou ra.idamente a .rimeira caneca e a caneca que<onah esta#a .agando' Ee.ois concordou quando <onah .ediu mais duas'- Eesta #e/ caneces, senorl  - 0i#e o .ra/er de re/ar na catedral, um lugar de que 0oledo de#emuito se orgulhar - <onah arriscou e Monestruca abanou a cabe+a comrelut3ncia, como se de.lorasse .ala#ras ino.ortunas que ti#essemin#adido sua .ri#acidade'  -; @0"B; DE6D 191;s caneces %oram ser#idos'- ue ti.o de trabalho #em sendo %eito na catedralMonestruca deu de ombros com ar %atigado'- Acho que estão %a/endo uma re%orma nas .ortas - disse'- artici.a do culto na catedral, meu %rade

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  - 7ão' artici.o do culto em outro lugar - res.ondeu o %rade' 6letomou um gole tão %undo que <onah %icou em d*#ida se as moedas quetra/ia na bolsa seriam .ro.orcionais à sede do homem' Contudo, eraum dinheiro bem em.regado, .ois sentia o %rade se tornando mais#ol*#el, os olhos adquirindo uma no#a #ida, o cor.o relaando como

%lor que desabrocha a.s a chu#a'- 6 h: muito tem.o #em ser#indo a Eeus, senorl- Eesde crian+a'  Com a l!ngua mais quente e mais solta, o %rade come+ou a %alar sobre gra+a heredit:ria' 6logo e.lica#a a <onah que era o segundo %ilho de uma %am!lia aristocr:tica de Badri'  - Monestruca é um nome catalão' =: muitas gera+es, minha %am!lia %oi de Marcelona .ara Badri' Binha ce.a é muito antiga, semnenhuma gota de sangue ruim, entende Com.leta lim.e/a de sangue'- ora en#iado aos dominicanos com do/e anos de idade' - eli/mentenão me mandaram .ara os %ranciscanos' 6u não su.orto esses choramingas' Binha santa mãe tinha um irmão com os %ranciscanos emMarcelona, mas na %am!lia de meu .ai s hou#e %rades dominicanos' -;s .enetrantes olhos castanhos de que se lembra#a esta#am cra#adosem seu rosto' Agora era <onah quem sentia terror, certo de que Monestruca .odia energar seus segredos e transgresses'- 6 #oc Ee onde #oc #em  - &enho do sul' ?ou a.rendi/ de Banuel ierro, o armeiro de)ibraltar'  - )ibraltar elo amor de Eeus, #em de bastante longe, a.rendi/de armeiro' - 6le se inclinou .ara a %rente' - A.osto que troue a armadura tão a#idamente es.erada h: quatro anos .or um ilustre nobredaqui' ( .reciso adi#inhar o nome dele  <onah não con%irmou se a su.osi+ão do %rade esta#a correta, mas .assou o recadoquando, em #e/ de desmenti-la, tomou um gole do #inho e sorriu'- &im com um gru.o de homens - e.licou num tom gentil'Monestruca sacudiu os ombros e le#antando o dedo com.ridoco+ou o nari/ com ar go/ador' A reticncia de <onah o di#ertia'

 7;A= );RE;7  6ra tem.o, <onah disse a si mesmo, de atirar uma %lecha e sentir onde ela ia cair'  - 6stou .rocurando um homem da "grea, alguém dis.osto a medar um conselho'  oi de tédio a e.ressão do %rade' 6le %icou num silncio im.ass!#el, inter.retando asugestão como .rel*dio a mais uma daquelas con%isses de conscincia que em.olga#aalguns clérigos enquanto outros encara#am-nas como .ragas'  - ?e uma .essoa descobrisse''' hum, alguma coisa de grande #alor sagrado''' Mem, .ara onde de#ia le#:-la Ee modo a garantir que''' %osse de#idamente a#aliada e ocu.asse seu lugar no mundo  ;s olhos castanhos tinham se arregalado e olha#am %iamente .ara <onah'- Dma rel!quia- Mem' ?im' Dma rel!quia - <onah con%irmou cautelosamente'  - 6s.ero que não sea um .eda+o da #erdadeira cru/ - disse o %ra

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de num tom go/ador'- 7ão é'  - Mom, então .or que alguém se interessaria .or ela - disseMonestruca 8uma .equena .iada e .ela .rimeira #e/ deu um sorrisocurto, %rio'

<onah também sorriu e se #irou .ara o lado'  - ?enor - disse ele chamando o taberneiro' ueria .edir mais doiscaneces de #inho'  - ?u.onho que #oc acredite que sea o osso de algum santo - disse o %rade' - 6ntão escute' ?e %or um osso da mão, quase certamentesaiu da mão de um .obre coitado assassinado .or alguém, um .ecador,tal#e/ um cocheiro ou o dono de uma grana de .orcos' 6 se %or o ossode um .é, é .ro#:#el que sea do .é de algum dos .ati%es que .artiramda 6s.anha, um desgra+ado que não .oderia, de modo algum, ser considerado um m:rtir cristão'

- ( .oss!#el, meu %rade - disse <onah humildemente'Monestruca deu uma risada'- Bais que .oss!#el' ( quase certo'  As no#as canecas chegaram e Monestruca continuou a beber' Bas era o ti.o de beberrãoque continua sbrio e .erigoso, como se o #inho não o a%etasse' <onah, contudo, tinha dere%rear suas rea+es, .or mais que %osse %:cil matar, naquele momento, o %rade assassino'6ra .reciso .ensar claramente e <onah sabia que s .oderia #oltar a )ibraltar e continuar#i#o se Monestruca também #i#esse' ; @0"B; DE6D 19V  ediu a conta ao taberneiro e, de.ois de acertado o débito, o homem ser#iu-lhes, a t!tulode cortesia, um .rato com .ão e a/eitonas no a/eite' <onah comentou a gentile/a com o%rade'Monestruca ainda esta#a %urioso com o taberneiro'  - ( um %also cristão que de#e .ro#ar o gosto da usti+a - resmunga#a' - Dm monstruoso .orco udeu  <onah carregou o terr!#el .eso dessas .ala#ras enquanto condu/ia a égua .elas ruassonolentas' [Y CA0D; 2N M;BMAREA?; conde &asca deiou os homens de )ibraltar es.erando mais quatro dias'  <onah a.ro#eitou o tem.o .rocurando a #i*#a de Mernardo 6s.ina' ueria entregar o bre#i:rio ao %ilho do médico, como .rometera antes do auto-de-%é que dera %im à #ida dele'A busca, no entanto, terminou em dece.+ão'  - 6strella de Aranda #oltou .ara c: com os %ilhos - contou uma #i/inha da antiga casa de6s.ina' - A.s o marido ter sido queimado .or heresia, nenhum .arente quis %icar com eles' 7s demos abrigo, mas .or .ouco tem.o' 6ntão ela %oi .ara o Con#ento de "a ?anta Cru/ eou#imos di/er que morreu .ouco de.ois' A Badre "grea também .egou as %ilhas, Barta eEomitila, .ara serem %reiras' rancisco se tornou monge' 7ão, não sei onde estão agora'<onah es.era#a que o ecesso de #inho não im.edisse Monestruca de lembrar o que ou#irasobre uma #aliosa rel!quia' 7ão ha#ia d*#ida de que o %rade %a/ia .arte de uma rede que

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com.ra#a e rouba#a obetos sagrados, coisas que eram lucrati#amente negociadas com oeterior' Monestruca sabia que ele esta#a es.erando .ara entregar a armadura do conde de0embleque' ?e ti#esse mordido a isca, alguém ia abord:-lo .ara saber dos detalhes'  Contudo, #:rios dias se .assaram e ninguém %oi ao castelo .erguntar .or ele'  uando %inalmente o conde #oltou da ca+ada, mostrou ser um homem grande o bastante

 .ara .reencher o imenso es.a+o da armadura' 0inha barba, bigode e cabelo da cor dogengibre e uma grande :rea cal#a no meio da cabe+a' 0inha ainda o olhar %rio e dominadorde alguém nascido e criado sob o .rinc!.io de que todas as .essoas que conhecia eram seresin%eriores, gente que eistia .ara ser#i-lo'  ;s homens #indos de )ibraltar audaram-no a #estir a armadura e o #iram andardesaeitado .elo .:tio, segurando a es.ada' Ao sair das ; @0"B; DE6D 19O%erragens, esta#a #isi#elmente satis%eito com as coisas que recebera, embora se queiasseum .ouco da %alta de es.a+o no ombro direito' Dma %ora %oi de imediato im.ro#isada no .:tio' uis e a+o come+aram a trabalhar com #ontade e com dois martelos'  ogo a.s ter sido %eito o auste na ombreira, o conde ern:n &asca mandou o mordomocon#ocar Ramn Callic à sua .resen+a'- 6le deiou sua marca no recibo - <onah .erguntou'  - 6st: es.erando .ara %alar com #oc - disse o mordomo e <onah%oi atr:s dele .ara os a.osentos do conde' 6nquanto anda#am, atra#essando um certo n*mero de cmodos, <onah tentou descobrir algunsdos obetos de .rata que o .ai %i/era, mas não #iu nenhum' ; castelode 0embleque era grande'  7ão entendia o que o conde queria con#ersar' 7ão .recisa#a dar-lhe dinheiro5 o .agamento da es.ada e da armadura seria %eito atra#és de mercadores de &alncia quenegocia#am com )ibraltar' <onah es.era#a que ierro ti#esse mais ito na cobran+a queseu .ai'; mordomo .arou na %rente de uma .orta de car#alho e bateu'- 6celncia' ; homem chamado Callic est: aqui'- Bande-o entrar'  6ra um a.osento com.rido e sombrio' 6mbora o dia não esti#esse %rio, ha#ia um .equeno%ogo na lareira e trs galgos estendidos num ta.ete de unco' Eois deles %itaram o recém-chegado com olhos %rios' ; terceiro %icou bruscamente de .é e se a.roimou de <onah comum rosnado baio, embora tenha recuado assim que %oi chamado .elo dono'- Beu senhor - disse <onah'  &asca cum.rimentou-o com um gesto de cabe+a e entregou-lhe o recibo assinado'  - 6stou etremamente satis%eito com a armadura' Eiga isso a seumestre ierro'- 6le %icar: %eli/ ao saber de seu contentamento, meu senhor'  - ?em d*#ida' ( sem.re bom receber boas not!cias' or eem.lo,%ui in%ormado de que descobriu uma rel!quia sagrada'  Ah' ora l: então que ca!ra a %lecha atirada .ara %rei Monestruca, .ensou <onah com umcala%rio'- ( #erdade - disse cautelosamente'- Ee que ti.o é esta rel!quia<onah encarou o conde'

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  \\ - &amos, #amos - &asca insistiu num :s.ero tom de im.acincia' - ( um osso r 

19N

 7;A= );RE;7

%!

- ?ão muitos ossos' ( um esqueleto'- Ee quem  - Ee um santo' 7ão um santo muito conhecido' Dm santo local daregião de )ibraltar'

- Acha que é o esqueleto do ?anto eregrino, 6l Com.asi#o<onah olhou com mais res.eito o conde'- ?im' Conhece a lenda  - Conhe+o todas as lendas acerca de rel!quias - disse &asca' - or que acredita que sea o esqueleto de ?ão eregrino  6ntão <onah %alou de &icente, contou como &icente o le#ara à ca#erna no so.é dasrochas' Eescre#eu tudo que tinha #isto e o conde o ou#iu atentamente'- or que se a.roimou de %rei Monestruca- Achei que ele .odia conhecer alguém que''' esti#esse interessado'- or que essa su.osi+ão  - Mebemos untos' Achei melhor tocar no assunto com um %rade bom de co.o do que abordar algum .adre moralista'  - A #erdade, então, é que esta#a .rocurando alguém que negociasse com rel!quias ou coisas .arecidas, não sim.lesmente um homem da"grea'- ?im'- orque .retende #ender a bom .re+o sua in%orma+ão  - 0enho um .re+o' ( um alto .re+o .ara mim, mas tal#e/ não .araos outros'; conde &asca se inclinou .ara a %rente'  - Bas .or que andou todo esse chão desde )ibraltar .ara encontrar alguém que mea com isso 7inguém trabalha com rel!quias no sul da6s.anha- Anselmo a#era trabalha' - Como #oc bem sabe, .ensou <onah'alou ao conde do assassinato de &icente e de sua .r.ria e.erincia com a#era'  - ?ei que se não le#ar a#era e seus homens até a ca#erna, sereimorto' 6 se le#:-los, serei morto da mesma maneira' ?into o im.ulsode %ugir, mas gostaria muito de #oltar .ara )ibraltar e trabalhar em .a/

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com o mestre ierro'- 6ntão, que .re+o est: .edindo .or sua in%orma+ão- Binha #ida'  &asca assentiu' ?e ha#ia deboche da .arte dele, .elo menos não era e#idente'  - ( um .re+o aceit:#el - disse, entregando .ena, .a.el e tinta a

<onah' - a+a um ma.a mostrando como achar a ca#erna do santo' ; @0"B; DE6D 19Q  <onah com.`s o ma.a, tomando o maior cuidado .ara ser %idedigno, .rocurando ench-loao m:imo de .ontos de re%erncia'  - A ca#erna %ica num trecho :rido de areia e .edra, sendo com.le-tamente in#is!#el da estrada' 7ão h: nada naquele lugar além de rochedos, arbustos mirrados e :r#ores anãs'&asca abana#a a cabe+a'  - a+a uma c.ia deste ma.a e le#e-a com #oc .ara )ibraltar'uando Anselmo a#era .rocur:-lo de no#o, diga que não saberiagui:-lo até a ca#erna, mas lhe d o ma.a' 6u re.itoI 7ão #: até aca#erna com ele' &oc entendeu- ?im, eu entendi - disse <onah'6le não tornou a #er o nobre' 6m nome do conde &asca, o .ouco sim.:tico mordomo deuuma grati%ica+ão de de/ mara#edis a cada um dos armeiros'  ?eguindo as instru+es de ierro, Angel Costa #endeu os burros em 0oledo e os quatro#oltaram .ara a costa sem terem de tomar conta de animais de carga'  6m &alncia, enquanto es.era#am .ara embarcar num na#io, gastaram .arte do dinheirodas grati%ica+es em bebidas' <onah te#e #ontade de se descontrair um .ouco, mas o .assado que de#ia esconder continua#a #i#o em sua memria' A.roimou-se da %arra, mas bebeu com cautela, #igilante'  0inham acabado de entrar em outra taberna quando uis, a.s dar um encontrão numsueito gordo que esta#a saindo, reagiu como se ti#esse le#ado um soco'- ?ua #aca desastrada  - ual é o .roblema, senorl - disse o homem, #irando-se es.antado e %alando com o sotaque de um %ranco' Bas o ar de di#ertimento nosolhos do desconhecido se trans%ormou em .rudncia quando Angeldeu um .asso à %rente, a mão na es.ada'; %ranco esta#a desarmado'  - Eescul.em a minha %alta de eito - ele disse %riamente, deiandoa taberna'  <onah mal .`de acreditar no orgulho que #iu no rosto de uis e na satis%a+ão de Angel'- 6 se ele #oltar armado, com amigos- 6ntão brigamos' 0em medo de brigar, Callic - Angel .erguntou'  - 7ão #ou matar nem %erir ninguém s .orque #oc e uis .rocuram um .ouco de di#ersão'  -19U 7;A= );RE;7  - Achei que tinha medo' Acho que .ode aguentar um ogo, masnão uma #erdadeira briga de homem'a+o se a.roimou, colocando-se entre os dois'

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  - Combinamos cum.rir a tare%a do mestre sem criar .roblemas -disse ele' - 7ão .retendo ter de e.licar algum %erimento ou algumamorte a ierro' - e/ sinal .ara o taberneiro tra/er as bebidas'  Meberam até tarde da noite e, de manhã, embarcaram num na#io que /ar.ou com a .rimeira maré' Eurante a #iagem, .or insistncia de Angel, os quatro se encontra#am de

manhã e no %inal da tarde .ara re/ar' 6m outras ocasies, uis e Angel se isola#am e <onahia con#ersar com a+o' 7a maior .arte do tem.o, .orém, <onah se conser#a#a distante'Anda#a mal-humorado, triste' 0inha a sensa+ão de ter %eito um .acto com o diabo, de tercons.irado com os homens que quase certamente ha#iam tra/ido mortes horr!#eis .ara o .ai e .ara o irmão' 6le se sentiu estranhamente %eli/ ao desembarcar em )ibraltar' 6ra bom#oltar a um .orto onde alguém o es.era#a'  7ão hou#e um longo .er!odo de descanso a.s a chegada' 6nquantoliI os quatro esti#eram %ora, #:rias encomendas, tanto de armaduras quan-i to de es.adas, tinham #indo de membros da corte' <onah %oi designa-pi ! do .ara trabalhar na bancada de a+o, audando-o a %abricar um .eito-lII ral .ara o duque de Carmona' or toda a armaria ha#ia aquele clamor,?5 aquele bater dos martelos no %erro aquecido'  A.esar das no#as encomendas, ierro continuou a trabalhar nosinstrumentos médicos que esta#a %a/endo .ara o irmão, 7uno ierro, médico de ?arago+a'6ram etremamente bonitos, cada um .olido como uma ia e a%iado como es.ada'  7o %im do dia, quando acaba#a o trabalho, <onah usa#a o clarão do %ogo e a lu/ %raca daslam.arinas .ara trabalhar num .roeto seu' egara a l3mina de %erro de sua .rimeira arma, aenada quebrada, e, de.ois de aquec-la na %ora, come+ara a model:-la' ?em um .lano oureal inten+ão 8quase a des.eito de sua #ontade, o .esado martelo %oi dando %orma a um .equeno c:lice'  <onah trabalhou com %erro, não com .rata nem ouro, e a ta+a não %oi modelada com .er%ei+ão' 6ra, no entanto, uma ré.lica do relic:rio que o .ai %i/era .ara o Bosteiro daAssun+ão'  Ao acabar, %icara algum tem.o a.reciando a obra' Dm estranho c:lice, grosseiramentegra#ado com as .rinci.ais %iguras que adorna#am o relic:rio' elo menos o audaria aconser#ar suas memrias, ser#indo também como uma ta+a de >idush .ara aud:-lo acelebrar o ?habat e agradecer ao Criador .elos %rutos da #ideira' 0entou encontrar  ; @0"B; DE6D 199consolo na ideia de que, se re#istassem seus .ertences, a cru/ gra#ada no c:lice ia se somarao bre#i:rio de Mernardo 6s.ina como e#idncia de cristandade'Benos de quin/e dias a.s a #olta de <onah, a.areceu no#amente um garoto tra/endo umrecado da #ila' Dm .arente de Ramn Callic esta#a à es.era dele .erto da taberna' Eesta#e/ ierro %ran/iu a testa'  - 6stamos muito ocu.ados agora - ele disse a <onah' - Bande oseu .arente #ir aqui, onde .oderão con#ersar ra.idamente'  <onah .assou o recado ao garoto e %icou à es.era, de ou#ido no ar' uando #iu os doishomens entrarem a ca#alo nos terrenos da armaria, saiu de.ressa da o%icina .ara %alar comeles'  Anselmo a#era desceu do ca#alo e ogou as rédeas .ara o ca.anga, que continuoumontado'- ;l:' &iemos h: alguns dias, mas disseram que tinha #iaado'

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- ?im' ui entregar uma armadura'  - Mem, isso lhe deu tem.o .ara .ensar' : se lembrou de onde estãoos ossos do santo  - ?im - disse <onah olhando .ara ele' - 7ão h: uma recom.ensa .ara uma not!cia dessas, sehori

;u#iu o riso baio do ca.anga no ca#alo'  - Dma recom.ensa ( claro que sim' e#e-nos agora até o t*mulodo santo e ser: de imediato recom.ensado'  - 7ão .osso sair agora' 0enho muito trabalho' 7ão %ui sequer autori/ado a ir até a #ila'  - 7ão acredito que ainda estea se .reocu.ando com trabalho' &ai%icar rico, .or que tem de trabalhar &amos, estamos .erdendo tem.o'  <onah olhou .ara um dos barraces' ierro tinha .arado de trabalhar e os obser#a#a'  - 7ão - disse ele -, e não seria nada bom .ara #oc me le#ar' ;shomens da armaria iriam atr:s' 7ão ia conseguir .egar os ossos' - 6letirou da t*nica a c.ia do ma.a que ha#ia %eito em 0embleque' - Aquiest:' A ca#erna onde estão os ossos est: claramente indicada' ica .arao interior, mas não muito longe da sa!da de )ibraltar'a#era estudou o ma.a'- &iro à direita ou à esquerda na estrada  - direita' A dist3ncia é muito .equena' - <onah e.licou comoele de#ia %a/er'  - &amos até l: - disse a#era .egando o ca#alo' - Ee.ois #oltamos .ara entregar sua recom.ensa'  -2GG 7;A= );RE;7; dia .assou de#agar .ara <onah' 6le mergulhou no trabalho';s dois não #oltaram'  assou a noite so/inho no barracão que lhe ser#ia de aloamento, sem conseguir dormir,atento ao barulho de algum ca#alo se a.roimando, ao ru!do de .assos' 7ão escutou nada'assou mais um dia, e outro' 6 outro'ogo com.letou uma semana'  Aos .oucos <onah %oi .ercebendo que os dois não iam #oltar, que o conde de 0embleque .agara o .re+o combinado'As encomendas esta#am quase .rontas' ;s dias se torna#am mais tranquilos e ierro achouque os ogos .odiam recome+ar' `s no#amente <onah com Angel na arena' rimeiro comarmadura com.leta e es.adas sem .ontas5 de.ois sem armadura, usando es.adas menoresde duelo, com a .onta arredondada'  Costa derrotou-o nas duas #e/es' 7a segunda #e/, enquanto a luta se desen#ol#ia, Angelda#a #a/ão à rai#a'  - ute, seu miser:#el, co#arde ute seu .ica mole, seu .eda+o de bosta - ; des.re/o %icou b#io .ara todos que assistiam'  - ?e im.orta de lutar contra Costa - o mestre .erguntaria mais tar de' - &oc é o homem mais o#em aqui' 6 o *nico que tem tamanho e %or +a .ara en%rent:-lo' Acha ruim entrar com tanta %requncia nesse ogo  - 7ão, não acho ruim - disse <onah' Contudo, tinha de ser hones

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to com ierro' - Acredito até que .odia #encer, .elo menos de #e/ emquando, se os torneios %ossem de no#o a ca#alo'  - &oc não é um escudeiro a.rendendo a ser ca#aleiro - disseierro balan+ando a cabe+a' - Ee que ia ser#ir a.er%ei+oar suas habilidades com a lan+a rogramo luta de es.adas .ara que .ossa a.render,

 .ois é sem.re muito bom ser um es.adachim' Cada dis.uta é uma li+ãoque #oc obriga Angel a lhe dar'  <onah sem.re se es%or+a#a, e realmente era #erdade que esta#a ganhando, gra+as à .r:tica e imita+ão constantes, uma .equena e.erincia' Achou que, com su%iciente treino, .odia conseguir se de%ender e atacar melhor, .odia a.render quando se esqui#ar e quandoin#estir .ara dar a estocada' Bas o outro era mais r:.ido, mais %orte, um #erdadeiro mestre-de-armas' <onah sabia que, .or mais que se es%or+asse, nunca .oderia su.erar Angel Costa's #e/es, Angel %a/ia demonstra+es com a besta, uma arma de que ele não gosta#a'

; @0"B; DE6D 2G1  - Com a besta, mesmo um homem sem talento consegue atirar uma%lecha atr:s da outra na %orma+ão cerrada de um eército inimigo - di/ia-, mas é uma arma .esada .ara carregar e o mecanismo estraga %acilmente debaio da chu#a' 6 não tem o incr!#el alcance do arco comum'  Ee #e/ em quando, Angel da#a aos .ees da armaria uma r:.ida #isão da guerra, umso.ro do #erdadeiro cheiro de sangue'  - uando um ca#aleiro cai do ca#alo no meio de uma batalha, temquase sem.re de se li#rar de uma .arte da armadura' ?enão seria deiado .ara tr:s .elos es.adachins, ar.oadores, lanceiros, arqueiros,homens que %icam menos .rotegidos que os ca#aleiros, mas que, emcom.ensa+ão, não são estor#ados .elo armamento' A armadura é %eita .ara resistir a qualquer ataque, mas trans%orma o ca#alo num elemento indis.ens:#el de quem a usa'  Dm dia encheram de .alha uma t*nica #elha, .rocurando deiar aberturas nos locais queuma armadura não .rotegia' uase sem.re, o arco de Angel atira#a a %lecha de muito longee conseguia acertar um gol.e mortal no inimigo, atingindo uma daquelas %endas estreitasno simulacro de armadura' ?em.re que o tiro era .articularmente di%!cil, ierro orecom.ensa#a com uma moeda'  Dma tarde o mestre reuniu-os na arena e audou dois .ees a instalarem um .esadoinstrumento'- ; que é - uis .erguntou'- Dma bombarda %rancesa - res.ondeu ierro'- ara que ser#e - disse a+o'- &ocs #ão #er'  6ra um tubo de %erro re%or+ado .or aros' ; mestre o mandara .render no chão comestacas e correntes' ;rientados .or Banuel ierro, eles carregaram o tubo com uma bola de .edra e um .o/inho que o mestre disse combinar salitre, car#ão e eno%re' ierro meeualgum tem.o numa dobradi+a que ele#a#a o 3ngulo da bombarda e mandou os .ees%icarem numa dist3ncia segura' Ee.ois encostou a .onta %lameante de uma #areta no buraco que ha#ia no %undo da bombarda'  uando o salitre come+ou a arder, o mestre soltou a #areta e correu .ara .erto dos outros'

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  =ou#e uma demora, enquanto a .l#ora queima#a, seguida de um estrondo terr!#el, comose Eeus ti#esse batido .almas'  A bola de .edra, que desli/ou .elo ar com um assobio baio, ater-rissou bem além doal#o, atingindo um car#alho de bom tamanho e %endendo o seu tronco com um barulho derasgar'

0odos deram gritos de a.oio, mas hou#e risos, também'2G2

 7;A= );RE;7

  - Ee que ser#e uma arma de guerra que nem chega .erto do al#o- <onah .erguntou'  ierro não se o%endeu, com.reendendo que era um .roblema realmente sério'  - 7ão atingiu o al#o .orque eu não soube us:-la direito' Bas medisseram que não é di%!cil a.render a lidar com ela'  A .recisão não é tão im.ortante, ele continuou' 7uma batalha, em #e/ de bolas de .edra, essas bombardas .odem atirar metralhas, que são bolas %eitas de .eda+os de %erro e .edra unidos .or uma massa que se %ragmenta na descarga' "maginem o estrago que #:rias bombardas .odem %a/er numa %ileira de ca#aleiros ou soldados a .é uem não %oge caicomo grama na %rente da %oice'a+o encostou a mão no cano, mas retirou-a de.ressa'-6st: quente  - 6st:' 6 me disseram que se atirarmos demais o %erro .ode que brar' : tem gente .ensando em moldar os canos em bron/e'  - ( incr!#el mesmo - disse Costa' - "sso torna as armadurasin*teis' 6ntão''' também #amos %a/er essas bombardas, mestre  ierro contem.lou a :r#ore .artida, balan+ou a cabe+a e res.ondeu em #o/ baiaI-Acho que não'

f CA0D; 2Q _f;=;? &")"A706? 7uma ensolarada manhã de domingo, #:rias semanas de.ois de a#era e seu ca.anga teremsido mandados .ara a ca#erna, <onah galo.ou no ca#alo :rabe até o descam.ado rochoso,onde deiou o animal amarrado num arbusto'  egadas na terra .edregosa teriam sido h: muito eliminadas .elo #ento ou .or qualquerchu#isco que ti#esse ca!do'; interior da ca#erna esta#a #a/io'  ;s ossos que resta#am do santo tinham desa.arecido' Assim como a cru/ grosseira e os .otes de barro' 7a busca .or obetos sagrados, os saqueadores tinham des%eito o altar' ;sgalhos secos es.alhados e o desenho do .eie na .arede constitu!am a *nica e#idncia deque <onah não ha#ia sim.lesmente sonhado com a ca#erna em seu antigo estado'  7a .arede, embaio do .eie, ha#ia uma ndoa cor de %errugem e, ao se aoelhar com sua#ela, <onah #iu outras marcas idnticas no chão de .edraI grandes .o+as de sanguecoagulado'  ;s homens que %icaram ali de tocaia ha#iam %eito um trabalho com.leto de lim.e/a das .e+as e, ao mesmo tem.o, tinham se li#rado de quem com.etia com eles no sul da 6s.anha'

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  <onah sabia que, ao dar o ma.a .ara Anselmo a#era e res.ecti#o ca.anga, eecutara-ostão certamente quanto se ti#esse .assado uma l3mina a%iada em suas gargantas' Retornou a)ibraltar sentindo simultaneamente um al!#io e o .esado %ardo de saber que era umassassino'Eesde que #oltara de 0embleque, Angel Costa se colocara mais que nunca como o .iedoso

soldado da "grea em )ibraltar'  - or que sai a ca#alo nos domingos de manhã - ele .erguntou a<onah'- Bestre ierro me deu .ermissão'  - Eeus não deu .ermissão' As manhãs de domingo são .ara o culto da ?ant!ssima 0rindade'  - 6u re/o boa .arte do tem.o - disse <onah, tentando mostrar umade#o+ão que sem d*#ida não con#enceu, .ois Costa torceu a cara'  -2G4 7;A= );RE;7  - 6ntre os armeiros, s #oc e o mestre não #ão à igrea comode#iam' ( .reciso assistir à missa cristã' rocure se arre.ender doscaminhos que est: seguindo, meu educado sehory  a+o tinha #isto e ou#ido aquilo' uando Costa se %oi, ele disse a <onahI  - Angel é um matador, um .ecador .or quem o %ogo do in%ernoseguramente es.era' Bas é quem .retende #elar .elas almas imortaisdos que estão à sua #olta'Costa também %alara com ierro'  - 6 tenho sido ad#ertido .elo amigo osé )ri.o que minha ausnciada missa tem gerado coment:rios .erigosos - o mestre disse a <onah' -6ntão, eu e #oc temos de mudar nossos h:bitos' 7ão saia mais a ca#alo nas manhãs de domingo' ( um tem.o reser#ado .ara as ora+es' ?eriamuito con#eniente que %osse à igrea neste %im de semana'  Assim, na manhã do domingo seguinte, <onah %oi até a #ila e chegou cedo à igrea,%icando nos %undos' Costa chegou mais tarde e <onah sentiu os olhos do mestre-de-armascra#ados nele' Eo outro lado da na#e, mestre ierro con#ersa#a descontraidamente comalguns conhecidos'<onah sentou-se e relaou, obser#ando esus .endurado na cru/li! sobre o altar'  ; .adre &asque/ tinha uma #o/ alta, como o /umbido de um .unhado de abelhas' 7ãoera di%!cil .ara <onah %icar de .é quando as .essoas %ica#am de .é, aoelhar-se quando elasse aoelha#am e mo#er os l:bios como se esti#esse re/ando' Acabou gostando do sonorolatim da missa, assim como sem.re gostara de ou#ir o hebraico'  A.s o culto, %ormaram-se %ilas diante do con%ession:rio e na %rente do .adre quedistribu!a as hstias da eucaristia' <onah %icou ner#oso ao #er as hstias, .ois %ora criadoou#indo histrias terr!#eis de udeus acusados de roubar e .ro%anar hstias'  rocurou sair de mansinho, es.erando que ninguém desse conta de sua .artida'  6 ao se a%astar da igrea, #iu bem à sua %rente, na rua estreita, o #ulto de Banuel ierro,que também ia embora'<onah %oi à igrea .or quatro domingos consecuti#os'

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  A cada semana, mestre ierro também esta#a l:' 7uma dessas #e/es, #oltaram untos àarmaria ogando con#ersa %ora, como garotos indo .ara casa de.ois da escola'- Be conte sobre o udeu que o ensinou a trabalhar com .rata'

; @0"B; DE6D 2GO

  6ntão <onah %alou sobre o abba, mas como um e-a.rendi/, não como %ilho' 7ão .rocurou, no entanto, eliminar o orgulho e o a%eto da #o/'  - =el>ias 0oledano era um sueito incr!#el e um talentoso artesãode metais' )ostei muito de ser seu a.rendi/'0ambém esta#a gostando muito de ser a.rendi/ de ierro, mas a timide/ não o deiou di/er isso' -6le tinha %ilhos  - Eois - disse <onah' - Dm morreu' ; outro ainda era um menino'e#ou o garoto com ele quando .artiu da 6s.anha'  ierro abanou a cabe+a e .assou a %alar de redes de .esca, .ois os barcos que /ar.a#amde )ibraltar esta#am tendo uma boa tem.orada'  A.s aquele dia, Banuel ierro .assou a obser#ar <onah ainda mais de .erto' A .rinc!.io<onah achou que %osse sua imagina+ão, .ois o mestre sem.re tinha sido gentil e sem.redirigia, a todo mundo, .ala#ras de agrado e de encoraamento' Bas ierro .assou acon#ersar com ele mais %requentemente que antes, e .or mais tem.o'  Angel Costa também #inha #igiando <onah' requentemente <onah sentia os olhos deAngel sobre ele' uando Angel não esta#a .or .erto, ele acha#a que ha#ia outros quetambém o #igia#am'Dm dia te#e certe/a de que uis o seguira até a #ila'  Bais de uma #e/, ao #oltar a seu barracão, <onah notou que tinham meido em seus .oucos .ertences' 7ada %ora roubado' 6le tenta#a a#aliar o risco a .artir dos olhos de um bisbilhoteiro hostil, mas nada encontra#a que .udesse incrimin:-lo' 6ram .oucas .e+as de#estu:rio, a guitarra, o c:lice de %erro que %i/era na %ora e o bre#i:rio do %inado Mernardo6s.ina, que descansasse em .a/'=: décadas, Banuel ierro era um homem bem-sucedido e in%luente em )ibraltar' 0inhaum largo c!rculo de amigos e conhecidos5 nas raras noites em que .ara#a na taberna, quasenunca bebia so/inho'  7ão #iu nada de etraordin:rio quando osé )ri.o sentou-se em sua mesa e tomou umco.o de #inho quase em silncio' Conhecia )ri.o desde que chegara a )ibraltar e o donoda mercearia nunca %ora nSito %alador'  Bas quando )ri.o, de.ois de sussurrar que queria encontr:-lo no cais, acabou .rontamente o #inho e deu um sonoro boa-noite, ierro descon%iou de alguma coisa' 6m .oucos minutos ele também es#a/ia#a seu cP.o e, recusando a o%erta de mais uma rodada,disse boa-noite a todos' 2GN 7;A= );RE;7  Caminhou até a beira-mar sem entender .or que )ri.o ti#era medo de ser #isto saindo databerna em sua com.anhia'  ; marceeiro esta#a es.erando na metade da etensão escura do cais, atr:s de um gal.ãoque ser#ia de de.sito' 7ão .erdeu tem.o com amenidades'  - &oc est: marcado, Banuel' Ee#ia ter se li#rado daquele sa%adoingrato' =: muito ele de#ia ter sido .osto no olho da rua com a es.adae o arco'

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- uem Angel Costa  - uem mais ha#eria de ser ( um in#eoso, um homem que seressente da .ros.eridade que #oc conseguiu com tanto es%or+o,Banuel - disse )ri.o num tom amargo'  Een*ncias annimas ha#iam sido %eitas à "nquisi+ão, mas ierro não .erguntou como

)ri.o conhecia o denunciante' ?abia que uma meia d*/ia dos .arentes mais .rimos deosé )ri.o eram .adres que ocu.a#am boas .osi+es'- Bas com base em qu eu %iquei marcado  - 6le disse aos inquisidores que #oc %oi a.rendi/ de um %eiticeiromu+ulmano' 6 disse que o #iu lan+ar uma maldi+ão de sangue sobrecada .e+a de armamento #endida aos cristãos' Como lhe a#isei, temsido notado que não #ai à missa'- Dltimamente tenho ido'  - Dltimamente é tarde demais' oi denunciado como ser#o de ?atãe inimigo da ?anta Badre "grea - disse )ri.o, e ierro reconheceu a .ro%undidade da triste/a em sua #o/'- ;brigado, osé'  icou .arado no escuro até osé )ri.o deiar o cais' Ee.ois #oltou à sua armaria'Contou a <onah no dia seguinte, na tarde ensolarada, de ar .arado' 6nquanto .oliam osinstrumentos %abricados .ara o irmão, o mestre ierro %alou em #o/ baia, num tomins!.ido, des.ro#ido de emo+ão, como se esti#essem con#ersando sobre a modelagem deuma .e+a de metal' ierro não deu o nome de )ri.o, relatando a.enas ter sabido que %oradenunciado .or Angel Costa'  - ?e ele %alou de mim aos inquisidores, tenho certe/a de que tam bém #oc %oi denunciado e ser: .reso - disse ierro' - Ee#emos, .or tanto, ir embora daqui, e de.ressa'oI\ ww,xw'' \ =CC <nnah' aue Eodia sentir a .r.ria .alide/'

; @0"B; DE6D 2GQ- 0em .ara onde ir- 7ão'- 6 seus .arentes ;s dois que #ieram #isit:-lo- 7ão eram .arentes' 6ram bandidos' Bas : %oram'ierro balan+ou a cabe+a'  - 6ntão quero lhe .edir um %a#or, Ramn Callic' &ou .rocurar meu irmão, 7uno ierro, que é médico em ?arago+a' odia %icar comomeu seguran+a até chegarmos à casa dele<onah tentou .ensar de.ressa'  - ; senhor me tratou bem - disse .or %im' - &ou com o senhor, .ara ser#i-lo'ierro assentiu com ar satis%eito'  - 6ntão - disse ele - temos de nos .re.arar de imediato .ara ir embora de )ibraltar' 7o meio da noite, enquanto os outros dormiam, <onah, seguindo as instru+es do mestre,%oi até a casa dele e audou-o a reunir as coisas de que iam .recisar .ara a #iagem' Além decomida e %erramentas, botas resistentes, es.oras e uma cota de malha .ara cada um' 6também uma es.ada .ara <onah' 6 uma es.ada .ara ierro que deiou <onah engasgado5

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não era cra#eada de ias nem tinha o cabo trabalhado como a es.ada de um nobre, mas .arecia muito bonita, .ois %ora %orada com um es.lndido equil!brio de .ro.or+es'  ierro enrolou em .anos macios cada um dos instrumentos cir*rgicos que, com tantocuidado, %i/era .ara o irmão' Ee.ois arrumou tudo num .equeno ba*'  6le e <onah %oram até o est:bulo, .egaram uma boa mula e le#aram-na .ara um dos

 barraces de su.rimentos na etremidade dos terrenos da armaria' 6sta#a trancado, comotodos os barraces de su.rimentos, e ierro abriu a .orta com uma cha#e' 7a metade do barracão ha#ia um amontoado de .e+as de %erro, além de uma armadura en%erruada eoutros re%ugos de metal' A outra metade do es.a+o esta#a entulhada de lenha, o combust!#elda %ora' ; mestre .ediu que <onah o audasse a deslocar as toras e, quando uma boa .arteda .ilha %oi remo#ida, a.areceu um .equeno ba* %orrado de couro'  7ão era maior que o ba* dos instrumentos cir*rgicos, mas <onah se es.antou aosus.end-lo, .ois .esa#a muito' 6ntão ele com.reendeu .or que %ora .reciso tra/er a mula'Arrumaram o ba* no lombo da mula e trancaram o barracão'

2GU 7;A= );RE;7  - A *ltima coisa que #amos querer é um /urro .ara acordar todomundo - disse ierro' 6nquanto <onah .ua#a a mula .ara a casa, ele%oi %alando com o animal em #o/ baia e %a/endo %esta em seu lombo'uando o ba* %oi colocado no .iso da casa, o mestre mandou <onahde#ol#er a mula ao est:bulo e ir .ara o aloamento, o que ele %e/'<onah caiu de imediato na cama, mas embora esti#esse cansado e quisesse dormir, %icou rolando no escuro, agitado .or .ensamentos'A des.eito de todas as .recau+es, Costa soube na manhã seguinte que ha#ia alguma coisaerrada' e#antando-se ao raiar do dia .ara ca+ar, #iu um esterco no#o no terreiro, masre.arou que todos os animais esta#am no est:bulo, cada um de#idamente instalado em sua baia'  - Alguém .egou um ca#alo ou um animal de carga esta noite - ele .erguntou olhando .ara todos, mas num tom casual' 7ão recebeui res.osta'a+o deu de ombros'  - ?em d*#ida um ca#aleiro se .erdeu durante a noite e, #endo queI55,, o estreito é um beco sem sa!da, #oltou .elo mesmo caminho que ha#ia! #indo - disse ele boceando'I 5' Costa assentiu, com relut3ncia' <onah tinha a im.ressão de #er os olhos de Angel sem.re que  ! erguia a cabe+a' 6sta#a im.aciente .ara ir embora, mas ierro não .ar-!I " tiria antes de acertar um *ltimo .onto' ; mestre le#ou um .acote .araum #elho amigo, ui/ de .a/ na #ila' ; .acote, que de#ia ser abertonuma quin/ena, continha dinheiro .ara ser di#idido entre seus artesãosde acordo com o tem.o de ser#i+o de cada um' Continha ainda umacarta, concedendo-lhes .ro.riedade coleti#a de todas as ben%eitorias e%ormulando #otos de que continuassem .rodu/indo armas ou o quemais de.endesse de suas consider:#eis habilidades'- 6st: na hora - ierro eclamou no dia seguinte e <onah sentiu um grande al!#io'6s.erariam até a maior .arte da noite .assar .ara que ti#essem claridade quando

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come+assem a .isar em solo desconhecido' ; mestre %oi até o est:bulo e tirou da baia amontaria habitual, uma égua negra que di/iam ser o melhor de seus animais'  - egue o :rabe cin/a .ara #oc - disse ele, e <onah obedeceu comgrande alegria' ?elaram os ca#alos e le#aram-nos de #olta .ara as baias' Ee.ois condu/iram a mula .ara a casa de ierro .ela *ltima #e/'

  &estiram-se, .egaram as armas e carregaram a mula com as coisas que tinham reunido'uando #oltaram ao est:bulo, .egaram os ca#alos ; @0"B; DE6D 2G9e, sob o nascer cin/ento de uma no#a manhã, atra#essaram com os trs animais os terrenosda armaria' 7ão %ala#am'<onah lamenta#a não ter conseguido se des.edir de a+o'  ?abia o que era deiar uma casa e .odia imaginar o que ierro esta#a sentindo' uandoou#iu o gemido baio, achou que o mestre se .ermitira uma mani%esta+ão de .esar, mas#irando a cabe+a #iu uma %lecha em.lumada brotar da garganta de Banuel ierro, logoacima da cota de malha' ?angue muito #ermelho escorria do %erimento .ara a rou.a ede.ois .ara o ca#alo'  Eistante cerca de quarenta .assos, Angel Costa %i/era o lan+amento na .enumbra, o queteria lhe rendido uma moeda de ouro num dia de torneio'  <onah .ercebeu que Angel atirara .rimeiro em ierro .or temer sua es.ada' 7ão tinhamedo, .orém, das habilidades de <onah e logo baiou o arco, .uou a es.ada e a#an+ou'A .rimeira rea+ão de <onah %oi de .3nico e seu .rimeiro .ensamento, que su%ocou todos osoutros, %oi .ular no ca#alo e %ugir' Bas tal#e/ .udesse %a/er alguma coisa .or ierro'''  7ão lhe sobrou tem.o .ara re%letir, s .ara sacar a es.ada e dar um .asso à %rente' Costaca!a sobre ele e as l3minas colidiam com ru!dos met:licos'  <onah tinha .ouca es.eran+a' A%inal, %ora sem.re sobre.uado .or Angel Costa' Ae.ressão de bestialidade e des.re/o do mestre-dz-ar-mas era sua #elha conhecida' araacabar ra.idamente com a luta, Costa estaria .rocurando de%inir o gol.e, escolher omo#imento mais e%iciente dentre a d*/ia de mo#imentos que tinham %uncionado no .assado'  Com uma energia nascida do deses.ero, <onah imobili/a#a a es.ada de Costa a cadaestocada, a cada gol.e, a cada #e/ que o .unho de um %or+a#a o do outro' 6ra como seou#isse a #o/ de Bingo em sua cabe+a, di/endo-lhe .recisamente o que %a/er'  6ntão a mão esquerda de <onah %oi descendo .ara a cintura e .uou o .equeno .unhal'Ataque .ara acertar' &: de rasgada .ara cima'  Dm olhou .ara o outro com a mesma estu.e%a+ão, ambos conscientes de que não era .araacabar assim' Costa cambalea#a'ierro esta#a morto quando <onah chegou .erto' 0entou remo#er a %lecha, mais ela entrara%undo e a .onta resistia' 6ntão quebrou a haste o mais rente .oss!#el da .obre gargantaensanguentada'

21G 7;A= );RE;7  7ão .odia deiar que encontrassem ierro ali, .ois sabia que G cad:#er seria condenadoe, como derradeira indignidade, queimado unto às #!timas #i#as no .rimo auto-de-%é'  6rgueu o mestre e carregou-o bem .ara o lado da trilha' Ee.ois usou a es.ada .araca#oucar um t*mulo raso no solo arenoso, etraindo a terra solta com as mãos'

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  A terra esta#a cheia de .edras e usar a es.ada como .: estragara a l3mina, inutili/ando aarma' <onah, então, resol#eu troc:-la .ela es.lndida es.ada de Banuel ierro' Eeiou ases.oras de .rata nas botas do mestre, mas .egou sua bolsa e tirou-lhe do .esco+o o cordãocom as cha#es dos ba*s'  )astou tem.o e energia cobrindo o cor.o de ierro com .edras .esadas, .ara .roteg-lo

de animais' Ee.ois, cobriu as .edras com um .ouco de terra e es.alhou cascalho, gra#etose uma .equena .edra redonda na su.er%!cie do t*mulo' ueria que, #isto da trilha, o solo .arecesse normal'  Algumas moscas : tinham .ousado no cor.o de Costa e da! a .ouco ha#eria um ename,mas a.s se certi%icar de que ele esta#a realmente morto, <onah abandonou Angel Costacom o rosto atolado no chão'  inalmente, le#ando também a mula e a égua negra de ierro, <onah se a%astou no lombodo ca#alo :rabe' oi um trote #igoroso na lu/ mo#edi+a do in!cio da manhã e ele sa%rouou a marcha de.ois de cru/ar o istmo estreito que liga#a )ibraltar com o resto da6s.anha' assou, sem olhar, .ela ca#erna saqueada do ?anto eregrino' uando o sol %icoua .ino, #iu-se mais uma #e/ na solit:ria seguran+a das altas montanhas' 7ão .arou, mascome+ou a chorar como uma crian+a' 6 não era s o .esar .ela morte do mestre, ha#iaoutra coisa' 0inha mandado dois homens .ara a morte e agora roubara uma #ida humanacom suas .r.rias mãos' ?em d*#ida, o que .erdera com isso .esa#a mais que qualquer%ardo le#ado .ela mula'uando te#e certe/a de não estar sendo seguido, deu uma %olga nos animais, condu/indo-osa .é durante cinco dias .or trilhas .ouco usadas das montanhas e sem.re a .asso lento'Ee.ois se #irou .ara o norte, continuando nos .rotegidos caminhos dos morros até osarredores de B*rcia' ? abrira uma #e/ o ba* de couro' elo .eso, s .oderia conter umacoisa, .or isso a #isão das moedas de ouro meramente con%irmou que ali esta#a o ca.italque o mestre acumulara de.ois de duas décadas %orando as armas que os ricos e .oderosostanto desea#am' 6le nem chegou a .`r os dedos naquela rique/a %ant:stica' echou o ba* eto%-

; @0"B; DE6D 211  u a en%i:-lo no grande saco de rou.as' As moedas de ierro esta#am sob suares.onsabilidade'  ?eu cabelo e sua barba logo %icaram grandes, malcuidados5 as es.oras e a cota de malhaadquiriram marcas, meio barrentas, do mato *mido onde dormia' arou duas #e/es emaldeias remotas, que .areciam seguras, .ara com.rar su.rimentos, mas e#itou qualquercontato menos su.er%icial' 7a #erdade, a maioria das situa+es garantiam a sua .ri#acidade, .ois <onah lembra#a o .er%eito ca#aleiro errante, cua ecelente es.ada e ca#alos de batalha, somados à a.arncia tem!#el, não encoraa#am ataques nem con#i#ncia social'assando B*rcia, #irou-se imediatamente .ara o norte, #iaando atra#és de &alncia eAragão'  Eeiara )ibraltar no %inal do #erão, mas agora os dias : se torna#am %rescos e as noites%rias' Dm .astor #endeu-lhe um cobertor de couro de o#elhas, onde ele .assou a se enrolar .ara dormir' a/ia %rio demais .ara tomar banho, e o cheiro dos couros mal .re.aradosadiciona#a-se ao seu %edor'  7a manhã que alcan+ou ?arago+a, esta#a entor.ecido com a %adiga da #iagem'  - Conhece o médico deste lugar - .erguntou ao homem que car rega#a lenha num carro de boi na la/a BaJor' - Dm homem chama

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do ierro  - ?im, é claro - disse o desconhecido, que o contem.la#a meioner#oso' <onah %oi orientado a sair de no#o da cidade e se dirigir a uma .equena %a/enda, meio escondida, .or cua trilha de entrada ele .assara sem re.arar'

  =a#ia um est:bulo entre as ben%eitorias da hacienda, mas o *nico animal à #ista era umca#alo que .asta#a na grama seca e cin/enta do in#erno' A mulher que atendeu à sua batidana .orta da casa-sede transmitia um cheiro de .ão recentemente assado' 6la s abriu um .ouco a .orta, não mostrando mais que metade de um rosto doce de cam.onesa, o contornode um ombro, o #olume de um seio'- uer %alar com o doutor- ?im'  7uno ierro era um homem cal#o, barrigudo, de olhar intros.ecti#o e calmo' 6mbora odia esti#esse nublado, ele a.ertou os olhos como se esti#esse olhando .ara o sol' 6ra mais#elho que o mestre' 0inha o nari/ reto e, sob #:rios outros as.ectos, lembra#a o irmão, queno entanto %ora mais #igoroso, mais robusto' uando ele saiu de deniro da 212

 7;A= );RE;7

liI

casa, <onah re.arou no modo como meia a cabe+a, no andar, nas di%erentes emo+es queirrom.iam em seu rosto'  ; homem %icou silencioso e abatido quando <onah lhe disse que o irmão esta#a morto'- Borte natural- 7ão' 6le %oi atacado'- Assassinado, não é o que est: querendo di/er  - ?im' Assassinado e''' roubado - <onah acrescentou de re.ente' 7ão .remeditara a decisão de não entregar àquele homem o dinheirodo irmão, mas te#e a s*bita e o%uscante certe/a de que não o %aria' oiaté a mula e soltou o ba* dos instrumentos médicos'  7uno ierro abriu o ba* e eaminou os bisturis, as sondas, os gram.os'  - 0rabalhou .essoalmente em cada instrumento' Eeiou-me .olir alguns, mas %e/ todos eles'  ; médico ia .egando com carinho aqueles .oucos .rodutos do trabalho do irmão, massua e.ressão era muito tensa' 6rgueu os olhos .ara <onah, sem d*#ida obser#ando asmarcas da longa #iagem' ro#a#elmente sentindo também o cheiro do #iaante'- 6ntre, .or %a#or'-7ão'-Bas .recisa'''  - 7ão, obrigado - disse <onah num tom meio :s.ero' - elicidades .ara o senhor'

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  6le caminhou até o ca#alo cin/ento e .ulou na sela' Ee.ois .rocurou manter os animaisnum .asso lento, .ara esca.ar de#agar' 7a .oeira da estrada, 7uno ierro tinha um olharcon%uso'<onah seguiu mais .ara o norte, sem saber muito bem .ara onde ia'  ; médico era um homem #elho, disse a si mesmo, e sem d*#ida esta#a bem de #ida' 7ão

 .recisa#a da %ortuna do irmão'  ercebia agora que, sem ter conscincia da tenta+ão, %icara .ensando muito naqueledinheiro' "maginando o que signi%icaria dis.or de recursos %inanceiros .raticamenteilimitados'  or que não ;b#iamente %ora obra de Eeus' ; "ndi/!#el Dno manda#a-lhe uma celestialmensagem de es.eran+a'  A.s algum tem.o, instalado na sela que .assara a sentir como outra camada de .ele norabo, %icou tonto de tanto .ensar nas o.+es que se abririam diante dele com aquele ouro'ensar .ara onde de#ia ir' n{www ^^ noderia com.rar uma no#a #ida' ; @0"B; DE6D 21V  uando se deu conta, esta#a chegando às encostas, satis%eito .or #iaar .ara orecon%ortante re%ugio das montanhas' 7aquela noite, .orém, não dormiu' =a#ia umacasquinha %ina de lua e as mesmas estrelas que brilha#am quando era .astor' i/era uma%ogueira na .equena clareira de uma encosta arbori/ada e %icou sentado diante dela,contem.lando as labaredas, onde #ia muitas coisas'Einheiro era .oder'  ; dinheiro lhe com.raria um certo n!#el de seguran+a' Dm m!nimo de seguran+a'  7a lu/ %ria do in!cio da manhã, ele se le#antou e, murmurando um ingamento de .eão, ogou terra sobre o que restara do %ogo'&oltou lentamente a ?arago+a'  uando 7u!!o ierro abriu a .orta da casa-sede da %a/enda, <onah esta#a .egando o ba*das moedas' ogo de.ois tira#a a es.ada da cinta .ara coloc:-la sobre o ba*'- "sto também era dele, assim como os animais'  ;s olhos inteligentes de ierro se arregalaram, com.reendendo tudo'- oi #oc que o matou-7ão, não?eu horror seria reconhecido como sincero'  - 6u gosta#a muito dele' 6ra''' o mestre 6ra bom e usto' Buitagente gosta#a dele'; médico de ?arago+a abriu sua .orta de .ar em .ar'- &amos entrar'

 CA0D; 2U"&R;?ror mais di%!cil que %osse, antes de descansar ou tomar um banho ele contou em detalhes a 7uno ierro o que acontecera naquela manhã' 6.licou como Banuel ierro morrera com a%lecha de Angel Costa es.etada na garganta e como conseguira acabar com Angel' 7unoierro ou#iu com os olhos %echados' 6ra uma terr!#el narrati#a e, quando <onah chegou ao%im, ele abanou a cabe+a e se a%astou .ara %icar so/inho'  A criada do médico era uma .essoa calada e atenta, uma mulher %orte de uns quarentaanos - mais #elha do que <onah imaginara quando a #ira .ela .rimeira #e/ atra#és da %enda

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da .orta' ?eu nome era ReJna adique' Co/inha#a bem, esquentou a :gua do banho sem sequeiar e, durante um dia e meio, ele não %e/ nada além de dormir, acordar .ara comer ouusar o .enico e dormir outra #e/'  uando se le#antou na tarde do segundo dia, encontrou suas rou.as la#adas, coradas nosol' 6le se #estiu e saiu' ouco de.ois, 7uno ierro #iu-o se aoelhar na margem do

crrego, contem.lando .equenas trutas #oarem sobre as :guas'<onah agradeceu .ela hos.italidade'  - : descansei e estou .ronto .ara .egar de no#o a estrada - disseele, e seu rosto adquiriu uma e.ressão meio sem eito' 7ão tinhadinheiro .ara %a/er uma o%erta .elo ca#alo cin/ento, mas acha#a quetal#e/ .udesse com.rar a mula' A .ossibilidade de ser obrigado a #ia ar a .é era terr!#el'- Abri o ba* de couro - disse o médico'  Algo que <onah detectou na #o/ do homem ergueu de re.ente sua cabe+a'- 6st: %altando alguma coisa  - elo contr:rio' 6u não es.era#a encontrar o que #i ali' - 7unoierro estendeu um .equeno .eda+o de .a.el, rasgado sem muito cuidado de um .eda+o maior' 7ele, numa tinta onde ainda ha#ia alguns grãosri. areia, esta#a escritoI Acredito que o .ortador é um cristão-no#o'  -; @0"B; DE6D 21O  <onah esta#a assombrado' 6ntão tinha ha#ido .elo menos um homem que ele nãoconseguira enganar com seu %also nome e modos cristãos ; mestre .ensara que %osse umcon#ertido, é claro, mas .ercebera que <onah era udeu' A nota mostra#a que ele acreditaraque <onah entregaria o dinheiro ao irmão na e#entualidade de sua morte' 6ra umtestemunho de con%ian+a que .artia do t*mulo, uma homenagem que quase não %oramerecida'  6sta#a, .orém, desa.ontado .or Banuel ierro ter ulgado necess:rio a#isar o irmão deque tinha um udeu em casa' 7uno ierro #iu a con%usão em sua %isionomia'- &enha comigo, .or %a#or'  7o interior da casa, num escritrio, 7uno .uou uma ta.e+aria, re#elando um nicho na .arede de .edra' Eentro do nicho ha#ia dois obetos muito bem en#ol#idos em .anos brancos' Cada .ano %ora cuidadosamente amarrado com tiras de tecido' 7uno abriu os .anos e a.areceram dois li#ros'6m hebraico'  - ui a.rendi/ de )abriel ben 7issim ?.oranis, um dos mais reno-mados médicos de toda a 6s.anha, e ti#e a honra de .raticar medicinacom ele' 6ra udeu' 0inha .erdido um irmão .ara a "nquisi+ão' )ra+asà misericrdia de Eeus, morreu naturalmente, na cama, com idademuito a#an+ada, dois meses antes do edito de e.ulsão'  7a é.oca da e.ulsão, seus dois %ilhos e sua irmã tinham .oucos recursos .ara #iaar .ara um lugar seguro' Com.rei deles esta casa e esta terra, assim como estes li#ros'  Eisseram-me que um se chama Coment:rio dos a%orismos médicos de =i.crates, e %oiescrito .or Boisés ben Baimon, que sua gente chama de Baim`nides' ; outro é o C3nonde medicina, de A#icena, que os mouros conhecem como "bn ?ina' 7uma carta a meu

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irmão Banuel, eu disse que tinha esses li#ros e que gostaria muito de descobrir seussegredos' 6 ele me manda um cristão-no#o'  <onah sus.endeu um dos li#ros e a.reciou as letras que h: muito não #ia' areciamestranhas, inslitas' 7o meio da alegria ner#osa que tomou conta dele, trans%ormaram-seem cobras se contorcendo'

  - 0em outros li#ros escritos .or Baim`nides - ele .erguntou com#o/ rouca' ; que não daria .or uma c.ia da Bishné 0ora, .ensou5 oabba ti#era o li#ro, onde Baim`nides comenta#a toda a .r:tica religiosa udaica, descre#endo em detalhe tudo que <onah ha#ia .erdido'"n%eli/mente, 7uno ierro sacudira negati#amente a cabe+a'  - =a#ia outros li#ros, mas %oram le#ados .elos %ilhos de )abriel?.oranis' - ;lhou ansioso .ara <onah' - ( ca.a/ de tradu/ir estes aqui 21N 7;A= );RE;7  <onah contem.lou uma .:gina escrita' Ee no#o as ser.entes eram a.enas as bem-amadasletras, mas'''  - 6u não sei - disse num tom de d*#ida' - Antigamente eu domina#a com %acilidade a l!ngua hebraica, mas h: muito tem.o não leiohebraico nem uso a l!ngua .ara nada' : se .assaram no#e anos'- uer morar comigo e tentar  icou es.antado ao #er como o hebraico do .ai entra#a de no#o em sua #ida'- ico .or algum tem.o - disse'?e a escolha %osse dele teria come+ado com o li#ro de Baim`nides, .ois o eem.lar eramuito #elho e as .:ginas esta#am secas e se es%arelando, mas 7u%to ierro esta#a :#ido .ara ler A#icena, .or isso <onah come+ou da!'  7ão tinha certe/a se conseguiria %a/er a tradu+ão' 0rabalhou com grande a%inco, uma .ala#ra de cada #e/, um .ensamento de cada #e/, e lentamente as letras que : tinham sidotão %amiliares tornaram-se outra #e/ %amiliares'- Mem ; que acha - o médico .erguntou a.s o .rimeiro dia'<onah s .`de dar de ombros'  As letras hebraicas liberaram recorda+es do .ai a ensin:-lo, discutindo com ele ossigni%icados das .ala#ras, ensinando como %unciona#am nas rela+es do homem com outroshomens e nas rela+es do homem com Eeus e com o mundo'  embrou-se das #o/es #elhas e .ouco %irmes, das #o/es o#ens e %ortes, todas bem ou malcantando untas' embrou-se do *bilo das can+es e do .esar do >adish' 0rechos doscultos, %ragmentos dos #ersos que ulga#a esquecidos .ara sem.re come+aram a rodo.iardas .ro%unde/as de sua memria' &inham como %lores no #ento' As .ala#ras hebraicas quetradu/ia %ala#am de tétano e .leurisia, tremores de %ebres, .o+es .ara abrandar a dor5 nãoobstante, tra/iam-lhe a m*sica, a .oesia, o %er#or que tinham se .erdido na %orma brutalcomo amadurecera .ara a #ida'  Algumas .ala#ras ele sim.lesmente não conhecia e a *nica solu+ão era conser#ar o nomehebraico na senten+a em es.anhol' Bas : %ora muito %amiliari/ado com o hebraico e, aos .oucos, tudo ia #oltando' 7uno ierro .aira#a bem .rimo dos limites de sua emo+ão'- Como #ai o trabalho - .ergunta#a no %inal de cada dia'  - Come+o a sentir um .rogresso - <onah %oi %inalmente ca.a/ dedi/er'

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 ; @0"B; DE6D 21Q 7uno ierro era um homem honesto e logo ad#ertia <onah de que, no .assado recente,?arago+a %ora um lugar .erigoso .ara udeus'- A "nquisi+ão chegou cedo aqui, e com se#eridade - disse'

0orquemada ha#ia nomeado dois inquisidores .ara ?arago+a emmaio de 14U4' 6sses clérigos esta#am tão im.acientes .ara liquidar udeus recalcitrantesque organi/aram o .rimeiro auto-de-%é sem emitir sequer o 6dito de )ra+a, que .oderia .ermitir aos cristãos-no#os transgressores con%essar #oluntariamente, com isso adquirindoo direito a um .edido de clemncia' 6m V de unho, os .rimeiros dois con#ertidos : tinhamsido eecutados e o cad:#er de uma morta %ora eumado e queimado'  - =a#ia bons homens em ?arago+a, membros da Ei.utacin deAragn, que %unciona#a como um conselho de ministros' 6les %icaramchocados, escandali/ados, e se dirigiram ao rei' Eisseram que asnomea+es e eecu+es de 0orquemada eram ilegais e que seus con%iscos de .ro.riedades #iola#am os %ueros do reino de Aragão' 7ão%a/iam obe+es ao ulgamento dos hereges - continuou 7uno ierro -,mas queriam que a "nquisi+ão se es%or+asse .ara tra/er os .ecadores de#olta ao seio da ?anta Badre "grea .or meio de conselhos e educa+ãoreligiosa ou recorrendo no m:imo a .enas sua#es' Ei/iam que nãode#iam ser le#antadas cal*nias contra gente boa e .iedosa, e rea%irma#am que não ha#ia heréticos notrios em Aragão'ernão demitira aqueles homens de imediato'  - ?e ha#ia tão .oucos heréticos em Aragão, di/ia ele, .or que#inham incomod:-lo com aquele medo da "nquisi+ão  7a noite de 1N de setembro de 14UO, edro Arbués, um dos inquisidores, %oi assassinadoenquanto re/a#a na catedral' 7ão hou#e testemunhas do crime, mas as autoridades %i/erama imediata su.osi+ão de que %ora morto .or cristãos-no#os' Como : acontecera nos casosde outras %ict!cias insurrei+es de con#ertidos, .useram de imediato na .risão o l!der da .o.ula+ão de cristãos-no#os' 6le era um distinto e idoso urista, chamado aime deBontesa, subsecret:rio de usti+a da munici.alidade'  Alguns conhecidos de Bontesa também %oram .resos, homens .ro%undamente en#ol#idosna #ida cristã, .ais e irmãos de monges, gente cuos ancestrais : eram con#ertidos' 6ntreeles ha#ia .essoas que ocu.a#am altos .ostos no go#erno e no comércio, #:rias delascondecoradas' Dm .or um %oram declarados udio mamas, isto é, essencialmente udeus'0err!#eis torturas engendraram con%isses de um com.l`' 6m de/embro de 14UO, mais doiscon#ertidos %oram quei- 21U 7;A=);RE;7mados no .oste e, a .artir de %e#ereiro de 14UN, encenaram-se mensalmente autos-de-%é em?arago+a'  - Como #oc #, de#emos ter cuidado, muito cuidado - ierroad#ertiu <onah' - Ramn Callic é seu #erdadeiro nome- 7ão' ?ou .rocurado como udeu sob meu #erdadeiro nome' 7uno ierro estremeceu'  - 6ntão não me diga qual é seu #erdadeiro nome' uando alguém .erguntar, diremos sim.lesmente que se chama Ramn Callic e que é

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um cristão-#elho de )ibraltar, sobrinho da es.osa de meu %alecidoirmão'A coisa .ro#ou ser %:cil' <onah não #ia soldados nem .adres' &i#ia na %a/enda, que omédico udeu )abriel ben 7issim ?.oranis, que %ora o antigo .ro.riet:rio, escolhera comhabilidade, .ois %ica#a longe o bastante da cidade e su%icientemente %ora da estrada

 .rinci.al .ara que somente os que necessitassem de cuidados médicos se .reocu.assem emir até l:'  A .ro.riedade de ierro estendia-se .or trs lados de um morro com.rido e !ngreme'?em.re que a %adiga trans%orma#a no#amente as letras em cobras e <onah não conseguiamais tradu/ir, ele larga#a os li#ros e caminha#a .ela terra' =a#ia sinais de que aquela :%ora uma boa %a/enda, mas era b#io que 7uno não s:bia cuidar da .ro.riedade' =a#ia umcam.o de oli#eiras e um .equeno .omar, ambos saud:#eis, mas .recisando urgentementeserem .odados' 6ntão, como o bom .eão que tinha sido, <onah não tardou a encontrar uma .equena serra no est:bulo e .odou #:rias :r#ores, em.ilhando os ramos cortados equeimando-os, assim como tinha %eito nas %a/endas .or onde .assara' ; esterco de ca#aloque sa!a das baias esta#a se acumulando atr:s do est:bulo e <onah misturou-o com ascin/as das %ogueiras' 6m seguida es.alhou a mistura sob uma meia d*/ia de :r#ores'  assando a crista do morro, no lado norte, ha#ia um cam.o abandonado que ReJnachama#a de lugar dos .erdidos' 6ra um cemitério sem l:.ides, destinado aos in%eli/esque acaba#am com as .r.rias #idas, .ois a "grea di/ia que os suicidas eram amaldi+oadose não .odiam ser enterrados em solo cristão'ogo acima da %a/enda %ica#a a encosta meridional do morro, a melhor .arte da .ro.riedade, com uma terra escura, muito adubada e bem e.osta ao sol' ReJna mantinhaali uma .equena horta .ara a co/inha, mas a maior .arte do que brota#a era mato e%olhagem' <onah .ercebeu que aquela terra o%erecia muitas .ossibilidades, basta#a que se .reocu.asse em trabalhar seriamente'

; @0"B; DE6D 219 7ão sabia muito bem .or quanto tem.o ia %icar ali, mas se sur.reendeu com a redescobertado hebraico e, à medida que as semanas .assa#am, %oi achando quase normal morar deno#o numa casa' Dma casa re.leta dos aromas de assados e co/idos e do calor do grande%ogão' <onah conser#a#a sem.re cheio o com.artimento da lenha, o que deia#a ReJnamuito grata, .ois aquela %ora uma de suas muitas tare%as' ; andar térreo era constitu!do .orum salão, onde se co/inha#a e se %a/ia as re%ei+es, e onde ha#ia duas con%ort:#eis .oltronas .erto do %ogo' <onah dormia no andar de cima, num .equeno de.sito, entre oquarto grande do dono da casa e o quarto menor de ReJna, cada um com uma cama'  As .aredes eram %inas' 6le nunca a ou#iu re/ar e sabia que, quando alguém acorda#a .aramiar no .enico, o barulho era ou#ido .or todos' Dma #e/ ou#iu-a dar um .equeno gemidoao bocear'e imaginou como ela seria esticada na cama, des%rutando o luo das .oucashoras em que %ica#a li#re do trabalho' Eurante o dia, <onah a obser#a#a %urti#amente,tomando cuidado .ara ela não dar conta, .ois desde o in!cio .ercebera que ReJna esta#acom.rometida'  Eeitado no escuro, escutou-a, em di%erentes noites, abrir a .orta e ir .ara o quarto de 7u%io' s #e/es da#a .ara ou#ir os sons aba%ados dos dois tendo rela+es'  Ei#irta-se, doutor, .ensa#a ele, sentindo-se tolhido .elo .r.rio deseo não satis%eito'  Re.arou que, no dia-a-dia, 7uno e ReJna com.orta#am-se como .atrão e em.regada,sendo gentis um com o outro, mas nunca !ntimos'

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  0inham rela+es menos %requentemente do que <onah .re#ira' ?em d*#ida, asnecessidades de 7uno ierro : não seriam tão urgentes' <onah, que sabia descobrirregularidades, .ercebeu que às #e/es, a.s o antar, 7uno di/ia a ReJna que gostaria decomer uma galinha enso.ada no dia seguinte' 6la inclina#a a cabe+a' 6ra sem.re nessasnoites que ReJna ia .ara o quarto de 7uno' 6ntão, quando ou#ia aquele cdigo secreto, a

encomenda do enso.ado de galinha, <onah não conseguia dormir antes de ou#ir ReJnasaindo .ara o quarto do médico'Dma tarde, ao se le#antar da .equena mesa onde %a/ia sua tradu+ão, <onah #iu o médicosentar-se lentamente nos degraus mais baios da escada' oi a .rimeira #e/ que .ercebeuque 7uno não esta#a bem' =erro .arecia .:lido e tinha os olhos %echados'  - recisa de auda, senorl - disse <onah, caminhando r:.ido emsua dire+ão, mas 7u%io ierro ergueu a mão'- Eeie-me %icar aqui' ( um .ouco de tontura, nada mais'-22G 7;A= );RE;7  <onah balan+ou a cabe+a e #oltou à sua escri#aninha' ouco de.ois ou#ia ierro %icar em .é e ir .ara o quarto'&:rias noites mais tarde, quando #entos muito %ortes acom.anha#am a chu#a grossa, .ersistente, que interrom.era uma longa estiagem, os trs %oram acordados antes doamanhecer .or batidas na .orta e a #o/ de um homem chamando alto .elo senor ierro'ReJna desceu correndo e gritou sem abrir a .orta'- ?im, sim ; que hou#e  - 6u me chamo Ricardo Cabrera' or %a#or, .recisamos do senoryBeu .ai so%reu uma queda terr!#el'- 6stou indo - 7u%!o gritou do alto da escada'ReJna, que esta#a de camisola, s abriu um .ouco a .orta'- ;nde é sua %a/enda- Ao lado da #ia 0auste'- Bas é do outro lado do 6bro  - Atra#essei o rio sem di%iculdade - o homem disse num tomsu.licante'  7ão .ela .rimeira #e/, <onah ou#iu a estranha barulheira da criada discutindo com 7unoierro como se %osse es.osa dele'  - 7ão #: arrumando instrumentos e remédios com tanta calma nasacola ica muito longe, e do outro lado do rio' 7ão .ode sair numanoite assim'  ouco de.ois hou#e outra batida, desta #e/ na .orta de <onah' ReJna entrou e sea.roimou no escuro'  - 6le não é um homem %orte' &: .ara aud:-lo' 0raga-o de #oltaem seguran+a'  7uno era menos arroado do que a.arenta#a e .areceu ali#iado quando <onah, que se#estira correndo, desceu a escada'  - or que não .ega um dos ca#alos de seu irmão - <onah .er guntou'; médico balan+ou a cabe+a'- 0enho meu .r.rio ca#alo, que : cru/ou muitas #e/es o 6bro'<onah, então, selou o ca#alo marrom de 7uno e o ca#alo :rabe

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cin/ento' ?eguiram o .nei desaeitado do %ilho do graneiro atra#és da chu#a %orte' ;crrego se trans%ormara num .equeno rio e o barulho da :gua esta#a .or toda .arteenquanto abriam caminho entre a lama' <onah le#a#a a sacola de 7uno, .ermitindo que elesegurasse as rédeas com as duas mãos'  6sta#am inteiramente molhados quando atingiram o 6bro' 7ão ha#ia .assagem calma

nem .ontos adequadamente rasos no meio ; @0"B; DE6D 221daquela chu#a' A :gua corria im.etuosa .elos estribos quando eles #adearam, mas até o .equeno .nei %e/ a tra#essia sem incidentes' Chegaram à .ro.riedade enso.ados e commuito %rio, mas não ti#eram tem.o de se .reocu.ar com o con%orto .r.rio'  ascual Cabrera a/ia no chão do est:bulo' erto dele, sua mulher le#a#a um .ouco de%eno .ara os animais' ascual gemeu quando o médico se cur#ou sobre ele'  - Ca! do alto do rochedo - murmurou' arecia ter di%iculdades .arares.irar e a es.osa resumiu a histria'  - Anda um lobo .or aqui e, h: quin/e dias, .egou-nos uma o#elhaque tinha acabado de .arir' Ricardo tem .re.arado armadilhas e #aimatar o animal, mas até isso acontecer, toda noite tra/emos nossas .oucas o#elhas e cabras .ara c:' Beu marido : tinha tra/ido quasetodas' ? %alta#a aquela cabra - disse ela indicando uma cabra negraque comia %orragem' - A maldita tinha subido no alto da rocha que %icano canto do .asto' Cabras gostam muito de subir em .edras e ela não .arecia dis.osta a descer'  ; marido disse alguma coisa com #o/ %raca e 7uno te#e de .edir-lhe .ara re.etir'- A cabra''' nossa melhor cabra leiteira'  - 6atamente - disse a mulher' - 6ntão ele %oi até o alto da rochae conseguiu toc:-la' 6la desceu e #eio logo .ara c:' Bas as .edras %icaram escorregadias com a chu#a5 ele derra.ou e caiu direto' icoualgum tem.o estirado no .asto antes de conseguir se arrastar até aqui'uando #i o que tinha acontecido, tirei as rou.as dele e cobri-o comuma manta, mas ele não me deiou enug:-lo .or causa da dor'  <onah contem.la#a um 7uno di%erente daquele que #ira em casa' ; médico .arecia :gil eautocon%iante' Remo#eu o cobertor e .ediu que <onah trouesse uma das duas lam.arinasque ha#ia no local' As mãos do médico mo#eram-se sua#emente sobre o cor.o de ascual,a#aliando as leses' Dma du.la de bois es.reita#a das baias'  - &oc quebrou #:rias costelas' 6 tal#e/ tenha um osso rachado no bra+o - disse 7uno .or %im' 6ntre os gemidos de ascual, ele a.ertou-lhe o tronco em ataduras de .ano e logo o senor Cabrera sus.ira#a,sentindo um abrandamento da dor'- ;h, %icou bem melhor - disse tomando %`lego'  - ?eu bra+o também .recisa de auda - disse 7uno, e enquanto instala#a o bra+o numa ti.ia .ediu que <onah e Ricardo amarrassem ocobertor entre duas #igas com.ridas que esta#am ogadas num cantodo est:bulo' ouco de.ois Cabrera era deitado na .adiola im.ro#isadae carregado .ara a cama'  -222

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 7;A= );RE;7

  ? se des.ediram a.s 7uno ter dado à senhora .s .ara in%us que .ermitiriam que omarido dormisse' Ainda chu#isca#a quando i ^ ciaram a #olta, mas o tem.oral acabara e o

rio esta#a mais seren[ Antes de eles chegarem, a chu#a .arou de todo e um amanhecer enslarado %oi se a.roimando do hori/onte' 6m casa, ReJna tinha o %oe aceso, #inho quente ecome+ou de imediato a %er#er :gua .ara o banho do médico'  7a .enumbra de seu .equeno quarto, <onah tremia es%regando o cor.o gelado com umsaco de aniagem' icou .ensati#o ou#indo as re.reenses que a mulher %a/ia ao dono dacasa' 6ra uma #o/ doce mas ansiosa como o arrulhar de uma .omba'<onah gostou quando, alguns dias mais tarde, 7uno .ediu que ele o acom.anhasse de no#o' 7a semana que se seguiu, %i/eram sete #isitas a gente doente ou machucada' ogo %icoutacitamente aceito que, quando o médico %osse à casa de algum .aciente, <onah iria unto'  oi durante a #isita a uma mulher com muita %ebre e tremores de %rio que <onah ou#iuum relato do que acontecia nas #idas dos udeus es.anhis que tinham %ugido .araortugal' 6nquanto 7uno cuida#a da mulher, seu marido, um negociante de tecidos que%ora a isboa em #iagem de negcios5 sentou-se .ara con#ersar com <onah' Come+ou%alando do #inho e da comida .ortugueses'  - Como todos os .a!ses - di/ia ele .ouco de.ois -, ortugal tem .roblemas com os in%ames udeus'- ;u#i di/er que %oram trans%ormados em escra#os do estado'  - oram escra#os até dom Banuel ascender ao trono e declar:-losli#res' Bas quando ele quis des.osar a o#em %ilha de ernão e "sabel,nossos monarcas re.ro#aram seu cora+ão ecessi#amente brando e ele .rometeu agir com mais %irme/a' =a#ia, no entanto, um .roblema' EomBanuel queria acabar com a udiaria no reino, mas não .odia se dar aoluo de .erder os udeus, que são odiosamente bons no comércio'  - : ou#i di/er isso - comentou <onah' - Acha que é mesmo #er dade  - ;h, sim' ( #erdade em meu .r.rio comércio de .anos e emmuitas outras :reas' Ee qualquer modo, .or ordem de dom Banuel,todas as crian+as udias entre os quatro e os cator/e anos de idade %icaram obrigadas a se bati/ar' Dm batismo em massa' 7uma %racassadae.erincia, cerca de setecentas dessas crian+as recém-bati/adas%oram mandadas .ara uma #ida cristã na ilha de ?ão 0omé, .erto dacosta da F%rica, onde quase todas morreriam ra.idamente .or causaA {5ww5w A%ic crian+as, no entanto, .`de continuar com

; @0"B; DE6D 22Vsuas %am!lias, e aos udeus adultos %oi dada a o.+ão de se tornarem catlicos ouabandonarem o .a!s' Como na 6s.anha, alguns se con#erteram, embora nossa e.erinciamostre como é du#idoso que um udio mamas, um udeu de #erdade, .ossa se trans%ormarnum bom e honesto cristão, não acha- ara onde %oram os outros - <onah .erguntou'  - 7ão %a+o ideia nem me im.orto, desde que eles nunca #oltem .ara c: - disse o negociante, e um surto de gemidos da es.osa

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deslocou-o de <onah .ara a cabeceira dela'Certo dia, uma du.la de co#eiros .assou .ela estradinha que da#a acesso à %a/enda de 7uno' ; burro que le#a#am tinha uma %orma reclinada no lombo' uando .araram na%a/enda .ara .edir :gua, ReJna .erguntou se .recisa#am dos ser#i+os do médico e os doisriram, di/endo que era tarde demais' ; burro carrega#a o cor.o de um homem não

identi%icado, de .ele negra, um #agabundo que em .lena lu/ do dia cortara a .r.riagarganta na la/a BaJor' ;s co#eiros agradeceram gentilmente a :gua e continuaram alenta caminhada .ara o lugar dos .erdidos' 7aquela noite, 7uno acordou <onah de um sono .ro%undo'- reciso que me aude'- ( claro, senor ierro' ; que de#o %a/er  - ?aiba que é uma coisa que a "grea considera %eiti+aria e .ecadomortal' ?e me audar e %ormos descobertos, ser: queimado como eu'  <onah conclu!ra h: muito tem.o que 7uno ierro era um homem em quem .odia con%iar'  - : sou .rocurado .ara a %ogueira, mestre' 7ão .odem me queimar duas #e/es'- 6ntão #: buscar uma .: e .onha uma rédea num burro'A noite esta#a clara, mas <onah não deiou de sentir um certo mal-estar' ;s dois le#aram o burro até o cemitério dos suicidas' 7uno %ora até l: antes do escurecer .ara identi%icar ot*mulo e agora o encontrara %acilmente sob o brilho da lua' `s de imediato <onah .araca#ar'  - ( um t*mulo raso' ;s co#eiros são dois .regui+osos meio .aler mas e esta#am um tanto embriagados quando ReJna %alou com eles'  <onah não te#e de %a/er grande es%or+o .ara tirar o cor.o amortalhado do solo' Com aauda do burro, le#aram o cor.o .ela crista do morro até o celeiro, onde a mortalha %oiremo#ida e o cad:#er nu %icou estendido numa mesa cercada .or brilhantes lam.ies' 224 7;A=);RE;7  6ra um cor.o e um rosto de alguém de meia-idade, com .equenos anéis de cabelo .reto, bra+os e .ernas %inos, canelas machucadas, uma #ariedade de cicatri/es de antigos%erimentos e o desagrad:#el corte no .esco+o que o le#ara à morte'  - 7ão .recisamos %a/er conecturas sobre a cor da .ele - disse 7uno ierro' - 6m climas de grande calor, como os da F%rica, oshomens desen#ol#eram .eles escuras ao longo dos séculos' Assim%icariam .rotegidos dos raios abrasadores do sol' 6m lugares setentrionais, como a terra dos esla#os, o clima %rio .rodu/iu .eles com.leta-mente brancas'6le .egou um dos bisturis que o irmão %i/era'  - "sto #em sendo %eito desde que surgiram as artes da cura - disseele, enquanto a reta e %irme incisão abria o cor.o do esterno ao .*bis'- ?ea a .ele clara ou escura, a carne que %ica embaio sem.re contémdi%erentes ti.os de gl3ndulas' 6ssas gl3ndulas são os agentes das %un+es do cor.o'  <onah res.irou %undo e #irou a cabe+a ante o cheiro da decom.osi+ão'  - ?ei o que est: sentindo - disse 7uno -, .orque senti a mesma coisa na .rimeira #e/ que #i ?.oranis %a/er isto'?uas mãos trabalha#am com habilidade'

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  - ?ou um sim.les médico, não um .adre nem um demnio' 7ãosei o que acontece com a alma' Bas sei, com toda a certe/a, que não .ermanece aqui, nesta morada de carne, nesta morada que .rocura,a.s a morte, tornar-se imediatamente terra'  Benciona#a o que sabia sobre os rgãos que ia tirando e mandou que <onah registrasse

as dimenses e o .eso de cada um num caderno com ca.a de couro'  - "sto é o %!gado' A nutri+ão do cor.o de.ende dele' Acho que éonde nasce o sangue'"sto é o ba+o''' "sto, a #es!cula biliar, regula a tem.eratura' ; cora+ão''' uando %oiremo#ido, <onah se #iu com o cora+ão de um homem na .alma da mão  - ; cora+ão as.ira sangue e o en#ia .ara outras .artes do cor.o' Anature/a do cor.o é com.licada, mas é claro que o cora+ão é o rgãoda #ida' ?em ele, o homem seria uma .lanta' - 7uno mostrou que eracomo uma casa com quatro cmodos' - ( num desses cmodos, tal#e/,que est: o meu .onto %raco' Acho que %oi onde Eeus errou quando me%e/' A não ser que o .roblema estea nos guinchos dos .ulmes' ; @0"B; DE6D 22O- "sso não é bom, hã - <onah não .`de deiar de comentar'- s #e/es, não' Causa .roblemas de res.ira+ão, .ontadas' 7uno mostrou-lhe como os ossos, as membranas e ligamentossu.orta#am e .rotegiam o cor.o' 6le serrou o to.o da cabe+a e mostrou a <onah o cérebro5de.ois mostrou como o cérebro se conecta#a à medula es.inhal e a certos ner#os'  Ainda esta#a escuro quando tudo %oi .osto no lugar e as incises suturadas com o cuidadode uma costureira' A mortalha %oi recolocada e o homem instalado no burro que os doiscondu/iram de no#o .elo morro'  Eesta #e/, <onah enterrou o homem numa co#a mais .ro%unda, concedendo-lhe ahomenagem de duas .reces, uma cristã e uma udaica' uando a lu/ do dia se derramou .elas encostas, cada um : esta#a em sua cama' 7a semana seguinte, uma curiosa inquieta+ão tomou conta de <onah' 0inha tradu/ido as .ala#ras de A#icenaI A medicina é a .reser#a+ão da sa*de e a cura das doen+as que seoriginam de causas que eistem dentro do cor.o' uando ia #er .acientes com 7uno,olha#a-os de uma maneira no#a, .ercebendo em cada um o esqueleto e os rgãos que #irano homem que desenterrara'  e#ou a semana inteira .ara ter coragem de le#ar ao médico a sua .ro.osta'  - )ostaria que %i/esse um acordo comigo' )ostaria de %icar comoseu a.rendi/ de medicina' 7uno olhou-o calmamente'- 7ão ser: um ca.richo re.entino, um .ouco de neblina no #ento  - 7ão, tenho .ensado muito' Acho que o senhor %a/ uma obra deEeus'  - Dma obra de Eeus &ou lhe di/er uma coisa, Ramn' )eralmente eu creio em Eeus' Bas às #e/es não'<onah %icou em silncio, sem saber o que di/er'- ?eu .edido tem alguma outra moti#a+ão- Dm médico dedica a #ida a audar os outros'

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- 6ntão #oc se sacri%icaria .elo bem da humanidade<onah sentiu que 7u%!o brinca#a e %icou irritado'- ?im, eu %aria isso'- ?abe quanto tem.o seus de#eres como a.rendi/ .oderiam durar-7ão'

- uatro anos' ?eria seu terceiro a.rendi/ado e não .osso garantir -ig%i"

22N 7;A= );RE;7que conseguisse conclu!-lo' 7ão sei se Eeus me dar: mais quatro anos .ara %a/er sua obra'A honestidade %or+ou <onah a outro ti.o de admissão'- reciso .ertencer a alguma coisa' ?er .arte de alguma coisa boa' 7uno %ran/iu os l:bios e o encarou'- 6u meteria a cabe+a no trabalho - <onah insistiu'- &oc : %a/ isso - disse 7uno num tom gentil'Ea! a um instante, .orém, ele abanou a cabe+a'- Mem' &amos tentar'-AR06 ?6"?; B(E"C; E6 ?ARA);pA  Aragão 1G de %e#ereiro de 1OG1 _ CA0D; 29 [f; AR67E" E6 B6E"C"7AAgora, quando sa!a com 7uno, <onah : não %ica#a ocioso es.erando que as consultasacabassem' osta#a-se, ao contr:rio, à cabeceira dos doentes enquanto o médico %ala#a em#o/ baia do eame e do tratamento'  - ?ente a umidade dos len+is ( ca.a/ de detectar a acide/ da res .ira+ão  <onah ou#ia atentamente quando 7uno, de.ois de di/er à es.osa de algum .aciente que omarido so%ria de %ebre e clica, .rescre#ia uma dieta le#e, sem condimentos, e in%uses aserem tomadas durante sete dias'  Cobriam em silncio a dist3ncia entre uma casa e outra, num meio galo.e .ro%issional,mas na lenta #olta .ara casa <onah geralmente tinha uma ou duas .erguntas moti#adas .elotrabalho do dia'- Como são os sintomas da clica  - s #e/es a clica é acom.anhada de %ebre e suor, mas nem sem .re' A %ebre e o suor .odem ser causados .or .risão de #entre aguda, .ara a qual um bom remédio é %igo co/ido em a/eite de oli#a e mel, até%ormar uma .asta grossa' ?e %orem causados .or diarreia, .odemostostar o arro/ na .anela até ele %icar bastante marrom, de.ois %er#-loaté secar e comer lentamente'0ambém 7uno costuma#a ter as suas .erguntas'  - Como .odemos combinar o que #imos hoe com o que A#icenadi/ sobre a detec+ão das doen+as

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  - 6le escre#eu que %requentemente a doen+a .ode ser reconhecida .elo que o cor.o .rodu/ e e.ele, como escarro, %e/es, suor e urina'  <onah continuou a trabalhar em sua tradu+ão do li#ro de A#icena, o que re%or+a#a asli+es de 7unoI;s sintomas são obtidos atra#és do eame %!sico do cor.o' =: os #is!#eis, como a icter!cia e

o edema5 h: os que são .erce.t!#eis à audi+ão, como o gorgolear do abdmen nahidro.isia5 h: os odo-

2VG 7;A= );RE;7res %étidos, que atingem o sentido do ol%ato, como .or eem.lo o cheiro das *lceras .urulentas5 h: alguns acess!#eis ao .aladar, como a acide/ da boca5 o tato tambémreconhece alguns, como a solide/ do'''  uando encontra#a uma .ala#ra que não conseguia identi%icar,1 <onah .rocura#a 7uno'  - Ei/ aquiI a solide/ do''' A .ala#ra hebraica é sart:n' ?into muito, mas não sei o que sart:n signi%ica' 7uno leu a .assagem e sorriu'  - uase certamente signi%ica c3ncer' ; tato reconhece a solide/ doc3ncer'  6m si mesmo, o .rocesso de tradu/ir um tal li#ro : era educati#o,] mas <onah descobriu que tinha um tem.o limitado .ara de#otar a A#icena, .ois 7uno ierro era um instrutor eigente e sem.re o manda- #a ler outros li#ros' ; médico .ossu!a #:rias obras cl:ssicas de medici-5 na em l!ngua es.anhola e <onah te#e de se inteirar do conhecimento  transmitido .elos escritos de 0eodorico Morgognoni sobre a cirurgia, do%y trabalho de "saac sobre a %ebres e de )aleno sobre a circula+ão't , - 7ão a.enas leia - 7uno ad#ertia' - A.renda e tente memori/:-i los o mais com.letamente .oss!#el, .ara não .recisar consult:-los noZY %uturo' Dm li#ro .ode ser queimado ou .erdido, mas se #oc realmen-], te absor#e o que eiste nele, o li#ro se torna .arte de #oc e o conheci-mento o acom.anhar: até o %im da #ida'  As o.ortunidades de eecutar disseca+es no celeiro eram raras, etremamente es.a+adas,mas estudaram o cad:#er de uma mulher da cidade que se atirara no 6bro e morreraa%ogada' Ee.ois de cortar o *tero, 7uno mostrou um %eto a <onah, não inteiramente%ormado e do tamanho de um .eie, mas um .eie que qualquer .escador teria ogado %ora'  - A #ida se engendra do es.erma, a emissão do .nis - disse 7uno'- 7ão se sabe o que ocorre no cor.o da mulher .ara %a/er a trans%orma+ão' Alguns acreditam que as sementes que eistem no l!quido e.elido .elo macho são estimuladas a se desen#ol#er .elo calor natural do t*nelda %mea' ;utros sugerem que o .rocesso .ode ser audado .elo calor adicional da %ric+ão durante re.etidas incurses do membro masculino'  Eissecaram um seio e 7uno assinalou que o es.onoso tecido interior era um local ondeàs #e/es nasciam tumores'  - Além de .assarem o leite da mãe .ara o bebé, os mamilos sãotambém :reas seualmente sens!#eis' 7a realidade, uma mulher .odeser .re.arada .ara o intercurso .or meio da estimula+ão de di%erentes 

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; @0"B; DE6D 2V1 .ontos .elas mãos ou .ela boca do macho, mas é um segredo ignorado até mesmo .oranatomistas que o centro da ecita+ão da %mea est: aqui' - 6le mostrou a <onah omin*sculo rgão, do tamanho de uma .equena er#ilha, escondido no alto da #agina entreduas dobras de .ele, como uma ia'

"sso %e/ 7uno se lembrar de outra li+ão que queria transmitir'  - ; n*mero de mulheres que h: na cidade é mais que su%iciente .ara satis%a/er discretamente as necessidades de qualquer um' Bas%ique longe das .rostitutas, .ois muitas tm s!%ilis, uma doen+a quede#e ser e#itada .or causa de suas terr!#eis consequncias'  Dma semana de.ois, ele %iou essa li+ão %irmemente na cabe+a de <onah ao le#:-lo à casade uc!a orta, no centro da cidade'  - ?enora, sou o médico que #eio #er os meninos osé e ernando- 7uno se anunciou e uma mulher #eio até a .orta arrastando os .és' -Como #ai  6la olhou .ara os dois sem cum.riment:-los, mas mandou-os entrar' =a#ia um meninoencostado na .arede, que os contem.la#a com ar est*.ido'- Como #ai, ernando - disse 7uno' - ernando tem no#e anos'<onah sentiu uma certa .ena, .ois o menino .arecia ter quatro oucinco anos de idade' ?uas .ernas eram atro%iadas e terri#elmente arqueadas' 6le não .rotestou quando o eaminaram' 7uno mostrou as marcas de quistos escuros no sacoescrotal e no 3nus, lembrando .equenas u#as'  - s #e/es encontramos isto, mas não é %requente' - e#andoernando até a anela, onde a lu/ era melhor, abriu a boca da crian+a .ara mostrar a <onah como o céu da boca era .er%urado' =a#ia tam bém grandes %endas entre os dentes su.eriores da %rente, que erammais estreitos embaio que no alto' - ; buraco no céu da boca é muito %requente, assim como os dentes mal%ormados'  Dma crian+a chora#a num ber+o de .alha e <onah se aoelhou com 7uno .ara eamin:-la'  - |l:, osé - 7uno murmurou' ; bebé tinha %eridas e bolhas na boca e em #olta do nari/'- 0em bastante unguento, senoral- 7ão' Acabou tudo'  - asse na #enda de Bedina' &ou .edir que lhe %orne+a mais um .ote'  <onah %icou satis%eito quando se #iu de no#o sob o sol %orte, a%astando-se de l:' 2V2 7;A= );RE;7  - ; unguento não adiantar: quase nada - disse 7uno' - 7em qualquer outro medicamento' As %eridas do bebe #ão cicatri/ar, mas semd*#ida os dentes da %rente nascerão como os do irmão' 6 .odem ocor rer com.lica+es, coisas .iores' 7otei que, dentre os meus .acientes,aqueles que enlouqueceram, dois homens e uma mulher, ti#eram s!%ilis quando o#ens' - 6le deu de ombros' - 7ão .osso .ro#ar a associa+ão entre as duas en%ermidades, mas é interessante que a combina+ãoa.are+a' - or um longo tem.o, isso %oi tudo que 7u%io ensinou a

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<onah sobre a s!%ilis' 7uno disse que o a.rendi/ teria de %requentar regularmente a igrea, embora a .rinc!.io<onah ti#esse lutado contra esta regra' Dma coisa %ora simular uma de#o+ão cristã em)ibraltar, onde esta#a sob constante #igil3ncia, mas se rebela#a contra se submeterhi.ocritamente à mec3nica do catolicismo #i#endo na .ro.riedade de 7u%io ierro, onde

sentia que não .aira#a amea+a .ara um não-crente' Bas 7uno esta#a obstinado'  - uando com.letar seu a.rendi/ado, #ai com.arecer diante de %uncion:rios da .re%eitura como candidato a licenciamento em medicina'0erei de ir com #oc' A menos que o identi%iquem como cristão .raticante, não ser: licenciado' - 6ntão e.`s o argumento decisi#o' - ?e %or descoberto e destru!do, eu e ReJna seremos destru!dos com #oc'  - ? assisti algumas #e/es aos ser#i+os de uma igrea, quando %uiobrigado' ?ou ca.a/ de imitar quem est: do meu lado, aoelhar quando eles se aoelham, sentar quando sentam' Bas ir à igrea é .erigoso .ara mim, .ois não estou acostumado às sutile/as de com.ortamentonum culto cristão'  - "sto se a.rende com %acilidade - 7uno res.ondeu calmamente e,durante algum tem.o, as li+es de medicina %oram acom.anhadas deinstru+es sobre quando se le#antar e quando se aoelhar na missa,quando recitar .reces em latim como se %ossem tão %amiliares quanto oshem: e como, ao entrar na igrea, #ergar um oelho com a naturalidadede quem %e/ isso desde o nascimento, todos os domingos e dias santos'A .rima#era chegou a ?arago+a mais tarde do que era costume em )ibraltar, mas en%im osdias %icaram mais longos e mais quentes' As :r#ores que <onah ha#ia .odado e adubado%loresceram .rodigiosamente' 6le #iu ca!rem .étalas .er%umadas e #iu as %lores, semanasde.ois, serem substitu!das .elos .rimeiros %rutos - ma+ãs, .ssegos -ainda duros e #erdes'

; @0"B; DE6D 2VV  7um dia de chu#a %ina, uma #i*#a chamada oretta Ca#aller entrou no consultrio sequeiando de que, nos *ltimos dois anos, as regras mensais tinham sim.lesmentedesa.arecido, dando lugar a clicas se#eras' equena e de .ele bem clara, com o cabelo dacor de um .lo de camundongo, descre#eu os .roblemas num tom hesitante, seus olhos .equenos s olhando .ara a .arede, nunca .ara <onah ou 7uno' : esti#era em duas .arteiras que lhe ha#iam dado unguentos e remédios caseiros, mas nenhum dera resultado'- ?eus intestinos estão abertos - 7uno .erguntou'- s #e/es não estão'  ara quando não esti#essem, 7uno receitou linha+a em :gua %ria a ser bebida com assementes' 7a .orta do consultrio es.era#am-na um ca#alo e uma charrete, mas 7unomandou que, durante algum tem.o, deiasse a charrete em casa quando sa!sse .ara cum.riralguma incumbncia' Ee#ia #iaar no lombo do ca#alo' ara estimular o sangramen-tomensal, instruiu-a a %er#er casca de cereeira, beldroega e %olhas de %ramboesa, tomando ain%usão quatro #e/es ao dia' ; tratamento de#ia continuar até trinta dias a.s aregulari/a+ão do %luo'  - 7ão sei se #ou encontrar os ingredientes - disse ela e 7uno in%or mou que .odiam ser adquiridos no botic:rio de ?arago+a'  Bas na tarde seguinte, <onah tirou as lascas da casca de uma cereeira, colheu a beldroega e as %olhas no#as de uma %ramboesa' e#ou-as à noite, untamente com uma

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garra%a de #inho, .ara a casinha da mulher na margem do rio 6bro' 6la esta#a descal+aquando atendeu às batidas na .orta, mas con#idou-o a entrar e agradeceu-lhe .ela casca e .elas %olhas' Ee.ois lhe ser#iu uma caneca do #inho, encheu outra .ara si e sentou-se comele .erto do %ogo, em duas bonitas cadeiras de madeira trabalhada' uando <onah elogiouas cadeiras, ela disse que tinham sido %eitas .elo %inado marido, iméne/ Re#erte, que %ora

mes-tre-car.inteiro'  - ?eu marido morreu h: muito tem.o - <onah quis saber e amulher disse que h: dois anos e dois meses' ora atacado .or umain%lama+ão que lhe tiraria a #ida, mas ela re/a#a diariamente .or suaalma imortal'  Como não se sentiam inteiramente à #ontade um com o outro, a con#ersa %icou um tantoencabulada, entrecortada de silncios' <onah sabia o que queria que acontecesse mas %ugiado ti.o de assunto que .udesse le#ar a isso' inalmente, quando ele se le#antou, ela %e/ omesmo' <onah sabia que teria mesmo de ir a não ser que agisse de.res- 2V4 7;A= );RE;7sa5 .or isso .`s o bra+o em #olta dela e cur#ou-se .ara encostar os l:bios em sua boca'  Ee.ois de %icar um instante im#el, oretta Ca#aller se a%astou .egou o candeeiro econdu/iu <onah .ela sala e .or uma escada !ngreme, estreita, os .és descal+os indicando ocaminho' 7o quarto, ele s te#e uma bre#!ssima o.ortunidade de #er que iméne/trabalhara a cabeceira da cama ainda mais .rimorosamente que as cadeiras, enchendo-a deu#as, %igos e romãs em rele#os de car#alho' ogo ela tira#a o candeeiro do quarto .ara .ous:-lo no assoalho do corredor' uando oretta #oltou, <onah ou#iu um ro+ar de tecidosendo .uado .elo cor.o e #iu a rou.a caindo no chão'  Abra+aram-se como uma du.la de #iaantes sedentos, num deserto seco, es.erandoencontrar :gua um no outro' A rela+ão, no entanto, troue a.enas al!#io a <onah, não ointenso .ra/er .elo qual ansiara' ouco de.ois, a/endo no quarto escuro, entre o cheiro doque ha#iam %eito, ele e.lorou com as mãos os seios %l:cidos, os quadris .ontudos, oscalombos dos oelhos'  6la se #estiu antes de .egar o candeeiro' <onah nem chegou a #-# "a des.ida' 6mbora tenha #oltado mais trs #e/es à casa de oretta, %al-ta#a .aião nesses encontros' 6ra como se esti#esse cometendo um ato de onanismo com ocor.o dela' 7ão tinham quase nada a di/er um ao outro e a %r:gil con#ersa eramecanicamente seguida .elo desa%ogo na bela cama' Ee.ois ha#ia meia d*/ia de .ala#rasdesaeitadas e a des.edida' 7a quarta #e/ que ele a .rocurou, oretta atendeu à .orta masnão o con#idou a entrar' 7o %undo da sala, <onah .`de #er Roque Arellano, o a+ougueirode ?arago+a' 6sta#a sentado sem sa.atos à mesa, tomando o #inho que ele trouera'  Alguns domingos mais tarde, <onah esta#a na igrea quando os .roclamas do casamentode oretta Ca#aller e Roque Arellano %oram lidos .elo .adre' Ee.ois das bodas, oretta .assou a trabalhar no a+ougue do marido, que esta#a indo muito bem' 7u%io tinha galinhasna %a/enda, mas não bois nem .orcos e, de #e/ em quando, ReJna .edia que <onah %osse aoa+ougue com.rar carne ou .eie, que Arellano também costuma#a #ender' oretta setornara uma .ro%issional' 6ra admir:#el a ra.ide/, a destre/a com que corta#a e lim.a#a acarne' ;s .re+os de Arellano eram altos, mas oretta sem.re o cum.rimenta#aama#elmente, sorrindo com os olhos .equenos e, em geral, lhe dando de gra+a os ossoscom tutano que ReJna usa#a quando %a/ia so.a ou enso.a#a uma galinha'

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; @0"B; DE6D 2VO 7uno e ReJna tinham .assado a #i#er na hacienda quando o dono da .ro.riedade ainda era)abriel ben 7issim ?.oranis' ; médico udeu tinha .or h:bito banhar-se antes do .`r-do-

sol de cada seta-%eira, .re.arando-se .ara o ?habat e 7uno e ReJna também acabaram seacostumando a tomar banho toda semana, 7uno às segundas e ReJna às quartas, .ois assimnão era .reciso aquecer a :gua .ara dois banhos no curso de uma mesma noite' ; banho eratomado numa tina de cobre colocada diante do %ogo, onde uma chaleira com :gua adicionalera mantida aquecendo'  <onah considera#a um grande luo .oder se banhar às setas-%eiras como %i/era omédico, mesmo que ti#esse de com.rimir seu cor.an/il nos estreitos limites da tina' 7asquartas à noite, ele às #e/es sa!a enquanto ReJna se banha#a, embora %osse mais %requente%icar em seu quarto tocando guitarra ou trabalhando, sob a lu/ do lam.ião, na obra deA#icena' 7essas ocasies era di%!cil se concentrar .ara memori/ar as drogas que tinham usocurati#o 8.or eem.lo, nos %erimentos ou as que não .urga#am quando aquecidas' 6le não .ara#a de imaginar como ReJna seria sem rou.a'  uando a :gua es%ria#a, ou#ia 7uno se a.roimar, tirar a chaleira do %ogo e des.ear :guaquente na tina, o mesmo que ela %a/ia .ara o mestre nas segundas-%eiras' 7uno tambémre.etia o ato de cortesia com seu a.rendi/, nas setas-%eiras, res.irando com di%iculdade aomo#er de#agar a chaleira, com cuidado, mandando <onah tirar as .ernas do caminho .aranão se queimar'  - 6le trabalha demais e não é mais o#em - disse ReJna umamanhã, quando 7uno esta#a ocu.ado no celeiro'  - 0enho .rocurado ali#iar sua carga - disse <onah, sentindo-secul.ado'  - 6u sei' Dm dia .erguntei .or que tinha de des.ender tanta ener gia .ara instru!-lo - ela argumentou com %ranque/a' - 6le res.ondeuIa+o isso .orque #ale a .ena' - ReJna deu de ombros e sus.irou'  <onah não .`de consol:-la' 7uno queria ir sem.re .essoalmente à casa do doente,mesmo quando o caso era tão comum que o a.rendi/ .oderia atender .er%eitamenteso/inho' 7ão basta#a que <onah ti#esse lido Rha/es e a.rendido que o cor.o elimina#a#enenos e subst3ncias su.ér%luas quando emitia a urina5 o mestre tinha de mostrar, nacabeceira de algum .aciente, a cor limão que o l!quido adquiria numa %ebre demorada, a cor rosada do in!cio das %ebres da mal:ria 8que se re.etiam a cada setenta e duas horas e aurina branca e es.umante que às 2VN 7;A= );RE;7#e/es acom.anha#a %ur*nculos cheios de .us' ueria que <onah a.rendesse a detectar o#ariado odor da doen+a .resente na urina'  7uno também demonstra#a um ecelente dom!nio da arte e da cincia dos botic:rios'?abia como secar e trans%ormar er#as em . como %a/er unguentos e in%uses, massacri%icou a con#enincia de .re.arar seus .r.rios remédios' 6m #e/ disso, era %regus deum idoso %ranciscano, %rei uis )uerra Bedina, botic:rio habilidoso que : %ornecia osmedicamentos na é.oca de ?.oranis'  - =: muita sus.eita de en#enenamento, es.ecialmente quando mor re um membro da reale/a' s #e/es a su.osi+ão é bem %undamentada,

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mas %requentemente não é - disse 7uno a <onah' - Eurante muito tem .o, a igrea .roibiu os cristãos de tomar remédios .re.arados .or udeus,com medo de que esti#essem en#enenados' Besmo assim, alguns médicos udeus .re.ara#am e administra#am seus .r.rios medicamentos'Aconteceu, .orém, que um certo n*mero de médicos, e não s udeus,

mas também cristãos-#elhos, acabaram acusados de tentati#a de en#enenamento .or .acientes que não desea#am quitar seus débitos')abriel ?.oranis sentiu-se mais seguro com um botic:rio que era %radee eu também %iquei %regus de %rei )uerra' 0enho certe/a de que elesem.re saber: distinguir muito bem um tre#o cer#ino de um cinamomo'  <onah .ercebeu o risco que correra ao le#ar er#as medicinais .ara oretta Ca#aller edecidiu que nunca mais %aria isso' Assim ia a.rendendo as li+es de 7uno ierro, que .rocura#a lhe transmitir tanto o conhecimento .ro%issional quanto certos cuidadoscorriqueiros que de#iam %a/er .arte de uma .r:tica bem-sucedida'<onah era a.rendi/ do médico h: .ouco mais de um ano quando .ercebeu que on/e .acientes tinham morrido nesse .er!odo de tem.o'  : estudara o bastante de medicina .ara saber que 7uno ierro era um médicoece.cionalmente bom e .ara reconhecer que ti#era muita sorte .or estar nas mãos de umtal .ro%essor5 contudo, acha#a terr!#el estar entrando numa .ro%issão onde a .r:tica%requentemente %alha#a'  7uno ierro a#alia#a o disc!.ulo como um bom treinador de ca#alos estuda um animal .romissor' &ia <onah se ressentir duramente da insu%icincia do conhecimento médicoquando um .aciente morria e nota#a a gra#idade que cada morte ia acrescentando ao rostodo ra.a/'  7uno es.erou até a noite em que ele e <onah sentaram-se .erto do %ogo num merecidodescanso, as canecas de #inho na mão'  - &oc matou o homem que assassinou meu irmão' 0irou outras#idas além dessa, Ramn "

; @0"B; DE6D 2VQ-?im'  7uno tomou um gole do #inho, ou#indo o a.rendi/ contar como encaminhara .ara amorte dois tra%icantes de rel!quias'  - ?e esses %atos se re.etissem, #oc agiria de modo di%erente - 7uno .erguntou'  - 7ão, .orque todos os trs homens iam me matar' Bas a ideia deque tirei #idas humanas .esa na conscincia'  - 6 tem #ontade de .raticar a medicina .ela chance de sal#ar outras #idas, com.ensando assim as #idas que tirou  - 7ão %oi .or isso que lhe .edi .ara me ensinar a ser médico, mastal#e/, ultimamente, eu #enha tendo esse ti.o de .ensamento - eleadmitiu'  - 6ntão de#e entender com mais clare/a as limita+es da artemédica' Dm médico é ca.a/ de ali#iar o so%rimento de um .equenon*mero de .essoas' 6n%rentamos suas doen+as, cuidamos de suas %eri

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das, untamos os ossos quebrados e audamos as crian+as a nascer'Contudo, toda criatura #i#a acabar: chegando ao %im' ortanto, a des .eito de nosso conhecimento, nossa técnica e dedica+ão, alguns denossos .acientes morrem, e não de#emos .rante:-los abertamente ounos sentirmos cul.ados .elo %ato de não sermos deuses ca.a/es de

conceder a eternidade' Ee#emos nos contentar em aud:-los a usar  bem o tem.o que lhes cabe, agradecidos .or #-los e.erimentar a bn+ão da #ida'<onah abanou a cabe+a'- 6u entendo'  - 6s.ero que sim - disse 7uno' - ?e não ti#er esse entendimento,ser: sem d*#ida um .éssimo médico, .ois %icar: louco'  -

e CA0D; VG f; 06?06 E6 RABk7 CA"Ck

elo %inal do segundo ano do a.rendi/ado de <onah, seu rumo na #ida .arecia claro edeterminado' Cada no#o dia continua#a a ser uma em.olgante o.ortunidade de absor#erno#os ensinamentos de 7uno' A :rea de trabalho dos dois com.reendia uma boa etensãorural ao redor de ?arago+a' 6sta#am %requentemente ocu.ados no consultrio, mas tambémsa!am bastante .ara atender os doentes que não .odiam ir l:' A maioria dos .acientes de 7uno era gente comum da cidade e das granas, mas de #e/ em quando um nobre .recisando de assistncia médica manda#a cham:-lo' 6le sem.re atendia, embora ti#essecomentado com <onah que os .acientes nobres eram arrogantes e .ro.ensos à hesita+ão nahora de .agar5 .re%eria não t-los' Contudo, a 2G de no#embro do ano de 1OG4, recebeu umcon#ite que .odia ignorar ainda menos que os outros'  7o %inal daquele #erão, tanto o rei ernão quanto a rainha "sabel tinham sido acometidosde uma debilitante en%ermidade' ; rei, um homem robusto, cua constitui+ão %!sica esta#acondicionada .or anos de ca+adas e guerras, logo se recu.erara, mas a es.osa %ora %icandocada #e/ mais %raca' 6 então, durante uma #isita à cidade de Bedina dei Cam.o, o estadode "sabel come+ou a .iorar ostensi#amente, obrigando ernão a con#ocar, do dia .ara anoite, meia d*/ia de médicos, incluindo 7uno ierro, o médico de ?arago+a'  - ?em d*#ida o senhor não est: em condi+es de ir - <onah .rotestou timidamente' - ?ão de/ dias de #iagem até Bedina dei Cam.o5oito se quiser se matar' - 6le encara#a com seriedade o que esta#adi/endo, .ois sabia que 7uno não era um homem %orte e não de#ia sea#enturar numa #iagem dessas'Bas o médico continuou in%le!#el'  - 6la é minha rainha' Dm monarca em di%iculdades tem de ser atendido tão %ielmente quanto um homem ou uma mulher comuns'  - elo menos me deie ir com o senhor - disse <onah, mas 7unorecusou'  -; @0"B; DE6D 2V9- 0em de %icar aqui .ara cuidar dos nossos .acientes'

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  uando <onah e ReJna se uniram .ara insistir que ele de#ia ter alguém .ara aud:-lo nocaminho, 7u%!o acabou cedendo e contratou um morador da cidade, chamado Andrés deF#ila, .ara acom.anh:-lo' ;s dois .artiram no in!cio da manhã seguinte'&oltaram cedo demais, en%rentando um terr!#el tem.o chu#oso' <onah te#e de audar 7unoa descer do ca#alo e, enquanto ReJna %a/ia o médico entrar imediatamente num banho

quente, F#ila contou a <onah o que tinha ocorrido'  A ornada corres.ondera eatamente aos temores de <onah' : #iaa#am h: quatro dias emeio quando .assaram .or uma estalagem, .ouco de.ois da cidade de Atien/a, e F#ilaachou que 7uno esta#a %atigado demais .ara .rosseguir'  - Con#enci-o a %a/er uma .arada' recisa#a descansar e comer alguma coisa' Bas dentro da estalagem encontramos gente bebendo àmemria de "sabel'  F#ila disse que 7uno, com a #o/ rouca, .erguntou se tinham mesmo certe/a de que"sabel morrera' Dm gru.o de #iaantes, #indos do oeste, garantiu que naquele momento ocor.o da monarca esta#a sendo le#ado .ara )ranada, onde seria enterrado no t*mulo real'  7os aloamentos da estalagem, 7uno e F#ila .assaram a noite em claro, mordidos .elos .iolhos' 7a manhã seguinte tomaram o rumo leste, #oltando .ara ?arago+a'  - : então #iaamos num .asso mais lento - disse F#ila -, mas a ornada %oi muito de.rimente e, durante todo *ltimo dia, en%rentamoso %rio e uma chu#a torrencial'  <onah %icou alarmado ao #er como 7uno .arecia %raco e .:lido, mesmo de.ois do banho'e#ou-o de imediato .ara a cama, onde ReJna cumulou o médico de bebidas quentes ecomida nutriti#a' A.s uma semana de re.ouso, ele se recu.erou um .ouco, mas a in*til ornada .ara atender uma agoni/ante rainha da 6s.anha tinha minado e limitadodolorosamente suas energias'Certo dia, 7uno e.erimentou um tremor nas mãos que o im.ossibilitaria de usar osinstrumentos cir*rgicos %eitos .elo irmão' A .artir da!, %oi <onah quem .assou a lidar comeles, ainda que sem.re com o médico do lado' 7uno instru!a, e.lica#a, le#anta#a questesque desa%ia#am e ensina#am o a.rendi/'  7a hora de am.utar um dedo m!nimo que %ora esmagado, mandou <onah tocar no .r.riodedo com as .ontas dos dedos da outra mão' 24G 7;A= );RE;7  - 6st: sentindo a :rea, a .equena %enda onde um osso encontra ioutro ( a! que o dedo esmagado de#e ser seccionado, mas sem.re dei-ando um grande .eda+o de .ele, bem mais com.rido que o .ontonde %ar: o corte' ?abe .or qu  - &amos .recisar de uma aba .ara %echar o lugar - disse <onah, io homem mais #elho balan+ou satis%eito a cabe+a'  6mbora <onah lamentasse .ro%undamente o in%ort*nio de 7unoQ #ia também naquilouma #antagem de treinamento, .ois do in!cio ao %im de seu *ltimo ano de a.rendi/adoeecutou um n*mero de cirurgias bem maior do que seria habitual'  ?entia-se cul.ado #endo como ierro canali/a#a toda a sua energia .ara ensin:-lo, masagora, ao tocar no assunto com ReJna, ela .r.ria balan+ou a cabe+a'- Acho que é a necessidade de ensin:-lo que o mantém #i#o'  Ee %ato, quando o quarto ano do a.rendi/ado chegou ao %im, ha#ia um brilho de triun%onos olhos de 7uno ierro' 6 de imediato ele tomou as .ro#idncias .ara com.arecer com

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<onah diante dos eaminadores médicos do distrito' 0odo ano, trs dias antes do 7atal, os%uncion:rios munici.ais elegiam dois médicos .ara a#aliar os candidatos ao licenciamentoem medicina' 7uno : atuara como eaminador e conhecia bem o .rocesso'  - ?eria melhor que #oc es.erasse a .artida de edro de Calca, umdos atuais eaminadores, .ara %a/er o teste - ele disse a <onah' =:

muitos anos Calca tinha in#ea e ressentimentos do médico de?arago+a' Bas a intui+ão de 7uno di/ia-lhe .ara não demorar' - 7ão,não .osso es.erar mais um ano' 6 creio que #oc est: .re.arado'  7o dia seguinte, ele %oi até o .rédio da administra+ão de ?arago+a e marcou o eame de<onah' 7o dia do teste, aluno e mestre sa!ram cedo da %a/enda, condu/indo em .asso lento osca#alos .ela manhã ensolarada e quente' alaram .ouco e esta#am ner#osos' 7uno sabiaque era tarde demais .ara trabalhar o intelecto de <onah5 ti#era quatro longos anos .ara%a/-lo'  ; .rédio da administra+ão cheira#a a .oeira e a séculos de tr:%ego humano' 7aquelamanhã, .orém, a.enas <onah, 7uno e os dois eaminadores esta#am l:'  - Ca#alheiros - disse calmamente o #elho médico -, tenho a honra de submeter o senor Ramn Callic à sua a#alia+ão'  Dm dos eaminadores era Biguel de Bontenegro, um homem baio, de ar gra#e' 0inhacabelo .rateado, barba e bigode' 7uno o conhecia h: muitos anos e garantira a <onah queBontenegro, um homem

i

; @0"B; DE6D 241 usto, desem.enharia com seriedade e conscincia seus de#eres de eaminador'  ; outro eaminador, Calca, era um sueito sorridente, de ar cordial' 0inha cabelo rui#o euma .equena barba .ontuda' Dsa#a uma t*nica com incrusta+es de sangue coagulado, .use muco' 7u%io : descre#era desdenhosamente a t*nica como es.alha%atoso reclame que ohomem %a/ia de sua ocu.a+ão e ad#ertira <onah de que as leituras de edro de Calca .raticamente se limita#am a )aleno, .or isso era de )aleno que ha#eriam de sair a maioriade suas .erguntas'  ;s quatro sentaram-se à mesa' <onah disse a si mesmo que h: duas décadas e meia 7unoierro sentara-se naquela mesma sala .ara %a/er seu eame e, #:rias décadas antes disso,numa é.oca em que um médico .odia di/er que era udeu, )abriel ben 7issim ?.oranis%i/era o mesmo'  Cada eaminador %aria dois mdulos de .erguntas e %oi Bonte-negro, o médico mais#elho, quem come+ouI  - or %a#or, sehor Callic, gostaria que nos %alasse das #antagense des#antagens de receitar triaga como ant!doto .ara as %ebres'  - &ou come+ar com as des#antagens - disse <onah -, .ois são .oucas e .odem ser ra.idamente contornadas' ; remédio é de .re.arocom.leo, contendo setenta er#as em sua %rmula, sendo .or isso di%!cil de a#iar e de custo ele#ado' A .rinci.al #antagem é ser um agentede e%ic:cia com.ro#ada contra %ebres, males intestinais e mesmoalguns ti.os de en#enenamentos''' - 6le se sentia à #ontade .assandode um .onto a outro, .rocurando tomar a e.osi+ão com.leta, ainda

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  - Como sabe que não .odemos #er - Calca interrom.eu e <onahsentiu a ad#ertncia na %orte .ressão que o oelho de 7uno %e/ contrao seu'  orque : dissecamos as #eias e os rgãos de trs cad:#eres e 7uno s me mostrou tecidoe sangue, destacando que .arecia im.oss!#el identi%icar qualquer coisa que .udesse ser

#inculada ao .neuma'  ora um est*.ido' Calca ia .erceber que s uma .essoa que ti#esse aberto um cor.o seriaca.a/ de di/er uma coisa daquelas' or um instante, o terror tomou conta de suas cordas#ocais' ; @0"B; DE6D 24V- oi uma coisa que eu''' li'  - ;nde, senor Callic ois não tenho lembran+a de alguém a%ir mando que o .neuma .ode ou não ser #isto'<onah %e/ uma .ausa'  - 7ão %oi em A#icena nem em )aleno - disse ele, como se esti#esse tentando se recordar' - Acho que %oi em 0eodorico Morgognoni'Calca o obser#a#a'  - 6atamente, tem ra/ão - disse Biguel de Bontenegro' - 6u tam bém me lembro de ter lido isso em 0eodorico Morgognoni'  7u!io ierro também concordou com a cabe+a, e Calca acabou assentindo'- Morgognoni, é claro'  6m sua segunda rodada de .erguntas, Bontenegro .ediu que <onah com.arasse otratamento de um osso %raturado com o tratamento de um osso deslocado' ;s dois ou#irama res.osta sem coment:rios e então Bontenegro lhe .ediu que enumerasse os %atoresnecess:rios à sa*de'  - Ar não contaminado, comida e bebida5 sono .ara restaurar as %or +as, #ig!lia .ara ati#ar os sentidos5 eerc!cio %!sico moderado .arae.elir res!duos e im.ure/as5 elimina+ão das ecre+es e su%icientealegria .ara audar no %lorescimento do cor.o'  - Eiga-nos como a doen+a se es.alha durante uma e.idemia -Calca .erguntou'  - ;s miasmas #enenosos %ormam-se nos cad:#eres em decom.osi+ão ou nas :guas %étidas dos .3ntanos' Ar *mido e quente im.regnado de corru.+ão emite odores noci#os que, quando ins.irados .elas .essoas, .odem in%ectar e adoecer os cor.os' Eurante as e.idemias, écorreto encoraar a %uga, a ida .ara lugares onde os miasmas carregados .elo #ento não .ossam nos alcan+ar'  A res.osta %oi seguida .or r:.idos a%agos da barba rui#a de Calca e uma r:.ida sabatinasobre a urinaI- Dma urina meio amarela, o que signi%ica- ue contém uma certa quantidade de b!lis'- 6 quando é cor de %ogo- ue contém uma grande quantidade de b!lis'- Drina #ermelho-escura  - 7uma .essoa que não andou comendo a+a%rão, indica a .resen+ade sangue'

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- 6 sedimentos na urina, o que eles nos di/em  - "ndicam a %raque/a interna do .aciente' ?e os sedimentos .arecem %arelo e tm mau cheiro, é sinal de ulcera+ão no interior dos  -244

 7;A= );RE;7

canais' ?e os sedimentos a.resentam #est!gios de sangue, de#emos sus.eitar de um tumor%legmonoso'- 6 se obser#amos areia na urina - Calca .erguntou'- 6stamos em .resen+a de um c:lculo, de uma .edra'=ou#e um instante de silncio'- 6stou satis%eito - disse Calca'  - 6u também - disse Bontenegro, come+ando a tirar de uma .rateleira o grande li#ro com ca.a de couro do registro munici.al' - Dmtimo candidato que re%lete a ecelncia do mestre'  Biguel de Bontenegro anotou os nomes dos eaminadores e do .ro.onente do candidato'e/ também saber que o sehor Ramn Callic, de ?arago+a, %ora eaminado ede#idamente aceito e licencia-1 do como médico no dia 1Q de outubro de 1OGN, ano do?enhor'A caminho de casa, mestre e disc!.ulo relaaram nas selas, rindo de #e/ em quando comocrian+as ou gente de .orre'  - Acho que li em 0eodorico Morgognoni - 7uno go/a#a' - 6mW0eodorico Morgognoni- Bas o sehor Bontenegro''' or que ele me deu %or+a  - Biguel de Bontenegro é um bom e ilustre catlico, o médico%a#orito da "grea, o homem que é sem.re instado a #iaar .ara ondequer que tenha adoecido um bis.o ou um cardeal' Contudo, é um #er dadeiro cientista e tem suas .r.rias ideias sobre o que é cincia e oque é .ecado' uando éramos mais mo+os, eu e o Biguel de Bontenegro %i/emos algumas disseca+es' 0enho certe/a de que .ercebeu deimediato .or que #oc atestou com tamanha autocon%ian+a a a.arnciade uma coisa que %ica dentro do cor.o'- ico muito agradecido a ele e à minha boa sorte'  - (, #oc te#e sorte, mas sem d*#ida a a.resenta+ão %oi digna delou#ores'- )ra+as àquele que me ensinou, mestre  - Agora somos colegas e não de#e mais me chamar de mestre -disse 7uno, mas <onah balan+ou a cabe+a'  - Eois homens terão sem.re a minha gratidão - ele insistiu' -Ambos chamados ierro' Dm ou outro ser: sem.re um mestre .aramim'  -fZY CA0D; V1 _fDB E"A E6 0RAMA=; EDR;

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vY .ro#ocado da maneira certa' oi isto que cada médico ali .resente entendeu .er%eitamente' - 7uno %e/ uma .ausa' - 6s.ero e re/o .ara que um dia, na6s.anha, um médico .ossa discordar li#remente de certas o.inies e discutir em .*blicosem se sentir amea+ado' 6sse dia, é claro, ainda não chegou, nem chegar: amanhã demanhã'

  Ee imediato, .ercebendo como %ora idiota, <onah murmurou um .edido de descul.as eum agradecimento' Contudo, 7uno não .arecia querer deiar o incidente .assar em branco'  - uando come+ou a ser meu a.rendi/, #oc tinha .lena conscin- cia dos .erigos que o amea+a#am' recisa estar sem.re atento .orque certos detalhes de nossa .ro%issão .odem desencadear cat:stro%es'Eeu um sorriso amarelado .ara <onah'  - Além disso, seu coment:rio não %oi dos mais eatos' 7as .:ginasdo C3non que #oc me tradu/iu, A#icena di/ que eistem de/ di%erentes ti.os de .ulso''' e s enumera no#e 6le também escre#eu que sutisdi%eren+as de .ulso seriam *teis .ara médicos habilidosos' 0em deadmitir que .oucos dos que hoe .alestraram conosco .oderiam ser inclu!dos nesta categoria'0rs semanas mais tarde, 7uno te#e um se#ero ataque' Come+ara a subir a escada do quartoquando a dor brotou de modo sel#agem e ines-

; @0"B; DE6D

24Q

 .erado em seu .eito' 6le %icou o%egante, sem %or+as' 0e#e de se sentar .ara e#itar umaqueda gra#e' <onah tinha sa!do .ara #isitar alguns .acientes e ainda esta#a no est:bulotirando a sela do :rabe cin/ento quando ReJna, a%lita, a.areceu na .orta'  - 7uno est: .assando mal - disse ela' <onah entrou correndo e,audado .or ReJna, conseguiu le#ar 7uno .ara a cama'  ?uando .or todos os .oros, %oi recitando os sintomas' 6ra como se esti#esse na cabeceirade um .aciente dando instru+es a um a.rendi/'  - Dma dormncia''' 7ão, uma dor''' aguda' ?im''' .ronunciada'Buito .ronunciada'''  uando #eri%icou o .ulso, os batimentos esta#am tão irregulares que <onah se assustou'6ra uma .ulsa+ão aos trancos, sem qualquer ritmo .erce.t!#el' e/ 7uno tomar um .oucode c3n%ora dissol#ida num licor de ma+ã, mas a dor continuou muito %orte .or quase quatrohoras' noite ela abrandou um .ouco e de.ois cessou de todo, deiando o mestre estiradona cama, com.letamente eausto'  Bas 7uno esta#a calmo e conseguia %alar' Bandou ReJna matar uma galinha .ara ser#iruma cana no antar e caiu num sono .ro%undo' <onah %icou algum tem.o a obser#:-lo,consciente das limita+es de um médico' ueria audar 7uno, mas não tinha a menor ideiado que %a/er'0rs dias de.ois, com a auda de <onah, 7uno conseguiu descer lentamente a escada esentar-se em sua cadeira' or mais de/ dias, <onah agarrou-se à ideia de que ha#ia algumaes.eran+a, mas no %inal da segunda semana %icou claro que o .roblema era sério' ; .eito de 7uno esta#a congestionado, as .ernas tinham come+ado a inchar' A .rinc!.io, <onah ole#a#a toda noite .ara cima, onde o recosta#a em tra#esseiros na cabeceira da cama .ara

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manter a cabe+a e o .eito erguidos' Bas logo tanto os incha+os quanto a res.ira+ão .ioraram e 7uno não quis mais sair da cadeira unto ao %ogo' <onah .assa#a as noitesdeitado no chão, a .oucos metros dele, atento aos roncos em sua res.ira+ão' ela terceirasemana, os ind!cios de doen+a terminal eram incontest:#eis' ; l!quido que gorgolea#a nos .ulmes de 7uno .arecia ter im.regnado todos os tecidos do cor.o, de modo que ele esta#a

com uma a.arncia obesa, as .ernas lembrando .ostes sob o abdome saliente que .endiaacima delas' 7uno .rocura#a não %alar, .ois até res.irar lhe era di%!cil, ainda que .or %im,em arqueos quase su%ocados, tenha dado instru+es a <onah'

24U

 7;A= );RE;7

  ueria ser enterrado na .ro.riedade, na crista do morro' 6 não queria l:.ide'<onah s .`de abanar a cabe+a'- Beu testamento''' or %a#or anote'5 <onah %oi buscar tinta, .a.el e uma .ena' 7u%!o ditou em es.asmos'  ara ReJna adique deia#a as economias que %i/era ao longo de sua carreira na cl!nicamédica'  ara Ramn Callic, deia#a a %a/enda, os li#ros, os instrumentos médicos e o ba* decouro do %alecido irmão Banuel ierro com tudo que ha#ia nele'<onah %oi inca.a/ de aceitar sem .rotesto'- ( demais' 7ão .reciso de'''Bas 7uno %echou os olhos'  - 7ão tenho .arentes''' - disse' Com a mão %raca, %e/ um gestoencerrando o assunto e esticou os dedos .ara a caneta' ?ua assinatura%oi um rabisco embaio do testamento'- Bais''' uma coisa' uero que''' me estude'  <onah sabia o que 7uno .retendia di/er, mas achou que não ia conseguir' Dma coisa eraabrir a carne de desconhecidos enquanto a #o/ do mestre o introdu/ia nos segredos daanatomia' ;utra coisa era meer com 7uno';s olhos do #elho médico se in%lamaram'- Eesea ser''' como Calca''' ou como eu; que desea#a era agradecer o que aquele homem tinha %eito .or ele'  - Como o senhor' )osto muito do senhor' ;brigado' 6 eu .rometo'?entado em sua cadeira, 7uno morreu entre a noite chu#osa de 1Q de aneiro de 1OGQ e oamanhecer escuro do dia 1U'  <onah %icou um bom tem.o .arado, contem.lando o mestre' Ee.ois beiou a testa dele,que ainda esta#a quente, e cerrou seus olhos'  6mbora %osse um homem alto e %orte, <onah cambaleou sob o .eso do cor.o que le#ouaté o celeiro, onde come+ou a cum.rir a derradeira #ontade do morto, como se ainda oou#isse %alar'  rimeiro a.anhou a .ena e tomou nota do que obser#ara até então' Registrou a tosse que .rodu/ia um escarro manchado de sangue' alou da .ele que adquirira manchas roas' Eas#eias do .esco+o, que tinham se alargado e .ulsa#am muito' Eos suores que enso.a#am ocor.o, do cora+ão que .arecia bater tão de.ressa e tão aleatoriamente quanto um

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camundongo correndo' alou da res.ira+ão acelerada, barulhenta e di%!cil, e da .eleligeiramente inchada' ; @0"B; DE6D 249  uando encerrou as anota+es, .egou um dos bisturis %eitos .or Banuel ierro e, .or um

instante, eaminou %riamente o rosto deitado na mesa'  uando abriu o .eito, #iu que o cora+ão tinha uma a.arncia di%erente dos outroscora+es que ele e 7u%io ha#iam obser#ado' =a#ia uma :rea .reta na su.er%!cie, como se otecido ti#esse sido queimado' uando o rgão %oi aberto, as quatro c3maras .areciam ter .roblemas' Eo lado esquerdo, a .arte escura e corro!da de uma das c3maras .rolonga#a a:rea .reta' <onah usa#a .anos .ara enugar o sangue, mas achou que não esta#aconseguindo dren:-lo com e%icincia, .ois ele torna#a sem.re a brotar no mesmo .onto,entu.indo as duas c3maras do lado esquerdo e algumas #eias' <onah a.rendera no C3nonde A#icena que, .ara manter a #ida, o sangue tem de ser bombeado .elo cora+ão e sees.alhar .or todo o cor.o' 6le circular: atra#és de grandes artérias e de uma rede de #eiasque, cada #e/ mais %inas, #ão se trans%ormar em canais da grossura de %ios de cabelo,chamados ca.ilares' ; cora+ão de%eituoso de 7uno destru!ra todo esse sistema dedistribui+ão sangu!nea, o que lhe custara a #ida'  Ao abrir o tecido inchado do abdome, #iu que esta#a molhado l: dentro, assim comoesta#am molhados os .ulmes' 7u%io se a%ogara nas .r.rias secre+es, sem d*#ida, masde onde #inha toda aquela umidade<onah não tinha a menor ideia'  Continuou, então, seguindo o .rocedimento que a.rendera' Ee.ois de .esar os rgãos e%a/er as anota+es, .`s as coisas no lugar e costurou o cad:#er' Ee.ois la#ou o morto comuma barra de sabão, usando o balde de :gua que 7u%io o ensinara a deiar ao lado da mesa'? quando #iu tudo .ronto, dis.`s-se a entrar em casa'  ReJna .re.ara#a calmamente um caldo, mas desde que #ira a cadeira #a/ia .ercebera que 7u%io esta#a morto'- ;nde ele est:- 7o celeiro'- Acha que de#o ir até l:  - Acho que não - disse <onah' 6la res.irou %undo e se ben/eu, masnão %e/ obe+es' 7uno dissera a <onah que ReJna esta#a naquela%a/enda h: quase trs décadas, sem.re a ser#i+o de médicos, e tinha .lena conscincia do que acontecia l:' ?egundo ele, era .essoa de totalcon%ian+a' Ainda assim, <onah, que a conhecia h: .oucos anos, tinhareceio de que ela .udesse denunci:-lo'  -2OG 7;A= );RE;7- &ou lhe dar um .ouco de caldo'- 7ão' 6stou sem %ome'  - Ainda tem muito trabalho hoe - disse ReJna em #o/ baiaenchendo duas tigelas'  ;s dois se sentaram e comeram untos, calados' uando acabaram <onah .erguntou seha#ia mais alguém que 7uno gostaria que esti#esse .resente ao enterro, mas ela balan+ounegati#amente a cabe+a'- ?omos s ns - disse, e <onah saiu .ara cum.rir suas obriga+es'

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  7a baia de um dos animais, ha#ia algumas t:buas, #elhas mas ainda utili/:#eis' <onahmediu 7uno com um .eda+o de corda e serrou as t:buas no tamanho certo' e#ou quase amanhã inteira .ara %a/er o caião' 0e#e de .erguntar a ReJna se ela sabia onde ha#ia .regos' ReJna encontrou alguns'  6ntão, .egando uma .icareta e uma .:, %oi até o alto do morro e ca#ou o buraco' ;

in#erno chegara a ?arago+a, mas a terra não esta#a congelada e o t*mulo %oi ganhando%orma' =: anos, .orém, ele não trabalha#a como .eão e sabia que seu cor.o o lembrariadisso no dia seguinte' Ca#ando de#agar e com cuidado, conseguiu abrir uma se.ultura com .aredes lisas, retil!neas, su%icientemente %unda .ara obrig:-lo a certo es%or+o %!sico na horade subir' ?eus .és s sa!ram de l: ogando uma chu#a de terra e .edrinhas no %undo daco#a'  7o celeiro, enrolou os .anos ensanguentados num .ano lim.o, que en%iou no caião aolado do cor.o' 6ra o modo mais seguro de se li#rar deles e era eatamente o que 7uno omandaria %a/er' Contudo, resol#ido este .roblema, ainda te#e de en%rentar uma di%!cillim.e/a do celeiro, .ois não de#ia ha#er tra+o da disseca+ão'  ; trabalho ocu.ou-o o dia inteiro' ; cre.*sculo se a.roima#a quando atrelou à carro+ada %a/enda o ca#alo marrom de 7uno e o ca#alo :rabe cin/ento' ReJna te#e de aud:-lo atirar a .esada carga do celeiro'  oi tremendamente di%!cil .ara os dois enterrar o caião' 6le esticou duas cordas atra#ésdo buraco e amarrou as .ontas nas %ortes estacas de madeira que cra#ara no chão' uando ocaião %oi em.urrado .or sobre o buraco, as cordas o sustentaram, mas ele e ReJna ti#eramde ir soltando aos .oucos os ns que .rendiam as cordas nas estacas, trabalhando e %a/endodesli/ar uma corda de cada #e/, .ara que o caião %osse sendo abaiado de#agar' ReJnalutou com um dos ns' 6ra uma mulher %orte, caleada .elo trabalho %!sico, mas quandoconseguiu soltar o n, .erdeu bruscamente o controle da corda, %a/endo uma quina docaião se inclinar e bater numa das .aredes do buraco' ; @0"B; DE6D 2O1  - ue a corda com %or+a - disse <onah, .rocurando se controlar emanter a #o/ calma' Bas antes mesmo de ele %alar, ReJna tinha come+ado a %a/er isso'  ; caião ainda não esta#a totalmente ni#elado, mas não hou#e desastre'  - E um .asso à %rente sem soltar a corda - disse ele, e %oi assim, .asso a .asso, que %oram trabalhando as cordas e arriando o caião atésenti-lo encostar no %undo'  6le %oi ca.a/ de .uar uma das cordas do buraco, mas a outra agarrou em alguma coisaembaio do caião' 0al#e/ a la+ada ti#esse .rendido numa rai/' A.s alguns %ortes .ues,<onah desistiu e deiou a corda na se.ultura'  ReJna disse um .adre-nosso e uma a#e-maria, agora chorando baio, como se ti#esse#ergonha de sua dor'  - e#e a carro+a .ara o celeiro, est: bem - ele disse sua#emente'- Ee.ois entre e %ique em casa' 6u acabo as coisas aqui'  ReJna era uma mulher do cam.o que sabia condu/ir uma carro+a, mas <onah es.erouque ela chegasse à metade da descida antes de se a.roimar da .:' ogou o .rimeiro .unhado de terra atr:s da .:, um costume udeu simboli/ando como era ingrato o de#er deenterrar uma .essoa cua %alta seria dolorosamente sentida' Ee.ois sus.endeu a .: e, comum grunhido, en%iou-a com %or+a na .ilha de terra' A .rinc!.io a chu#a de terra %a/ia um

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ca#ernoso som de chocalho ao bater no caião, mas logo o barulho %icou mais aba%ado, .ois : era terra caindo sobre terra'  ? metade da co#a tinha sido ta.ada quando a noite chegou, mas ha#ia uma lua branca nocéu' <onah energa#a o su%iciente .ara trabalhar com %irme/a, com .oucas .ausas'  6sta#a quase no %im quando #iu ReJna subindo no#amente o morro' 6la, no entanto,

 .arou antes de chegar ao to.o'- Ainda #ai demorar  - ? mais um .ouco - disse ele, e ReJna, sem di/er mais nada,#irou as costas e #oltou .ara casa'  Ao acabar de alisar o m:imo que .`de a su.er%!cie do t*mulo, <onah .`s a mão nacabe+a descoberta e disse o >adish .elo morto' Ee.ois carregou a .: e a .icareta de #olta aoceleiro' Ao entrar em casa, .ercebeu que ReJna : %ora .ara o quarto' 6 que a banheira decobre %ora colocada de %rente .ara o %ogo' A :gua ainda esta#a quente e ha#ia mais duaschaleiras' ReJna também .usera #inho, .ão, a/eitonas e queio na mesa' 2O2 7;A= );RE;7  6le se des.iu unto do %ogo que estala#a, %a/endo uma .ilha com a rou.a suada, sua deterra' Ee.ois se com.rimiu na tina com um .eda+o do grosso sabão escuro que ReJnausa#a' 6ntão .ensou em 7u%io, em sua sabedoria e toler3ncia, em seu amor .elas .essoasde quem ha#ia tratado, em sua dedica+ão .elo eerc!cio da medicina' ensou nagenerosidade do #elho médico .ara com um ra.a/ desnorteado com quem esbarrara .oracaso' ensou na di%eren+a que 7uno ierro %i/era na #ida de <onah 0oledano'ensamentos demorados, demorados''' até .erceber que a :gua esta#a %icando cada #e/mais %ria, da! come+ou a se la#ar'

6l",i

f_ CA0D; V2 _; R;"??";7A ?;"0FR"; 7a manhã seguinte, <onah subiu o morro e alisou o t*mulo à lu/ do dia' ; .equenocar#alho que #iu nas .roimidades lembrou-o da :r#ore que brotara es.ontaneamente nolugar que ser#ira de t*mulo .ara o .ai' 6le remo#eu com cuidado o car#alho e trans.lantou-o na terra macia do t*mulo de 7uno' 6ra uma :r#ore ainda muito no#a, des.ro#ida de%olhas5 com o tem.o mais quente, no entanto, ia desabrochar'  - Ee#e in%ormar os .adres e dar uma esmola à igrea .ara que .ossam di/er uma missa .or sua alma imortal - %alou ReJna'  - rimeiro #ou .rante:-lo .or sete dias dentro de casa - disse <onah'- Ee.ois in%ormo os .adres e assisto com #oc à missa na igrea'  A de#o+ão de ReJna não era das mais %ortes e s a solenidade da morte conseguira tra/-la à tona' 6la deu de ombros e disse que <onah %i/esse como bem entendesse'  <onah tinha conscincia de que não obser#ara adequadamente as regras de sua religiãocom rela+ão à morte do .ai' 7uno %ora como um segundo .ai, e ele queria .restar ashomenagens da melhor maneira .oss!#el' Rasgou, então, uma de suas rou.as, andou

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descal+o, cobriu com um #éu o *nico es.elho, um es.elho .equeno, que ha#ia na casa ecome+ou a recitar o >adish' ;ra#a toda manhã e toda noite, eata-mente como um %ilho%aria .or um .ai'  0rs #e/es, durante aquela semana, alguém bateu na .orta à .rocura de um médico' 7umadessas #e/es, <onah le#ou um homem .ara o es.a+o que ser#ia de consultrio no %undo do

celeiro e .`s no lugar um .ulso destroncado5 nas duas outras te#e de ir às casas dosdoentes' 0ambém #isitou quatro .acientes antigos, que .recisa#am de sua aten+ão' A.scada consulta #olta#a logo à %a/enda .ara retomar o ritual do luto'  Ee.ois de ter obser#ado a semana de shi#a e a.s a missa .ela memria de 7uno ter sidocelebrada, <onah .assou a #i#er de uma maneira que lhe .arecia estranha' Dma eistnciano#a, que .recisa#a de no#as regras' 2O4 7;A= );RE;7  ReJna es.erou uma semana .ara .erguntar .or que ele ainda dormia no catre do .equenoquarto que %ora de.sito, quando agora era o dono da casa' ; quarto de 7uno era semd*#ida melhor, com duas anelas, uma .ara o sul, outra .ara o nascente' A cama era grandee con%ort:#el, %eita de cereeira'  6aminaram untos os .ertences do antigo .atrão' A rou.a de 7uno era de boa qualidade,mas 7uno era mais baio que <onah e mais gordo que magro' ReJna, que sabia meer comuma agulha, disse que re%ormaria algumas .e+as de rou.a .ara <onah'  - ?eria muito bom se #estisse, de #e/ em quando, alguma coisa de 7uno e se lembrasse dele'  6la se.arou as .e+as que seria im.oss!#el re%ormar, di/endo que ia le#:-las .ara suaaldeia e d:-las a quem .recisasse'  <onah se instalou no quarto que %ora de 7uno' Eesde a %uga de 0oledo, era a .rimeira #e/que dormia numa cama de #erdade e, quin/e dias de.ois, : e.erimenta#a uma sensa+ãode .osse' A casa-sede e as terras iam se tornando .arte dele, que come+a#a a gostar do lugar como se ti#esse nascido ali'Alguns .acientes %ala#am com triste/a do %alecimento de 7uno'  - oi sem.re um bom médico, consciencioso, que merecia todo onosso a%eto - disse ascual Cabrera' Bas o senor Cabrera e es.osa,assim como a maioria dos antigos .acientes, : tinham se acostumadoa con#i#er com Ramn Callic durante os longos anos de seu treinamento e .areciam estar muito satis%eitos com ele' 7a realidade, %oimais %:cil .ara <onah .assar a %uncionar como um .ro%issional solit:rio do que encarar com naturalidade sua no#a cama' 6 no %undo não sesentia so/inho como médico' Ao atender um ou outro caso mais com .licado, ou#ia algumas #o/es em sua mente' A de A#icena, a de )aleno, a de Morgognoni' Bas ha#ia, .or sobre todas elas, a #o/ de 7uno,uma #o/ que .arecia di/erI embre-se do que os grandes médicosescre#eram e das coisas que lhe ensinei' Ee.ois obser#e o .acientecom seus .r.rios olhos, cheire-o com seu .r.rio nari/, sinta-o comsuas mãos e use o seu bom senso .ara decidir o que de#e ser %eito'<onah e ReJna entraram numa rotina tranquila, onde não deia#a de ha#er um certoembara+o m*tuo' uando esta#a de %olga, <onah escolhia alguma coisa .ara ler na .equena biblioteca médica que herdara de 7uno ou trabalha#a na tradu+ão' 7esses .er!odos, ReJna%a/ia o .oss!#el .ara cum.rir as tare%as domésticas sem incomod:-lo'

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; @0"B; DE6D 2OO  Certa noite, #:rios meses a.s a morte de 7u%io, quando <onah instalou-se na cadeiradele ao lado do %ogo, ReJna tornou a encher-lhe o co.o de #inho e .erguntouI- &ai querer alguma coisa es.ecial .ara o antar de amanhã

<onah sentia o calor do #inho e o calor do %ogo' ;bser#ou ReJnaali .arada, uma boa criada, e era como se ti#esse sido sem.re o dono daquelas terras e elanunca o ti#esse conhecido deses.erado e sem teto'- )ostaria que .re.arasse uma galinha enso.ada'  ;s dois se entreolharam' <onah achou im.oss!#el adi#inhar o que ReJna esta#a .ensando, mas ela inclinou a cabe+a' 7aquela noite, %oi .ara o quarto dele .ela .rimeira#e/'6ra mais #elha, tal#e/ uns #inte anos mais #elha' ; cabelo tinha %ios brancos, mas o cor.oera %irme, .ois a #ida de eerc!cios %!sicos que le#a#a retardaria o en#elhecimento dequalquer mulher' 6sta#a mais que dis.osta a com.artilhar a cama dele' Ee #e/ em quando,uma obser#a+ão distra!da %a/ia <onah acreditar que, na u#entude, ela tambémcom.artilhara a cama do mestre udeu de 7u%!o, )abriel ?.oranis' ReJna não %a/ia .arte da .ro.riedade, é claro, mas ter o cor.o de um homem sem d*#ida a %aria sentir-se mais #i#a'; %ato é que o acaso a %i/era trabalhar so/inha .ara trs médicos, .elos quais desen#ol#eragrande a%ei+ão, um de cada #e/'  Ee manhã, assim como acontecera no tem.o de 7uno, ela se torna#a uma discreta eres.eitosa go#ernanta'  ogo <onah sentiu-se muito satis%eito com a situa+ão' 0inha um trabalho que ama#a aoetremo, boa comida e o .ra/er que, regularmente, re.artia com ReJna na cama de madeirado quarto maior'  uando caminha#a .ela .ro.riedade, <onah .ercebia que a terra não era adequadamenteutili/ada, mas assim como os anteriores .ro.riet:rios médicos, não .laneou tomar qualquer  .ro#idncia .ara sanar o .roblemaI não seria bom ter .ees no local .ara obser#ar que oceleiro ao lado da casa, além de abrigar um consultrio e uma mesa cir*rgica, era de #e/ emquando usado .ara estudos de anatomia que muitos não hesitariam em quali%icar de%eiti+aria'  uando a .rima#era chegou, <onah s le#ou adiante o que .odia %a/er com suas .r.riasmãos e seu tem.o li#re' ;rgani/ou trs colmeias .ara o mel, .odou oli#eiras e algumas:r#ores %rut!%eras, adubando-as com o esterco dos ca#alos' 7o %inal do ano, o .omar .ro.orcionou a .rimeira boa colheita .ara a co/inha e, no decorrer do ano seguinte, rendeu-lhe di%erentes %rutos com o correr das esta+es' 2ON

 7;A= );RE;7

  7ão correria o risco de se mani%estar abertamente como udeu mas nas #és.eras do?habat, acendia sem.re duas #elas no quarto e sussurra#a a .receI Mendito sois &s,?enhor nosso Eeus, Rei do Dni#erso, que nos santi%icastes com &ossos mandamentos e nosmandastes acender as #elas do ?habat'  A medicina, como se %osse uma religião que .udesse .raticar em .*blico, torna#a sua#ida muito rica, mas <onah se es%or+a#a .ara manter #i#a a chama de uma eistncia

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interior como udeu' As tradu+es tinham lhe de#ol#ido boa .arte de sua #i#ncia doidioma hebreu, embora ti#esse .erdido a ca.acidade de re/ar con%orme a tradi+ão .aterna'embra#a-se, a.enas, de %ragmentos de .reces' ; .r.rio desenrolar do ser#i+o do ?habatesca.ara de sua memria' Conseguia, .or eem.lo, se lembrar de que a .arte do ser#i+oque de#ia ser re/ada de .é - a amid: - era constitu!da de de/oito bn+ãos' or mais que

tentasse, s lhe ocorriam de/essete, o que o deia#a angustiado, %rustrado' Além disso, das .reces que lhe #inham à memria, uma delas, a décima segunda bn+ão, o .erturba#atremendamente' 0rata#a-se de uma ora+ão .ela destrui+ão dos hereges'  7a é.oca em que decorara as .reces, era a.enas um menino na casa .aterna e nãomeditara muito .ro%undamente sobre os signi%icados' Bas agora, #i#endo sob a sombraescura de uma "nquisi+ão que .retendia destruir os hereges, a .rece lan+a#a uma %lecha emseu cora+ão'  6ntão se os udeus, e não a "grea, esti#essem no .oder, também recorreriam a Eeus .aradestruir os não-crentes ?eria aiom:tico que o .oder religioso absoluto #em sem.reacom.anhado de crueldade absoluta  =:-Ra>haman, 7osso ai que estais no Céu, Eeus *nico dentre todos, .or que .ermitisque as matan+as seam %eitas tão im.unemente em &osso nome  <onah tinha certe/a de que os antigos, os que com.useram as de/oito bn+ãos, eramhomens .iedosos, s:bios .iedosos' Bas o autor da décima segunda bn+ão não escre#eriaaquilo se %osse o *ltimo udeu da 6s.anha'Dm dia, no meio das .orcarias que enchiam a barraca de um mascate cego de um olho, quemais .arecia um mendigo, <onah encontrou um obeto que o deiou sem %`lego' 0rata#a-sede um .equeno c:lice' ; ti.o de c:lice usado no >idush .ara aben+oar o #inho, comoaqueles que o .ai %i/era .ara tantos clientes udeus' ara não dar na #ista, come+oudemonstrando interesse .or outras coisasI um %reio de %erro,

; @0"B; DE6D 2OQtão amassado que nem entraria na boca do ca#alo, uma bolsa de .ano, muito sua, um ninhode #es.as ainda .reso numa .onta de galho'  uando %inalmente .egou o c:lice e #irou-o, .ercebeu que não %ora %eito .elo .ai, .oisnão ha#ia a marca =0 que =el>ias 0oledano sem.re deia#a no %undo' ro#a#elmente eraobra de algum ouri#es da região de ?arago+a' Ee#ia ter sido abandonado ou negociado naé.oca da e.ulsão e, ao que .arecia, não recebera nenhum .olimento desde essa é.oca'6sta#a .reto com o ., as ndoas dos anos5 também esta#a muito riscado'  Contudo, era um c:lice de >idush e <onah queria realmente %icar com ele' Besmo assim omedo %oi tanto que desistiu de com.r:-lo' 6ra um obeto que s .oderia interessar a udeus'0al#e/ ti#esse sido colocado como isca entre as quinquilharias' 0al#e/ hou#esse alguém .or  .erto, de olhos acusadores, .rontos a gra#ar a identidade do com.rador'  Ees.ediu-se com um aceno do mascate e come+ou a circundar #agarosamente a .ra+a'6aminou cada .orta, cada telha, cada anela em busca de uma testemunha incriminadora'  uando se certi%icou de que ninguém .arecia interessado nele, #oltou à barraca, ondecome+ou a re#irar as coisas com ar distra!do' 6scolheu meia d*/ia de obetos que lhe .areciam inteiramente in*teis e de.ois .egou o c:lice, tendo o cuidado de inclu!-lo nacostumeira barganha sobre o .re+o'  Chegando a casa, .oliu com carinho o c:lice do >idush' 6mbora a su.er%!cie ti#essearranhes .ro%undos que nenhuma carga de .olimento conseguiria remo#er, o c:lice logo setornou um obeto de grande estima .ara <onah'

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; outono de 1OGQ %oi chu#oso e %rio' ; som das tosses era ou#ido em todos os lugares .*blicos e <onah te#e muito trabalho' icou também boa .arte do tem.o a%ligido .elamesma tosse que atormenta#a seus .acientes'  6m outubro, %oi chamado à casa de dona ?ancha Merga, uma senhora idosa, cristã-#elha,que mora#a num casarão %inamente mobiliado, situado num bairro elegante de ?arago+a'

?eu %ilho, dom Meren-guer Martolomé, e a %ilha Bonica, es.osa de um nobre de Aragão,%icaram es.erando <onah eaminar a mãe' 6la tinha outro %ilho, )eraldo, comerciante nacidade'  Eona ?ancha, #i*#a do %amoso cartgra%o Bartin Martolomé, era uma mulher de setenta equatro anos, esbelta e inteligente' 7ão .arecia 2OU 7;A= );RE;7estar muito doente, mas de#ido à idade <onah receitou #inho com :gua quente, a sertomado quatro #e/es .or dia, e .equenos tragos de mel'- 0em mais alguma queia, senorai  - ? meus olhos' Binha #isão est: %icando cada #e/ mais emba+a-da - disse dona ?ancha'  <onah em.urrou as cortinas da anela, deiando a lu/ %luir .ara o quarto' Ee.ois secolocou bem em %rente à senora e, le#antando uma .:l.ebra de cada #e/, .`de #er a le#eo.acidade nos cristalinos'- ( uma doen+a chamada catarata'  - Cegueira em idade a#an+ada é uma heran+a de %am!lia - dissedona ?ancha com ar resignado' - Binha mãe morreu cega'- 7ada se .ode %a/er - o %ilho .erguntou'  - ?im, eiste um tratamento cir*rgico em que a .arte emba+ada éremo#ida' 6m muitos casos, a #isão melhora um .ouco'- Acha que de#o %a/er a o.era+ão - dona ?ancha .erguntou'<onah se inclinou de no#o sobre ela .ara eaminar os olhos' :%i/era trs #e/es a cirurgia, uma num cad:#er e duas com 7uno a seu lado, acom.anhandotodo o .rocedimento' Além disso, #ira 7uno %a/er duas #e/es a o.era+ão'- Ainda consegue #er bem  - ?im - disse ela' - Bas sinto que a cada dia a #ista .iora e tenhomedo da cegueira'  - Acho que .odemos %a/er a cirurgia, embora não se de#a contar com grandes resultados em o.era+es desse ti.o' 6 enquanto hou#er alguma #isão, mesmo que de%eituosa, #amos es.erar' ( mais %:cilremo#er a catarata quando ela est: madura' or isso é .reciso .acincia' &ou acom.anhar seu caso e direi quando a inter#en+ão de#e ser %eita'  Eona ?ancha agradeceu e dom Merenguer con#idou-o .ara tomar um co.o de #inho na biblioteca' <onah hesitou' 6m geral .rocura#a e#itar contatos sociais com cristãos-#elhos're%eria se .reca#er de situa+es onde .udesse ser interrogado sobre %am!lia, contatosdentro da "grea e amigos comuns' Bas teria sido di%!cil recusar um con#ite tão amistoso ecorts e logo se #iu sentado unto ao %ogo, num magni%ico a.osento, onde ha#ia uma .rancheta de desenho e quatro grandes mesas cobertas com gr:%icos e ma.as'  Eom Merenguer esta#a entusiasmado e es.eran+oso com a .ossibilidade de uma melhorana #isão da mãe'

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  - ode nos indicar um cirurgião de con%ian+a quando a catarataesti#er no .onto

"

; @0"B; DE6D 2O9  - 6u mesmo .osso %a/er a cirurgia - disse <onah com cautela' -;u, se .re%erir, .enso que o senor Biguel de Bontenegro seria umaecelente escolha'  - 6ntão é cirurgião além de médico - .erguntou dom Merenguer,es.antado, inclinando uma .esada garra%a de #idro .ara ser#ir o #inho'  - Assim como Bontenegro - disse <onah sorrindo' - ( #erdadeque a maioria dos cl!nicos se concentra na cirurgia ou na medicina'Bas alguns são com.etentes nas duas :reas e .odem combinar as duas .ro%isses' Beu %alecido mestre, sehor 7u%!o ierro, que também erameu tio, acredita#a que com muita %requncia os cirurgies se equi#ocam ao achar que a #erdadeira cura é %eita com a %aca, enquanto muitos médicos insistem em con%iar eclusi#amente nos medicamentosem casos onde a cirurgia seria indis.ens:#el'  Eom Merenguer assentiu com ar .ensati#o e .assou o co.o a <onah' 6ra um #inho bemen#elhecido e bastante saboroso, o ti.o de sa%ra que, no entender do médico, uma %am!liaaristocr:tica de#ia o%erecer' 6le relaou, come+ando a se sentir realmente bem, .ois seuan%itrião não iniciara qualquer sabatina sobre temas que .udessem lhe causar mal-estar'; nobre re#elou que era cartgra%o, assim como o .ai e o a#`'  - Mlas Martolomé, meu a#`, criou as .rimeiras cartas cient!%icasdas :guas costeiras da 6s.anha - disse' - Beu .ai concentrou-se nosma.as de rios, enquanto eu tenho me contentado com incurses emnossas cadeias de montanhas .ara ma.ear altitudes, trilhas e .assos'  Eom Merenguer mostrou-lhe in*meros ma.as e, enquanto con#ersa#am, <onah esqueceuos #elhos medos' Re#elou que, .or um curto .er!odo de tem.o, %ora um maruo comum emostrou o rio e os mares .or onde #iaara' ?entia-se estimulado .elo ecelente #inho e acom.anhia de um homem interessante que, a intui+ão lhe di/ia, .odia se tornar seu amigo' f CA"0D; VV _fA 06?06BD7=A7a .rimeira semana de abril, a.areceu na %a/enda um homem do gabinete do algua/il de?arago+a' 6le in%ormou que <onah %ora intimado a .restar de.oimento como testemunha no%rum munici.al, num ulgamento que teria lugar da! a quin/e dias, uma quinta-%eira'  7a noite anterior à audincia, <onah desceu quando ReJna esta#a se re%rescando em seu banho diante do %ogo' 6le tirou a chaleira do su.orte sobre as chamas e, enquantoderrama#a :gua quente na tina, %alou sobre sua con#oca+ão ao tribunal'- ( sobre os dois garotos'  ; caso esta#a sendo %artamente comentado no distrito' 7uma certa manhã, durante oin#erno, dois ra.a/inhos, ambos de cator/e anos e grandes amigos desde .equenos, ti#eramuma desa#en+a sobre um ca#alo de .au' ;s garotos, ;li#erio ita e )uillermo de Roda,#inham brincando h: anos com o ca#alo, que às #e/es era mantido na casa de um, às #e/es

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na casa do outro' 6ra um brinquedo grosseiramente %abricado, .ouco mais que um .eda+ode madeira, mas naquele dia os dois discutiram sobre quem era o dono do ca#alo'  Cada qual alega#a que o ca#alo era seu, di/endo que a.enas %ora generosocom.artilhando o brinquedo com o amigo'  Como %requentemente acontece quando se trata de garotos, a discussão e#oluiu .ara o

con%ronto %!sico' 0i#essem os dois alguns anos a mais, a alterca+ão .odia ter resultado numdesa%io e num duelo, mas eles se contentaram com os .unhos e os ingamentos' As coisas%icaram .iores quando o .ai de cada um disse ter a #aga lembran+a de que o ca#alo sem.reesti#era na %am!lia'  7a .rima #e/ que os garotos se cru/aram, atiraram .edras um no outro' ;li#erio %oi delonge o melhor atirador5 não %oi atingido e #:rios dos .etardos que lan+ou chegaram a)uillermo, um deles acertando sua tm.ora direita' uando )uillermo entrou em casa coma cara cheia de sangue, a mãe %icou em .3nico e mandou chamar imediatamente o médico'<onah %oi até a casa da %am!lia Roda e tratou do ; @0"B; DE6D 2N1ra.a/' ; incidente .odia ter se e#a.orado com o correr do tem.o se )uillermo não ti#essecontra!do uma %ebre e morrido .ouco de.ois'  <onah e.licara aos .ais enlutados que )uillermo morrera de uma en%ermidadecontagiosa, não do %erimento le#e que so%rera semanas atr:s' Bas em sua dor, Ramiro deRoda .rocurara o algua/il .ara dar queia de ;li#erio ita, a%irmando que a doen+aresultara do gol.e na cabe+a e que, .or conseguinte, ;li#erio causara a morte de )uillermo'; algua/il marcara uma audincia .ara determinar se o ra.a/ seria ou não acusado dehomic!dio'  - ( uma tragédia - disse ReJna -, e agora o médico de ?arago+a%oi en#ol#ido nela' - 6la tinha .ercebido que a coisa conseguira realmente .erturbar <onah' - Bas o que tem a temer nessa histria  - &ou contrariar uma .oderosa %am!lia de ?arago+a' Como nsdois sabemos, os médicos .odem ser denunciados anonimamente à"nquisi+ão' 7ão tenho nenhuma #ontade de trans%ormar os Roda emmeus inimigos'ReJna abanou a cabe+a'  - Bas é claro que não .oderia ignorar uma ordem .artida doalgua/il'  - 7ão' 6 h: um .roblema de usti+a que tem de ser esclarecido, oque s me deia uma alternati#a'- ue alternati#a - ReJna .erguntou ensaboando o bra+o'- Com.arecer ao %rum e di/er a #erdade'A audincia te#e lugar no .rédio da administra+ão munici.al, na .equena sala de reuniesdo segundo andar' ; lugar : esta#a cheio de gente quando <onah chegou'  osé ita e a es.osa, Rosa Benende/, encararam <onah quando ele entrou na sala' Ao ser .rocurado .elo casal logo a.s o garoto ter sido denunciado, <onah e.licara o que lhe .arecia ser a #erdade'  ;li#erio ita, o garoto, sentou-se so/inho, de olhos muito abertos' 7a %rente dele, o ui/de cara %echada, mas %isionomia neutra, deu in!cio à sessão batendo seu grande anel demagistrado no tam.o da mesa'

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  Alberto orreno, o .romotor real, com quem <onah tinha uma rela+ão cordial, era umhomem %ran/ino, mas com uma grande cabeleira negra que aumenta#a sua cabe+a' Como .rimeiro de.oente, chamou Ramiro de Roda'  - ?enor Roda, seu %ilho )uillermo de Roda, de cator/e anos de idade, morreu no dia cator/e de %e#ereiro do ano de 7osso ?enhor de

1OGU- ?im, senor'-

2N2 7;A= );RE;7- Eo que ele morreu, sehor Roda  - oi atingido na cabe+a .or uma .edra atirada com rai#a contraele' ; ataque criminoso le#ou a uma terr!#el doen+a que .ro#ocou suamorte' - ;lhou .ara onde <onah esta#a sentado' - ; médico não .`desal#ar )uillermo, meu *nico %ilho'- uem atirou a .edra  - 6le - ; homem estendeu o bra+o com o dedo a.ontado' -;li#erio itaBuito .:lido, o garoto ita cra#a#a os olhos na mesa à sua %rente'- Como sabe que %oi ele  - A cena %oi .resenciada .or um #i/inho nosso, sehor Rodrigourita'- ; senor urita est: .resente  ; .romotor caminhou na dire+ão do homem muito magro, de barba branca, que le#antaraa mão'- Como .`de #er os garotos atirando .edras um no outro  - 6sta#a sentado na %rente da minha casa, aquecendo os ossos nosol' &ia tudo que se .assa#a'- ; que #iu eatamente  - &i o %ilho de osé ita, o ra.a/ que est: ali, atirar a .edra queatingiu o .obre )uillermo, aquele bom garoto'- Re.arou onde a .edra bateu  - ?im, bateu na cabe+a - disse ele a.ontando .ara a testa, entre osolhos' - &i claramente' oi atingido de %orma tão cruel que #i o sanguee o .us brotarem do %erimento'- ;brigado, senor'Agora o senor orreno se a.roima#a de <onah'  - ?enor Callic, %oi o senhor quem tratou do menino de.ois doincidente- ui eu'- 6 o que descobriu  - ue ele não .odia ter sido atingido com muita %or+a .ela .edra -disse <onah, .ouco à #ontade' - ora a.enas arranhado na região datm.ora direita, logo acima e na %rente do ou#ido direito'  - 7ão %oi''' aqui - ; .romotor encostou o dedo no centro da testa de <onah'- 7ão senor, %oi aqui - disse <onah tocando no lugar'

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- odia nos dar mais detalhes sobre o %erimento  - 7ão era gra#e' ? uma escoria+ão' 0irei o sangue .isado do rosto e do arranhão' 6sses machucados geralmente saram ao serem  -; @0"B; DE6D 2NV

 banhados com #inho, .or isso molhei um .ano e lim.ei o lugar, mas %oi a *nica coisa que%i/' <onah continuouI  - 7a é.oca, achei que )uillermo ti#era sorte, .ois se a .edra oti#esse acertado um .ouco mais à esquerda, o %erimento seria muitomais sério'  - ?er: que não .odemos considerar como sério um %erimento deonde brotam sangue e .us  6m seu !ntimo, <onah sus.irou, mas não ha#ia meio de %ugir da #erdade'  - 7ão ha#ia .us - disse, obser#ando os olhos %uriosos do sehor urita' - ; .us não é uma coisa que eista dentro da .ele dos sereshumanos, algo que .ossa esguichar quando a .ele é .er%urada' ; .uscostuma a.arecer a.s o surgimento da %erida, sendo engendradoquando a .ele, rom.ida .elo %erimento, %ica e.osta aos odores %étidosdo ar, ao %edor, .or eem.lo, de coisas como ecremento ou carne .odre' 7ão ha#ia .us no machucado quando o #i .ela .rimeira #e/,assim como não ha#ia qualquer ti.o de secre+ão trs semanas mais tar de, quando #oltei a eaminar )uillermo' ; arranhão tinha desen#ol#ido uma casca' 6sta#a %rio ao toque e sua a.arncia não era ruim'Considerei que o garoto : tinha sarado quase com.letamente'- 7o entanto, duas semanas de.ois ele morre - disse o .romotor'- ?im, mas não .or causa do %erimento su.er%icial em sua cabe+a'- Eo que então, sehor  - Ee uma tosse seca e da mucosidade nos .ulmes que acom.anharam uma %ebre %atal'- 6 o que .ro#ocou esta en%ermidade  - 7ão sei, sehor' uem dera soubesse' ;s médicos encontram amoléstia com de.rimente regularidade e alguns dos atingidos morrem'  - 0em certe/a de que a .edra atirada .or ;li#erio ita não .ro#ocou a morte de )uillermo de Roda- 0enho certe/a'- oderia urar sobre a b!blia, sehor doutor- osso'  uando troueram a b!blia do tribunal, <onah .`s a mão sobre ela e urou que otestemunho %ora #erdadeiro'  ; .romotor abanou a cabe+a e mandou o acusado se le#antar' ; ui/ ad#ertiu o o#em deque o %aria en%rentar imediata e se#era .uni+ão se alguma de suas a+es o trouesse deno#o ante as barras da us- 2N4

 7;A= );RE;7

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ti+a' Matendo .ela *ltima #e/ na mesa com seu .esado anel, declarou ;li#erio ita emliberdade'- ?enor - disse osé ita, ainda abra+ando o %ilho que chora#a' -6staremos a #ida inteira emdébito com o senhor'- 6u a.enas testemunhei o que era #erdade'

  <onah saiu de imediato do %rum e, tentando esquecer a a#ersão que #ira nos olhos deRamiro de Roda, come+ou a a%astar-se do centre da cidade' ?abia que a %am!lia Roda eamigos acreditariam até a mor que o o#em )uillermo %ora assassinado .elo gol.e de uma .edra, ma ele dissera a #erdade e esta#a satis%eito .or ter %eito isso'  oi então que, na outra .onta da rua, #iu trs homens a ca#alo do em sua dire+ão' oucode.ois, <onah #iu que eram dois homens armados e um clérigo de batina .reta'Dm %rade' Alto'Eeus, não'  medida que eles se a.roima#am, <onah te#e certe/a' uando .assa#am ao seu lado,ele #iu que o %rade engordara, ha#ia #eias escuras em seu nari/ e seus cabelos esta#amgrisalhos'  - Dm bom dia .ara os senhores - disse .olidamente <onah ao gru .o e Monestruca balan+ou ligeiramente a cabe+a'  Bas antes que o ca#alo de <onah ti#esse dado mais meia d*/ia de .assos, ele escutou a#o/'- ?enoroi obrigado a dar meia-#olta no ca#alo :rabe cin/ento'- Acho que conhe+o o senhor - disse o %rade'  - ?im, me conhece, %rei Monestruca' 6sti#emos untos h: algunsanos em 0oledo'Monestruca sacudiu a mão'- ?im, em 0oledo' Bas''' seu nome'''  - Ramn Callic' 6u tinha ido entregar uma armadura ao conde de0embleque'  - ( claro ela %é de quem sou, o a.rendi/ de armeiro de )ibraltar)ostei muito da armadura do conde &asca, uma armadura da qual elese orgulha até hoe' &eio cum.rir uma missão semelhante em ?arago+a  - 7ão, moro aqui' Ee.ois que meu tio e mestre, o armeiro Banuelierro, %aleceu, #im .ara ?arago+a, onde me tornei a.rendi/ do irmãodele, um médico chamado 7u%!o'Monestruca abanou a cabe+a com ar de interesse'

; @0"B; DE6D 2NO- ?em d*#ida não lhe %altaram bons instrutores'  - 0em ra/ão' "n%eli/mente, 7uno também descansou e agora sou omédico do lugar'  - ; médico''' Mem, então nos #eremos de #e/ em quando, .oisestou aqui .ara %icar'  - 0enho certe/a de que #ai gostar de ?arago+a' ( uma cidade de boa gente'  - ?ério Moa gente é um tesouro que não tem .re+o' Bas h: muito

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descobri que, não raramente, sob uma a.arncia de retidão eistemcoisas sombrias e nada benignas'- 0enho certe/a de que sim'  - ( bom encontrar um conhecido quando nos #emos desarraigados, trans%eridos da terra natal' 0emos de nos encontrar de no#o, senor 

Callic'- 0emos, sem d*#ida'- ue Cristo estea contigo'- 6 com o senhor também, %rei Monestruca'  <onah .erdeu-se em seus .ensamentos, enquanto se a%asta#a' A meio caminho de casa, asrédeas soltaram-se de suas mãos e o ca#alo :rabe saiu da trilha, .rocurando a sombra deuma :r#ore .ara .astar, enquanto seu ca#aleiro .ermanecia na sela, .ensati#o' <onah nãoconseguira matar Monestruca uma #e/, quando ele era mais mo+o e a o.ortunidade sea.resentou' Ee.ois, ele ha#ia se utili/ado do %rade .ara li#rar-se dos inimigos que queriammat:-lo'Agora o inquisidor estaria .rimo dele' 0odos os dias'  <onah .ercebeu, sur.reso, que amais atentaria outra #e/ contra a #ida de Monestruca' 6leagora era médico, não um assassino' ?e cometesse um crime, mesmo que ninguém #iesse asaber, isto o arruinaria como médico' Eurante seu a.rendi/ado com 7uno ierro, ele ha#iase com.rometido com um no#o caminho em sua #ida - lutar contra a morte' A .ro%issão demédico agora o ancora#a na terra' 6ra um o%!cio que substitu!ra a religião, a cultura e a%am!lia, #ingar-se seria uma satis%a+ão amarga que não traria de #olta seus entes queridos'  Ainda assim ele odia#a Monestruca e o conde &asca, e não ha#ia em seu cora+ão como .erdo:-los .elas mortes de seu .ai e irmão' <onah disse a si mesmo que se Monestruca #iera .ara %icar, ele %icaria de olho no %rade, à es.era de que as circunst3ncias lhe .ermitissem%a/er usti+a'  Ali#iado e resoluto, ele recolheu de no#o as rédeas e condu/iu o ca#alo de #olta à trilhaque os le#aria .ara casa' fY CA0D; V4 _fA CA?A E; RAE6rei oren/o de Monestruca não %ora trans%erido .ara ?arago+a comorecom.ensa ou .romo+ão, mas como mani%esta+ão de censura e castigo' As %ontes de seus .roblemas tinham sido a %alecida rainha "sabel da6s.anha e o arcebis.o rancisco iméne/ de Cisneros' uando Cisneros tornou-se arcebis.o de 0oledo, em 149O, conseguiu que a rainha setornasse sua aliada numa cam.anha .ara re%ormar o clero es.anhol,que entrara num .er!odo de #!cio e corru.+ão' ;s clérigos tinham seacostumado a um estilo de #ida o.ulento, mantendo #astas etensesI]% de terra como .osse .articular, assim como ser#os, amantes e as mor-Cl domias dos ricos'  Cisneros e "sabel di#idiram as células da igrea entre si' "sabel #iaou .ara os con#entos,onde %aria uso de sua .osi+ão, de seus .oderes de .ersuasão, adulando ou amea+ando até as%reiras concordarem em #oltar ao estilo de #ida sim.les que caracteri/ara os .rimrdios da"grea' ; arcebis.o, #estindo uma batina marrom e condu/indo uma mula, #isitou cadamosteiro e cada abadia, catalogando suas rique/as, insistindo .ara os %rades e mongesdoarem aos .obres tudo que não %osse essencial à sua #ida di:ria' Cisneros restabeleceu a

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eigncia da tonsura no cabelo' ora ele quem a.arara com as .r.rias mãos a cabeleira deMonestruca, s lhe deiando um estreito anel de cabelo .ara %ormar a tonsura de ?ão edro,aquela que re.resenta#a a coroa de es.inhos usada .or esus'rei Monestruca ca!ra na teia da re%orma'  ? quatro anos durara seu celibato' Assim que seu cor.o e.erimentou a do+ura de se

%undir com a carne %eminina, Monestruca .assou a sucumbir com %acilidade e %requncia à .aião seual' 7os *ltimos de/ anos, conser#ara uma amante chamada Baria uana?ala/ar, com quem ti#era %ilhos' 6mbora não usasse o nome dele, a mulher era de %ato suaes.osa e Monestruca nunca tentara %a/er grande segredo disso' 7ão era .reciso, .ois agiaa.enas como muitos outros' uando o

; @0"B; DE6D 2NQ%ora durante anos con%essor de Monestruca .ara ad#erti-lo de que os dias de relaamentoesta#am no %im, que arre.endimento e mudan+a autntica seriam agora as cha#es dasobre#i#ncia' uando Monestruca ignorou a ad#ertncia, %oi con#ocado à arquidiocese .ara uma entre#ista com Cisneros' ; arcebis.o não .erdeu tem.o com cortesias'  - 0em de se li#rar dela' 0em de %a/er isso de imediato' ?e desobedecer, sentir: a %or+a de minha ira'  6ntão Monestruca decidiu recorrer ao sigilo e ao subter%*gio' e#ou em segredo Banauana e as crian+as .ara uma .equena aldeia, a meio caminho entre 0oledo e 0embleque'Com.orta#a-se discretamente ao #isit:-los e às #e/es %ica#a semanas longe deles'Conseguira assim ganhar mais seis anos de con#i#ncia com sua .equena %am!lia'  Dm dia, .orém, %oi in%ormado de que de#ia com.arecer no#amente à arquidiocese' 6desta #e/, o .adre dominicano que o recebeu in%ormou-o que, de#ido à sua desobedincia,seria trans%erido .ara a sucursal da "nquisi+ão na cidade de ?arago+a, .ara onde de#ia .artir imediatamente'- 6 so/inho - acrescentara o .adre num tom sarc:stico'  Monestruca obedecera e, no %im dos longos dias de #iagem, : com.reendera que a .uni+ão que tenta#am lhe a.licar tra/ia, de %ato, uma o.ortunidade de conquistar a .ri#acidade de que tanto .recisa#a'Bais de duas quin/enas a.s ter cru/ado na rua com o inquisidor, <onah %oi #isitado .orum no#i+o de batina marrom' ; ra.a/ disse que %rei Monestruca esta#a à es.era dele nala/a BaJor, .ara con#ersarem' <onah atendeu ao .edido e encontrou o %rade sentado àsombra da *nica :r#ore da .ra+a'  - uero que #: até minha casa' 6u e Baria ti#emos cinco %ilhos'Dm morreu ao nascer, outro com seis semanas de #ida' ;s trs quesobraram são muito .reciosos .ara mim'; %rade abanou a cabe+a e se le#antou do banco'  - 7ão conte a ninguém o que #ai #er ou o que #ai %a/er' ois tenhacerte/a de que meti bra+o cair: sobre o senhor se hou#er coment:rios'6ntendeu bem<onah lutou .ara manter a calma'- ?im, entendi'- &enha atr:s de mim'  ; %rade come+ou a caminhar e <onah %oi seguindo a ca#alo' Monestruca se #irou .ara tr:s#:rias #e/es, olhando além de <onah'

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não so%rerão altera+es, ele .ensou' 6 quem sabe que tragédias a s!%ilisainda .oderia tra/er'  0erminou de eaminar as crian+as e receitou uma .omada .ara as %eridas do bebé'- &olto numa semana .ara #er como ela est:'  uando Monestruca .erguntou quanto era, <onah .ediu o que normalmente cobra#a .ara

ir à casa de um doente, sem.re tomando cuidado .ara manter um tom .ro%issional' 7ãoqueria estimular uma ami/ade com %rei Monestruca' 7o dia seguinte, um homem chamado 6#aristo Bontal#o le#ou a es.osa idosa, Mlasa de)ualda, ao consultrio'- 6st: cega, senor'  - &ou eaminar - disse <onah, a.roimando a mulher da lu/ %orte .erto da anela'  ;s dois olhos .areciam emba+ados' Bais emba+ados que os olhos de dona ?ancha Merga,a mãe de dom Merenguer Martolomé, que ele eaminara recentemente' 0ão madura esta#a acatarata que a brancura dos cristalinos .arecia ter adquirido um tom amarelado'- &ai .oder me audar  - 7ão .osso .rometer nada, senora' Bas .osso tentar, se %or o seudeseo' ?er: .reciso %a/er uma cirurgia'- Cortando os meus olhos  - ?im, cortando' ; que a senhora tem nos olhos chama-se catarata' ;s cristalinos %icaram nublados e bloqueiam sua #isão, assim comouma #ene/iana bloqueia a lu/ que entra .ela anela'- uero energar de no#o'  - 7unca #oltar: a energar como energa#a quando era mo+a - eledisse sua#emente' - Besmo se a o.era+ão %or bem-sucedida, não conseguir: %iar os olhos em obetos distantes' ? .oder: #er o que esti#er mais .erto'- 6u .oderia co/inhar' 0al#e/ até costurar, hã- 0al#e/''' Bas se %racassarmos, %icar: .ermanentemente cega'  - Mem, : estou cega agora, senor' )ostaria muito que tentasseesta''' cirurgia'  -2 QG 7;A= );RE;7  <onah mandou o casal #oltar no dia seguinte, de manhã cedo 7aquela tarde, .re.arou amesa de o.era+es e reuniu as coisas de que ia .recisar' Ee.ois sentou-se ao lado dolam.ião de a/eite e, até a hora de dormir, leu e releu o que 0eodorico Morgognoni escre#erasobre cirurgia na #ista'  - &ou .recisar de sua auda - disse a ReJna' Ee.ois ergueu as .r .rias .:l.ebras, mostrando como os olhos da .aciente de#iam ser segurados' 6la não .odia .iscar'- 7ão sei se #ou conseguir #er o corte nos olhos'  - ?e quiser #ire a cabe+a .ara o lado, mas mantenha as .:l.ebras%irmemente erguidas' ( ca.a/ de %a/er issoReJna assentiu com hesita+ão, di/endo que ia tentar' 7a manhã seguinte, quando 6#aristo Bontal#o chegou com Mlasa de )ualda, <onahmandou o homem dar um longo .asseio' Ee.ois deu a Mlasa dois c:lices cheios de bebida%orte, onde tinham sido dissol#idos alguns .s so.or!%icos'

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  6le e ReJna audaram a senhora a deitar-se na mesa' Ee.ois .egaram tiras de .ano %orte,largas o bastante .ara não cortar a .ele, e amarraram-lhe os .ulsos, os torno/elos e a testa, .ara ela não .oder se meer'  <onah tirou da cole+ão de ierro o bisturi menor e %e/ sinal .ara ReJna'- &amos come+ar'

uando as .:l.ebras de Mlasa %oram erguidas, ele %e/ diminutas incises ao redor docristalino do olho esquerdo' A .aciente res.irou %undo e estremeceu'  - 7ão #ai demorar - disse <onah, usando a .equena l3mina a%iadacomo .in+a .ara tirar a .arte emba+ada do cristalino, %a/endo-a desa .arecer no interior do olho' Ee.ois re.etiu o .rocesso no olho direito'  eito isto, agradeceu a ReJna, di/endo que ela .odia soltar as .:l.ebras' 6m seguidadesamarrou Mlasa, cobrindo-lhe os olhos com umas com.ressas *midas e %rias'  ouco tem.o de.ois, remo#eu as com.ressas .ara eamin:-la' ;s olhos %echadoslacrimea#am, como se ela esti#esse chorando, e <onah enugou-lhe sua#emente o rosto'- Abra os olhos, sehora )ualda'  As .:l.ebras %oram se abrindo' iscando .or causa da lu/, a mulher tentou olhar .aracima'- ; senhor tem o rosto de um homem bom - disse'Como era estranho descobrir que um homem que ele odia#a e des.re/a#a como assassino eladrão %osse um .ai tão amoroso, tão dedicado

; @0"B; DE6D 2Q1  0e#e es.eran+as de Monestruca não estar em casa quando %oi de no#o à grana na beira dorio, mas s lhe restou dis%ar+ar o mal-estar quando o %rade #eio cum.riment:-lo na .orta'Eescansadas dos rigores da #iagem, as trs crian+as .areciam mais %ortes, mais bem-humora-das' <onah discutiu a dieta deles com a mãe, que mencionou com indis%ar+:#elorgulho que os %ilhos esta#am acostumados a carne e o#os em abund3ncia'  - 6 eu estou acostumado a um ecelente #inho - disse Monestrucade .assagem -, que insisto agora em com.artilhar com o senhor'  6ra e#idente que não admitiria recusa e <onah deiou-se le#ar até um escritrio onde te#ede lutar .ara não .erder o controle, .ois o lugar esta#a cheio dos tro%eus que o %radeobti#era na guerra contra os udeusI um conunto de %ilactérios, um barrete e - #isãoinacredit:#el .ara <onah - um rolo da 0ora'  ; #inho era bom' rocurando tom:-lo sem olhar .ara a 0ora, <onah contem.lou seuan%itrião e inimigo, .erguntando-se até quando teria de %icar na casa dele'- Conhece o ogo de damas da 0urquia - Monestruca .erguntou'- 7ão' 7unca ou#i %alar'  - ( um ogo etraordin:rio que usa a mente' &ou ensin:-lo a ogar'- ara consterna+ão de <onah, o %rade se le#antou e tirou da .rateleiraum tabuleiro quadrado' ousou o tabuleiro na .equena mesa que ha#iaentre eles5 de.ois .egou dois saquinhos de .ano'  7o tabuleiro ha#ia quadrados .retos e brancos que se alterna#am, sessenta e quatrosegundo Monestruca' Cada saco continha do/e .edri-nhas lisas5 as .edras de um saco eram .retas enquanto as do outro eram cin/a-claros' Monestruca .assou-lhe as .retas e mandouque ele as colocasse nos quadrados .retos das .rimeiras duas colunas do tabuleiro,enquanto o %rade arrumou as claras do seu lado'  - 6ntão temos quatro %ileiras de soldados e estamos em guerra,

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senorl  ; %rade mostrou-lhe que o ogo consistia em mo#er cada .edra .ara a %rente, mas sem.rena diagonal, .ara um quadrado #i/inho'  - As .retas se mo#em .rimeiro' ?e o quadrado #i/inho est: ocu.ado .or um soldado meu, mas o quadrado seguinte est: #a/io, o soldado

de#e ser ca.turado e remo#ido' ; mo#imento dos soldados é sem.re .ara a %rente, mas quando um heri atinge a .rimeira coluna do o.onente, ns o coroamos como monarca, isto é, colocamos em cima deleoutra .e+a da mesma cor' 0al .e+a du.la .ode ir .ara a %rente ou .aratr:s, .ois ninguém .ode .roibir um rei de ir .ara onde bem entender'Monestruca continuouI

2Q2 7;A=);RE;7  - Dm eército é conquistado quando os soldados do ad#ers:rio sãotodos ca.turados ou bloqueados, %icando im.edidos de se mo#er' -Monestruca de#ol#eu algumas .e+as às suas .osi+es iniciais' - 6 agora, doutor, .ode atacar  ogaram cinco .artidas' As duas .rimeiras acabaram ra.idamente .ara <onah, mas .elomenos lhe ensinaram que as .edras não .odiam ser deslocadas de qualquer maneira' &:rias#e/es Monestruca o indu/ira a mo#imentos desastrados, sacri%icando um soldado .araderrubar #:rios de <onah' or %im, <onah : era ca.a/ de reconhecer uma armadilha etentar se esqui#ar'  - Ah, a.rendeu de.ressa - disse o %rade' - ?ei que #ai se trans%or mar num ad#ers:rio muito sério'  ; que <onah logo .ercebeu é que o ogo eigia uma constante ins-.e+ão do tabuleiro .araanteci.ar os mo#imentos do inimigo e a#aliar as .ossibilidades de a#an+o' ;bser#ou comoMonestruca trabalha#a continuamente .ara %a/-lo cair nas armadilhas' elo %im da quinta .artida, : descobrira alguns dos .oss!#eis mo#imentos de de%esa'  - Ah, o senhor é es.erto como uma ra.osa ou um general - disseMonestruca, embora a agilidade mental do %rade ti#esse derrotado<onah com %acilidade'- reciso ir - disse <onah com relut3ncia'  - 6ntão tem de #oltar .ara ogar de no#o' Amanhã à tarde oude.ois de amanhã- 7ão d:' 6stou sem.re com os .acientes na .arte da tarde'  - 6ntendo, um médico ocu.ado' ; que acha, então, de nos encontrarmos aqui na quarta-%eira à noite Combinado &enha o mais cedoque .uder, estarei es.erando'or que não, .ensou <onah'- ?im, est: bem'  ?eria interessante, a .artir do ogo de damas, entender como %unciona#a a mente deMonestruca' 7a quarta-%eira à noite, ele #oltou à grana na beira do rio e sentou-se com Monestruca noescritrio' 0omaram daquele bom #inho, abriram amndoas e comeram as .ol.as enquantoestuda#am o tabuleiro e %a/iam seus mo#imentos'  <onah .resta#a aten+ão nas .edras e no rosto do ad#ers:rio, .rocurando .erceber o modode o .adre raciocinar, mas a %isionomia de Monestruca nada re#ela#a'

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 ; @0"B; DE6D 2QVmenos sobre Monestruca' 7aquela noite ogaram cinco .artidas, eata-mente como tinham%eito da .rimeira #e/'- ; ogo agora est: demorando mais - Monestruca comentou'

uando ele sugeriu que se encontrassem na .rima quarta-%eira ànoite, <onah concordou tão de.ressa que %e/ o %rade sorrir'- Ah 6stou #endo que o ogo se a.ossou de sua alma'- ? de minha mente, %rei Monestruca'- 6ntão trabalharei sua alma nas .rimas .artidas, senor'<onah demorou mais duas quartas-%eiras .ara conseguir #encer a .rimeira .artida' Ee.ois .assou #:rias semanas sem ganhar de no#o' A.s essa %ase, no entanto, .assou a ganhar de#e/ em quando e, à medida que ia descobrindo as estratégias de Monestruca, o ogo setorna#a mais duro, mais demorado'  Acha#a que Monestruca se condu/ia no ogo como se condu/ia na #ida em geralIenganando, tra.aceando, di#ertindo-se à custa de seus o.onentes' ; %rade geralmente orecebia com um ar de #erdadeira ami/ade, como se quisesse %a/-lo abrir as de%esas' <onah, .orém, nunca relaa#a na .resen+a dele, consciente das emboscadas que .odiam seesconder no escuro daquelas noites'  - Achei que %osse mais inteligente, doutor - disse Monestrucade.ois de #encer um ogo %:cil' Cada #e/ que a .artida acaba#a, insistia .ara <onah ogar imediatamente outra'  <onah se concentra#a em descobrir como sobre.u:-lo' Eescon%ia#a que Monestruca não .assa#a de um %an%arrão, tornado .oderoso .elo medo dos outros' 0al#e/ o %rade %icasserealmente #ulner:#el se alguém ti#esse coragem de en%rent:-lo'- 6stou h: .ouco tem.o em ?arago+a, mas : desmascarei um udeu -disse o %rade umaquarta à noite, a#an+ando com um de seus soldados'  - ?im - eclamou <onah num tom casual, mo#endo uma de suas .edras .ara re.elir o ataque'- ?im, um udeu clandestino, que %ingia ser cristão-#elho'?eria Monestruca a sua ru!na  <onah mante#e os olhos %irmes no tabuleiro' Bo#eu um soldado .ara um quadrado ondeuma .edra sua %ora comida e comeu duas .edras do %rade'  - ?ua alma #ibra em .egar um udeu, não é - disse <onah, sur.reso com a %rie/a que conseguia manter' - ?into em sua #o/' 2 Q4 7;A= );RE;7  ara o diabo com ele, .ensou <onah, tirando os olhos do tabuleiro .ara en%rentar o %rade'  - 0ambém est: escrito bem-a#enturados os misericordiosos, .or que eles alcan+arão misericrdia'Monestruca sorriu' 6sta#a se di#ertindo'  - ?im, est: escrito' oi escrito .or Bateus' Bas''' obser#eI 6u soua ressurrei+ão e a #ida' ; que acredita em mim, embora .are+a morto,#i#er:' 6 quem #i#e e acredita em mim amais morrer:' 7ão ser: umato de misericrdia sal#ar uma alma imortal do in%erno ois é eata-mente o que %a/emos quando reconciliamos as almas udias com Cristodiante das chamas' Eamos %im a tristes eistncias #i#idas no erro,

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 .ro.orcionando-lhes .a/ e glria eternas'- 6 o que me di/ dos que recusam a reconcilia+ão  - omos ad#ertidos .or BateusI ?e teu olho direito é moti#o deesc3ndalo, arranca-o e oga-o %ora' ois é .re%er!#el que um de teusmembros .ere+a do que teres o cor.o inteiro atirado no in%erno'

  ?orrindo, disse que o udeu, que %ingia ser cristão-#elho, seria .reso de uma hora .araoutra'<onah mergulhou numa agonia de a.reensão que o %e/ .assar a noite em claro e se .rolongou .elo dia seguinte' 6sta#a dis.osto a %ugir .ara sal#ar a #ida mas, .elo que :a.rendera do modo de Monestruca .ensar, a men+ão de um %also cristão-#elho .odia .er%eitamente ser a.enas uma armadilha' 7ão era .oss!#el que Monestruca esti#esse àes.reita .ara #er se ele mordera a isca, se tentaria, .or eem.lo, %ugir ?e o inquisidorti#esse a.enas uma sus.eita, o melhor a %a/er seria continuar seguindo sua rotina'  7aquela manhã, trabalhou normalmente no consultrio e, à tarde, %e/ os atendimentos adomic!lio' 0inha acabado de chegar e esta#a tirando a sela do ca#alo quando #iu uma du.lade soldados do alg*a/il descendo a estrada'  0inha es.erado .or uma coisa dessas e esta#a armado' 7ão ha#ia sentido em se render aquem ia a.enas entreg:-lo à "nquisi+ão' ?e tentassem .eg:-lo, tal#e/ sua es.adaconseguisse mant-lo em liberdade ou, se %osse morto, .elo menos teria uma morte melhordo que nas chamas'Bas um dos soldados a.enas se inclinou res.eitosamente'  - ?enor Callic, o alg*a/il .ede que nos acom.anhe imediatamente até a .risão de ?arago+a, onde estão .recisando de um .ro%issionalcomo o senhor'  - or que estão .recisando - <onah .erguntou, não de todo con#encido'  -; @0"B; DE6D 2QO  - Dm udeu tentou cortar o .au - disse cruamente o soldado e seucom.anheiro aba%ou o riso'- ual é o nome do udeu- Martolomé'  0e#e a sensa+ão de ser atingido .or um gol.e quase %!sico' embrou-se da bela casa, dohomem aristocr:tico que con#ersara com tanta inteligncia no escritrio elegante, cheio degr:%icos e ma.as'- Eom Merenguer Martolomé ; cartgra%o  ; soldado deu de ombros, mas seu .arceiro abanou a cabe+a e cus.iu'- 6le mesmo - disse' 7a .risão ha#ia um .adre o#em, de batina .reta, sentado atr:s de uma mesa, .ro#a#elmente encarregado de anotar os nomes de todos os que entrassem .ara #er os .risioneiros'- 0rouemos o médico - disse o soldado'; .adre abanou a cabe+a'  - Eom Merenguer Martolomé quebrou o co.o onde bebia :gua eusou um caco .ara se circuncidar - ele disse a <onah, %a/endo sinal .ara o guarda destrancar a .orta de %erro' ; guarda condu/iu <onah .or um corredor até a cela onde Merenguer a/ia no chão' Ee.ois abriu

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a .orta da cela .ara <onah entrar e trancou-o l: dentro'  - uando esti#er .ronto .ara sair, é s gritar que eu #enho abrir a .orta - disse o guarda se a%astando'  A cal+a de Merenguer esta#a engomada de sangue' Dm dom, um descendente de homenscom o t!tulo de dom, <onah .ensou, um homem distinto cuo a#` ma.eara o litoral da

6s.anha' Ca!do no chão da cela, ele %edia a sangue e urina'- ?into muito, dom Merenguer'  Merenguer abanou a cabe+a e gemeu quando <onah lhe arriou a cal+a'  <onah tra/ia sem.re um %rasco de bebida %orte na bolsa médica' Merenguer .egou-a coma#ide/ e, sem .recisar de qualquer est!mulo, tomou-a quase de uma #e/'  ; estado do .nis era .éssimo' Merenguer cortara a maior .arte do .re.*cio, mas algumacoisa %icara e as incises tinham sido %eitas de qualquer maneira' <onah achou incr!#el queMerenguer ti#esse conseguido chegar até aquele .onto usando a.enas um caco a%iado' ?abiaque a dor era muito %orte e lamenta#a ter de aument:-la mas, .egando um bisturi, a.arou otecido dilacerado, com.letando a circuncisão' 2 QN

 7;A= );RE;7

Ca!do no chão, Merenguer gemia, sugando o resto da bebida como i crian+a sedenta'  ; .ior : ha#ia .assado, mas ele continuou o%egante enquant <onah a.licou uma .omada .ara ali#iar a dor e .`s uma atadura %inal  - 7ão #ista a cal+a' ?e ti#er %rio, .ode se cobrir, mas .rotea o %erimento com as duas mãos .ara o cobertor não encostar'6les se olharam'- or que %e/ isto - <onah .erguntou' - ara que isto ser#iu- ; senhor não com.reenderia - disse Merenguer'<onah sus.irou e abanou a cabe+a'  - &olto amanhã se me derem .ermissão' osso audar em maisalguma coisa- ?e .udesse le#ar umas %rutas .ara minha mãe'''  - Eona ?ancha Merga est: aqui - <onah .erguntou num tor chocado'Merenguer abanou a cabe+a'  - 0odos ns' Binha mãe, minha irmã Bnica e o marido Andrése meu irmão )eraldo'  - arei o que .uder' - Atordoado, <onah chamou o guarda .arasair da cela'  7o saguão de entrada, antes que ti#esse tem.o de .erguntar sobr a condi+ão dos outrosmembros da %am!lia Martolomé, o .adre .ergun- tou se ele não .oderia eaminar dona?ancha Merga'  - 6la tem etrema necessidade de um médico' - ; .adre .areciaum homem decente, constrangido com o que #ia'  <onah %oi condu/ido até a cela de dona ?ancha, onde encontrou ai idosa, mas belamulher, como uma %lor murcha' Com olhos arregala-1 dos, ela olha#a sem #er, e <onah

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 .ercebeu que as cataratas tinharal amadurecido' ; desen#ol#imento era quase su%iciente .ara .ermitir uma cirurgia, mas ele sabia que nunca o.eraria aqueles olhos'- ?ou Callic, sehora, o médico - disse em #o/ baia'- 6stou''' machucada, senor'- Como se machucou

- Be colocaram na roda',, <onah .`de #er que a tortura deslocara seu ombro direito' 0e#e dei chamar o guarda .araaud:-lo a .`r o ombro no lugar enquanto Eono$ ?ancha da#a gritos agudos' Ee.ois disso,ela não conseguia mais .arar } de chorar'- ; ombro não melhorou, sehoral- Até meus %ilhos queridos eu acusei'-; @0"B; DE6D 2QQ \ Como ela est: - o .adre .erguntou'  - ( uma senhora idosa, de ossos %racos, quebradi+os' Com certe/atem %raturas m*lti.las - disse <onah' - Acho que est: morrendo'6le saiu da .risão e, deses.erado, #oltou .ara casa'Ao #oltar no dia seguinte, tra/endo uma boa quantidade de .assas, t3maras e %igos,encontrou dom Merenguer sentindo ainda muitasdores'- Como est: minha mãe- 6stou %a/endo o que .osso'- 6u lhe agrade+o'- Como uma coisa dessas .`de acontecer - .erguntou <onah'  - ?omos cristãos-#elhos e sem.re declaramos isso' Beu .ai temuma %am!lia catlica muito antiga' ;s .ais de minha mãe eram udeuscon#ertidos e ela %oi criada res.eitando certos rituais ino%ensi#os queacabaram se tornando h:bito de toda a %am!lia' 6la nos conta#a histrias de sua u#entude e sem.re acendia #elas ao cre.*sculo das setas-%eiras' 7ão sei .or qu, tal#e/ em memria dos que .artiram' 0ambémgosta#a de reunir os %ilhos toda noite de seta .ara um %arto antar'=a#ia .reces de agradecimento .ela comida e .elo #inho'<onah abanou a cabe+a'  - Alguém a denunciou - disse Merenguer' - 6la não tinha inimigos,mas''' recentemente des.edira uma criada que #i#ia se embriagando' ( .oss!#el que a mo+a, que era co.eira, sea a %onte dos .roblemas' 0i#ede ou#ir os gritos de minha mãe sendo torturada' ode imaginar o hor ror Bais tarde %ui in%ormado .elos interrogadores que nossa mãe aca bou im.licando todos ns, meus irmãos e irmãs, mesmo a memria denosso .ai, num com.l` udai/ante'6le continuouI  - ercebi, então, que todos ns est:#amos .erdidos' ;s membrosde nossa %am!lia sem.re se reconheceram como cristãos-#elhos' Bastemos uma .arte udia' Como se não .udéssemos ser .lenamente catlicos, como se #i#ssemos à deri#a entre dois .ortos' 6m meu deses.ero, achei que se #ou ser queimado no .oste como udeu, de#ia com.arecer como udeu diante do meu criador' oi .or isso que quebrei o

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co.o e me cortei com um dos .eda+os'6le concluiu re.etindo o que : dissera na noite anteriorI- ?ei que o senhor não .ode com.reender'  - 6st: enganado, dom Merenguer - disse <onah' - 6u com.reendomuito bem'

  -2QU 7;A= );RE;7uando esta#a deiando a .risão, <onah ou#iu a #o/ de um guarda- 6st: bem, .adre 6s.ina - di/ia o homem'<onah se #irou'- 6le o chamou de 6s.ina, .adre- ( o meu nome'- osso .erguntar o nome com.leto- rancisco Ri#era de "a 6s.ina'- 6 o nome de sua mãe não seria 6strella de Aranda

  - ?im, 6strella de Aranda %oi minha mãe' ( %alecida e .e+o a Eeus .or sua alma' - 6le %irmou os olhos' - ?er: que o conhe+o, seno%'- 7ão nasceu em 0oledo- ?im - o .adre res.ondeu com relut3ncia'- 0enho uma coisa que lhe .ertence - disse <onah'-_ CA0D; VO DB E6&6R CDBR"E;uando <onah chegou à .risão com o bre#i:rio, o o#em .adre condu/iu-o .or um *midocorredor de .edra até um cub!culo onde .uderam se sentar sem serem obser#ados' 6s.ina .egou o bre#i:rio como se esti#esse recebendo um obeto encantado' <onah #iu-o abrir oli#ro e ler o que esta#a escrito atr:s da ca.a'  ara meu %ilho rancisco Ri#era de "a 6s.ina, estas .ala#ras de .rece di:ria .ara esusCristo, nosso di#ino ?al#ador, com o amor im.erec!#el de seu .ai sobre a terra' Mernardode "a 6s.ina'- ue estranho sentimento de um herege condenado- ?eu .ai não era um herege'  - Beu .ai era um herege, senor, e .or isso %oi queimado no .oste'6m Ciudad Real' Aconteceu quando eu era menino, mas me contaram'6stou a .ar da histria'  - 6ntão recebeu in%orma+es erradas e incom.letas, .adre 6s.ina'6u me encontra#a em Ciudad Real' i/ contato di:rio com seu .ai nosdias que .recederam o auto' uando o conheci, eu era a.enas um ra.a/e ele um homem maduro, um médico muito com.etente, dedicado' s#és.eras da morte, e sem a .resen+a de nenhum amigo, .ediu-me quetentasse encontrar o menino que era seu %ilho, a quem de#ia entregar o bre#i:rio' or onde .assei, durante meus muitos anos de #iagem, sem .re .rocurei o senhor'- 0em certe/a do que acabou de me di/er  - Absoluta' ?eu .ai esta#a inocente das acusa+es .elas quais %oimorto'

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  - 0em isso .or absolutamente #erdadeiro - insistiu o .adre em#o/ baia'  - ?em a menor d*#ida, .adre 6s.ina' 6ra deste li#ro que ele tira#asuas ora+es di:rias e %oi este o li#ro que usou até o momento da eecu+ão' uando o dedicou ao senhor, esta#a lhe deiando sua %é'

0al#e/ o .adre 6s.ina esti#esse acostumado a controlar as emo- %oi tra!do .ela .alide/'2UG 7;A= );RE;7  - ui criado .ela "grea e meu .ai %oi a #ergonha de minha #ida'Binha cara tem sido es%regada em sua su.osta a.ostasia' ( como sees%regassem o %ocinho de um cachorro na urina .ara ele não re.etir'  7ão era muito .arecido com o .ai, <onah .ensou, mas tinha os olhos de Mernardo de "a6s.ina'  - ?eu .ai %oi decididamente o cristão mais de#oto que conheci -disse ele' - Dm dos melhores homens que encontrei'?entaram-se e con#ersaram .or muito tem.o, as #o/es baias, mas %irmes' ; .adre 6s.inadisse que, a.s a morte do .ai na %ogueira, sua mãe, 6strella de Aranda, entrara .ara oCon#ento de "a ?anta Cru/, entregando os trs %ilhos à caridade de di%erentes %am!lias de .rimos em 6scalona' Dm ano de.ois : tinha morrido de uma %ebre maligna' uando ele%e/ de/ anos, os .arentes entregaram-no aos dominicanos' As duas irmãs, Barta e Eomitila,#iraram %reiras, desa.arecendo no #asto mundo da "grea'  - A *ltima #e/ que #i as duas %oi na casa de nossos .rimos em5I 6scalona' 7ão sei do .aradeiro de Eomitila, nem mesmo sei se aindag est: #i#a' ?oube h: dois anos que Barta est: num con#ento em Badri'tJ )ostaria muito de #isit:-la'%tW' <onah %alou um .ouco de si' Contou como %ora ser#ente na .risão #W de Ciudad Real, como de.ois %ora a.rendi/ de um armeiro chamado?0 Banuel ierro e em seguida de um médico, 7u%io ierro' Contou queacabara %icando como médico em ?arago+a'  =a#ia coisas, é claro, que deia#a em silncio, mas sentia que também o o#em .adre6s.ina se mantinha muito reticente sobre certos assuntos' <onah .ercebeu que ele %oradesignado a.enas tem.orariamente .ara o gabinete da "nquisi+ão, e que não tinha muitoest`mago .ara tal incumbncia'0inha sido ordenado h: oito meses'  - 6m alguns dias saio daqui - disse o .adre' - Dm de meus .ro%essores, o .adre 6nrique ?agasta, %oi nomeado bis.o auiliar de 0oledoe conseguiu me colocar como seu assistente' ( um destacado estudioso, um historiador catlico, e est: me estimulando a seguir os seus .assos' Acho que #ou come+ar um a.rendi/ado, assim como o senhor'- ?eu .ai %icaria orgulhoso, .adre 6s.ina'- 7ão sei como lhe agradecer, senor, .or ter me de#ol#ido um .ai'- or que não me deia #oltar amanhã .ara #isitar meus .acientes; .adre esta#a #isi#elmente constrangido' <onah .ercebeu que elenão queria .arecer ingrato, mas tinha medo de en%rentar .roblemas se

; @0"B; DE6D

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2U1

  - ode #ir de manhã' Bas escute bemI com toda a certe/a, ser: a*ltima #isita que .oder: %a/er'Ao chegar na manhã seguinte, <onah soube que dona ?ancha Merga morrera durante a

noite'Eom Merenguer recebeu estoicamente a not!cia da morte da mãe'- 6stou satis%eito .or ela agora estar li#re - disse'  7aquela manhã, cada membro da %am!lia %ora noti%icado da acusa+ão %ormal de heresia eda eecu+ão, em %uturo .rimo, num auto-de-%é' <onah .ercebeu que não ha#ia mododelicado de abordar o que sobrecarrega#a seu es.!rito'- A %ogueira, dom Merenguer, é a .ior maneira de se morrer'6ntre eles lam.eou a ideia comum da dor lancinante, terr!#el, e dacarne tostando, do sangue %er#endo'- or que est: me di/endo uma coisa tão cruel Acha que eu não sei- =: um modo de esca.ar' ode se reconciliar com a "grea'Merenguer o encarou, ulgando #er em seus olhos, .ela .rimeira#e/, uma es.écie de com.lacncia catlica'  - ?er: que .osso mesmo me reconciliar, senorl - .erguntou %riamente' - ( tarde demais, não é A senten+a : %oi .ro%erida'  - ( tarde demais .ara sal#ar sua #ida, mas não .ara com.rar um%im r:.ido atra#és do garrote'  - Acha que cortei minha carne .or um ca.richo ocioso Acha quequis me com.rometer com a antiga %é de minha mãe .ara logo renunciar a ela 7ão lhe disse que esta#a determinado a morrer como udeu  - ; senhor .ode morrer intimamente como udeu' Bas acho quede#e se li#rar da %ogueira, di/endo que se arre.ende' ?er:, sem d*#ida, .ara sem.re udeu, .ois .ela lei udaica a consagra+ão na %é .assa demãe .ara %ilho' ?e sua mãe nasceu de mãe udia, o mesmo aconteceucom o senhor' 7enhuma declara+ão #ai alterar esse %ato' ela antiga leide Boisés, o senhor é udeu' ? que, ao recitar o que eles estão ansiosos .ara ou#ir, ganhar: um estrangulamento r:.ido, e#itando a torturade uma morte lenta, horr!#el'Merenguer %echou os olhos'  - ( uma co#ardia que #ai me .ri#ar de um momento nobre, que #aime roubar a satis%a+ão de morrer sem cur#ar a cabe+a'  - 7ão é co#ardia' A maioria dos rabinos concorda que não é .ecado aceitar a con#ersão na .onta de uma es.ada'- ; que o senhor sabe de rabinos e da lei de Boisés - Merenguer -2U2

 7;A= );RE;7

o encarou e <onah #iu a .erce.+ão que se mani%esta#a naqueles olhos' - Beu Eeus- ode entrar em contato com os outros da %am!lia  - s #e/es somos le#ados à mesma hora .ara %a/er eerc!cio no

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 .:tio e d: .ara trocar algumas .ala#ras'  - Eiga .ara aceitarem esus, obtendo assim a misericrdia de um%inal mais r:.ido'  - Bnica, minha irmã, e o marido Andrés são cristãos .raticantes'Bas #ou a#isar o meu irmão )eraldo .ara ele %a/er o que o senhor est:

sugerindo'  - 7ão #ão me dar .ermissão .ara #oltar aqui' - 6le se a.roimoude Merenguer, abra+ou-o e beiou-o nos dois lados do rosto'  - ue .ossamos nos encontrar num lugar mais %eli/ - disse domMerenguer' - &: em .a/'- ue a .a/ %ique con#osco - disse <onah, chamando o guarda' 7a noite daquela quarta-%eira, no meio de um ogo de damas que o médico esta#aganhando, %rade Monestruca se a%astou do tabuleiro e come+ou a .ular na %rente dos %ilhos'or um instante, %oi engra+ado' a/ia caretas, di/ia u.a-u.a, da#a risadinhas saltando deum lado .ara o outro' As crian+as riam, a.onta#am' Eionisio correu .ara o .ai, ogandouma bolinha de madeira em sua dire+ão'  ; %rade continua#a .ulando, mas o sorriso %oi desa.arecendo e os u.as %oram %icandocada #e/ mais roucos, embora ele não .arasse' Ea! a .ouco, no entanto, seu rosto %icou#ermelho de es%or+o5 de.ois roo, amargurado' 6 enquanto o cor.o .esadão rodo.ia#acomo num carrossel, enquanto a batina .reta ondula#a, seu rosto se contorceu de rai#a'  As crian+as %icaram caladas, com medo' 6 sa!ram de .erto dele, arregalando os olhos,=ortnsia de boca aberta como num grito mudo' Bana uana, a mãe, %alou baiinho comelas e tirou-as do escritrio' <onah também te#e #ontade de ir embora, mas não .odia'?entado à mesa, #iu a terr!#el dan+a ir cessando aos .oucos' uando %inalmente .arou,Monestruca caiu eausto de oelhos'  ouco de.ois Baria uana #oltou, enugou o rosto do %rade com um .ano *mido e saiu deno#o, desta #e/ .ara retornar com #inho' Monestruca tomou dois co.os5 de.ois deiou amulher aud:-lo a sentar-se'Eemorou um .ouco .ara erguer os olhos'- s #e/es tenho desses acessos'- ?ei como é - disse <onah'-; @0"B; DE6D

2UV

- ?abe 6 o que é que o senhor sabe- 7ada' oi s uma maneira de %alar'  - : me aconteceu na com.anhia dos .adres e %rades com quem%a+o meu ser#i+o' 6stão me #igiando'  <onah se .erguntou se a #igil3ncia não #iria a.enas da imagina+ão do homem doente'- Be seguiram até aqui' ?abem de Baria uana e das crian+as'ro#a#elmente era #erdade, .ensou <onah'- ; que eles #ão %a/erMonestruca sacudiu os ombros'  - Acho que estão es.erando .ara #er se os acessos .assam' -ran/iu a testa' - ; que acha que est: causando isso

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  6ra uma %orma de loucura' oi o que <onah .ensou, e o que não .`de di/er' Dm dia,quando con#ersa#a com 7uno sobre insanidade, o #elho médico con%idenciara que ha#iaobser#ado certas constantes no histrico de alguns .acientes insanos' ; %ato comum eraterem contra!do malum #enereum na mocidade e terem enlouquecido anos de.ois' 7unonão %ormulara qualquer teoria a .artir dessa constata+ão, mas achou que #alia a .ena

coment:-la com seu a.rendi/'- 7ão tenho certe/a, mas''' tal#e/ tenha rela+ão com a s!%ilis'  - A s!%ilis, não me diga 6st: errado, doutor, .ois h: muito tem.onão a.resento qualquer sintoma da s!%ilis Acho que é ?atã, que #ematentar contra minha alma' orque é tare%a ingrata combater o demnio, embora eu sem.re tenha conseguido recha+:-lo'  <onah não soube o que di/er, mas %oi sal#o .elas .edras do tabuleiro, que reclamaram aaten+ão de Monestruca' 6le .erguntouI- 6ram os seus soldados ou os meus que ataca#am- 6ra a sua #e/, senor'  <onah %icara transtornado, ogando mal o resto da noite' Monestruca .arecia de cabe+a%resca, mente clara' e/ a .artida terminar ra.idamente e %icou muito animado e contentecom a #itria'A.esar da ad#ertncia do .adre 6s.ina, <onah %oi à .risão no dia seguinte e tentou %alarcom dom Merenguer' 7o lugar de 6s.ina ha#ia um .adre mais #elho' ; homem o olhou elimitou-se a sacudir a cabe+a, mandando-o embora'  ; auto-de-%é %oi reali/ado seis dias de.ois' 7a manhã das eecu+es, o médico Callic#iaou .ara bem longe de ?arago+a' oi #isitar .acientes nos con%ins do distrito, uma ornada que o obrigaria a %icar alguns dias a%astado de casa' 2U4

 7;A= );RE;7

  Achou que .odia ter %alado demais' Achou que, sob tortura, Merenguer .oderia terre#elado a .resen+a e a identidade de outro udeu clandestino' "sto, .orém, não aconteceu'uando <onah #oltou a ] ?arago+a, alguns .acientes se a.ressaram a descre#er os detalhesdo auto-de-%é, que como sem.re ti#era bom .*blico' 0odos os membros da %am!lia do udeuMartolomé ha#iam morrido em estado de gra+a, beiando a cru/ sus.ensa na %rente dosl:bios, estrangulados, antes do %ogo, .or r:.idas rota+es do .ara%uso que a.erta#a ogarrote de a+o' _ CA0D; VN _f;);? E6 EABA? 7a .rima #e/ que %oi à grana na beira do rio .ara outra noite de ogos de damas, <onah .ercebeu que o olho esquerdo de Baria uana esta#a inchado e que, embaio dele, cobrindoquase toda a %ace, ha#ia uma grande e recente mancha escura' 0ambém #iu as contuses no bra+o da menininha chamada =ortnsia'  ; %rade cum.rimentou-o com um mo#imento da cabe+a e .ouco %alou' arecia tãoconcentrado no ogo que, a.s meia d*/ia de mo#imentos, ganhou a .artida inicial' 6mcom.ensa+ão, durante o segundo ogo, mostrou-se emburrado e ogou muito mal' ogo%icou claro que ia .erder'

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  uando ilomena, o bebé, come+ou a gritar, Monestruca se le#antou de um salto'- uero silnciol  Baria uana .egou as crian+as, le#ando-as ra.idamente .ara outro cmodo' ;s doishomens continuaram ogando e s o bater das .edras no tabuleiro quebra#a o silncio'  ouco de.ois, durante a terceira .artida, Baria uana a.areceu .ara ser#ir um .rato de

t3maras e encher os co.os de #inho'  Monestruca acom.anhou-a sombriamente com o olhar até ela sair' Ee.ois encarou <onah'- ;nde morauando <onah res.ondeu, o %rade abanou a cabe+a'- ( onde #amos ogar na semana que #em' A ideia lhe agrada- ?im, é claro'A ideia %oi menos do que agrad:#el .ara ReJna, que reconheceu o #isitante assim que elea.areceu na .orta da %rente' 0odos em ?arago+a conheciam o %rade e sabiam quem ele era'  ReJna o introdu/iu na casa e mandou-o sentar-se' Ee.ois %oi anunci:-lo a <onah' Aoser#ir os dois de #inho e .etiscos, mantinha os olhos baios, retirando-se o mais de.ressa .oss!#el' 2UN

 7;A= );RE;7

  6ra b#io que esta#a assustada #endo <onah ogando com Mo-nestruca' 7o dia seguinte,o médico #iu o es.anto em seu rosto, embora ela não tenha %eito .erguntas' ReJna nuncadeiara a menor d*#ida " sobre o modo como encara#a a rela+ão que tinha com <onah'?abia " que a casa era dele, uma casa onde seria sem.re, ecluindo os momentos em que osdois .assa#am na cama, a.enas uma criada' Dma semana de.ois, ReJna saiu e %icou trsdias na cidade' Ao #oltar, in%ormou que com.rara uma casa e que deiaria o em.rego'- uando - <onah .erguntou com ar abatido'- 7ão sei, mas não #ai demorar'- 6 .or que isso  - uero ter minha .r.ria casa' elos .adres da minha aldeia, o dinheiro que 7uno me deiou trans%ormou-me numa .essoa muito ]rica'- &ou sentir bastante a sua %alta - ele disse com sinceridade'  - 7em tanto assim' ara #oc, sou a.enas um utens!lio' - ReJnaergueu a mão quando ele come+ou a .rotestar' - 0enho idade, <onah, .ara ser sua mãe' )osto quando estamos na cama, mas na maioria das#e/es #eo #oc como um %ilho ou um sobrinho .or quem me a%ei+oei, ediu-lhe que não %icasse aborrecido'  - &ou lhe mandar uma mo+a %orte .ara %icar em meu lugar' Dmamo+a o#em, uma boa criada'Ee/ dias de.ois chegou uma carro+a à casa de <onah' ; ra.a/ que ai condu/ia audouReJna a carregar suas coisas' ;s .ertences que ela acumulara trabalhando .ara trs .atrescouberam %acilmente na .equena carro+a'- 0em certe/a, ReJna, de que é isso o que quer

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  ela .rimeira e *nica #e/, ela rom.eu a con#en+ão .atrão-em-l .regada sob a qual tinham#i#ido' 6sticando o bra+o, encostou a .almai quente da mão no rosto de <onah' ; olhar quelhe dis.ensou mostra#a ternura e res.eito, mas tinha também um indis%ar+:#el adeus'  6 de.ois que ela .artiu, um silncio tomou conta de tudo, deian-] do <onah com asensa+ão de #i#er numa casa abandonada'

6le : tinha esquecido o gosto amargo da solidão e, .or não quer-> de #olta, atirou-se%uriosamente ao trabalho, atendendo .acientes en locais cada #e/ mais distantes,demorando-se nas casas .ara ter mai alguns minutos de contato humano' assou também adiscutir demora damente com #endeiros sobre o andamento dos negcios ou a con#er 

; @0"B; DE6D 2UQsar com graneiros sobre as colheitas' odou mais uma d*/ia de #elhas oli#eiras e %icoumais tem.o tradu/indo A#icena5 : tradu/ira a maior .arte do C3non de medicina, %ato queo entusiasma#a, que o estimula#a a .rosseguir'  iel à sua .ala#ra, ReJna mandou uma mo+a, chamada Carla ?antella, .ara ser#i-lo comocriada' 6ra uma mo+a atarracada, que trabalha#a sem reclamar e mantinha a casa lim.a,mas que nunca %ala#a' Além disso, <onah não gosta#a de sua comida' A.s algumassemanas, mandou-a embora' ReJna, então, en#iou etronila ?al#a .ara substitu!-la' Dma#i*#a com muitas #errugas que co/inha#a bem, mas que o incomodou %alando demais'<onah s %icou quatro dias com ela'Ee.ois disso ReJna não mandou mais ninguém'6le esta#a come+ando a temer as batalhas que tra#a#a semanalmente com Monestruca notabuleiro de damas' 7unca sabia quando o %rade ia se com.ortar como um o.onente brilhante ou como um homem de mau génio, alguém que .arecia estar .erdendora.idamente a ra/ão, o equil!brio'  7uma noite de quarta-%eira, ao ir ogar outra #e/ na grana do .adre, %oi ner#osamenterecebido .or Baria uana, que logo o introdu/iu no escritrio' Monestruca esta#a sentadodiante da mesa, onde não ha#ia mais um tabuleiro de damas e sim um li#ro aberto'?egurando um .equeno es.elho, o %rade eamina#a o rosto'  or um instante nem reagiu ao cum.rimento de <onah' Ee.ois %alou sem tirar os olhos does.elhoI- & o diabo quando me olha- &eo um bom rosto - disse <onah escolhendo cada .ala#ra'- Dm rosto de belos tra+os, é isso- Dm rosto dos melhores'- A %isionomia de um usto  - Dma %isionomia que tem .ermanecido incri#elmente inocente einalterada atra#és dos anos'  - Conhece A di#ina comédia, um .oema com.rido escrito .or um%lorentino chamado Eante Alighieri- 7ão, sehor'- Dma .ena'6le #irou os olhos .ara <onah'  - A .rimeira .arte do .oema, que se chama "n%erno, é o retrato deum monstro de%ormado, re.elente, nas .ro%unde/as do in%erno' 2UU

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 7;A= );RE;7

<onah não sabia o que di/er'- ; .oeta %lorentino morrera h: muito tem.o, não

  - ?im''' ele est: morto''' - Monestruca continuou a es.reitar oes.elho'  - 7ão é melhor .egar o tabuleiro e arrumar as .edras - <onahsugeriu, dando um .asso à %rente e re.arando .ela .rimeira #e/ nascostas do .equeno es.elho' 6sta#a muito manchado, mas era de .rata'6 .`de #er, unto do cabo, a marca incon%und!#el do ouri#esI =0'ercebeu, então, que era um dos es.elhos que o .ai %i/era .ara o conde de 0embleque'  - rei Monestruca - disse, achando que sua #o/ adquirira uma tensão que .oderia tra!-lo' ; .adre, no entanto, certamente nem o ou#ira'?eu olhar a.arecia no es.elho, mas sem dire+ão, como o olhar de umcego ou de alguém dormindo de olhos abertos'  <onah %oi inca.a/ de resistir à temeridade de eaminar um obeto " %eito .elo .ai, mas aotentar .u:-lo descobriu como as mãos do %rade esta#am irremo#!#eis' or um instante, %e/%or+a .ara se a.oderar do es.elho, mas logo lhe ocorreu que Monestruca .odia muito bemestar a.enas se %a/endo .assar .or louco' Aterrori/ado, deu meia-#olta e caminhou .ara a .orta'  - ?enor - disse Baria uana quando ele saiu do escritrio, mas<onah, .erturbado, .assou .or ela sem res.onder e %ugiu da grana' 7a tarde do dia seguinte, ao #oltar das #isitas aos .acientes, encontrou Baria uana à suaes.era unto do celeiro' 6sta#a com o bebé no colo, tentando abrig:-lo na sombra do umento que a le#ara até l:'  <onah .erguntou se ela queria entrar, mas Baria recusou, di/endo que tinha de #oltarde.ressa .or causa das outras crian+as'- ; que #ai ser %eito dele  <onah s .`de sacudir a cabe+a' 7a realidade, sentia muita .ena de Baria uana'Conseguia imaginar a mo+a assustada e bonita que ela tinha sido' ?er: que Monestrucaconseguira a.a/iguar seus medos e sedu/i-la ;u a teria sim.lesmente %or+ado 0eria sidouma le#iana que achara muito di#ertido deitar com um clérigo tão esquisito, uma tolainca.a/ de imaginar o ti.o de eistncia que esta#a se abrindo .ara ela  - uando o conheci, ele me batia' icou anos sem %a/er isso deno#o, mas agora, a cada dia que .assa, est: mais desequilibrado'- uando a coisa come+ou-; @0"B; DE6D 2U9  - Come+ou h: alguns anos e %oi sem.re .iorando - disse ela' - ;que causa isso  - 7ão sei' 0al#e/ haa alguma rela+ão com a s!%ilis que contraiuquando era mo+o'- Bas h: muito tem.o ele não sentia nada'- 6u sei, mas a doen+a é assim' 0al#e/ s agora estea retornando'- 6 não tem remédio

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  - 7a #erdade, senora, não .osso lhe di/er .raticamente nada sobredesequil!brio mental, nem tenho qualquer colega mais ca.a/ do que eunessa :rea' ara ns, médicos, a loucura continua sendo mistério,magia' uanto tem.o, ontem à noite, ele %icou .arado segurando oes.elho

  - Buito tem.o, até quase meia-noite' Eei-lhe #inho quente'Ee.ois de beber, caiu na cama e dormiu'  <onah dormira muito .ouco naquela noite, .orque %icara lendo até tarde, à lu/ de #elas,sobre o tema da insanidade' 7o ano anterior, acrescentara à biblioteca médica que herdarade 7uno um tratado intitulado Ee .arte o.erati#a' 7este li#ro, que lhe custara o ganho dedois meses, Arnau de &ilano#a escre#era que as manias ocorrem quando umasu.erabund3ncia de b!lis se resseca no cor.o, aquecendo o cérebro e resultando emagita+ão, alarido e agressão'  - uando o %rade %icar''' ner#oso, d-lhe uma in%usão de tamarindo e borragem, sem.re em :gua %resca'  ara momentos como os da #és.era, quando Monestruca entrara quase num estado deletargia - &ilano#a di/ia que os %ranceses chama#am tais e.isdios de %olie .aral!tica,A#icena a%irma#a que o .aciente de#ia ser aquecido, .or isso <onah receitara um . de .imenta-do-reino .ara ser misturado ao #inho quente'Baria uana .arecia deses.erada'  - 6le #em agindo realmente de modo estranho' ode cometer atos''' im.rudentes' 0enho muito medo do nosso %uturo'  ?eria uma dura .ro#a+ão .ara qualquer mulher estar tão intimamente ligada a oren/o deMonestruca' 0ambém seria duro .ara os %ilhos' <onah .assou a receita e mandou-a com.raros medicamentos na loa de %rei Bedina' ouco de.ois, enquanto tira#a a sela do ca#alo,#iu o umento le#:-la embora'?ua #ontade era %icar #:rios dias sem a.arecer na grana à beira do rio, mas, com medo doque .oderia acontecer a Baria uana e às crian+as, %oi l: na manhã seguinte'

29G 7;A= );RE;7  6ncontrou Monestruca sentado .assi#amente no quarto dos %undos da casa' Baria disseem sussurros que ele tinha chorado' ; %rade mo#eu a cabe+a res.ondendo ao cum.rimentode <onah'- Como est: se sentindo hoe, %rei Monestruca- 7ada bem' 6 o coco que eu %a+o me queima como %ogo'- ( o e%eito do tnico que receitei' A sensa+ão #ai desa.arecer'- uem é o senhor- ?ou Callic, o médico, não se lembra- 7ão'- 6 do seu .ai, o senhor se lembraMonestruca o encarou'

  - 7em da sua mãe 0udo bem, não im.orta, #ai acabar se lembrando deles' Acho que est: triste, não é- ( claro que estou triste' Andei a #ida inteira assim'- or que ra/ão- orque 6le %oi morto'

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  - ( um bom moti#o .ara estar triste' 6 quem sabe também não setenha a%ligido .or outros que morreram; %rade olhou-o, mas não res.ondeu'- 6st: lembrado de 0oledo-0oledo, é'''

  - ?e lembra da la/a BaJor Ea catedral Eos rochedos na beirado rioMonestruca o contem.la#a em silncio'- 7ão est: lembrado daquela ca#algada à noiteContinua#a o silncio'- 7ão se lembra - <onah re.etiu' - Com quem saiu naquela noite]Monestruca o contem.la#a'- uem %oi seu .arceiro quando saiu naquela noite; quarto esta#a silencioso' ; tem.o .assa#a'- ; conde - disse Monestruca'- &asca - re.etiu <onah, embora ti#esse ou#ido claramente'Monestruca tornou a mergulhar no silncio'  - 7ão est: se lembrando do garoto que le#a#a o cibrio .ara omosteiro ; garoto que %oi assaltado e morto no cam.o de oli#eiras  Monestruca #irou a cabe+a' 6sta#a %alando so/inho, %alando tão baio que <onah te#e dese inclinar .ara ou#ir'- 6stão .or todo lado, os udeus' Balditos seam'

; @0"B; DE6D 291 7o dia seguinte, Baria uana %oi so/inha à casa de <onah' Chegou quase descontrolada,montada no umento que mostra#a sinais de ter sido chicoteado'  - 6le %oi le#ado .ara a .risão menor, onde %icam os loucos e osindigentes'  6.licou que deiara as crian+as com uma mo+a da #i/inhan+a, e <onah mandou-a #oltar .ara unto dos %ilhos'  - &ou até a .risão .ara #er o que .osso %a/er - disse ele, #irando-se de imediato .ara selar o ca#alo no est:bulo'  A .risão de loucos e indigentes tinha a re.uta+ão de %ornecer uma comida etremamentem: e em quantidade m!nima, .or isso ele .arou no caminho .ara com.rar duas broas de .ãoe dois .eda+os de queio de cabra' uando chegou à .risão sentiu um a.erto no cora+ão, .ois o lugar a%ronta#a todos os sentidos' Antes mesmo de .assar sob a .orta de %erro que seele#ara .ara dei:-lo entrar, sentiu o tremendo %edor, onde se mistura#am %e/es e outrasimund!cies' ; cheiro agita#a suas entranhas, enquanto a caco%onia de gritos e urros,maldi+es e .ala#res, lamentos e risos, ora+es e cochichos contribu!am .ara %ormar um*nico e grande rumor, como a%luentes desaguando no ronco de um grande rio - o som dacasa de loucos'  A "nquisi+ão não se interessa#a .or aquele lugar e bastou <onah dar uma moeda aoguarda .ara %icar autori/ado a #er o .risioneiro'- uero %alar com %rei Monestruca'  - Mem, ter: de encontr:-lo entre esse monte de gente - disse oguarda' 6ra um homem de meia-idade com olhos ine.ressi#os e orosto .:lido, marcado .ela #ar!ola' - ?e me der a comida, tento %a/-la

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chegar até ele' &ai des.erdi+:-la se quiser entregar diretamente' ;soutros se ogam em cima e tiram tudo'  ; homem %ulminou-o com o olhar quando ele abanou negati#amente a cabe+a'  7ão ha#ia celas, s um muro com as mesmas grades %ortes do .ortão de entrada' Ee umlado esta#am o guarda e <onah5 do outro, ha#ia um grande es.a+o aberto, o mundo

habitado .elas almas .erdidas'  <onah .arou unto às grades, contem.lando a enorme aula de cor.os' 7ão .odiadistinguir os indigentes, .ois todos .areciam loucos'  inalmente descobriu o %rade' 6sta#a sentado no chão de terra, quase encostado no murodos %undos'- rei Monestruca)ritou #:rias #e/es o nome dele, mas sua #o/ se .erdia na grande

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con%usão' ; %rade não le#antou a cabe+a, mas os gritos de <onah atra!-l ram a aten+ão deum homem es%arra.ado, que olhou %aminto .ara osl .ães' <onah tirou um .eda+o de umadas broas e atirou-o .ela grade 1 onde ele %oi ra.idamente agarrado e de#orado'- 0raga o %rade - disse <onah, a.ontando - e ter: metade da broa' "; homem obedeceu de imediato, conseguindo colocar Monestrucalde .é e carregando-o .ara .erto do #isitante que es.era#a do outro lado " das grades' <onahentregou a metade da broa que tinha .rometido, mas i o sueito continuou .arado, de olhonas outras .ro#ises que ha#ia nas " mãos do médico'Dma consider:#el multidão de .risioneiros se reunira ali'  7ão %oi de todo #a/io o olhar que %rei Monestruca atirou a <onah' " =a#ia uma certainteligncia, uma certa conscincia e algum sentimen- to de horror' Bas o %rade não .arecia o estar reconhecendo'  - ?ou Callic - disse <onah' - 7ão est: lembrado de RamnCallic, o médico 6u lhe troue algumas coisas'  <onah .assou os dois .eda+os de queio .or um quadrado que ha#ia na grade eMonestruca aceitou-os sem di/er uma .ala#ra'  Bas quando <onah tentou condu/ir a con#ersa com ele, Monestru-1 ca #irou o rosto e<onah .ercebeu que seria in*til interrog:-lo'  - 7ão .osso conseguir que o soltem - ele se sentiu im.elido a esclarecer - enquanto sua sanidade não #oltar'  &endo, ou#indo, cheirando o lugar, não gostou de di/er aquilo, " a.esar do dio que uma .arte dele sem.re sentiria .or Monestruca, ] autor de crimes terr!#eis contra os 0oledano econtra tantos outros'  assou a metade restante da broa .elo .ortão e de.ois a outra " broa inteira' ara .eg:-los, Monestruca trans%eriu os dois queios da mão direita .ara a esquerda e .erdeu o controlede um deles' ; queio que caiu %oi agarrado .elo sueito em %arra.os, enquanto um ra.a/sem rou.a .ua#a os .ães' 6ntão muitas mãos se #oltaram contra o ra.a/ e o deslocamento,a agita+ão dos cor.os %e/ <onah se lembrar do mo#imento %renético dos cardumes .araabocanhar seu alimento no mar'

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  Dma mulher idosa e cal#a atirou-se contra a grade, as mãos como garras .ara o bra+o de<onah, .rocurando uma comida que ele : não tinha' 7o momento em que recua#a .araesca.ar, .ara se li#rar do mau cheiro e das im.reca+es daquele lugar terr!#el, <onah te#econscincia do grande .unho de Monestruca atacando #iolentamente quem esta-1 #a à sua#olta' inalmente o %rade %icou so/inho, com a boca aberta' ;

 ; @0"B; DE6D 29Vgrito que saiu dele, o grito de %ero/ deses.ero, .arte ui#o e .arte ronco, .areceu ir atr:s domédico que %ugia'<onah tomou o caminho da grana na beira do rio e te#e de re#elar a Baria uana suasensa+ão de que a loucura de Monestruca ia .ara .ior, não .ara melhor' 6la escutou semchorar, .ois : esta#a es.erando .or isso, .or aquelas not!cias que a enchiam de medo'  - 0rs homens da igrea esti#eram aqui' &oltarão esta tarde .ara .egar a mim e às crian+as' rometeram nos le#ar .ara um con#ento,não .ara um asilo'- ?into muito, senora'  - 7ão sabe de alguma casa onde .recisem de uma criada 7ãotenho medo de trabalho duro e as crian+as comem muito .ouco'  <onah sabia a.enas de uma casa, a sua' ensou em como seria, o tem.o .assando, elede#otando a #ida à .obre mulher condenada com seus .obres %ilhos' ensou também quenão era bom o bastante, nem %orte o bastante, nem santo o bastante .ara aquele gesto'

  0irou a ideia da cabe+a e recorreu à cole+ão de obetos udeus de Monestruca' ;s%ilactérios' A 0ora- 0al#e/ queira me #ender alguns .ertences do %rade  - e#aram tudo hoe de manhã' - 6la o condu/iu até o cmodo#i/inho' - 6st: #endo  ? ha#ia sobrado o tosco tabuleiro e as .edras do ogo de damas' 0ambém tinham le#adoo li#ro com o .oema de Eante, mas com tanta .ressa que #:rias .:ginas soltas %icaram sobo tabuleiro' uando as .egou e come+ou a ler a .:gina de cima, <onah .ercebeu que erauma descri+ão do in%ernoI;u#imos as .essoas gemendo no abismo, debatendo-se, surrando umas às outras com as .almas abertas, o choro lhes sacudindo os rostos como nas con#ulses' ; #a.or que .assa#a .elas beiradas da co#a incrusta#a-se nelas' 6ra um limo que re#olta#a meus olhos,que martela#a em meu nari/' 0anto mergulha#a o abismo que s se .odia #er o %undoa#an+ando até a borda mais debru+ada da encosta de rocha' Cheguei até l: e #i, l: embaio,com.ridas %ileiras de gente num rio de ecrementos, como o des.eo de todas as latrinas domundo' 6 entre os condenados dessa co#a ha#ia um es.ectro, alguém que .odia ter sidotonsurado ou não' 6ra im.oss!#el di/er, .orque esta#a muito lambu/ado de merda'

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 Ee re.ente <onah entendeu que nenhuma .uni+ão imaginada .or Eeus ou .elo homem .odia ser .ior que a eistncia o%erecida a oren/o de Monestruca' Cheio de terror, aceitouo ogo de damas que Baria .`s em sua mão, largou sobre a mesa todo o ouro e .rata quetra/ia na bolsa e %oi embora, .edindo a .rote+ão do ?enhor .ara a mulher e .ara os %ilhos

dela'  CA0D; VQ [Y&"A)6B A =D6?CAAs %ebres eram sem.re um .roblema' 7o %inal do in#erno, um grande n*mero delas,sem.re acom.anhadas de tosse, manti#eram-no etremamente ocu.ado' 7as #isitas aosdoentes, as queias se re.etiam'  ?enor Callic, tenho uma dor nos ossos 8tosse''' As a%tas também estão meincomodando demais, não .osso engolir''' A dor 8tosse'''  s #e/es me sinto .egando %ogo, de re.ente %ico tremendo de %rio 8tosse'  0inham morrido um homem de idade, um ra.a/, duas senhoras e uma crian+a' <onahacha#a terr!#el não ter conseguido sal#:-los, mas a #o/ de 7u%io lhe di/ia .ara .ensar nossobre#i#entes' "a de uma casa a outra receitando bebidas quentes e mel com #inhoaquecido' Contra a %ebre, triaga'  7ão se trata#a, de modo algum, de uma e.idemia uni#ersal ou mesmo de um surtolocali/ado realmente gra#e, mas ha#ia muitas #isitas a serem %eitas' Acha#a que como o .er!odo cr!tico dos seus .acientes não era coincidente, ele seria ca.a/ de dar conta de todos'rometia que se cada um seguisse sua orienta+ão .or de/ dias, a doen+a ia sumir comom:gica' 7a maioria das #e/es, era assim mesmo'  Costuma#a chegar a casa cansado demais .ara arrumar alguma coisa ou .re.arar algumacoisa .ara comer' s #e/es coloca#a as .edras no tabuleiro de damas e tenta#a ogarso/inho, %a/endo também os mo#imentos do ad#ers:rio' 7ão era, é claro, muito di#ertido ogar desse eito' assou a sentir uma inquieta+ão, uma insatis%a+ão generali/ada' uandoas %ebres %inalmente diminu!ram e as tosses ti#eram al!#io, ele decidiu tirar um dia de %olga .ara #isitar ReJna'; lugar onde ela #i#ia não .assa#a de um conunto de .equenas granas e casas delenhadores, uma #iagem de meia hora a contar da .eri%eria de ?arago+a' 7ão tinha nomenem go#erno, mas as .essoas que mora#am l: com.artilha#am h: gera+es de um senso decomunidade e tinham se acostumado a chamar o lugar de 6l ueblecito, isto é, a .equenaaldeia'

29N 7;A= );RE;7  Chegando ao lugareo, <onah dete#e o ca#alo ao lado de uma mulher idosa, que esta#asentada tomando sol' Ao .erguntar .or ReJna, ela a.ontou .ara uma casa ao lado de umaserraria' erto das .aredes da casa, ha#ia dois homens de cal+es, um deles com cabelocom.rido e branco, o outro o#em e mais %orte' 6m.urra#am uma serra com.rida .ara a%rente e .ara tr:s, cortando uma tora de .inheiro' A serragem gruda#a nas .eles suadas'  6ntrando na casa, <onah encontrou ReJna sem sa.atos e aoelhada no chão, es%regandoas laotas' arecia saud:#el como sem.re, a.enas um .ouco mais #elha que a lembran+aque guardara dela' uando #iu quem ha#ia chegado, ReJna .arou de trabalhar e sorriu,es%regando as mãos no #estido, %icando de .é'  - 0roue um #inho, do ti.o que #oc gosta - disse ele, e ReJna

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 .egou o arro com um agradecimento'  - &amos sentar à mesa, .or %a#or' - 6la a.anhou dois c:lices e seu .r.rio arro de bebida' =a#ia conhaque nele'- ?a*de - disse <onah'- ?a*de'

6ra bom' 0ão %orte que <onah .iscou'- : encontrou alguém .ara cuidar da casa-Ainda não'  - Bandei duas boas mulheres, Carla e etronila' 6las disseram que%oram des.edidas'  - Acho que esta#a acostumado ao modo como #oc cuida#a dacasa'  - 0em de aceitar as mudan+as5 tudo muda na #ida - disse ReJna' -?e quiser, .osso mandar outra .essoa' 7a .rima#era #ai estar na horade uma boa lim.e/a'- 6u mesmo .osso lim.ar a casa'  - ode 7ão de#ia .erder seu tem.o desse eito - disse ela numtom se#ero' - 0em suas ocu.a+es de médico'  - 6ncontrou uma casa muito boa, ReJna - ele comentou .aramudar de assunto'  - ?im, dar: uma boa estalagem' 7ão h: ninguém que alugue quar tos .or aqui e estamos à beira da estrada .ara a Catalunha' assammuitos #iaantes' - Eisse que ainda não recebia hs.edes, .ois a casa .recisa#a de algumas re%ormas de car.intaria antes de .oder come+ar a %uncionar como estalagem'  Continuaram tomando o conhaque enquanto ela descre#ia a #ida no .o#oado e ele acoloca#a em dia com as no#idades e os boatos de ; @0"B; DE6D 29Q?arago+a' Eo lado de %ora, #inha o barulho em surdina da serra na madeira'- uando comeu .ela *ltima #e/- Ee manhã cedo'- &ou lhe .re.arar uma re%ei+ão - disse ela se le#antando'- Dma galinha enso.ada- 7ão %a+o mais esse .rato'ReJna tornou a sentar-se e olhou .ara ele'- &iu os dois homens cortando madeira l: %ora-&i'- ogo estarei me casando com um deles'- Ah' G mais no#o

  - 7ão, o outro' Chama-se Fl#aro' - 6la sorriu' - 0em o cabelo branco, mas é muito %orte' 6 timo serralheiro'- Eeseo-lhe a boa sorte que #oc merece, ReJna'- ;brigada'  ?em d*#ida, ReJna sabia que o médico #iaara até a aldeia .ara .ersuadi-la a #oltar, masa.enas trocaram um sorriso' ogo ela se le#anta#a .ara ser#ir a comidaI uma broa de .ão

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%resco, o#os bem co/idos, .asta de alho, metade de um queio .rato, cebola, a/eitonasmuito saborosas'  0omaram alguns goles do #inho que <onah trouera e ele %oi embora' Eo lado de %ora, oshomens encaia#am uma no#a tora no ca#alete'- Moa-tarde - disse <onah'

  ; mais no#o não res.ondeu, mas o que se chama#a Fl#aro acenou com a cabe+a ao .egar a serra'<onah sabia que a :scoa dos udeus esta#a se a.roimando, embora não ti#esse certe/a dadata, e iniciou a %aina da .rima#era' &arreu, es.anou, es%regou, abriu as anelas .ara o ar%resco, bateu e areou os ta.etes, troue no#as esteiras de .alha .ara estender nos .isos de .edra' A.ro#eitando seu isolamento, criou uma #ersão con#incente do .ão sem %ermento, batendo .or+es irregulares de massa numa cha.a de metal sus.ensa sobre o %ogo' ; .ãosaiu um tanto queimado e um tanto macio demais, mas sem a menor d*#ida era um .ão:/imo' Comeu-o triun%ante em sua ceia de um homem s, .ara a qual também co/inharaum .ernil do cordeiro .ascal e .re.arara er#as amargas .ara lembrar-se das tribula+es dos%ilhos de "srael na %uga do 6gito'

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  - or que esta noite é di%erente de todas as outras - .erguntou nacasa #a/ia' 7ão hou#e, é claro, res.osta5 s um silncio mais :cido queas er#as' Como não tinha certe/a das datas, re.etiu a ceia toda noite,durante uma semana, aquecendo o .ernil .or trs noites' Ee.ois queWele %icou com mau cheiro, <onah enterrou a sobra no .omar da encosta do morro'or alguns dias o in#erno .arecera ter ido embora, mas de re.ente #oltou, gelado echu#oso, trans%ormando as estradas em rios de uma lama %unda e %ria' <onah %ica#a horassentado à mesa, mergulhado em .ensamentos' 6ra um homem rico, médico res.eitado,#i#endo numa casa com .aredes de .edra, uma casa cercada .ela boa terra que .ossu!a' 6mcertas noites, .orém, ulga#a ou#ir no meio da insnia uma #o/ mais alta que o ui#oestridente das chu#as de #ento' 6ra a #o/ do .ai o.inando que <onah s esta#a #i#o .elametade'  6sta#a cansado de ser seu .r.rio rabino, %arto de #i#er .reso numa aula, mesmo que a aula %osse do tamanho de toda a 6s.anha' ensou em .artir .ara a ran+a ou ortugal' Basnão sabia o idioma %rancs ou .ortugus' 6mbora .udesse esca.ar .or uma das %ronteiras sealguém .edisse .ro#as de seu batismo, na ran+a .odia acabar na %ogueira e em ortugalseria certamente escra#i/ado' elo menos em ?arago+a era conhecido e aceito comocristão-#elho' ?eu trabalho como médico com.ensa#a em grande .arte o que a #ida esta#alhe negando'  Ee %ato, <onah nutria um anseio .or algo sem nome, .or alguma coisa que não sabiaidenti%icar' uando dormia, sonha#a com os mortos ou com mulheres que tira#am sémende seu cor.o adormecido5 às #e/es, acredita#a que ia %icar louco como o %rade' uandochegaram os dias quentes e ensolarados, encarou a no#a esta+ão com sus.eita, inca.a/ deacreditar que o mau tem.o tinha realmente acabado'

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  or sorte as %ebres não #oltaram, .ois ao con#ersar com %rei uis )uerra Bedina, o botic:rio, %icou sabendo que não ha#ia triaga em .arte alguma do distrito'- Como #amos conseguir mais - .erguntou <onah'  - 7ão sei - res.ondeu o #elho %ranciscano num tom .reocu.ado' -? quem #ende triaga de boa qualidade é a %am!lia Aurélio, de =uesca'

6u costuma#a ir a =uesca uma #e/ .or ano .ara com.rar a triaga dosAurélio' Bas é uma ornada de cinco dias e %iquei #elho demais' : não .osso ir'  - or que não manda alguém em seu lugar - <onah .erguntouencolhendo os ombros'  -; @0"B; DE6D

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  - 7ão .osso' ?e mandar uma .essoa que não estea %amiliari/adacom a triaga, #ão lhe dar um com.osto #elho, in*til como remédio' Atriaga tem de ser com.rada .or alguém que ins.ire res.eito, alguémque conhe+a a a.arncia e as caracter!sticas do bom .roduto' 6la de#eter sido recentemente .re.arada e de#e ser com.rada numa quantidadeque .ossa ser consumida no .ra/o m:imo de um ano'  A casa de <onah tornara-se uma .risão e ali esta#a uma .ossibilidade de al!#io'- 6st: bem - disse ele' - &ou até =uesca'?eis meses antes, Biguel de Bontenegro ha#ia sido chamado a Bon-tal#an, onde o bis.ode 0eruel .adecia de uma %ebre #iolenta, e <onah %icara encarregado de cuidar dos .acientes de Bontenegro' Agora este e um outro médico chamado edro alma, indicado .or Bontenegro, concordaram em cuidar da clientela do senor Callic, .ois eles e seus .r.rios .acientes também se bene%iciariam da triaga' <onah .egou o ca#alo :rabe cin/a eum burro de carga' Como costuma#a acontecer, seu estado de es.!rito melhorou muitoquando come+ou a .ercorrer os cam.os' ; tem.o esta#a bom e teria sido .oss!#el aceleraro .asso, mas como a .ressa era desnecess:ria, <onah resol#eu .ou.ar o ca#alo :rabe, : umtanto #elho' ; caminho não .arecia di%!cil' 7os so.és dos morros ha#ia #ales, onde o gado .asta#a, e .equenas granas, onde os .orcos aduba#am a terra que logo seria culti#ada comgrãos ou #egetais' noite, <onah sem.re conseguia um lugar bonito .ara acam.ar' 6ntãoas colinas %oram dando lugar a grandes montes e a grandes montanhas'  uando ele chegou a =uesca, %oi logo .rocurar a %am!lia Aurélio, encontrando-a numest:bulo re%ormado, cheio dos aromas das er#as' 0rs homens e uma mulher .ul#eri/a#ame mistura#am as .lantas secas .ara %a/er a triaga' Reinaldo Aurélio, mestre herbalista, eraum sueito sim.:tico, de olhar atento' Dsa#a um a#ental grosseiro, coberto de .alha'- ue .osso %a/er .elo sehorl  - reciso da triaga' ?ou Ramn Callic, médico de ?arago+a'&enho a mando de %rei uis )uerra Bedina'  - Ah, %rei uis or que ele .r.rio não #eio 7ão est: bem desa*de  - 6st: bem, mas um .ouco #elho' or isso me mandou em seulugar'- ;h, sim, .osso %ornecer-lhe a triaga, senor Callic'

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; homem %oi até uma .rateleira e abriu uma arca de madeira'

VG 7;A= );RE;7- osso eaminar - .ediu <onah'  6le esmigalhou um .ouco entre os dedos, cheirou, e balan+ou a cabe+a'

  - 7ão - disse em #o/ baia' - ?e le#asse isto .ara %rei uis, ele iaquerer me castrar' Com toda a ra/ão'- rei uis é muito eigente - disse o herbalista sorrindo'  - elo que ns, médicos, estamos muito gratos' recisamos de uma boa quantidade de triaga %resca, o su%iciente .ara %rei uis su.rir umcerto n*mero de cl!nicas nos distritos ao redor de ?arago+a'  - 7ão h: .roblema - disse o senor Aurélio, abanando a cabe+a' -?em d*#ida, é claro, le#aremos algum tem.o .ara .re.arar toda essa triaga'- uanto tem.o- Dns de/ dias .elo menos' 0al#e/ um .ouco mais'  <onah não tinha alternati#a a não ser concordar' 7a realidade, ai situa+ão não lhedesagrada#a, .ois o deia#a com tem.o li#re .ara continuar o .asseio até os ireneus'Calcularam o .re+o e ele .agou adiantado' rei uis tinha dito que se .odia con%iarcegamente na .ala#ra da %am!lia Aurélio e <onah não queria %icar mais tem.o com asmoedas de ouro no bolso' ediu .ara deiar o burro de carga com eles e .rometeu que não#oltaria em menos de quin/e dias, de modo que teriam tem.o de sobra .ara %a/er otrabalho'?eguiu direto .ara o norte, cru/ando os so.és dos morros' ;u#ira di/er que entre =uesca ea %ronteira com a ran+a as montanhas eram tão altas que .areciam alcan+ar as nu#ens' 7a#erdade, não .recisou chegar muito longe .ara #er as montanhas, algumas com .icosne#ados' 7um .rado %lorido, ha#ia um crrego onde cintila#am cardumes de .equenastrutas' <onah tirou da bolsa uma linha com an/ol e a latinha com as minhocas de sua .ilhade esterco em ?arago+a' Como os .eies se atiraram a#idamente nas iscas, logo conseguiusua re%ei+ão' Cada truta %ornecia .ouca carne, mas basta#a .uar um %ilamento #erde e%ica#a lim.a' <onah untou uma certa quantidade delas e assou-as num .equeno %ogo,comendo as es.inhas %inas e moles untamente com a carne'Eeiou que o ca#alo comesse um .ouco de ca.im e algumas %lores, .ara #ariar a dieta' Ee.ois tocou o animal .ela trilha que subia asmontanhas' As :reas mais baias .areciam densamente arbori/adascom castanheiros, %aias e car#alhos5 mais acima, ha#ia abetos e .inheiros' <onah sabia que as :r#ores iriam %icando cada #e/ mais ralas atédesa.arecerem nas altitudes ele#adas, onde mesmo as .equenas .lan- ry ww ,̂,or,to tmrria a ne#e derretida oara os terrenos

; @0"B; DE6D VG1mais baios, engrossando e tornando barulhentas as :guas de um .equeno rio'  uando a tarde chegou, encontrou a .rimeira ne#e slida unto a um ar#oredo de abetos'=a#ia .egadas de urso, muito n!tidas, ob#iamente recentes' ; ar %icara mais cortante e iaes%riar bastante à noite'  Resol#endo dormir na tem.eratura menos se#era das encostas mais baias, <onah %e/ oca#alo dar meia-#olta e desceu até um .onto que lhe .areceu aconchegado, .ois %ica#a sob

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a .rote+ão de um grande .inheiro, que %orneceria inclusi#e galhos secos .ara o %ogo' 6leesta#a .reocu.ado com as .egadas do urso e mante#e uma %ogueira acesa a noite inteira'Ee #e/ em quando, acorda#a .ara tirar mais madeira da :r#ore, quebrando os galhos secoscom estalos Dm tanto %ortes, certamente ca.a/es de chamar aten+ão .ara sua .resen+a'ogo, .orém, dormia de no#o, enquanto o %ogo queima#a alto'

oi então que uma tarde, .assados trs dias da .artida de =uesca, #iu-se bloqueado numdos altos .assos da montanha .or um trecho de ne#e .ro%unda' <onah .rocura#a algumatrilha lateral .or onde .udesse circundar aquele .onto, quando sentiu o ca#alo %a/endo%or+a .ara a margem da estrada' ; animal descobrira um caminho quase im.erce.t!#el nomeio das :r#ores' =a#ia também um crrego, cuo curso de#ia ter %endido durante séculos adure/a dos .aredes de rocha e agora se .ro-eta#a montanha abaio'  <onah come+ou a a#an+ar .ela trilha .edregosa que acom.anha#a o crrego'  oi uma longa descida' Ee re.ente, sentiu o cheiro de %uma+a de lenha e, .ouco de.ois,emergindo das :r#ores, #iu-se num .equeno #ale, de %rente .ara uma aldeia' `de contartal#e/ uma d*/ia de casinhas de .edra com !ngremes telhados de ardsia' =a#ia também,no hori/onte, o telhado e a cru/ de uma igrea' &iu ca#alos e #acas num .asto e #:rioscam.os culti#ados, cam.os de terra negra'  Dltra.assou duas casas sem encontrar ninguém' Dma mo+a, no entanto, %ora a.anhar :guano crrego e agora #olta#a com o balde carregado' Ao #-lo, come+ou a correr, entornando:gua' <onah alcan+ou-a antes que ela chegasse à metade de sua carreira .ara a .orta daterceira casa'- Dm bom dia' Como se chama esta aldeia, .or %a#orA mo+a %icou im#el, com se ti#esse congelado'  - Chama-se radogrande, senor' - 6ra uma #o/ clara, mas reser#ada, e quando o ca#alo cin/ento chegou mais .erto, a #isão do rosto dela VG2

 7;A= );RE;7

im.ressionou etremamente <onah, a .onto de ele ou#ir a .r.ria res.ira+ão'- "nés, é #oc6le desmontou atabalhoadamente, e ela recuou com medo'- 7ão, senor'  - 7ão é "nés ?aadi Eenia, %ilha de "saac ?aadi - ele .erguntoumeio atordoado' A mo+a o olha#a es.antada'- 7ão, senor' ?ou Adriana' ?ou Adriana Chacon'  ( claro, que tolice, <onah .ercebeu' uem esta#a na %rente dele era uma mulher o#em'uando #ira "nés .ela *ltima #e/, ela era .ouco mais no#a que aquela mo+a, mas : tinhamse .assado muitos anos, muitos anos di%!ceis'- "nés era minha tia, que sua alma descanse na .a/ eterna'  Ah, esta#a morta <onah sentiu uma .ontada de ang*stia ao saber que "nés se %oraI outra .orta se %echara'  - ue descanse em .a/ - ele murmurou' - 6u me lembro de #oc- disse de re.ente'

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  <onah .ercebeu que a mulher era a crian+a de quem "nés tinha cuidado, a %ilhinha deeli.a, irmã mais #elha de "nés' embra#a-se do .asseio com "nés em )ranada, a meninano meio, cada um segurando uma das mãos dela'A mo+a o olha#a com ar descon%iado e <onah se #irou'  Dm grito di/ia que sua .resen+a %ora descoberta .or mais alguém' Dm gru.o de homens

corria deses.eradamente em sua dire+ão, trs de um lado, dois de outro' As %erramentas detrabalho que segura#am .odiam ser#ir de armas .ara matar um in#asor' _ CA0D; VU A )RA7E6 CAB"7AAntes que os cam.oneses conseguissem alcan+:-lo, um homem robusto, que .arecia estardescansando, saiu de uma das casas' 0inha en#elhecido, mas não a.onto de im.edir que<onah o reconhecesse de imediatoI Bicah Men/aquen, que %ora amigo e #i/inho dos ?aadiem )ranada' 7aquela é.oca, Men/aquen era um homem de meia-idade5 agora ainda .arecia%orte, embora não desse .ara esconder a marca dos anos' icou um bom tem.o obser#ando<onah5 de.ois sorriu, e <onah te#e certe/a de que também %ora reconhecido'  - Amadureceu bastante - disse Men/aquen' - uando o #i .ela*ltima #e/ era um ra.a/ grandalhão, um .astor com rou.as surradas,com o cabelo e a barba muito grandes' 6ra como se ti#esse uma moitaem #olta da cabe+a' Bas como é mesmo o seu nome ?ei que é .arecido com o nome de uma bela cidade'''  <onah sentiu que, durante o bre#e tem.o que ia .ermanecer naquele lugar remoto, seriaim.oss!#el dar o nome de Ramn Callic'- 6u me chamo 0oledano'- ?im, 0oledano, .or minha alma- <onah 0oledano' ( bom encontr:-lo, senor Men/aquen'  ara seu .esar, enquanto ele e Men/aquen troca#am cum.rimentos, a mo+a .egara o baldede :gua e esca.ara'- ;nde est: morando agora, senor 0oledano  <onah não queria correr o risco de associar o nome 0oledano a ?arago+a'- 6m )uadalaara - disse <onah'  ?em.re segurando as %erramentas de trabalho com as quais o intruso .odia ter sidogol.eado, tal#e/ chacinado, o gru.o de homens continua#a se a.roimando, s que agoranum .asso normal' Certamente teriam notado que <onah não .uara a es.ada nem a %aca'Ao contr:rio, .arecia bem à #ontade na %rente de Men/aquen, con#ersando amiga#elmente' VG4

 7;A= );RE;7

  Men/aquen a.resentou edro Abula%in, Ea#id &idal e Eurante Cha/an =ale#i5 de.ois umsegundo gru.o %ormado .or oachii Chacon, Asher de ?egarra, osé E!a/ e ineas benortal'  Alguns homens cuidaram do ca#alo de <onah, que %oi le#ado .ara a .ro.riedade deMen/aquen' eah Cha/an, es.osa de Men/aquen, era uma senhora sim.:tica, de cabelogrisalho, com todas as #irtudes das% mães es.anholas' 0roue um .ano e uma #asilha de:gua quente .arai <onah, indicando-lhe a .ri#acidade do celeiro' uando ele esta#a aca-]

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 bando de se la#ar, a casinha come+ou a se encher do aroma do .ernil " %resco que assa#a'?eu an%itrião o es.era#a com um arro de bebida e] dois co.os'  - 6m nosso .equeno #ale, as #isitas são etremamente raras5 estaié uma grande ocasião - disse Men/aquen ser#indo o conhaque' Dm ] bebeu à sa*de do outro'

  Men/aquen tinha re.arado no ca#alo :rabe de <onah e na ecelen-1 te qualidade de suasrou.as e armas'- 7ão é mais um .astor de rou.as suas - comentou sorrindo'- ?ou médico'- Bédico Bas é incr!#el  Eurante a ecelente re%ei+ão que a es.osa não demorou a ser#ir, Men/aquen contou o queha#ia acontecido com os con#ertidos de.ois que eles e <onah seguiram caminhos distintos'  - ?a!mos de )ranada em cara#ana' 6ram trinta e oito carro+as, todas com destino a am.lona, a .rinci.al cidade de 7a#arra' Chegamosa.s uma #iagem etremamente lenta e :rdua'icaram dois anos em am.lona'  - Alguns se casaram .or l:' "ncluindo "nés Eenia, que se tornoues.osa de "sadoro ?abino, um car.inteiro'  Men/aquen %alara com cautela, .ois se lembra#a da desagrad:#el con#ersa que ti#era com<onah acerca de "nés Eenia'  - obres dos que conta#am com dias %eli/es - ele continuou' - 7ossa #ida em am.lona %oi grandemente marcada .ela tragédia'  Dm em cada cinco cristãos-no#os #indos de )ranada morrera com %ebres malignas esangramentos' igura#am quatro membros da %am!lia ?aadi entre os cruel e ra.idamente#itimados no terr!#el ms de 7isan'  - "saac ?aadi e a es.osa ulai>a Eenia morreram com di%eren+a dehoras um do outro' Ee.ois a %ilha eli.a adoeceu e também %aleceu'inalmente %oi a #e/ de "nés e seu no#o marido, "sadoro ?abino'6sta#am casados ha#ia menos de trs meses' ; @0"B; DE6D

VGO

Men/aquen continuouI  - As .essoas de am.lona come+aram a acusar os recém-chegadosde tra/er morte .ara a cidade' uando a .estilncia cum.riu sua obra, osque tinham sobre#i#ido acharam que esta#a na hora de %ugir outra #e/'  A.s muita discussão, decidimos cru/ar a %ronteira da ran+a .ara tentar a #ida em0oulouse, embora %osse uma decisão contro#ertida' 6u, .or eem.lo, condena#a tanto otraeto quanto o destino' embrei que, durante séculos, 0oulouse ti#era como tradi+ão .ermitir atos #iolentos contra os udeus' Além disso, est:#amos se.arados da ran+a .elasaltas montanhas dos ireneus, .or onde ter!amos de atra#essar em nossas carro+as, uma .ers.ecti#a que .arecia in#i:#el'  Bas alguns dos con#ertidos que #iaa#am com Men/aquen /ombaram de seus medos,di/endo que chegariam à ran+a como catlicos e não como udeus' uanto a cru/ar asmontanhas, sabiam que na aldeia de aca, que %ica#a à %rente, ha#ia guias montanheses

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 .ro%issionais, con#ertidos como eles, homens que .odiam ser contratados .ara condu/i-losatra#és dos .assos' ?e as carro+as não conseguissem %a/er a #iagem, le#ariam os .ertencesmais #aliosos nos lombos de animais de carga' 6 %oi assim que a %ileira de carro+as acabouna trilha .ara aca'- Como acharam este #ale - <onah .erguntou'

- or acaso - disse Men/aquen sorrindo'  7as etensas encostas cobertas de %lorestas era di%!cil achar bons lugares de acam.amento .ara um gru.o tão grande de .essoas' Com %requncia, os #iaantes en%ileira#am ascarro+as na margem da trilha e dormiam nos .r.rios #e!culos' 7uma dessas noites,enquanto todos dormiam, um dos ca#alos de tra+ão de Men/aquen - um animal caro enecess:rio - arrebentou a corda e %ugiu'  - ogo que amanheceu, quando dei .ela %alta dele, sa! com quatrohomens .ara .rocur:-lo, ingando o animal'  ?eguindo as %olhagens e os galhos quebrados, alguma marca ocasional de cascos ou deecrementos, %oram dar numa es.écie de trilha natural, de solo .edregoso, uma descida queacom.anha#a um riacho de %orte corrente/a' inalmente emergiram do bosque e #iram oca#alo comendo ca.im num .equeno #ale'  - icamos im.ressionados .elas :guas, .ela rel#a' &oltamos àcara#ana e trouemos os outros' Achamos que era um lugar seguro,um lugar abrigado .ara descansarmos' ? ti#emos de alargar a trilhanatural em dois lugares e retirar algumas .edras maiores .ara descer com as carro+as' ens:#amos em %icar quatro ou cinco dias ali, o tem .o su%iciente .ara homens e animais restaurarem suas %or+as''' VGN 7;A= );RE;7  Bas Men/aquen e.licou que todos %oram a%etados .ela bele/a do #ale e .ela e#idente%ertilidade do solo' 6 que ninguém deiou de notar como o lugar era es.lendidamenteremoto' ara leste, dois dias de di%!cil #iagem até a aldeia mais .rima, aca, ela .r.riauma comunidade isolada, .or onde .assa#am .oucos #iaantes' ara sudeste, trs diasigualmente di%!ceis até a cidade mais .rima, =uesca'  - Alguns dos nossos cristãos-no#os acharam que aqui as .essoas .odiam #i#er em .a/, sem amais encontrar um inquisidor ou um soldado' ;correu-nos, em suma, que tal#e/ não de#ssemos ir mais lon-1ge, mas %icar no #ale, trans%ormando-o em nosso lar'6 Men/aquen continuouI  - 7em todos concordaram' A.s uma boa dose de %alatrio e argu-lmenta+ão, das #inte e seis %am!lias que tinham deiado am.lonade/essete decidiram %icar no #ale' 0odos .rocuraram audar as no#e%am!lias que iam seguir .ara 0oulouse' erdemos a manhã e a maior1 .arte da tarde .ara .`r suas carro+as de no#o na trilha' A.s os abra+os e algumas l:grimas, eles desa.areceram na montanha e ns #oltamos ao #ale'  6ntre os colonos, ha#ia quatro %am!lias cuos membros costuma#am ganhar a #ida naagricultura' Eurante as trans%erncias de )ranada .ara am.lona e de.ois .ara 0oulouse,esses agricultores tinham se mantido na sombra, deiando o .laneamento e as decises .ara os comerciantes, cua e.erincia de #iagens e so%istica+ão %oram muito *teis aogru.o'

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  Bas naquele momento os agricultores se tornaram os l!deres do n*cleo de .o#oa+ão,e.lorando, identi%icando as di%erentes .artes do #ale, determinando o que .odia ser .lantado e onde' or todo #ale crescia um ca.im muito #erde, suculento, e desde o in!ciochamaram o lugar de radogrande, a )rande Cam.ina'  ;s homens de cada %am!lia di#idiram o #ale em de/essete lotes equi#alentes, dando a

cada lote um n*mero e tirando os n*meros de um cha.éu .ara de%inir a quem cada umcaberia' 0odos, no entanto, concordaram em trabalhar em conunto no .lantio e na colheita,%a/endo inclusi#e uma rota+ão de terras entre as di%erentes :reas, de modo a nenhum .ro.riet:rio ter #antagem .ermanente sobre qualquer outro' ;s quatro agricultoressugeriram onde as casas de#iam ser constru!das e como de#iam se situar com rela+ão ao sole aos #entos' i/eram uma de cada #e/, sem.re trabalhando untos' =a#ia muita .edra nasencostas e %oram erguidas slidas casas de %a/enda, com est:bulos e celeiros nas .artes de#:r/ea' ; @0"B; DE6D VGQ  7o .rimeiro #erão que .assaram no #ale conseguiram le#antar trs casas, onde mulherese crian+as se aloaram comunitariamente durante o in#erno, enquanto os homensacam.a#am nas carro+as' 7os cinco #eres seguintes, constru!ram as outras casas e aigrea'  ;s quatro la#radores e.erientes trans%ormaram-se num comité de com.ras .ara acomunidade'  - rimeiro #iaaram .ara aca - disse Men/aquen -, onde adquiriram algumas o#elhas e sementes' aca, no entanto, era .equena demais .ara satis%a/er suas necessidades e na .rima sa!da andaram a dist3ncia etra até =uesca, onde encontraram uma #ariedade maior de sortimentos' 0roueram sacos de boas sementes, um bom n*mero de %erramentas, mudas de :r#ores %rut!%eras, mais o#elhas e cabras, além de .orcos, galinhas e gansos'  Dm dos homens trabalhara com couro, outro %ora car.inteiro, e suas habilidades %oramuma bn+ão .ara a no#a comunidade'  - Bas a maioria tinha sido comerciante - continuou Men/aquen' -uando resol#emos %icar em radogrande, sab!amos que ter!amos demudar nosso ganha-.ão e nosso estilo de #ida' A .rinc!.io, %oi desagrad:#el, %oi di%!cil acostumar cor.os de negociantes às eignciasmais rudes do trabalho na terra, mas est:#amos entusiasmados com as .ers.ecti#as do %uturo e :#idos .ara a.render' )radualmente, ao longodos on/e anos em que estamos aqui, %omos endurecendo os m*sculos,%omos ro+ando os cam.os, criando la#ouras e .omares'  - i/eram um bom trabalho - disse <onah, realmente im.ressionado'  - ogo #ai escurecer, mas amanhã daremos um .asseio .ara que .ossa #er .or si mesmo'<onah abanou a cabe+a com ar distra!do'- A mo+a chamada Adriana''' ; marido é agricultor  - 0odos em radogrande são agora agricultores, mas o marido deAdriana Chacon não est: mais conosco' 6la é #i*#a' - Men/aquen cor tou outra %atia de .ernil e insistiu .ara o con#idado a.ro#eitar a o.or 

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tunidade de comer boa carne'- Ei/ que se lembra de mim de quando eu era crian+a - Adriana Chacon comentou com o .ai naquela noite' - ( curioso, .ois não me recordo absolutamente dele' ; senhor oreconheceu  - 7ão - disse oachim Chacon balan+ando a cabe+a' - Bas tal#e/

 : o tenha encontrado algum dia' ?eu a#` "saac conhecia muita gente' VGU

 7;A= );RE;7

  arecia estranho que aquele recém-chegado e#ocasse memrias que ela não .odiacom.artilhar' ensar em seus anos de menina era como a.reciar uma #asta .aisagem doalto de uma montanha' =a#ia alguns detalhes mais .rimos, que se mantinham n!tidos,claros, mas ha#ia uma .or+ão de coisas que %ica#am atr:s e acaba#am se dissi.ando nadist3ncia' 7ão tinha recorda+es de )ranada e não se-lembra#a de muita coisa deam.lona' embra#a de #iaar um longo tem.o numa carro+a' As carro+as tinham lonasque .rotegiam do sol, mas %ica#am tão quentes que a cara#ana %a/ia a maior .arte da#iagem de manhã cedo e no %inal da tarde' ;s cocheiros detinham os ca#alos na hora do sol%orte e .rocura#am uma sombra .ara descansar' 6la se lembra#a do duro e constantesola#anco da carro+a nos trechos di%!ceis, do chiado dos arreios de couro, da batida .esadados cascos' Ea eterna .oeira cin/a que às #e/es chega#a aos seus dentes' Eos ecrementoscom cheiro de mato que ca!am continuamente atr:s dos ca#alos e dos burros, sendo logoamassados .elas rodas'  Adriana tinha então oito anos e #iaa#a so/inha, etremamente in%eli/, sus.irando .elosentes queridos que recentemente ha#iam morrido' s #e/es o .ai, oachim Chacon, lhedirigia .ala#ras de carinho, mas na maior .arte do tem.o ele condu/ia os ca#alos emsilncio, quase entor.ecido com sua .r.ria dor' As lembran+as que Adriana guardara doque acontecera a.s entrarem nas montanhas eram con%usas5 lembra#a-se a.enas de que umdia ha#iam chegado àquele #ale, e que %icara contente .or .ararem de #iaar'  ; .ai, que em outros tem.os com.rara e #endera tecidos de seda, cum.ria agora suasobriga+es .ara com a comunidade, o que .ara ele, nos .rimeiros anos .assados emradogrande, signi%icara trabalhar na constru+ão das casas' 0inha se trans%ormado num bom .edreiro, ca.a/ de %a/er as .edras se austarem com .recisão umas às outras em .aredes%irmes' As casas, constru!das de .edras do rio e madeira, %oram atribu!das .rimeiro às%am!lias mais numerosas' Assim, Adriana e o .ai ti#eram de morar nas casas dos outros .orcinco anos, .ois a casa deles %oi a *ltima a %icar .ronta' 6ra a casa menor, ainda que tãoslida quanto as demais' Adriana, no entanto, achou-a até muito grande quando .uderam%inalmente se mudar .ara l:' Aquele ano - o ano em que %e/ tre/e anos - %oi seu tem.o mais%eli/ em radogrande' 0oma#a conta da casa do .ai e esta#a, como todo mundo, %ascinada .elo #ale' Co/inha#a e %a/ia a lim.e/a %eli/ da #ida, cantando a maior .arte do tem.o' oi oano em que os seios come+aram a a.arecer, o que era um tanto assustador, embora .arecesse natural, .ois .or todo lado ha#ia ; @0"B; DE6D VG9

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coisas brotando, %lorindo' 0i#era a .rimeira menstrua+ão aos on/e anos e eona atras, umamulher idosa, es.osa de Abram Bontel#an, %ora muito atenciosa com ela, e.licando-lhecomo de#ia se cuidar durante as regras'  7o ano seguinte a comunidade so%reu a .rimeira morte quando uma doen+a de .ulmão#itimou Carlos ben ?agan' 0rs meses de.ois do enterro de ?agan, o .ai de Adriana contou-

lhe que ia se casar com ?ancha ortal, a #i*#a de Carlos' oachim e.licou que os#alorosos homens de radogrande não queriam tra/er ninguém do mundo l: %ora, massabiam que nos anos #indouros iam .recisar de cada .ar de mãos que .udessem conseguir'0odos concorda#am que grandes %am!lias eram a cha#e .ara o %uturo e adultos so/inhosesta#am sendo encoraados a se casar o mais de.ressa .oss!#el' ?ancha ortal tinhaconcordado em des.os:-lo5 era ainda uma mulher bonita e robusta, e ele esta#adecididamente animado .ara cum.rir seu de#er' Eisse a Adriana que ia morar na .ro.riedade de ?ancha, mas ela tinha cinco %ilhos e a casa : esta#a amontoada de gente'or isso Adriana teria de %icar morando so/inha na casa .aterna, embora se reunindo comsua no#a %am!lia aos domingos e dias santos, .ara almo+ar'  Ee.ois que uma .equena igrea e uma casa .ara o .adre %oram erguidas no centro do#ale, oachim %e/ .arte da delega+ão que #iaou a =uesca .ara .edir que nomeassem um .adre .ara a no#a comunidade' edro ?era%ino, o calado e t!mido .adre de batina .reta que#oltou com eles, .ermaneceu tem.o su%iciente em radogrande .ara %a/er o casamento deoachim e ?ancha' &oltando a =uesca, %alou com seus su.eriores da no#a igreinha e da bem constru!da, mas #a/ia, casa de .adre' Alguns meses mais tarde, edro ?era%ino saiu da%loresta e anunciou aos habitantes do #ale que %ora .ermanentemente indicado como seu .astor'  ;s aldees %icaram mara#ilhados em .oder assistir à missa, sentindo-se tão catlicosquanto qualquer bis.o'  - Agora, se olhos inamistosos bisbilhotarem em nossa comunidade - oachim dissera à%ilha -, mesmo a "nquisi+ão ter: de reconhecer a im.ort3ncia que damos à .arquia' 6#endo nosso .adre cru/ar cons-tantemente o #ale em seu .equeno burro, serão %or+ados aconcluir que radogrande é uma comunidade de #erdadeiros cristãos' 7aquela é.oca Adriana gostou de morar so/inha' 6ra %:cil manter a casa arrumada e lim.aquando s ha#ia uma .essoa' Besmo assim #i#ia ocu.ada, %iando a lã das o#elhas, %a/endo .ão, culti#ando legumes no ardim .ara audar a alimentar a grande %am!lia do .ai' 7o in!-

V1G

 7;A= );RE;7

cio todos sorriam ao #-la, tanto as mulheres quanto os homens' ?e cor.o e.erimenta#a a*ltima mudan+a da adolescncia' ;s seios não %icaram grandes mas eram belamenteredondos5 o cor.o era alto e %orte, mas muito %eminino' ogo as mulheres casadasre.araram no modo como os homens a olha#am e algumas come+aram a se mostrar %rias eirritadas quando os maridos se dirigiam a ela' Adriana era inocente em termos dee.erincia, não de conhecimento5 : #ira ca#alos cru/ando - um garanhão relinchando,subindo .elas costas da égua com um membro que .arecia um grande bastão' : tinha #istocarneiros com " o#elhas' ?abia, .orém, que o acasalamento humano era %eito de modo um .ouco di%erente e se .ergunta#a sobre os detalhes do ato .raticado entre homens emulheres'

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  icou a%lita quando eona atras adoeceu naquela .rima#era' &i-1 sitou-a e tentouretribuir as aten+es que recebera dela' Co/inha#a .ara Abram Bontel#an, o marido idoso,%er#ia #asilhas de :gua .ara que o #a.or audasse na res.ira+ão da en%erma, .assa#ac3n%ora e gordura de ganso em seu .eito' Bas a tosse aumentou e, .ouco antes do in!cio do#erão, eona esta#a morta' Adriana chorou no enterro5 .arecia que a morte carrega#a

todas as mulheres que queriam aud:-la'  Antes do %uneral, audara a la#ar o cor.o sem #ida' Ee.ois continuou lim.ando a casa deeona e le#ando algumas re%ei+es .ara a mesa de Abram Bontel#an'  7o #erão, o #ale .arecia ter eagerado em sua bele/aI a rel#a alta, as :r#ores muitoco.adas, os .assarinhos cantando e #oando com belas .lumagens, o ar im.regnado doaroma das %lores' s #e/es, o cen:rio .arecia embriag:-la e ela se distra!a mesmo no meiode uma con#ersa' or isso achou que tinha ou#ido mal quando o .ai disse que queria cas:-la com Abram Bontel#an'Eentre as %am!lias com quem ela e o .ai tinham %icado hos.edados antes de receberem a*ltima casa constru!da em radogrande, %igura#a o casal Abram Bontel#an e eona atras'; .ai sabia que Abram Bontel#an era um homem #elho, mal-humorado, de tem.eramentodi%!cil e olhos inchados, mas mesmo assim %alou duramente com ela'  - Abram est: dis.osto a %icar com #oc e não h: mais ninguém .ara %a/er isso' ?omosde/essete %am!lias' 6cluindo a mim e ao %alecido Carlos ben ?agan, cua %am!lia é agora aminha, sobram a.enas quin/e %am!lias de onde tirar um marido' ; .roblema é que todos oshomens : são maridos e .ais' &oc teria de es.erar a morte de alguma outra es.osa' ; @0"B; DE6D V11- &ou es.erar - ela disse as.eramente, mas oachim balan+ou acabe+a'  - 0em de cum.rir seu de#er .ara com a comunidade' - 6sta#ain%le!#el' Eisse que Adriana o en#ergonharia se não obedecesse e elaacabou cedendo'  Abram Bontel#an .arecia distra!do no casamento' Eurante a missa nu.cial, não %aloucom a noi#a nem a olhou' A.s a cerimnia, hou#e estridentes celebra+es em trs casas,com trs es.écies di%erentes de carne - carneiro, cabrito, %rango -, e dan+as até as .rimeirashoras da manhã' Adriana e o noi#o .assaram .arte da noite em todas as trs %estas,terminando na casa de ?ancha ortal, onde .adre ?era%ino sentou-se com eles, tomou umco.o de #inho e %alou-lhes re.etidamente da santidade do casamento'  Abram esta#a embriagado quando sob #i#as e risos saiu da casa de ?ancha ortal'0ro.e+ou #:rias #e/es antes de chegar à carro+a' Ee.ois, sob o %rio do luar, le#ou Adriana .ara casa' Ees.ida no quarto, deitada na mesma cama onde morrera sua amiga eonaarras, Adriana esta#a assustada, mas resignada' ; cor.o dele era %eio, com uma barrigaca!da e bra+os muito magros' Bandou-a abrir as .ernas e colocou a lam.arina numa .osi+ão melhor .ara a.reciar sua nude/' ?em d*#ida o acasalamento era mais di%!cil .ara osseres humanos que .ara os ca#alos e carneiros' 6le montou em seu cor.o mas nãoconseguiu .enetr:-la com o bastão mole, embora desse .inotes e ingasse, borri%ando-acom a res.ira+ão' inalmente, rolou .ara longe dela e dormiu, deiando-a so/inha .ara sele#antar e a.agar a lam.arina' uando #oltou .ara a cama, Adriana deitou-se bem na beirada, sem sono, o mais longe dele .oss!#el'

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  7a manhã seguinte, Abram tentou de no#o, gemendo com o es%or+o, mas s conseguindo .rodu/ir o ato de alguma coisa que colou nos .los mais %inos que ela tinha .erto da#irilha' Ee.ois saiu de casa e ela .`de es%regar toda a sueira'  Abram se mostrou um marido rude, que Adriana .assou a temer' 7o .rimeiro dia decasados, assustou-a com um berroI Chama isso de o#o estrelado 7aquela tarde mandou-

a co/inhar uma re%ei+ão decente .ara no#e .essoas, que #iriam no dia seguinte' Adrianamatou duas galinhas, de.enou-as e assou-as, bateu a massa do .ão e %oi buscar :gua %resca .ara ser#ir na mesa' ; .ai e a madrasta esta#am entre os con#idados .ara antar, assimcomo Anselmo, %ilho de Abram, acom.anhado da es.osa A/ucena Alu/a e dos trs %ilhos'6ram duas meninas, Clara e eonor, e um garotinho chamado ose.h, crian+as que tinhamagora, em Adriana, uma a# de cator/e anos' 6nquanto ela ser- V12

 7;A= );RE;7

#ia a comida, ninguém lhe dirigiu a .ala#ra, nem mesmo o .ai, que ria com a descri+ão queAnselmo %a/ia das manias das cabras'  ara consterna+ão de Adriana, o marido continuou dormindo a seu lado e um dia, cerca detrs semanas a.s o casamento, conseguiu a rigide/ necess:ria .ara se introdu/ir dentrodela' Adriana chorou baio com a dor do de%loramento e, ressentida, ou#iu o grasnido detriun%o de Abram' a/endo quase de imediato uma retirada .egaosa, Abram .egou umtra.o e ca.turou ra.idamente a .equena mancha de sangue, .ro#a do %eito'  Ee.ois disso, deiou-a algum tem.o em .a/, como sea ti#esse escalado a montanha enão %osse .reciso %icar re.etindo a coisa' Besmo assim, em muitas manhãs, Adriana eraacordada .or uma detest:#el mão dentro da rou.a branca com que dormia' ; modo comoAbram meia entre suas .ernas não .oderia, em nenhuma hi.tese, ser descrito comocar!cia' 7a maioria do tem.o, .orém, Adriana conseguia ignor:-lo, embora ele ti#esseadquirido o h:bito de lhe bater com #ontade e com %requncia'  As mãos manchadas tinham .unhos duros e certa #e/, quando ela deiou o .ão queimar,Abram a+oitou-lhe as .ernas com uma chibata'  - or %a#or, Abram 7ão, .or %a#or 7ão 7ão - ela gritara, chorando, mas o marido, res.irando %undo a cada #ergastada, não lhe da#ares.osta'  Abram disse ao .ai que era obrigado a bater .ara corrigir seus de%eitos e o .ai %oicon#ersar com ela'  - are de agir como uma crian+a mimada e a.renda a ser uma boaes.osa, como %oi sua mãe' - Adriana não conseguiu olh:-lo de %rente,mas .rometeu que ia melhorar'  uando a.rendeu a %a/er as coisas como Abram queria, as surras eram menos %requentes,mas ainda assim continua#am' 7a realidade, a cada ms ele %ica#a mais agitado e tambémmais desconuntado' icar deitado lhe do!a' Anda#a com o cor.o duro, arqueando com ador do mo#imento' 7as situa+es onde antes tinha .ouca .acincia, agora não tinhanenhuma'  Certa noite, quando esta#am casados h: mais de um ano, a #ida de Adriana se modi%icou'6la ha#ia co/inhado o antar, mas não chegou a ser#i-lo, .ois derramou :gua na mesaquando ia encher o co.o de Abram, que se le#antou e esmurrou-a no seio' 6mbora a ideia

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nunca lhe ti#esse ocorrido antes, Adriana se #irou e in#estiu contra a cara dele,esbo%eteando-o duas #e/es' oram ta.as tão %ortes que Abram .odia ter ca!do se não ti#esseconseguido se estatelar na cadeira'Adriana continuou em .é diante do marido'

; @0"B; DE6DV1V

- 7ão #ai mais encostar a mão em mim, senor' 7unca maisAtnito, Abram ergueu os olhos e come+ou a chorar de rai#a re.rimida e humilha+ão'- 6ntendeu o que eu disse - ela .erguntou, mas ele não res.ondeu'Ao olh:-lo atra#és das .r.rias l:grimas, Adriana #iu um sueiti-nho in%ame, mas também um #elho %raco e maluco, não alguém a temer' Eeiou-o sentadona cadeira e %oi .ara cima' Ea! a .ouco ele também subiu, tirou de#agar a rou.a, deitou e%icou bem na beirada, o mais longe dela .oss!#el'Certa de que o marido ia se queiar ao .adre ou a seu .ai, Adriana es.erou com resigna+ãoo castigo que eles .odiam determinar, quem sabe um chicoteamento ou coisa .ior' uandonão ou#iu sequer uma .ala#ra de condena+ão, %oi gradualmente .ercebendo que Abram nãose queiara .or causa do rid!culo a que .oderia se e.or' A%inal, era melhor ser #isto .elosoutros homens como um #elho e .otente leão, alguém que sabia manter de rédea curta umaes.osa tão o#em'  Ee.ois disso, ela .assou a ogar toda noite um cobertor na sala do andar de baio e adormir no chão' Eiariamente trabalha#a na horta, co/inha#a .ara o marido, la#a#a asrou.as dele e cuida#a da casa dele' uando %alta#am .oucos dias .ara com.letarem doisanos de casados, Abram come+ou a tossir e deitou-se na cama, de onde nunca mais iria sele#antar' Adriana tratou dele .or no#e semanas, aquecendo o #inho e o leite de cabra,dando-lhe comida na boca, tra/endo o .enico, lim.ando seu traseiro, la#ando-lhe o cor.o'  uando Abram morreu, caiu sobre ela um enle#o de eterno agradecimento e o .rimeirosentimento de .a/ de sua #ida adulta'Eurante algum tem.o, ti#eram a decncia de dei:-la so/inha, .elo que ela %icou aindamais agradecida'  Contudo, menos de um ano a.s a morte de Abram, o .ai le#antou o tema de suacondi+ão de #i*#a em radogrande'  - 7ossos homens decidiram que uma .ro.riedade s .ode ser mantida no nome de um homem que .artici.e do trabalho na terra'6la o obser#ou com aten+ão'- &ou .artici.ar do trabalho'6le sorriu'- 7ão ser: ca.a/ de contribuir com trabalho su%iciente'  - 7egociantes de seda não a.renderam a %a/er trabalho bra+al 6utambém .osso a.render' ?ou ca.a/ de cuidar muito bem de uma horta'0rabalharei melhor numa la#oura que Abram Bontel#an' V14 7;A= );RE;7; .ai continuou a sorrir'

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  - Bas não .ode ser' ara conser#ar a .ro.riedade ter: de ser des .osada .or alguém' Caso contr:rio, sua terra ser: re.artida .or cadaum dos outros la#radores'- 7unca mais quero me casar'  - Anselmo, %ilho de Abram, desea manter esta .ro.riedade intac

ta e dentro da %am!lia'  - Como ele acha que seria .oss!#el Be tomando como segundamulher; .ai %ran/iu a testa ante o tom, mas mostrou .acincia'  - ro.e que #oc aceite %icar noi#a de seu %ilho mais #elho,ose.h'- ilho mais #elho ose.h é um menino de sete anos  - 7ão im.orta' ; noi#ado ser#iria .ara conser#ar intacta a .ro.riedade' 7ão h: mais ninguém dis.on!#el' - 7o mesmo clima em que .edira .ara ela se casar com Abram, o .ai deu de ombros' - &oc di/que não quer mais se casar, mas .ense que tal#e/ ose.h morra antesde se tornar adulto' 7a .ior das hi.teses, #ai demorar anos .ara crescer' 6 quem sabe ele se desen#ol#a de um modo que #oc goste e a deie muito %eli/ quando %or um homem %eito'  Adriana nunca .ercebera o quanto anti.ati/a#a com o .ai' &iu-o remeer na sua cesta de#egetais, tirando as cebolas que ela colhera de manhã cedo'  - &ou le#ar estas comigo' ?ancha di/ que suas cebolas são sem.reas melhores'?orridente, ele se des.ediu .ara sair'; segundo noi#ado lhe .ro.orcionara um .er!odo de tem.o sem aborrecimentos' assaram-se trs semeaduras e trs colheitas desde a morte de Abram Bontel#an' ;s cam.os %érteis%oram semeados a cada .rima#era, o %eno cortado e arma/enado a cada #erão, o trigo com .ragana colhido a cada outono, ou#indo-se .oucas queias' Algumas es.osas do #ale .assa#am de no#o a encarar Adriana com hostilidade' Alguns maridos tinham ido um .oucoalém dos sim.les olhares, indicando seu interesse com .ala#ras doces' ; leito nu.cial,contudo, ainda esta#a desagrada#elmente n!tido em sua mente e ela não queria nada comhomens5 a.rendeu a des.ach:-los com um graceo de .ouco caso ou um .equeno sorrisoque os acusa#a de tolos'  s #e/es, quando deia#a sua .ro.riedade e cru/a#a os cam.os, #ia o menino com quemse com.rometera' ose.h Bontel#an era .e- ; @0"B; DE6D V1Oqueno .ara a idade dele mas, com um grande cacho de cabelo .reto e cres.o, .arecia um#erdadeiro ra.a/inho correndo .elas la#ouras' 6sta#a com de/ anos' uantos anos seriamsu%icientes .ara um amadurecimento Dm menino de#ia ter .elo menos cator/e ou quin/eanos, ela su.unha, antes de ser#ir ao acasalamento'  Dm dia, ao .assar .erto dele, Adriana #iu seu nari/ escorrendo' 6la .arou, tirou um len+odo bolso e, .ara es.anto do garoto, lim.ou-lhe o nari/'  - 7unca me #enha .ara a cama de nari/ escorrendo' 0em de me .rometer isso - Adriana deu uma boa risada quando ose.h correucomo um coelho assustado'

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  Eentro dela um #:cuo de %rie/a ia crescendo como uma crian+a indeseada' Adriana nãotinha meios de esca.ar mas come+ou a.ensar em #irar as costas .ara o #ale e subir cada #e/mais a montanha, até não conseguir mais andar' A ideia, no entanto, a assusta#a, .ois se nãotemia a morte, não su.orta#a a .ossibilidade de ser comida .or animais sel#agens'  0inha a.rendido que não %a/ia sentido es.erar coisas boas do mundo' 7a tarde em que o

desconhecido, como algum ca#aleiro assombrado, sa!ra do bosque numa cota de malha e%erro e num bonito ca#alo cin/ento, ela teria %ugido se %osse .oss!#el' or isso não %icounada %eli/ quando, na manhã seguinte, Men/aquen bateu em sua .orta .ara .erguntarhumildemente se ela .odia tomar o lugar dele e mostrar o #ale ao #isitante'  - Binhas o#elhas come+aram a .arir uma atr:s da outra e algumas#ão .recisar de minha auda - ele disse, não lhe deiando nenhumaescolha'6le contou a ela o que sabia do médico que chegara de )uadalaara'

_ CA0D; V9 _a; B(E"C; &"?"0A706<onah dormira con%orta#elmente no celeiro de Men/aquen' 7ão que- rendo ser um .eso .ara a es.osa dele, entrou %urti#amente na casai enquanto todos dormiam, .egou uma brasado %ogão, tornou a sair e% %e/ uma .equena %ogueira .erto do riacho que corria ao lado'Dsando seus .r.rios e : bastante e!guos su.rimentos, co/inhou um caldo dei er#ilha'6sta#a alimentado e descansado quando Adriana Chacon se a.roimou e disse que lhemostraria a aldeia no lugar de Men/aquen' ediu que ele não selasse o ca#alo'  - =oe #ou mostrar a .arte oriental do #ale' ( melhor irmos a .é'0al#e/ amanhã alguém lhe queira mostrar a outra .arte, onde .oder: ir a ca#alo - disse ela, e <onah concordou'  Ainda acredita#a, %ascinado, que a mo+a era muito .arecida com] "nés, embora ele .r.rioreconhecesse que Adriana tinha certos tra+os ! bem di%erentes' 6ra mais alta, de ombrosmais largos e seios mais deli-1 cados' ; cor.o era esguio, tão atraente quanto o rosto5quando caminha#a, as coas redondas desenha#am-se no tecido cin/ento e usto' 6la,contudo, transmitia a sensa+ão de não .erceber como era bonita e certamente não tinhaconscincia de sugerir qualquer sensualidade'  <onah .egou a .equena cesta que Adriana tinha tra/ido, coberta .or um guardana.o,carregando-a enquanto caminha#am' assaram .or um cam.o onde ha#ia homenstrabalhando e Adriana ergueu a mão .ara cum.riment:-los, embora não a.resentasse <onah .ara não inter-1 rom.er o trabalho deles'  - uem est: distribuindo as sementes é meu .ai, oachim Chacon - disse ela'  - Ah, eu : o tinha #isto ontem' oi um dos que correram .ara .roteg-la'- 6le não se lembra de o ter #isto em )ranada'  - 7ão h: o que lembrar' 7a é.oca em que esti#e em )ranada eleanda#a .elo sul, com.rando seda'  -; @0"B; DE6D V1Q  - Bicah Men/aquen me disse que o senhor quis se casar comminha tia'

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  Bicah Men/aquen %ala#a demais, ele .ensou torcendo um .ouco a cara, mas a%inal a#erdade era .ara ser dita'  - ?im, eu quis me casar com "nés ?aadi Eenia e Men/aquen eraamigo !ntimo de seu a#`' ?er#iu como intermedi:rio, con#ersandocomigo a mando de "saac ?aadi .ara sondar minhas .ers.ecti#as %inan

ceiras' 6u era muito mo+o e muito .obre, com .oucas es.eran+as .arao %uturo' ensei que "saac ?aadi .oderia me ensinar o negcio da seda,mas Men/aquen me disse que "saac : tinha um genro trabalhando comele, que era seu .ai' Eisse também que "nés de#ia des.osar alguém queti#esse um comércio ou uma .ro%issão, deiando claro que seu a#` nãoaceitaria um genro que %osse .recisar de assistncia %inanceira' oiassim que me mandou .`r os .és a caminho'  - 6 o senhor %icou muito sentido com isso - ela disse num tomligeiro, tal#e/ querendo indicar que, a.s tantos anos, aquela reei+ãocertamente deiara de ser um .roblema sério'  - Ee %ato %iquei chateado, e não s .ela .erda de "nés, mas também .or .erder a ami/ade de uma crian+a' ueria me casar com "nés e esta#a %ascinado .or sua .equena sobrinha' Bais tarde, encontrei a .edri-nha #ermelha com que #oc costuma#a brincar' eguei-a como recor da+ão e %iquei mais de um ano com ela'- &erdade - Adriana eclamou olhando-o de relance'  - Eeus é testemunha' oi terr!#el "saac não me querer na %am!lia'6u .odia ter sido seu tio e ter audado a criaria'  - ;u .odia ter morrido com "nés, em am.lona, no lugar de"sadoro ?abino'  - : #i que é uma .essoa muito .r:tica' Realmente .odia ter sidoassim'  Chegaram a um chiqueiro %edorento, onde uma grande quantidade de .orcos sere%estela#a em seu .equeno mar de lama' Além do cheiro %orte, ha#ia um de%umadouro eum criador magricela, chamado Rudol%o )arcia, a quem <onah %oi a.resentado'- : tinha ou#ido di/er que #iera alguém de %ora - disse )arcia'  - 6stou aqui .ara mostrar a ele o orgulho do #ale - disse Adriana,e.licando que os .orcos também .asta#am nos ca.in/ais da encostada montanha' )arcia le#ou os dois até a casa que ser#ia de de%umadouro, onde grandes .ernis muito rosados .endiam dos beirais' - Ee.oisde tem.erados com er#as e es.eciarias, os .ernis são lentamente de%umados' ; resultado é uma carne tostada, mas sem gordura, com umsabor ecelente'  -V1U

 7;A= );RE;7

  )arcia também .ossu!a cam.os de la#oura, onde os brotos das #erduras : %ura#am aterra'  - ?uas colheitas são sem.re as .rimeiras a brotar na .rima#era disse Adriana, e o la#rador e.licou que era .or causa dos .orcos'

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  - Dma #e/ .or ano mudo o chiqueiro de lugar' ;nde eles %icam, oscascos .ontudos e os %ocinhos abertos #ão re#irando a terra, misturando-a com seus deetos, criando um cam.o muito %értil .ara asemeadura'  Eeram-lhe adeus e retomaram a caminhada, agora seguindo um regato que descia o

cam.o e a mata até uma serraria com aroma de lascas de madeira' Ali, um homem chamadoacob ;rabuena %a/ia m#eis resistentes e utens!lios de madeira, %ornecendo também torasde lenha'  - A madeira que h: nessa montanha é su%iciente .ara me manter a#ida inteira ocu.ado - ele disse a <onah -, mas %ormamos um .equeno gru.o, onde as necessidades das coisas que eu %abrico são satis%eitas ra.idamente' ; isolamento deste #ale, embora sea timo .ara nossa seguran+a, torna im.oss!#el #ender o que .rodu/imos' ;s .ontos de%eira %icam longe demais' 6 embora .udéssemos encher uma ou duascarro+as e %a/er a di%!cil ornada .ara le#ar nossas coisas a aca ou=uesca, não seria bom estimular as .essoas a #irem aqui .ara com.rar os ecelentes .ernis do Rudol%o ou os m#eis %eitos .or mim' 7ãoqueremos chamar aten+ão' 6ntão, quando não tenho trabalho emminha o%icina, dou uma auda nas la#ouras'Eisse que .recisa#a de um %a#or de <onah'- A senora Chacon me disse que é médico'-?ou'- Binha mãe tem muita enaqueca' 6 é sem.re uma dor terr!#el'  - 0erei .ra/er em atend-la - disse <onah, .ensando um .ouco "mais além' - Eiga a ela''' ou a quem quiser se consultar''' que .osso ser encontrado amanhã de manhã no celeiro de Bicah Men/aquen';rabuena sorriu e abanou a cabe+a'- &ou le#ar minha mãe'?eguiram o regato e chegaram a um .equeno lago, onde ha#ia sombra e em cua margem .odiam descansar' A cesta coberta .elo guardana-] .o, que <onah se o%erecera .ara le#ar,continha .ão, queio de cabra cebolas e .assas' ;s alimentos %oram acom.anhados da :guagl do regato, que .egaram %a/endo concha com as mãos' ?eus mo#imen tos assustaramtrutas de bom tamanho, que tentaram se abrigar entre r 

; @0"B; DE6D

V19

  - ( um lugar es.lndido .ara se #i#er, este #ale de #ocs - disse<onah'  Adriana não res.ondeu, mas sacudiu o guardana.o sobre a :gua, es.alhando migalhas de .ão .ara os .eies'  - Acho que est: na hora da siesta - disse ela, recostando-se notronco de uma :r#ore e %echando os olhos' <onah seguiu-lhe o s:bioeem.lo'  6ra um mundo de .:ssaros cantando e barulhos de :gua, uma real bonan+a' 6le realmentecochilou um .ouco num descanso sem sonhos' uando abriu os olhos, #iu que Adriana

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(WX #iar: seu est̀ mago'E Ao meio-dia, eah Cha/an lhe troue .ão e uma tigela de so.a' 6le?i 5 comeu com satis%a+ão e logo esta#a lancetando %ur*nculos, %alandosobre digestão e dietas, mandando as .essoas miarem numa #asilhaatr:s do celeiro .ara .oder eaminar suas urinas' ]

  7esse momento Adriana Chacon a.areceu e %icou es.erando, con-% #ersando com osoutros' &:rias #e/es ela olhou na dire+ão de <onah, que continua#a tratando dos .acientes'  ouco de.ois, quando <onah le#antou os olhos .ara .rocur:-la, elai : se %ora' 7a manhã seguinte, Adriana a.areceu numa égua cor de barro chamada Eona' oram .rimeiro à igrea, onde <onah %oi a.resentado ao .adre ?era%ino' ; .adre .erguntou deonde ele era e o médico res.ondeu que de )uadalaara' ; .adre torceu a boca'- e/ uma longa #iagem'  ; .roblema de mentir, <onah descobrira h: muito tem.o, era uma *nica mentiraengendra#a muitas outras' A.ressou-se, então, G mudar de assunto, comentando sobre oagrad:#el as.ecto da igreinha de .edra e madeira' ; @0"B; DE6D V21- A igrea tem nome  - Ando .ensando em sugerir #:rios nomes a meus .aroquianos, .ois são eles que de#em me guiar na decisão' rimeiro .ensei emcham:-la igrea de ?ão Eomingos, mas : h: muitas igreas chamadasassim' ; que acha de igrea de Cosme e Eamião- 6les %oram santos, .adre - Adriana .erguntou'  - 7ão, minha %ilha, mas esti#eram entre nossos .rimeiros m:rtires'6ram gémeos nascidos na Ar:bia que se tornaram médicos' 0rata#amdos .obres de gra+a, curando muita gente' uando o im.erador romano Eiocleciano come+ou a .erseguir os cristãos, ordenou que osirmãos renegassem sua %é e, quando eles se recusaram, %oram deca.itados .ela es.ada' ;u#i %alar esta manhã de outro médico que tratou degente doente e não cobrou nada'  <onah se sentiu inustamente elogiado e não tinha a menor #ontade de ser colocado aolado de m:rtires'  - Costumo aceitar .agamento .elos meus ser#i+os, e de muito bomgrado - disse' - Bas neste caso é di%erente, .ois sou hs.ede do #ale'?eria terr!#el um hs.ede cobrar de seus an%itries'  - Ee qualquer modo %e/ o bem - disse o .adre ?era%ino, .ara nãoser rebatido' Ee.ois aben+oou os dois, que se des.ediram'  =a#ia algumas .ro.riedades na etremidade do #ale' Casas dos .astores que tinham%ormado grandes rebanhos de o#elhas e cabras' <onah e Adriana, contudo, não .araram .ara bater nas .ortas' ?im.lesmente contornaram as casas, deiando os ca#alos caminharde#agar, em serena harmonia'  <onah .edira que ela não trouesse comida, certo de que conseguiria .egar algumas trutase .re.arar uma re%ei+ão' Besmo assim Adriana tinha tra/ido um .ouco de .ão e queio, oque satis%e/ o est`mago dos dois, ser#indo a linha de .esca a.enas como eerc!cio' Ee.oisde amarrarem os ca#alos onde ha#ia ca.im e sombra, .assaram o meio-dia dormindo sobuma :r#ore unto ao riacho, eatamente como tinham %eito na #és.era'

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; dia esquentara e tiraram um bom e longo cochilo' Ao acordar, <onah .ensou que elaainda dormia mas, quando chegou ao riacho .ara ogar :gua gelada no rosto, #iu Adriana sea.roimando' 6la se aoelhou .ara %a/er o mesmo' ;s dois .egaram a :gua %a/endo conchacPm as mãos e, quando come+aram a beber, cada qual olhou, sobre as Pã que .inga#am,diretamente .ara o outro' Adriana des#iou de os olhos' 7a #olta, <onah deiou que o

ca#alo dela seguisse Dln .ouco à %rente' ueria #-la sentada de lado no silhão, com a colu-V22 7;A= );RE;7na .er%eitamente ereta, mantendo %acilmente o equil!brio, mesmo durante um galo.e curto's #e/es o cabelo castanho e solto es#oa+a#a na brisa'uando chegaram à casa de Adriana, ela tirou a sela do ca#alo'  - ;brigado .or me mostrar no#amente o #ale - disse <onah e amo+a abanou a cabe+a e sorriu' 6le não queria ir embora, mas não hou#e con#ite .ara %icar'  <onah #oltou à .ro.riedade de Men/aquen no ca#alo :rabe cin/ento, que deiou .astando .erto do celeiro' ;s homens tinham come+ado a ca#ar uma #ala de irriga+ão que le#aria as:guas do riacho aos trechos mais secos do .rado' 6le os audou durante uma hora, .uando baldes da terra remo#ida e es.alhando-a numa #:r/ea' Besmo o trabalho duro, no entanto,não conseguiu dissi.ar a curiosa inquieta+ão, a irritabilidade que tomara conta dele'; dia seguinte era s:bado' A .rimeira coisa em que .ensou ao abrir os olhos era que queriase encontrar com Adriana Chacon' "n%eli/mente, Bicah Men/aquen entrou no celeiro quasede imediato, .erguntando se ele não acha#a melhor ir com alguns homens até o bosque .aramostrar-lhes er#as que .udessem combater as moléstias' A%inal, quando ele %osse embora, o#ale %icaria de no#o sem um médico'  - A não ser, é claro, que tencione %icar - disse Bicah' <onah sentiu que a sugestão era mais que brincadeira, mas se limitou a sorrir esacudir a cabe+a'  ouco de.ois .artiu acom.anhado de Men/aquen, Asher de ?e-garra e edro Abula%in'Certamente, .or %alta de conhecimento, acabaria des.re/ando algumas .lantas #aliosas,mas a.rendera muita coisa com 7uno e sabia que aqueles homens #i#iam no meio de um .ara!so curati#o' ara come+ar, antes mesmo de deiarem o .asto, <onah lhes mostrouer#ilhacas amargas que ser#iam .ara ali#iar as *lceras ou, misturadas com #inho numcata.lasma, %unciona#am como ant!doto contra as mordidas de cobra' 6 indicou ostremo+os, que também .odiam ser tomados com #inho .ara a.lacar a dor ci:tica ou com#inagre, .ara e.elir #ermes do intestino' 7as hortas, ele e.licou, ha#ia outras er#as#aliosas'  - entilhas, comidas com as cascas, seguram intestinos atacadosde diarreia' 6 também as ns.eras, cortadas em .edacinhos e misturadas com #inho ou #inagre' Ruibarbo abrir: intestinos que esti#eremcom %orte .risão de #entre' ?ementes de gergelim em #inho audarãona dor de cabe+a' ; nabo ali#iar: a gota' ; @0"B; DE6D

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  7a %loresta, <onah mostrou-lhes a er#ilha sel#agem, boa .ara sarna e icter!cia quandomisturada com ce#ada e mel' 6 al%or#a, que abranda#a as clicas menstruais das mulheresse misturada com sal e #inagre' 6 acinto, que re%ogado com uma cabe+a de .eie eadicionado a a/eite de oli#a, .rodu/ia um unguento .ara as dores nas untas'  7esse .onto, edro Abula%in, estando .erto de sua .ro.riedade, a%astou-se um instante do

gru.o e #oltou com dois .ães e uma arra de bebida' 6les se sentaram nas .edras unto aoriacho, cortaram e comeram o .ão, e .assaram a arra de um .ara outro' 6ra um #inho:cido5 .ro.ositalmente %eito assim .ara %icar com sabor de conhaque'  ;s quatro tinham se tornado bons com.anheiros e esta#am meio altos quando sa!ram do bosque' <onah não sabia se ainda daria tem.o .ara %a/er uma #isita a Adriana e, ao chegarao celeiro de Men/aquen, encontrou Rudol%o )arcia à sua es.era'  - uem sabe não .ode me audar' ( uma de minhas melhores .or cas, senor' 6st: tentando dar à lu/, mas a.esar de um dia inteiro dees%or+o ainda est: entalada' ?ei que é médico de gente, mas'''  6m com.anhia de )arcia, <onah .artiu de imediato .ara o chiqueiro, onde a .orca esta#adeitada de lado, arqueando sem %or+as, #isi#elmente com .roblemas no .arto' <onah tiroua camisa e lambu/ou a mão e o bra+o de gordura' A.s alguma mani.ula+ão, conseguiuetrair um leitão/inho gorducho e morto de dentro da .orca, o que te#e o mesmo e%eito detirar a rolha de uma garra%a' 6m .ouco tem.o, sa!ram mais oito leites #i#os, quecome+aram logo a sugar o leite da mãe'  ; .agamento de <onah %oi um banho' )arcia troue uma tina .ara o celeiro e, enquanto<onah se es%rega#a contente, )arcia esquentou e troue duas grandes #asilhas de :gua'  Ao #oltar à .ro.riedade de Men/aquen, <onah encontrou uma merenda que eah Cha/andeiara l:' =a#ia .ão, uma %atia de queio e um co.o de um #inho sua#e, doce' <onahcomeu e de.ois saiu .ara miar numa :r#ore sob a lu/ da lua' inalmente subiu .ara o .alheiro e, .ara #er as estrelas, .`s o cobertor ao lado da anela sem #idra+as' ogo esta#adormindo' 7o domingo .ela manhã, acom.anhou Bicah e eah à igrea, onde #iu Adriana sentadanum dos lados do .ai' A madrasta esta#a sentada do outro lado' =a#ia muitos bancos #a/iosmas <onah %oi diretamente .ara unto de Adriana' eah e Bicah, que o tinham seguido,sentaram-se à sua esquerda'- Mom-dia - ele disse a Adriana'

V24

 7;A= );RE;7

- Mom-dia'  ueria %alar com ela, mas %oi im.edido .or .adre ?era%ino, que da#a in!cio ao culto coma de#ida com.etncia' s #e/es, ao se aoelharem e se le#antarem, seus cor.os se toca#am'<onah sabia que ha#ia gente olhando'  adre ?era%ino anunciou que na manhã seguinte estaria na .onta esquerda do .rado'ueria aben+oar a #ala de drenagem que esta#a sendo ca#ada' A.s o hino %inal, as .essoas%i/eram %ila .ara a comunhão' uando o .adre entrou no con%ession:rio, eah disse quegostaria de ir embora de imediato, a não ser que o senor 0oledano quisesse se con%essar'0inha de .re.arar um lanche .ara os habitantes de radogrande que a #isitariam .arahomenagear seu hs.ede' )emendo .or dentro, <onah te#e de sair da igrea com eles'

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;s aldees troueram-lhe .resentes, bolos de mel, a/eite de oli#a, #inho, um .equeno .ernil' acob ;rabuena deu-lhe uma not:#el gra#ura em madeira, re.resentando um tordoem .leno #`o' ; .:ssaro esta#a colorido com .igmentos que ;rabuena obtinha das er#asdo bosque'  Adriana, o .ai e a madrasta esta#am entre os que #ieram, mas <onah não te#e

o.ortunidade de %alar com ela so/inho' or %im, a mo+a %oi embora, deiando <onahintimamente irritado, atormentado' fZ CA0D; 4G _oAER"A7A C=AC;7; interesse de Adriana tinha crescido quando ela o obser#ou cuidando das .essoas noceleiro de Bicah' icou im.ressionada .or #-lo tão absorto e .elo %ato de ele tratar cada .essoa com res.eito' ercebeu que era um homem am:#el'  - Anselmo Bontel#an est: %urioso - o .ai lhe disse no domingo' -Ei/ que #oc tem andado muito com esse médico' Ei/ que é uma desonra .ara o %ilho, seu noi#o'  - Anselmo Bontel#an .ouco se im.orta com seu .equeno ose.he certamente nada comigo - disse ela' - 0udo que lhe interessa é adquirir controle da terra que %oi do .ai'  - ?eria melhor que não a #issem mais com o senor 0oledano' Amenos, é claro, que acredite na seriedade das inten+es dele' ?eriamuito bom ter um médico morando aqui'  - 7ão tenho moti#os .ara acreditar que ele tenha inten+es, sériasou não - disse ela num tom irritado'  ?eu cora+ão, no entanto, deu um salto quando <onah 0oledano a.areceu na sua .orta nasegunda-%eira de manhã'- uer .assear comigo, Adriana- Bas : lhe mostrei os dois lados do #ale'- or %a#or, quero #-los de no#o'  0ornaram a seguir a trilha ao longo do riacho, con#ersando de modo descontra!do' Aomeio-dia, ele tirou do bolso a linha de .escar e uma latinha com minhocas ainda semeendo' Eisse que .egara as minhocas na #ala que esta#am ca#ando no .rado' 6la %oi emcasa, tirou uma brasa do %ogão e, quando a entregou a <onah numa .equena #asilha deestanho, elea .egara e lim.ara quatro .equenas trutas .ara cada um' 0ambém : cortaraalguns galhos secos .ara %a/er %ogo' 6m .ouco tem.o, esta#am saboreando a gostosa carneassada das trutas, comendo com as mãos e lambendo os dedos'  Eesta #e/, na hora da sesta, <onah não se deitou muito longe de Adriana e, enquanto elaadormecia, %icou atento à sua res.ira+ão sere- V2N 7;A= );RE;7na, ao mo#imento do .eito .ara cima e .ara baio' Ao acordar, Adriana .areceu um tantoes.antada ao #er aquele homem alto e silencioso sentado .erto dela, #elando .or ela'  assaram a caminhar todo dia' ;s aldees %oram se acostumando a #-los .assear, às#e/es absor#idos numa con#ersa, outras a.enas andando em amistoso silncio' 7a ter+a-%eira de manhã, como se acabasse de cru/ar uma determinada linha, Adriana disse que .odiam ir até sua casa, onde ela co/inharia a re%ei+ão do meio-dia' 7o caminho, come+ou a

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%alar do .assado' Contou, sem entrar em detalhes, que o casamento com Abram Bontel#an%ora di%!cil e in%eli/' alou também do .ouco que se lembra#a da mãe, dos a#s, da tia "nés'  - "nés era mais minha mãe que eli.a' erder um deles teria sidouma cat:stro%e, mas ambos morreram, e em seguida também meu a#`e minha querida a# ulai>a'

<onah .egou sua mão e a.ertou'- Conte-me sobre sua %am!lia - .ediu Adriana'  6 ele contou algumas histrias de assustar' alou da mãe que morrera de doen+a' Ee umirmão mais #elho assassinado e de um .ai chacinado .or uma turba com dio aos udeus'alou do irmão ca+ula que %ora tirado dele'  - =: muito me con%ormei com a .erda dos que morreram, masacho di%!cil não continuar lamentando meu irmão 6lea/ar' Algo me di/que ele ainda est: #i#o' 6 se isto %or #erdade, : ser: um homem adulto' Bas onde eu .oderia encontr:-lo no mundo l: %ora 7a realidade,est: tão com.letamente a%astado de mim quanto os outros' Besmoachando que ainda est: #i#o, sei que nunca mais tornarei a #-lo, o queé terr!#el de admitir'  ;s homens que ca#a#am a #ala de irriga+ão tinham chegado a um .onto que %ica#a .ertoda casa' &iram <onah e Adriana .assar con#ersando, caminhando bem .rimos um dooutro'  uando a .orta da casa %oi %echada, Adriana ia di/er .ara <onah se sentar, mas as .ala#ras morreram em sua garganta' ?em re%letir, um tinha se #irado .ara o outro e <onahlhe beia#a o rosto' 7um instante, ela também o beia#a, as bocas e os cor.os seencontrando'  Adriana %icou atordoada .or todo aquele ardor, mas quando ele ergueu sua saia e come+oua .uar a rou.a de baio, ela esmoreceu' uis %ugir daquela mão' Ee#ia ser, então, umacoisa que todos os homens %a/iam, não a.enas Abram Bontel#an, .ensou com terror ere.ulsa' Bas enquanto a boca do médico a homenagea#a com uma série de .equenos beios, os mo#imentos da mão lhe disseram algo ; @0"B; DE6D V2Qdi%erente' Algo amoroso' 6 o calor que cresceu dentro dela %oi se es.alhando de um modoetremamente agrad:#el, en%raquecendo suas .ernas até %a/-la cair de oelhos' 6le tambémse aoelhou, continuando a bei:-la e a acarici:-la'  7o lado de %ora, a #o/ de um dos homens que trabalha#am na #ala gritouI  - 7ão, não 0em de colocar de no#o algumas dessas .edras nare.resa, Eurand' Claro, na re.resa, ou ela não #ai segurar a :gua'  Eentro da casa, os dois esta#am deitados untos, semides.idos, sobre uma esteira queestala#a, que cre.ita#a no chão'  uando Adriana se abra+ou a ele, a coisa correu naturalmente' 7ada que lembrasse adi%iculdade de Abram5 nada que lembrasse qualquer di%iculdade' A%inal era médico, ela .ensou meio absurdamente''' Adriana conhecia a gra#idade do .ecado de achar que aqueleera o momento mais agrad:#el de sua #ida, mas esse .ensamento, não s esse mas todos os .ensamentos %ugiram quando ela come+ou aos .oucos a %icar de no#o com medo' orquealgo estranho esta#a acontecendo e ela te#e certe/a da morte iminente' or %a#or, Eeus,Adriana im.lorou, incri#elmente cheia de #ida até tudo come+ar a tremer, a entrar emcon#ulses' 6 .ara não a%undar, ela agarrou <onah 0oledano com ambas as mãos'

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 7as duas noites seguintes, <onah eecutou um no#o ti.o de ogo' Ao .rimeiro sinal docre.*sculo, da#a boa-noite a Bicah e eah e es.era#a im.aciente a escuridão .lena, roacomo uma ameia, que o deiaria esca.ulir do celeiro de Men/aquen' rocura#a se esqui#ar do luar, a#an+ando sem.re que .oss!#el nas sombras mais carregadas, %urti#o como umsel#agem que #ai cortar alguns .esco+os' 6m ambas as noites, a .orta esta#a sem trinco e

Adriana esta#a logo atr:s' 6s.erando .ara abra+:-lo com uma ansiedade que s à dele .r.rio se .odia com.arar' Bas sem.re ela o manda#a embora bem antes do amanhecer, .ois os aldees eram agricultores que se le#anta#am cedo .ara cuidar dos animais'  Acha#am que esta#am sendo discretos e cuidadosos' 0al#e/ esti#essem, mas na manhã deseta-%eira Men/aquen .ediu que <onah sa!sse com ele'- Acho que temos um assunto a con#ersar'  oram a .é até um lugar não muito longe da igrea da aldeia, onde Bicah mostrou-lhe aterra #erdeante que se estendia da margem do rio à encosta rochosa da montanha'- 6sta #:r/ea %ica bem no centro do #ale - ele comentou' - Dm

V2U

 7;A= );6E;7

 .onto muito bom, %acilmente acess!#el a qualquer aldeão que .recise de um médico'  <onah se lembrou de anos atr:s, quando queria se casar com "nés e Bicah Men/aquen odes.achara sem hesita+ão' Acha#a que agora Bicah o tenta#a indu/ir a %icar na aldeia'  - 6sta :rea era .arte da .ro.riedade do %alecido Carlos ben ?agan,que descanse em .a/, mas %icou nas mãos de oachim Chacon desdeque ele se casou' oachim tem .ercebido seu interesse .or Adriana eme .ediu .ara di/er que a terra .ode ser sua e dela'  6sta#am usando Adriana como isca, ele .ercebeu' 6ra um .eda+o muito bonito de terra emesmo uma casa constru!da no meio do terreno %icaria .erto o bastante do rio .ara que se .udesse ou#ir o barulho da :gua' Dma %am!lia #i#endo ali .odia entrar nos .o+os do riodurante os dias quentes do #erão' Ao lado da casa, seria .oss!#el arar um cam.o de la#ouraaté a encosta arbori/ada da montanha'  - Ee#ido à locali/a+ão, todos .oderiam #ir a .é se consultar e oshomens de radogrande iam lhe construir uma bela casa' ( claro quenossa .o.ula+ão é .equena e .recisaria tratar tanto de .essoas quantode animais - disse lentamente Men/aquen, .rocurando ser honesto' -uem sabe não quisesse trabalhar também um .ouco na terra'  6ra uma boa .ro.osta, que de#ia ser res.ondida' Dma recusa am:#el : esta#a na .ontada l!ngua do médico' <onah .assara a encarar o #ale como o ardim do (den, mas sem.rete#e certe/a de que aquele .ara!so não era .ara ele' 0e#e medo, no entanto, de recusar antesde saber que e%eito sua decisão teria .ara a #ida de Adriana Chacon'  - 0enho de .ensar - disse, e Men/aquen abanou a cabe+a, contente .or ainda não ter ou#ido uma negati#a' 7o caminho de #olta, <onah .ediu um %a#or a Men/aquen'  - 6st: lembrado de quando nos conhecemos em )ranada Cele br:#amos o ?habat da #elha religião na casa de "saac ?aadi' 7ão gostaria de con#idar seus amigos .ara uma celebra+ão semelhante hoe ànoite

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  Men/aquen %ran/iu a testa' 0al#e/ .ressentindo .roblemas que ainda não .ercebera,encarou <onah e deu um sorriso .reocu.ado'- uer mesmo que eu %a+a isso- ?im, Bicah'- 6ntão #ou a#isar as .essoas'

 7aquela noite s Asher de ?egarra e edro Abula%in %oram à casa de Men/aquen e, .elo eito t!mido dos dois, <onah sus.eitou que não esta#am ali .or de#o+ão, mas .orque nãoqueriam contrari:-lo'

; @0"B; DE6D

V29

  unto com Bicah Men/aquen e eah, es.eraram até a terceira estrela %icar #is!#el no céu,indicando o in!cio do ?habat'- 7ão lembro muita coisa das ora+es - disse Asher'  - 7em eu - disse <onah' uando ia come+ar a entoar um trecho doshem:, lembrou do domingo anterior, quando o .adre ?era%ino %alarana igrea sobre a ?ant!ssima 0rindade, dando suas de%ini+esI  ?ão trs' ; ai cria' ; ilho sal#a as almas' ; 6s.!rito santi%ica os .ecadores domundo'  6ra nisso que os cristãos-no#os de radogrande tinham .assado a acreditar, <onah .ressentia' areciam estar %eli/es como catlicos desde que a "nquisi+ão os deiasse em .a/' uem era ele .ara .edir que cantassemI ;u#e, "srael, o ?enhor é o nosso Eeus, o?enhor é @nicoAsher de ?egarra .`s a mão no ombro de <onah'- 7ão #ale a .ena ser sentimental sobre o que é .assado'- 0em ra/ão - disse <onah 0oledano'  Agradeceu a eles e se des.ediu' 6ram bons homens5 nunca mais, .orém, %ormariam umminJan de udeus' <onah não queria a relutante .artici.a+ão daqueles a.statas, re/ando .ara %a/er-lhe um %a#or' ;bteria mais consolo orando so/inho, como %i/era .or tanto tem.o' 7aquela noite, na casa de Adriana, encostou uma lasca de madeira no %ogão e acendeu alam.arina'- ?ente-se, Adriana' 0enho de lhe contar umas coisas'or um momento ela %icou calada'- &oc : tem uma mulher, é isso- 6u : tenho um Eeus'  6m linguagem sim.les, <onah come+ou re#elando que, desde a u#entude, tinhaconseguido e#itar tanto a con#ersão quanto a "nquisi+ão5 Adriana ou#ia muito atenta,a.rumada na cadeira, sem amais tirar os olhos do rosto dele'  - ?eu .ai e outros me .ediram .ara %icar aqui' Bas eu não conseguiria sobre#i#er em radogrande, onde as .essoas sabem da #ida detodo mundo' ?ei como eu sou' 6 não ia me modi%icar' Bais cedo oumais tarde, alguém, .or medo, acabaria me delatando'- Bas tem algum lugar mais seguro .ara #i#er  6ntão <onah %alou da %a/enda, um .eda+o retirado de terra, .erto de uma cidade mas, aomesmo tem.o, longe de olhares curiosos'

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  - A "nquisi+ão é %orte ali' 0odos, no entanto, acham que sou umcristão-#elho' &ou à missa e nunca esque+o de doar à igrea um décimo de minha ecelente renda' 7unca me incomodaram' VVG 7;A= );RE;7

- e#e-me com #oc, <onah'  - ueria muito le#:-la como minha es.osa, mas tenho medo' ?eum dia me descobrirem, #ão me queimar no .oste' 6 minha es.osatambém teria de en%rentar uma morte terr!#el'  - Dma morte terr!#el é coisa que .ode acontecer a qualquer um, aqualquer hora - ela disse calmamente e <onah soube que ela era sem .re .r:tica' Adriana se le#antou, se a.roimou e abra+ou-o com %or+a'- 6stou muito honrada .or ter deiado sua #ida em minhas mãosdi/endo o que disse' &oc sobre#i#eu e ns #amos sobre#i#er untos' -; rosto esta#a molhado, mas <onah .odia sentir a boca se meendonum sorriso' - Acho que #ai morrer nos meus bra+os quando %icarmos bem #elhos'  - 6ntão temos de ir embora o mais de.ressa .oss!#el - disse ele' -Besmo no #ale as .essoas #i#em com medo' ?e soubessem que souum udeu .rocurado .ela "nquisi+ão, acho que me matariam com suas .r.rias mãos'  - 6stranho''' - disse Adriana' - ?ua gente era minha .r.ria gente'uando eu era bebé, meu a#` "saac decidiu que não ser!amos mais udeus' Bas toda noite de seta-%eira a a# ulai>a %a/ia um bom antar .ara a %am!lia e acendia as #elas do ?habat' Ainda tenho os casti+aisde cobre'- &amos le#:-los - disse <onah'artiram na manhã seguinte, no momento em que a .rimeira luminosidade cin/enta, brotando da escuridão, come+ou a iluminar a trilha .edregosa que sa!a do #ale' <onahesta#a ner#oso, .ois se lembra#a de outra %uga matinal, a que tentara %a/er com Banuelierro quando uma %lecha que .arecia ter #indo de lugar nenhum acabou com a #ida dohomem que ele nunca deiara de considerar como mestre'  Agora, .orém, ninguém tentou mat:-los, mas ele se mante#e em tensa #igil3ncia' ?deiou os ca#alos diminu!rem o .asso quando sa!ram da trilha da montanha e, sem nenhumind!cio de .ersegui+ão, tomaram a estrada .ara =uesca'?em.re que olha#a .ara Adriana, tinha #ontade de gritar de alegria'  6m =uesca, a %am!lia Aurélio ha#ia .re.arado uma grande .artida de triaga, de ecelentequalidade' <onah .ediu que amarrassem o medicamento no burro de carga que %icara comeles' ouco de.ois, : .ega#a de no#o a estrada com Adriana' Eesse momento em diante,nunca correu, sem.re se mostrando .reocu.ado com o con%orto da mo+a, sem.re tomandocuidado .ara não querer a#an+ar demais num ; @0"B; DE6D VV1  6nquanto #iaa#am, e.licou que nem tudo que dissera era #erdade' 7ão esta#am, .oreem.lo, indo .ara )uadalaara, e ela teria de se acostumar com a ideia de ser mulher deRamn Callic, o médico de ?arago+a' Adriana com.reendeu de imediato a ra/ão dasmentiras'

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  - )osto cio nome Ramn Callic - disse ela, e %oi como o chamoudesde então, .ara se acostumar'  uando come+aram a atra#essar ?arago+a, Adriana .arecia muito atenta a tudo à sua#olta' Ao atingirem a estradinha de acesso à %a/enda, ela : esta#a agitada, ansiosa' ; que<onah mais queria era um banho, urna tigela de so.a, um co.o de #inho e Adriana a seu

lado na cama' 6m seguida, como %echo de ouro, longas horas de sono' 6la, no entanto, semostra#a im.aciente .ara #er tudo e <onah, boceando, le#ou-a .ara conhecer as #:r/eas,as oli#eiras, o t*mulo de 7uno, o riacho com as .equenas trutas, o .omar, a horta que ca!rana mais com.leta ru!na e todos os cmodos da casa-sede'  uando ^<onah, %inalmente, conseguiu que o seu .rograma também %osse cum.rido, osdois dormiram metade do dia e a noite inteira'Casaram-se no dia seguinte' <onah estendeu quatro #aras nas costas de quatro cadeiras dasala e ogou um cobertor sobre elas, %a/endo um dossel nu.cial' Acendeu #elas e sentou-secom Adriana l: embaio, como se aquilo %osse uma tenda'  - Mendito seas 0u, ?enhor nosso Eeus, .orque nos santi%icastecom 0eus mandamentos e me deste esta mulher em casamento'Adriana olhou .ara ele'  - Mendito seas tu, ?enhor nosso Eeus, .orque nos santi%icastecom 0eus mandamentos e me deste este homem em casamento'  ; dedo de Adriana recebeu o anel de .rata que <onah ganhara do .ai quando %e/ tre/eanos' ; anel esta#a muito largo'  - 7ão im.orta - disse <onah' - ode coloc:-lo numa corrente eus:-lo no .esco+o'  6le quebrou um co.o com o salto do sa.ato .ara lamentar a destrui+ão do 0em.lo emerusalém, mas na #erdade os cora+es dos dois tinham .oucas queias naquele dia'- Ba/d to#, Adriana'- Ba/el to#, <onah'  Como #iagem de lua-de-mel, %oram até a horta, onde tiraram o mato e conseguiram acharalgumas cebolas' oram também até a .ro.riedade de ascual Cabrera, .aciente de <onah, .ara .egar o ca#alo .reto que %icara guardado em seu est:bulo' 7a #olta, o ca#alo VV2 7;A= );RE;7correu em.arelhado com o ca#alo :rabe cin/a e a montaria de Adriana, chamada Eona'  - or que chama seus ca#alos de reto e Cin/a - a mo+a .erguntou' - 6les não tm nome  <onah se limitou a sorrir e deu de ombros' Como .oderia e.licar que um dia, h: muitotem.o, .erdera um burro que tinha dois nomes e que, desde então, nunca mais conseguiradar nome a um animal  - osso bati/:-los - .erguntou Adriana, e <onah disse que era ti-mo' ; ca#alo cin/a #irou ?ultão' 6la acha#a que a égua .reta que %orade Banuel ierro lembra#a uma %reira, .or isso chamou-a de =ermana,"rmã'  7aquela tarde, Adriana come+ou a trabalhar na %a/enda' ; mo%o %ora tomando conta dacasa durante a ausncia de <onah e ela escancarou as .ortas .ara deiar entrar o ar' Ee.ois#arreu, la#ou, lim.ou' 6ncontrou no#as esteiras .ara colocar no chão, em.urrou ascon%ort:#eis cadeiras um .ouco mais .ara .erto do %ogo' ;s casti+ais da a# e a gra#ura do .:ssaro que tinham #indo de radogrande %oram .ostos no console'

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  Eois dias de.ois, era como se Adriana sem.re ti#esse #i#ido ali e a %a/enda %osse dela' AR06 ?606; =;B6B ?"67C";?;  Aragão V de abril de 1OG9

 _ CA"0D; 41 _DBA CAR0A E6 0;6E;Ee.ois de 7uno ierro, Biguel de Bontenegro era o melhor médico que <onah conhecera'Conhecido como o médico dos bis.os, .elo %ato dos .relados da "grea o consultaremcom %requncia, era um amigo #alioso .ara alguém na .osi+ão de <onah' ?ua :rea deatua+ão coincidia em .arte com a dele, mas os dois conseguiram se a.oiar mutuamente semqualquer sentimento de com.eti+ão' Bontenegro tinha su.er#isionado o a.rendi/ado deedro alma e recentemente associara o ra.a/ à sua cl!nica'  - Bas edro tem %alhas em termos de conhecimento e e.erincia- Bontenegro disse um dia a <onah, quando os dois relaa#am diantedos co.os de #inho numa taberna de ?arago+a' - 6m es.ecial, acho que .recisa de mais treinamento na cincia da anatomia' 6le .oderia a.render muita coisa audando #oc quando surgisse uma o.ortunidade'  ;s dois sabiam o sentido daquilo' Bontenegro queria que <onah deiasse alma .artici.ar de uma disseca+ão'  ara <onah era di%!cil deiar de atender a algum .edido seu, .or outro lado, desde que secasara, <onah adquirira .lena conscincia de suas res.onsabilidades .ara com Adriana enão queria coloc:-la em risco'  - Acho que é um ecelente cirurgião e de#ia ensin:-lo .essoalmente - disse ele' - oi o que seu amigo 7uno %e/ comigo'  Bontenegro abanou a cabe+a, com.reendendo a decisão de <onah e aceitando-a semrancor'- Como #ai sua mulher, Ramn- Continua na mesma'  - Ah, bem, como #oc sabe essas coisas às #e/es demoram um .ouco' 6la é uma mulher encantadora' or %a#or, d-lhe meus cum.rimentos'<onah assentiu e terminou o #inho' 7ão tinha certe/a se Adriana era estéril ou se o .roblema #inha dele, .ois .elo que sabia amais engra#idara uma mulher' 6ssa inca.acidade era a *nica coisa que .erturba#a seucasamento' <onah .ercebia o

VVN 7;A=);RE;7 Wquanto a es.osa queria uma %am!lia e era terr!#el a triste/a que toma#a conta dos seus olhosquando ela #ia os %ilhos das outras'  6.`s a situa+ão a Bontenegro e, de.ois de estudarem untos a literatura médicadis.on!#el, decidiram dar-lhe uma in%usão de legumes, c3n%ora, a+*car, :gua de ce#ada erai/ de mandr:gora misturada no #inho, uma .rescri+ão do médico mu+ulmano Ali ibnRidSan' Eurante dois anos Adriana tomou %ielmente essa %rmula e alguns outrosmedicamentos, mas não hou#e resultados'

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  ;s dois le#a#am uma eistncia tranquila e ordeira' ara manter as a.arncias, Adriana oacom.anha#a à igrea alguns domingos .or ms, mas %ora isso raramente iam à cidade,onde ela era tratada com res.eito como es.osa do médico' Adriana aumentara a horta e, unto com o marido, num trabalho lento mas .ersistente, tornara .roduti#os a maior .artedo .omar e do bosque de oli#eiras' 6la adora#a trabalhar na terra como um .eão'

  6ra uma é.oca muito %eli/ .ara <onah' Além da es.osa, tinha umtrabalho de que gosta#a e tinha os .ra/eres dos li#ros' A.enas algunsmeses a.s a #inda de radogrande, chegou ao %inal de ; c3non damedicina' oi quase com relut3ncia que tradu/iu a *ltima .:gina comcaracteres hebreus - uma ad#ertncia aos médicos .ara que não sanai grassem os .acientes que esti#essem num estado de %raque/a, assimcomo os que esti#essem so%rendo de diarreia ou n:usea'  6 então, .`de registrar em sua .r.ria %olha de .a.el as .ala#ras %inaisI6is o echo da ;bra com um Ato de Agradecimento'ossa este nosso conciso tratado sobre os .rinc!.ios gerais .ertinentes à cincia da medicina ser considerado su%iciente' 7ossa .rima tare%a ser: com.ilar a obranum s Caderno, com a .ermissãode Al:' ossa 6le ser nossoguia e a 6leagradecemos .or todas as suasinumer:#eisgra+as'im do rimeiro i#ro doC3non de Bedicina deA#icena, rimeiro

; @0"B; DE6D OVQ  Dsou areia %ina .ara secar a tinta e sacudiu-a com cuidado' Ee.ois acrescentou a %olha à .ilha de manuscritos que : se ele#a#a a uma im.ressionante dist3ncia da su.er%!cie damesa' ?entiu uma alegria toda es.ecial, algo que s de#ia ocorrer a escritores e estudiososque ti#essem trabalhado durante muito tem.o, e em .er%eito isolamento, .ara com.letar umtrabalho' amenta#a que 7uno ierro não .udesse #er o .roduto %inal da tare%a de queencarregara o a.rendi/'  `s o A#icena em es.anhol numa .rateleira e de#ol#eu o A#icena em hebraico ao nichona .arede, o esconderio dos li#ros, de onde tirou a segunda metade da tare%a que receberade 7unoI o li#ro de Baim`nides sobre a%orismos médicos' Com o tem.o dis.on!#el atéAdriana cham:-lo .ara o antar, sentou-se de no#o à escri#aninha e come+ou a tradu/ir a .rimeira .:gina'0inham .ouca #ida social' ouco de.ois de chegarem a ?arago+a, con#idaram Bontenegro .ara antar' ?endo #i*#o, o médico retribuiu con#idando-os .ara antar numa taberna dacidade' "niciou-se assim um h:bito que, desde então, os trs .assaram a com.artilhar'Adriana .arecia %ascinada com a histria da casa onde #i#iam'  - Conte-me sobre as .essoas que moraram aqui, Ramn - .ediaela, mostrando-se muito interessada ao saber que ReJna adique ser#ira como criada a todos os trs médicos que tinham #i#ido na %a/enda'- ue mulher ece.cional ela tinha de ser .ara conseguir agradar a trs

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di%erentes .atres na mesma casa )ostaria muito de conhec-la'  <onah es.era#a que Adriana se esquecesse ra.idamente do assunto, mas não %oi o queaconteceu e um dia ele te#e de ir à casa de ReJna .ara %a/er o con#ite' 0rocaram .arabéns, .ois ambos tinham se casado desde o *ltimo encontro' As re%ormas .ara trans%ormar o lugar em .ousada também esta#am em .leno andamento' ReJna disse que se sentia %eli/ em

saber que Adriana a con#ida#a .ara antar com Fl#aro 8cuo sobrenome era ?ara#!a nacasa onde, .or tanto tem.o, %ora uma sim.les criada'  7o dia marcado, o casal chegou tra/endo #inho e um %a#o de mel' or algum tem.o,ReJna e Adriana s trocaram gentile/as' <onah, então, le#ou Fl#aro, um homem de cabelos brancos, .ara conhecer a %a/enda, deiando que as duas se %amiliari/assem uma com aoutra' Fl#aro %ora criado num s!tio e elogiou os es%or+os do casal .ara .reser#ar as :r#ores'  - Bais tarde .odem construir um .equeno gal.ão na encosta domorro, .erto do bosque de oli#eiras e do .omar' Dm lugar .ara guar- VVN 7;A=);RE;7quanto a es.osa queria uma %am!lia e era terr!#el a triste/a que toma#a conta dos seus olhosquando ela #ia os %ilhos das outras'  6.`s a situa+ão a Bontenegro e, de.ois de estudarem untos a literatura médicadis.on!#el, decidiram dar-lhe uma in%usão de legumes, c3n%ora, a+*car, :gua de ce#ada erai/ de mandr:gora misturada no #inho, uma .rescri+ão do médico mu+ulmano Ali ibnRidSan' Eurante dois anos Adriana tomou %ielmente essa %rmula e alguns outrosmedicamentos, mas não hou#e resultados'  ;s dois le#a#am uma eistncia tranquila e ordeira' ara manter as a.arncias, Adriana oacom.anha#a à igrea alguns domingos .or ms, mas %ora isso raramente iam à cidade,onde ela era tratada com res.eito como es.osa do médico' Adriana aumentara a horta e, unto com o marido, num trabalho lento mas .ersistente, tornara .roduti#os a maior .artedo .omar e do bosque de oli#eiras' 6la adora#a trabalhar na terra como um .eão'  6ra uma é.oca muito %eli/ .ara <onah' Além da es.osa, tinha um trabalho de que gosta#ae tinha os .ra/eres dos li#ros' A.enas alguns meses a.s a #inda de radogrande, chegouao %inal de ; c3non da medicina' oi quase com relut3ncia que tradu/iu a *ltima .:ginacom caracteres hebreus - uma ad#ertncia aos médicos .ara que não sangrassem os .acientes que esti#essem num estado de %raque/a, assim como os que esti#essem so%rendode diarreia ou n:usea'  6 então, .`de registrar em sua .r.ria %olha de .a.el as .ala#ras %inaisI6is o echo da ;bra com um Ato de Agradecimento'ossa este nosso conciso tratado sobre os .rinc!.ios gerais .ertinentes à cincia da medicina ser considerado su%iciente' 7ossa .rima tare%a ser: com.ilar a obranum s Caderno, com a .ermissãode Al:' ossa 6le ser nossoguia e a 6leagradecemos .or todas as suasinumer:#eisgra+as'im do rimeiro i#ro doC3non de Bedicina deA#icena, rimeiro

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% ; @0"B; DE6D VVQ  Dsou areia %ina .ara secar a tinta e sacudiu-a com cuidado' Ee.ois acrescentou a %olha à .ilha de manuscritos que : se ele#a#a a uma im.ressionante dist3ncia da su.er%!cie damesa' ?entiu uma alegria toda es.ecial, algo que s de#ia ocorrer a escritores e estudiosos

que ti#essem trabalhado durante muito tem.o, e em .er%eito isolamento, .ara com.letar umtrabalho' amenta#a que 7uno ierro não .udesse #er o .roduto %inal da tare%a de queencarregara o a.rendi/'  `s o A#icena em es.anhol numa .rateleira e de#ol#eu o A#icena em hebraico ao nichona .arede, o esconderio dos li#ros, de onde tirou a segunda metade da tare%a que receberade 7unoI o li#ro de Baim`nides sobre a%orismos médicos' Com o tem.o dis.on!#el atéAdriana cham:-lo .ara o antar, sentou-se de no#o à escri#aninha e come+ou a tradu/ir a .rimeira .:gina'0inham .ouca #ida social' ouco de.ois de chegarem a ?arago+a, con#idaram Bontenegro .ara antar' ?endo #i*#o, o médico retribuiu con#idando-os .ara antar numa taberna dacidade' "niciou-se assim um h:bito que, desde então, os trs .assaram a com.artilhar'Adriana .arecia %ascinada com a histria da casa onde #i#iam'  - Conte-me sobre as .essoas que moraram aqui, Ramn - .ediaela, mostrando-se muito interessada ao saber que ReJna adique ser#ira como criada a todos os trs médicos que tinham #i#ido na %a/enda'- ue mulher ece.cional ela tinha de ser .ara conseguir agradar a trsdi%erentes .atres na mesma casa )ostaria muito de conhec-la'  <onah es.era#a que Adriana se esquecesse ra.idamente do assunto, mas não %oi o queaconteceu e um dia ele te#e de ir à casa de ReJna .ara %a/er o con#ite' 0rocaram .arabéns, .ois ambos tinham se casado desde o *ltimo encontro' As re%ormas .ara trans%ormar o lugar em .ousada também esta#am em .leno andamento' ReJna disse cue se sentia %eli/ emsaber que Adriana a con#ida#a .ara antar com Fl#aro 8cuo sobrenome era ?ara#!a nacasa onde, .or tanto tem.o, %ora uma sim.les criada'  7o dia marcado, o casal chegou tra/endo #inho e um %a#o de mel' or algum tem.o,ReJna e Adriana s trocaram gentile/as' <onah, então, le#ou Fl#aro, um homem de cabelos brancos, .ara conhecer a %a/enda, deiando que as duas se %amiliari/assem uma com aoutra' Fl#aro %ora criado num s!tio e elogiou os es%or+os do casal .ara .reser#ar as :r#ores'  - Bais tarde .odem construir um .equeno gal.ão na encosta domorro, .erto do bosque de oli#eiras e do .omar' Dm lugar .ara guar- e estocar as % 

VVU

 7;A= );RE;7

  arecia uma boa sugestão e con#ersaram sobre o custo da mão-de-obra e a quantidade de .edras que seriam necess:rias .ara erguer as .aredes' Ao #oltar, encontraram ReJna eAdriana sorrindo e %alando sem .arar' A re%ei+ão transcorreu num clima agrad:#el5 :claramente amigas, ac duas se beiaram na hora das des.edidas'  6nquanto tira#a a mesa, Adriana %alou com sim.atia do casal e %e/ um coment:rioes.ecial sobre ReJna'  - 6la se sente como sua segunda mãe e acho que est: ansiosa .ara

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ser a#' erguntou-me se não ha#ia algo a caminho'  <onah %icou chateado, sabendo da sensibilidade, do desgosto da es.osa quando o assuntoera gra#ide/'- ; que #oc disseAdriana sorriu'

- Eisse que até agora s estamos .raticando' 7o .rimeiro dia de %e#ereiro, <onah .artici.ou de um encontro anual dos médicos deAragão' A.esar do tem.o ruim, oito médicos com.areceram .ara ou#ir a .alastra de <onahsobre a circula+ão sangu!nea segundo A#icena' A .alestra %oi bem recebida, le#antandoquestes e moti#ando o debate, a.s o qual Biguel de Bontenegro leu uma carta querecebera .elo malote da diocese de ?arago+a'Ao senhor Biguel de Bontenegro, médico de ?arago+a, com os meus cum.rimentos dadiocese de 0oledo e o deseo de que estea bem de sa*de'  ?ou assistente do re#erend!ssimo 6nrique ?agasta, bis.o auiliar de 0oledo' ; bis.o?agasta é diretor do )abinete da é Religiosa, na sé de 0oledo, e a esse t!tulo te#e suaaten+ão des.ertada .or um nobre de 0embleque que se encontra gra#emente en%ermo'  Conde ern:n &asca é o nome dele' Dm ca#aleiro de Calatra-#a, amigo muit!ssimogeneroso da ?anta Badre "grea, ele contraiu uma doen+a que o deiou mudo e .aralisadocomo .edra, ainda que dolorosamente #i#o'  Buitos médicos tm sido inutilmente consultados' Ciente da alta estima em que o senhoré tido, o bis.o ?agasta .ede encareci-damente que arrane um tem.inho .ara ir a Castela'?eria um ato de etremo %a#or que %aria à "grea se #iesse, ou en#iasse um outro médico deseu conhecimento, : que as tentati#as dos médicos locais .ara audar o conde &asca%racassaram'; bis.o garante que se o senhor ou outro médico %or ca.a/ de

; @0"B; DE6D VV9e%etuar uma cura, seus ser#i+os serão recom.ensados com um .agamento em dobro';brigado .ela aten+ão'?eu amigo em Cristo,adre rancisco Ri#era de "a 6s.ina,;rdem dos astores  - 6u não .osso ir - disse Bontenegro' - : estou #elho e bastam as#iagens que tenho de %a/er .ara tratar de bis.os doentes' ?e eucome+ar a atender qualquer um, estou .erdido' edro alma tambémnão .ode ir, ele ainda é muito ine.eriente' Alguém se habilita  7enhum dos médicos .resentes se mostrou interessado, a ulgar .elas caretas e os cor.osse metendo nas cadeiras'  - ( uma #iagem longa' 6 os nobres são notrios maus .agadores -resmungou um médico de ;ca%ia, .ro#ocando gargalhadas'  - Mem, o bis.o garante o .agamento - Bontenegro assinalou' -6mbora eu não conhe+a esse bis.o ?agasta ou o .adre que escre#eu acarta'  - 6u conhe+o o .adre - <onah a%irmou' - ; .adre 6s.ina trabalhou .or um tem.o em ?arago+a e me .areceu um clérigo muito honrado'  Ainda assim ninguém mostrou interesse no assunto e Biguel de Bontenegro deu deombros e guardou a carta no bolso do seu casaco'

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 7ão iria, é claro, a 0oledo, .ensou <onah a .rinc!.io' 7ão queria deiar Adriana so/inha'0embleque era longe demais5 teria de %icar %ora .or muito tem.o .ara %a/er essa #iagem'?e de#ia alguma coisa ao conde de 0embleque, era #ingan+a'  arecia, contudo, estar ou#indo 7uno' 6 7uno .ergunta#a se ele acha#a que um médicotinha o direito de s tratar de certos membros da humanidade, gente .or quem ti#esse

res.eito ou a%ei+ão'  7aquele dia e no seguinte, %oi aos .oucos admitindo que ha#ia .artes inacabadas de sua#ida em 0embleque'  ? aceitando o con#ite do .adre 6s.ina a Bontenegro, como .arecia quase certo que iaacontecer, .oderia tentar res.onder às d*#idas que sem.re nutrira sobre os assassinatos queha#iam destru!do sua %am!lia'A .rinc!.io Adriana .ediu-lhe .ara %icar' Ee.ois .ediu que a deiasse ir com ele'  A ornada seria di%!cil, .erigosa' 6le nem %a/ia ideia do que encontraria ao chegar' V4G

 7;A= );RE;7

- 7ão é .oss!#el - disse delicadamente <onah'  0eria sido mais %:cil se descobrisse rai#a nos olhos dela, mas s encontrou um grandemedo' : ti#era de #iaar #:rias #e/es .ara atender aos doentes, deiando-a so/inha .or doisou trs dias' Agora, no entanto, trata#a-se de uma longa ausncia'- &ou #oltar, tenha certe/a'  uando disse que lhe deiaria dinheiro su%iciente .ara qualquer emergncia, ela : esta#airritada'- 6 se eu .egar o dinheiro e %or embora  <onah le#ou-a .ara tr:s da casa, mostrou-lhe onde enterrara a bolsa de couro com odinheiro de Banuel ierro e em.urrou uma .ilha de esterco sobre o lugar'- ode le#ar tudo, se quiser mesmo me abandonar'  - Acho que seria .reciso ca#ar demais - disse ela, e <onah .egou-a nos bra+os e beiou-a, .rocurando con%ort:-la'  Ee.ois %oi %alar com Fl#aro ?ara#!a, que .rometeu #isitar Adriana toda semana .aragarantir que ela ti#esse sem.re uma .ilha de lenha .or .erto e um bom monte de %eno que .udesse le#ar .ara as baias dos ca#alos'  Biguel de Bontenegro e edro alma não gostaram muito da ideia de %icar .or tantotem.o com os .acientes de <onah, mas também não recusaram'  - 0enha sem.re cuidado com os nobres - disse Bontenegro' -)ostam de dar calote no médico de.ois de curados'  <onah decidiu não le#ar o ca#alo :rabe cin/a, .ois a idade come+ara a tornar lento o .asso do animal' A égua .reta de Banuel ierro, no entanto, ainda era %orte5 ia le#:-la'Adriana .re.arou um al%ore com duas broas, carne %rita, er#ilhas secas, um saco de .assas'6le a beiou e .artiu ra.idamente' 6ra uma manhã ne#oenta'  7um trote natural, condu/iu o ca#alo .ara sudoeste' ela .rimeira #e/ a liberdade de#iaar não ecita#a seu es.!rito cigano, .ois o rosto da es.osa não lhe sa!a da cabe+a' ; queele mais queria era dar meia-#olta e #oltar .ara casa' Bas não %e/ isso'  oi um bom .rogresso no .rimeiro dia' A noite acam.ou num cam.o de terra escura, atr:sde um ar#oredo' Dm lugar : distante de ?arago+a'

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  - &oc andou bem - disse à égua enquanto a li#ra#a da sela' - (um animal incr!#el, =ermana<onah da#a .ancadinhas, %a/endo %esta no lombo da égua .reta'

f CA0D; 42 f

 7; CA?06; 7o#e dias mais tarde, <onah cru/a#a a argila #ermelha da .lan!cie de ?agra, a.roimando-se dos muros de 0oledo' Ee longe #iu a cidade no alto da rocha, :s.era e clara no sol datarde' 6mbora esti#esse a uma #ida de dist3ncia do ra.a/ a.a#orado que esca.ara de 0oledonum burro, %oi assaltado .or incmodas recorda+es ao atra#essar a orta Misagra'Dltra.assou o .rédio da "nquisi+ão, marcado .elo escudo de .edra com a cru/, o ramo deoli#eira e a es.ada' Dm dia, na casa do .ai, quando ainda crian+a, ou#ira Ea#id Bendo/ae.licar o signi%icado dos s!mbolos a =el>ias 0oledanoI ?e #oc aceitar a cru/, #ão lhe dar o ramo de oli#eira' ?e recusar, #ão a.licar a es.ada'  6le amarrou a égua .reta na %rente da sede diocesana e, com o cor.o dolorido .or causados dias .assados na sela, entrou no .rédio' ; %rade sentado atr:s de uma mesa .erguntoucom quem queria %alar e %e/ sinal .ara que es.erasse num banco de .edra'ogo de.ois o .adre 6s.ina a.areceu sorrindo'- Como é bom encontr:-lo de no#o, senor Callic  6sta#a mais #elho e mais maduro' 0ambém .arecia mais relaado que da outra #e/' ?emd*#ida um .adre mais senhor de si'  ?entaram e con#ersaram' ara al!#io de <onah, o .adre 6s.ina não .arecia desa.ontadocom a substitui+ão de Bontenegro .or Callic'  - uando chegar ao castelo, diga que #eio a .edido do bis.o?agasta e do .adre 6s.ina' ; mordomo do conde %oi embora quandoele %icou doente e a "grea %orneceu um acom.anhante .ara audar suaes.osa, a condessa Baria dei Bar Cano, %ilha de )on/alo Cano, umrico e in%luente marqus de Badri' ; acom.anhante é o .adre Alberto)u/m:n' - 6le, encarou <onah' - 6nquanto eu escre#ia a carta, muitosoutros médicos tentaram audar o conde'- Com.reendo' 6u também s .osso tentar'  6s.ina %e/ .erguntas sobre ?arago+a e %alou bre#emente da alegria que .assara a ter emseu trabalho na "grea' V42 7;A= );RE;7  - ; bis.o é um historiador catlico em.enhado em redigir umli#ro sobre a #ida dos santos, um aben+oado .roeto que tem o a.oio denosso ?ant!ssimo ai em Roma e no qual tenho a honra de colaborar' -6le sorriu .ara <onah' - eio diariamente o bre#i:rio de meu .ai e oaben+oo .or t-lo tra/ido a mim' ico muito grato que tenha #indo detão longe em res.osta a minha carta ao senor Bontenegro' 7inguémme %e/ tanto bem quanto o senhor, ao me de#ol#er a memria de meu .ai' ?e eu .uder audar em alguma coisa, é s .edir'  7ão é melhor %icar aqui e descansar um .ouco, saindo de manhã .ara 0embleque ? .osso lhe o%erecer a ceia do monastério e uma cela de monge .ara descansar'  - Ee#o ir agora - disse <onah, sem nenhuma #ontade de dormir numa cela de monge' - uero eaminar o conde o mais de.ressa .os

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s!#el'  ; .adre 6s.ina ensinou-lhe a chegar a 0embleque e <onah re.etiu em #o/ alta asinstru+es' embra#a-se, .orém, .er%eitamente do caminho'  - Receito os medicamentos, mas não os .re.aro - disse <onah' -Conhece algum botic:rio local de con%ian+a

6s.ina abanou a cabe+a'  - ?antiago .e/, na %rente do muro norte da catedral' &: comEeus, senor'A loa era diminuta e desarrumada, mas .ossu!a um %orte e tranquili/ador aroma de er#as'<onah te#e de gritar .elo botic:rio, que esta#a em sua moradia no andar de cima' 6ra umhomem de meia-idade, que ia %icando cal#o' ;s olhos #esgos não escondiam a intelignciaque ha#ia neles'  - ; senhor tem murta, abeto, ac:cia do 7ilo - <onah .erguntou'- 0em beterraba a/eda Coloc!ntida ?ementes de %arbitis.e/ não se o%endeu com a sabatina de <onah'  - 0enho a maioria dessas coisas, senor' Como sabe, não se .ode ter tudo' Bas se me .edir algum medicamento de que eu não dis.onha,#ou e.licar de imediato a %alta e, com sua .ermissão, #ou sugerir umaou mais drogas equi#alentes'  6le abanou gra#emente a cabe+a quando <onah lhe disse que suas receitas #iriam docastelo de 0embleque'  - 6s.ero que não tenha %eito uma longa ornada .ara cum.rir umamissão im.oss!#el, senor' ; @0"B; DE6D V4V- 0ambém es.ero - disse <onah se des.edindo'uando chegou ao castelo : escurecera ha#ia uma hora e o .ortão gradeado esta#aabaiado' -6i, sentinela- uem é- Ramn Callic, médico de ?arago+a'- 6s.ere'  A sentinela se a%astou, mas logo esta#a de #olta' Agora #inha acom.anhada .or alguémque carrega#a uma tocha' ;s dois #ultos, ca.turados num cone amarelo de lu/ que semo#ia com eles, ins.ecio-naram <onah'- ode entrar, senorl - gritou a sentinela'  ; .ortão %oi le#antado com um rangido alarmante, %a/endo a égua .reta dar uma guinadaantes de a#an+ar com as %erraduras estalando, lascando as grandes laotas quadradas do .:tio'; .adre Alberto )u/m:n, de ombros ca!dos e sem sorrir, o%ereceu comida e bebida'  - ?im, obrigado, gostaria das duas coisas, mas .rimeiro quero #er o conde'  - ; melhor seria não .erturb:-lo hoe à noite - disse bruscamenteo .adre -, mas es.erar até amanhã .ara eamin:-lo'  Atr:s dele .aira#a um #elho atarracado, de rosto #ermelho, #estido como um .eão' 0inhaum resto de cabelo branco e uma barba cheia, também branca'  - ; conde não .ode se meer, nem %alar, nem com.reender o quese di/' 7ão h: ra/ão .ara ter tanta .ressa de encontr:-lo'

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<onah não baiou os olhos'  - ode ser que não, mas .or %a#or .ro#idencie #elas e candeeiros'Buitos, .ois #ou .recisar de uma lu/ %orte'"rritado, o .adre )u/m:n contraiu a boca'- Como quiser' adre ?ebbo #ai cuidar disso'

  ; homem atr:s dele assentiu e s então <onah .ercebeu que era um .adre, não umtrabalhador'  adre )u/m:n .egou um lam.ião e <onah %oi marchando atr:s dele .or corredores eescadas de .edra' Atra#essaram um cmodo de que <onah se lembra#a, a c3mara ondeti#era uma audincia com o conde a.s entregar a armadura' ogo entra#am num quarto dedormir, um es.a+o negro' ; lam.ião do .adre %a/ia as sombras da gigantesca arma+ão dacama .ularem %reneticamente .elas .aredes de .edra' V44 7;A= );RE;7  <onah .egou o lam.ião e a.roimou-o do rosto do doente' &asca, conde de 0embleque,tinha .erdido muito .eso e os olhos .areciam se arregalar .ara tr:s de <onah' ; ladoesquerdo da boca esta#a ca!do numa .ermanente e.ressão de /ombaria'- reciso da ilumina+ão'  adre )u/m:n %oi até a .orta e gritou as.eramente, mas .adre ?ebbo : esta#a chegando'&inha acom.anhado de dois homens e uma mulher, todos tra/endo #elas e candeeiros'Ee.ois que os .a#ios %oram acesos e cessaram as arruma+es, o conde surgiu banhado delu/'<onah inclinou-se sobre a cama'  - Conde &asca - chamou' - ?ou Ramn Callic, médico de ?arago+a' - Com .u.ilas de tamanho desigual, os olhos se arregalaram .ara ele'- Como eu disse, o conde não .ode %alar - insistiu )u/m:n'&asca esta#a coberto .or uma manta um tanto sua' uando %oi .uada .or <onah, o %edor %icou mais intenso'  - As costas estão comidas .ela malignidade - disse o .adre)u/m:n'  &asca a/ia duro na cama, os bra+os mantidos rigidamente sobre a barriga' oi di%!cilcom.rimir o .ulso, que resistia às .ontas dos dedos de <onah, signi%icando que o sangueesta#a sob grande .ressão'  6ra com.rido o cor.o do conde &asca, mas <onah conseguiu #ir:-lo com %acilidade' ;que #iu deiou-o assustado' =a#ia uma rede de %eridas de .éssima a.arncia, algumascome+ando a su.urar'  - 6scaras causadas .ela .ermanncia na cama - disse ele, %a/endoum gesto .ara os criados, .arados na %rente da .orta' - 6squentem uma#asilha de :gua e tragam-na sem demora, untamente com .anos lim.os'; .adre )u/m:n lim.ou a garganta'  - ; *ltimo médico que este#e aqui, Carlos ?i%rina de onseca, deiou claro que não de#!amos banhar o conde .ara que ele não absor#esse os humores da :gua'  - ; *ltimo médico que este#e aqui, Carlos ?i%rina de onseca, semd*#ida nunca .assou .ela e.erincia de %icar deitado na .r.ria mer da' - <onah sabia que esta#a na hora de a%irmar sua autoridadeI -

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Como eu disseI um bom su.rimento de :gua quente, .anos macios esabão' 0enho um b:lsamo, mas quero que me tragam .ena, .a.el e tinta, .ois #ou receitar outros remédios e unguentos' Bandem um mensageiro a ?antiago .e/, botic:rio de 0oledo' ?e %or .reciso, o mensa-

"r 

; @0"B; DE6D V4O  adre )u/m:n tinha um ar de consterna+ão, mas : .arecia um tanto resignado' uandose #irou .ara sair, <onah o chamou'  - egue couros de carneiro, grossos, mas macios, .ara colocar embaio dele - ordenou' - Couros la#ados' 0raga-me também umcamisão de dormir e um cobertor lim.o'  <onah trabalhou até tarde, deiando o cor.o la#ado, as %eridas cobertas com b:lsamo, oscouros de carneiro no lugar, a rou.a de cama e a rou.a de dormir trocadas'  or %im, atendeu ao ronco de sua barriga e comeu .ão, um .eda+o suculento e gordo decarneiro e um #inho :cido' A cama do .equeno quarto .ara onde %oi le#ado aindaconser#a#a o cheiro %orte do *ltimo hs.ede' uem sabe, Carlos ?i%rina, médico deonseca, ele .ensou mergulhando num sono cansado'Ee manhã, quebrou o eum da noite com .ão, %arta quantidade de .resunto e um #inhomelhor'  A lu/ da manhã .raticamente não entra#a no quarto do .aciente, onde ha#ia a.enas umamin*scula anela no alto da .arede' <onah mandou os criados .re.ararem uma cama nagrande sala de estar que %ica#a na sa!da do quarto, onde ha#ia uma anela mais baia, .oronde o sol entra#a' ; conde &asca %oi logo trans%erido .ara l:'  Ee dia, a a.arncia de &asca era ainda mais assustadora' B*sculos atro%iados tinhamdeiado as mãos eageradamente abertas' A .arte de baio dos ossos dos ns dos dedosdes.onta#a na .alma da mão' <onah mandou um criado tirar .equenas #igas de um galholiso de :r#ore, .`s as mãos de &asca entre as #igas e amarrou-as com .eda+os de .ano'  0odos os quatro membros do conde .areciam sem #ida' <onah es%regou a .onta rombudade um bisturi nas mãos de &asca, atr:s de suas .ernas, nos .és e nos bra+os' ? no bra+odireito .arecia ha#er uma .equena rea+ão5 em termos .r:ticos, o cor.o de &asca esta#a e%e-ti#amente .aralisado' As *nicas coisas que continua#am realmente a se mo#er eram osolhos e as .:l.ebras' &asca .odia olhar .ara alguma coisa, .odia abrir e %echar os olhos, .odia des#i:-los'  6nquanto %a/ia .erguntas,<onah .rocura#a sintoni/ar-se com aqueles olhos'- ?ente isto, conde &asca 6 isto0em alguma sensa+ão quando encosto no senhor 6st: sentindo dor, conde &asca  &e/ .or outra sa!a um resmungo ou um gemido do #ulto inerte, mas nunca em res.osta auma .ergunta' V4N 7;A= );RE;7  ; .adre )u/m:n entra#a às^ #e/es .ara a.reciar, com indis%ar+:#el des.re/o, os es%or+osde <onah'  - 6le não com.reende nada - disse %inalmente o .adre' - 7ão sen

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te nada e não com.reende nada'- 0em certe/a; .adre balan+ou a cabe+a'  - ; senhor #eio cum.rir uma missão im.oss!#el' ; conde est: .restes a %a/er a di#ina ornada que acena a cada um de ns'

ouco de.ois entrou uma mulher no a.osento do doente' 0ra/ia uma tigela e uma colher'?eria, tal#e/, da idade de Adriana, com cabelo louro e .ele muito branca' 0inha ainda um belo rosto %elino, com grandes ma+ãs, a boca .equena, as bochechas redondas, masdelicadas, e olhos grandes a que ela da#a %orma amendoada esticando os cantos com l:.is .reto' 6sta#a cheirando a #inho e, embora muito %ina, a camisola .arecia manchada' or ummomento, <onah achou que a marca na garganta lembrando um .equeno morango era denascen+a, mas logo .ercebeu que se trata#a do ti.o de sinal deiado .ela suc+ão de uma boca'- ( o no#o médico - disse ela a obser#:-lo'- ?im' A senhora é a condessa- 6atamente' Acha que .ode %a/er alguma coisa .or ele  - Ainda é cedo .ara di/er, condessa''' ui in%ormado que o conde : est: doente h: mais de um ano, é isso- uase cator/e meses'- ?ei, ?e casaram h: muito tem.o- &ai %a/er quatro anos na .rima#era que #em'- A senhora esta#a .erto dele quando a doen+a se mani%estou-=ã-hã'  - Audaria muito saber em detalhe o que hou#e no .rimeiro dia, nodia em que a doen+a a.areceu'6la deu de ombros'- 7aquele dia ele saiu cedo .ara ca+ar'- 6 o que ele %e/ quando #oltou da ca+ada  - Aconteceu h: cator/e meses, senor''' mas .elo que me lembro'''Ao menos de uma coisa eu me lembroI ele me le#ou .ara a cama'- 7o %inal da manhã  - Ao meio-dia' - 6la sorriu .ara o doente' - 7essas ocasies elenão se im.orta#a muito com a hora' 7o meio do dia ou da noite era amesma coisa'  - Condessa, se me .ermite .erguntar''' 6le %oi ardoroso na ati#ida-de seual desse dia  -; @0"B; DE6D V4QA condessa o encarou com um ar de a#alia+ão'  - 7ão me lembro' Bas &asca sem.re se dedica#a com ardor atodas as suas ati#idades' 7a maior .arte do dia, ele esti#era normal, a condessa acrescentou'  - 7o %inal da tarde me disse que tinha dor de cabe+a, mas sentou-se normalmente à mesa do antar' ; .roblema s surgiu quando o %rango esta#a sendo ser#ido' oi a! que a boca se contorceu, %icando domodo''' como est:' 6le .arecia estar com %alta de ar' 0ambém .areciaestar caindo da cadeira' oi então que os cachorros ti#eram de ser mor 

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tos, ou não deiariam ninguém se a.roimar .ara socorr-lo'- 0e#e outro ataque .arecido desde esse dia  - Bais um' Ee.ois do .rimeiro, &asca não %icou como o senhor o# agora' 6ra ca.a/ de mo#er os membros do lado direito, conseguia%alar' 6mbora com .ala#ras .ouco com.reens!#eis, %oi ca.a/ de me dar 

instru+es sobre seu %uneral' Bas outro acesso atingiu-o duas semanasa.s o .rimeiro' Ea! em diante, ele %icou .aralisado e mudo'- 6u lhe agrade+o .or me di/er essas coisas, condessa'6la abanou a cabe+a e se #irou .ara o #ulto na cama'  - 0al#e/ %osse um .ouco rude, como acontece com muitos homens%ortes' 6u mesma o #i agir cruelmente' ara mim, no entanto, %oi sem .re um gentil marido e senhor'''  <onah a.oiou o .aciente com tra#esseiros e obser#ou com interesse a condessa le#ando-lhe à boca uma colher de uma .a.a rala'- Continua ca.a/ de engolir  - 6le se engasga se toma #inho ou caldo' Carne não consegue mastigar' Bas quando lhe dou essa .a.a, ele engole bem, como o senhor est: #endo' ( assim que recebe o alimento que o mantém #i#o'  A condessa ser#iu o marido em silncio e, quando a tigela %icou #a/ia, #irou-se .ara<onah'- Ainda não me disse como se chama'- Callic'  or um instante mante#e os olhos nele' Ee.ois abanou a cabe+a e saiu' 

_ CA0D; 4V [A C;7E6??A; quarto de <onah %ica#a no %inal de um corredor, com os a.osentos da condessa na outra .onta e um quarto de dormir no meio' oi durante a noite que <onah #iu o outro hs.ededo castelo' 6sta#a atra#essando c corredor .ara es#a/iar o urinol quando se de.arou comum homem que sa!a do quarto da condessa com alguma coisa nos bra+os' =a#ia duastochas ardendo nos su.ortes dos muros e <onah #iu claramente um %ortão sem rou.a, comum rosto meio gordo' ; que ele carrega#a nos bra+os eram ustamente as rou.as'  <onah ia %icar calado, mas o sueito .ercebeu sua .resen+a e .or um instante encarou-ocom ar de es.anto'- Moa-noite'; desconhecido não res.ondeu e %oi .ara o quarto #i/inho' 7a manhã seguinte, audado .elo .adre ?ebbo, <onah .assou no#amente o conde .ara oa.osento onde entra#a sol' Eescobrira que o #elho .adre de cabelos brancos era a *nica .essoa no castelo com quem .odia realmente con#ersar'  6sta#am instalando o conde num so%: quando alguém entrou' <onah logo reconheceu ohomem que .assara nu .elo corredor algumas horas antes'- 6m que merda de lugar ela se meteu  Dm criador de casos, <onah .ensou' 0inha olhos .equenos e im.acientes no rostoredondo, uma barba cortada rente, uma coroa de cabelo .reto em #olta da cabe+a quasetoda cal#a' ; cor.o era etremamente musculoso, mas come+ando a engordar' ;s dedos

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eram grossos, as mãos lembra#am as de um gladiador e em cada uma ha#ia um dedoen%eitado com um anel .esado, #istoso'- ;nde ela est: - o sueito insistiu'- 7ão sei, senor - disse o .adre'  <onah conhecia h: .ouco tem.o o .adre ?ebbo, mas s .elo tom de %rie/a e secura .odia

 urar que o #elho não gosta#a daquele ti.o' ; @0"B; DE6D V49"gnorando com.letamente <onah, o homem #irou as costas e se a%astou sem mais uma .ala#ra'<onah e o .adre cobriram &asca com um cobertor le#e'- uem é o rude ca#alheiro que nos deu o .ra/er de sua com.anhia  - Eaniel idel 0a.ia, um amigo do conde - disse o .adre ?ebbo' -Dltimamente, ali:s, #inha se di/endo scio do conde'- 6 a mulher que esta#a .rocurando, ela não tem nome  - 6le não .recisa#a di/er' 6ra b#io que esta#a .rocurando .elacondessa' 6la tem uma ami/ade toda es.ecial .or 0a.ia'As #e/es o .ulso de &asca era muito lateante, r:.ido5 outras lembra#a o o%egar de um .equeno animal assustado' ; .adre )u/m:n #inha todo dia, mas s %ica#a alguns instantes,o su%iciente, em geral, .ara olhar o conde no rosto e comentar que seu estado .arecia maisgra#e do que na #és.era'- Eeus me di/ que est: morrendo'or que Eeus ia di/er isso a #oc, <onah .ondera#a'  Eu#ida#a muito que .udesse %a/er alguma coisa .ara sal#ar a #ida de &asca, mas tinha decontinuar tentando' A en%ermidade que esta#a matando o conde não era .articularmenterara' Eesde que .assara a clinicar, : #ira outras .essoas so%rendo do mesmo mal, algumascom bocas de%ormadas e bra+os e .ernas rios, .arados' Com %requncia, s um lado docor.o era a%etado5 mais raramente os dois' 7ão %a/ia ideia do que causa#a a doen+a ou sealguma coisa era ca.a/ de cur:-la'  6m algum lugar do com.licado cor.o humano de#ia ha#er um centro que go#erna#a aenergia, o mo#imento' 0al#e/ em &asca tal centro lembrasse a :rea escura e dani%icada que#ira no cora+ão de 7uno'  ?eria timo dissecar o cor.o do conde &asca quando ele morresse' <onah murmurou em#o/ altaI- Como eu gostaria de le#:-lo .ara meu celeiro em ?arago+a6ntão os olhos que esta#am %echados abriram-se de re.ente e oencararam' <onah seria ca.a/ de urar que ha#ia es.anto no olhar do conde e uma chocantesus.eita lhe ocorreu' Achou que, .elo menos numa .arte do tem.o, era .oss!#el que era:n&asca com.reendesse .er%eitamente o que acontecia no mundo à sua #olta';u tal#e/ não'''  assou muitas horas so/inho com o .aciente, sentado ao lado da cama, debru+ado,sem.re %alando com &asca' Bas o momento em que S

VOG 7;A= );RE;7

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os olhos %i/eram contato não se re.etiu' 6m geral &asca .arecia estar dormindo5 ares.ira+ão era lenta, barulhenta, e as %aces incha#am um .ouco a cada eala+ão' Euas #e/es .or dia .adre ?ebbo #inha #isit:-lo' Com uma #o/ rouca e cansada, .arando%requentemente .ara lim.ar a garganta da catarreira crnica, lia alguma coisa de seu li#rode de#o+es' <onah trouera do botic:rio um aro.e de c3n%ora .ara ele, que o #elho

sacerdote agradecera muito'  - rocure descansar enquanto estou aqui5 #: dormir um .ouco,senor - insistia o .adre' s #e/es <onah esca.a#a durante as longassesses de ora+es e .erambula#a, com .ouca restri+ão, .elas c3marassilenciosas do castelo' 6ra uma constru+ão muito #asta e .raticamentedeserta, um lugar %rio, sombrio, cheio de lareiras des.ro#idas de %ogo'<onah .rocura#a as .e+as que o .ai %i/era .ara o conde, coisas que&asca nunca se dignara a .agar' 0eria gostado es.ecialmente de encontrar a rosa de ouro com o caule de .rata, ao menos .ara #er se era mesmo tão bonita quanto a recorda+ão u#enil que guarda#a dela'  ; conde %i/era .re.arati#os .ara sua morte' 7uma c3mara do .orão ha#ia um ata*de de .edra, um enorme sarc%ago com a inscri+ãolatinaI C&B BA0R6 BA0R"? ?A&&?' A tam.a era su%icientemen-- te .esada .ara im.edir a entrada de #ermes ou de drages' <onah, .orém, não #iu a rosa de ouro nem qualquer outra coisa que lhe %osse %amiliar até .enetrar numa sala de armas, onde se assustou com a ima- gem de um es.lndido ca#aleiro .re.arado .ara a batalha'  6ra a armadura que trouera com Angel, a+o e uis' Bara#ilhado, acariciou os entalhesque ele .r.rio gra#ara no a+o sob a orienta+ão de Banuel ierro, armeiro de )ibraltar'ara satis%a+ão de <onah, que .assara a gostar do .adre, as #isitas do #elho ?ebbo aodoente demora#am cada #e/ mais' 6le notou que o homem tinha as mãos caleadas comoum .eão agr!cola'- ale um .ouco sobre o senhor, .adre ?ebbo'- 7ão tenho nada de interessante .ara contar'  - Acho que é um homem muito curioso' or que não se #este comoos outros .adres  - Antigamente eu tinha uma #aidade, uma ambi+ão doentia'5 )osta#a de #estir batinas .retas, %eitas sob medida' Bas não soube cor res.onder às minhas res.onsabilidades e irritei meus su.eriores' Como .uni+ão, me trans%ormaram num %rade mendicante, .ara eu .regar a .ala#ra de Eeus e im.lorar .elo .ão de cada dia'6le continuouI

; @0"B; DE6D VO1  - Achando que tinham me amaldi+oado, %ugi cheio de horror .aracum.rir meu castigo' 7ão sabia aonde ir' ?im.lesmente meia os .és,deiando que me le#assem .ara onde achassem melhor' 7o in!cio,orgulhoso e arrogante demais .ara mendigar, comia as amoras quetira#a dos bosques' 6 embora %osse um homem de Eeus, cheguei aassaltar algumas hortas' Bas h: gente boa' 6ncontrei .essoas, dentreas mais .obres, que me deram um .ouco de suas magras ra+es e memanti#eram #i#o'

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  Dm dia, minha batina .reta a.odreceu e .assei a caminhar maltra.ilho, barbado' Bora#ae trabalha#a com os .obres, que re/a#am comigo, e com.artilha#a de seu .ão e de sua:gua' 0ambém %oi deles que ganhei a rou.a de que .recisa#a, às #e/es de homens quemorriam' ela .rimeira #e/, então, comecei a entender ?ão rancisco, embora não ti#esseentrado no mundo nu como ele, nem cego, nem .ro#ocasse chagas no meu cor.o' ?ou

a.enas um homem sim.les, embora agora, de.ois de muitos anos como #agabundo emnome de Eeus, : me sinta %eli/'- Bas se trabalha com os .obres, .or que est: num castelo  - &enho aqui às #e/es' 6m geral, %ico a.enas o tem.o su%iciente .ara ou#ir as con%isses dos criados ou dos soldados da guarda e .aradar comunhão' Eesta #e/ o .adre )u/m:n .ediu-me .ara %icar até oconde morrer'- ?ebbo - disse <onah' - 6u nunca tinha ou#ido esse nome'; .adre sorriu'  - oi .or gostar de mim que o .essoal come+ou a me chamar desse eito' ?ebbo é um a.elido tirado do meu #erdadeiro nome, ?ebas-ti:n' 6u me chamo ?ebasti:n Al#are/'  <onah %icou im#el, mas não tirou concluses a.ressadas' A%inal, ha#ia gente que tinha omesmo nome' 6le obser#a#a o rosto do .adre, tentando energar o .assado'- ual %oi seu cargo na igrea antes de se tornar andarilho  - Raramente .enso nisso, .ois a coisa me .arece .ertencer a outra .essoa, em outra eistncia - disse o #elho .adre' - 6u era o .rior doBosteiro da Assun+ão' 6m 0oledo' 7aquela noite, sentado em silncio à cabeceira do conde, <onah lembrou-se do tem.o emque seu irmão Beir ainda era #i#o, quando o .ai %a/ia os .rimeiros desenhos do cibrio queesta#a encarregado de eecutar .ara o Bosteiro da Assun+ão' <onah s #ira duas #e/es o .rior, nas duas #iagens que %i/era com o .ai até o mosteiro' Bas

VO2 7;A= );RE;7lembra#a-se de .adre Al#are/ como um clérigo autorit:rio, im.aciente, e agora seassombra#a com a trans%orma+ão que ha#ia ocorrido'  0inha certe/a de que .adre ?ebbo %ora atra!do .ara o castelo .orque sabia, assim comoele também sabia, que ern:n &asca esta#a .or tr:s dos que ha#iam roubado o cibrio e arel!quia de ?anta Ana'<onah continua#a a con#ersar com o conde na es.eran+a de conseguir des.ert:-lo .ara aconscincia, mas : se cansara de ou#ir a .r.ria #o/ %alando com um a.arentementesonolento ern:n &asca' ; .r.rio &asca, sem d*#ida, %icaria entediado com a monotoniada #o/ se .udesse ou#i-la' <onah %ala#a do tem.o, das e.ectati#as .ara a .rimacolheita, de um ga#ião que %lutua#a no céu, mero .ontinho entre as nu#ens'Ee re.ente, tentou mudar de t:tica'  - Conde &asca, est: na hora de %alarmos sobre os meus honor:rios- disse' - ara sermos ustos, temos de le#ar em conta os acertos quenão %i/emos no .assado' =: de/ anos, #im de #isita ao castelo .araentregar uma es.lndida armadura e o senhor me deu de/ mara#edis .or meu trabalho' Bas ti#emos outros negcios, .ois eu lhe ensinei achegar a uma ca#erna da costa meridional, onde esta#am as rel!quiasde um santo' 6m troca, o senhor acabou com as #idas dos dois homens

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que queriam acabar com a minha'6le #iu um mo#imento atr:s das .:l.ebras %echadas'  - Condenei dois sueitos à morte na ca#erna de um eremita e osenhor se li#rou de concorrentes e conseguiu no#as rel!quias' 6st:lembrado

uando os olhos se abriram de#agar, <onah #iu algo neles que ainda não obser#ara antes'"nteresse'  - ; mundo d: muitas #oltas e agora não sou mais armeiro, a.enaso médico que quer aud:-lo' 0em de colaborar comigo'  <onah : .ensara no que %a/er se conseguisse estimular a mente consciente do conde'  - ( duro não .oder %alar' Bas h: uma maneira de con#ersarmosum com o outro' A cada .ergunta que eu %i/er o senhor .isca os olhosuma #e/ .ara di/er sim e duas .ara di/er não' ique um .ouco com osolhos %echados antes de cada res.osta .ara eu saber que as .iscadelasnão são casuais' Dma #e/ é sim, duas é não' 6ntendeu, &asca se limita#a a olh:-lo'

; @0"B; DE6D VOV- Dma #e/ .ara o sim, duas .ara o não' 6st: claro, conde &ascaDma .iscadela'  - Mom, muito bom, est: indo bem, conde &asca' ode sentir alguma coisa nas .ernas ou nos .ésEuas .iscadelas'- 7a cabe+aDma .iscadela'- ?ente dor ou mal-estar na :rea da cabe+a?im'- 7a boca ou então no queio 7ão'- 7o nari/ 7ão'- 7os olhos&asca .iscou uma #e/'- ?im' ;s olhos' ( uma dor muito %orte 7ão'- Dma dormncia  Dma .iscadela, e os olhos .ermaneceram um momento %echados, como .ara en%ati/ar'  <onah esta#a animado' Bolhou cuidadosamente os olhos do conde com :gua morna emandou um mensageiro tra/er do botic:rio uma .omada .ara a #ista'  A condessa chegou ao quarto no %inal da manhã e, quando <onah le#ou-a .ara o corredore contou o que tinha acontecido, ela %icou .:lida de ansiedade'- uer di/er que ele #ai %icar bom<onah acha#a que não'  - ode ser a.enas uma %ase tem.or:ria de #olta da conscincia'0ambém .ode ser, é claro, que sua mente esti#esse sem.re des.erta nocor.o .aralisado'- Bas .odemos ter es.eran+as e re/ar - disse ela'

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  - Ee#emos sem.re ter es.eran+as e re/ar, minha senhora, mas''' -Resol#eu não eternar sua cren+a de que, a qualquer momento, &asca .odia ter outro ataque, e que desta #e/ seria realmente o %im'  6la se a.roimou da cama e .egou uma das mãos do marido, mãos que continua#amen#ol#idas em #igas de madeira .ara .roteg-lo da de%ormidade' ;s olhos esta#am

%echados'  - Acho que dormiu - disse <onah, mas ela .arecia dis.osta a %a/er algum contato'- ?enhor meu marido'-VO4 7;A= );RE;76 chamou-o de no#o, e de no#o'  - Beu marido''' Ah, Eeus, ern:n, abra os olhos, olhe .ara mim .elo amor de Cristo 7osso ?enhor6le acordou'A condessa a.roimou o rosto e %iou-se nos olhos dele'- Beu senhor - disse' - ( o meu amor, ainda&asca .iscou uma #e/ e <onah deiou-os so/inhos' 7aquela noite, na .risão de sua .r.ria insnia, ocorreu a <onah que tal#e/ o choque deuma inquiri+ão mais agressi#a estimulasse melhor a conscincia de &asca do que .ala#rasdoces' 7a manhã seguinte, de.ois de algum tem.o interrogando &asca, %icou sabendo .elo .iscar dos olhos que a #ista não ardia e as escaras do!am menos, embora ti#esse surgidouma dor bastante %orte na .lanta do .é esquerdo'  oi de.ois de li#r:-lo do mal-estar com uma massagem no .é que <onah se a.roimoudecidido de seu rostoI  - Conde &asca - .erguntou -, est: lembrado de =el>ias 0oledano,que era ouri#es em 0oledo&asca ergueu o olhar .ara encar:-lo'  - ; senhor %icou com alguns obetos que ele %e/, .or eem.loI uma bel!ssima rosa de ouro e .rata' 6u gostaria muito de #er as coisas que0oledano %abricou' ?abe onde estão  7ão recebeu res.osta, mas &asca continuou a olh:-lo' =ou#e algumas .iscadelas casuais,sim.les re%leos, não res.ostas' ouco de.ois, &asca %echa#a os olhos'- Baldi+ão Conde &asca ;l:;s olhos continuaram %echados'  - =el>ias era udeu' 6ra meu .ai e eu ainda sou udeu' ; médicoque cuida do senhor, que tenta tra/-lo de #olta à #ida é udeu'  As .:l.ebras se escancararam5 os olhos se #iraram com toda %or+a .ara encontrar o rostodo médico' <onah .`de sentir as emo+es re.rimidas durante uma #ida inteira #endo oolhar que escorria .or ele'  - ; trabalho da mão de meu .ai, seu conde %ilho-da-.uta - disseele de modo sel#agem' - 0rs grandes #asilhas' ?eis es.elhos de .rata,quatro .equenos e dois grandes' Dma %lor de ouro com caule de .rata';ito .entes curtos e um com.rido' Dma d*/ia de c:lices de .rata eouro branco' ora o cibrio' ;nde estão  &asca continuou a encar:-lo e a boca .areceu se retorcer .ara cima' 6ra di%!cil di/er, mas<onah .ressentiu di#ertimento nos olhos de ern:n &asca, que logo de.ois se %echaram'

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 ; @0"B; DE6D VOO 7a manhã seguinte, o conde res.ondeu .or algum tem.o às .erguntas da es.osa, masde.ois os olhos se %echaram também .ara ela'  uando a condessa, desolada, sentou-se ao lado da cama, <onah #iu duas contuses

recentes em sua %ace esquerda'- 6st: .recisando de auda contra alguma coisa, sehoralora uma .ergunta desaeitada e ela .ermaneceu %ria, distante'- 7ão, obrigada, senor'Bas no dia seguinte, de manhã cedo, um criado acordou <onah di/endo que .recisa#am deum médico nos a.osentos da condessa' 6le a encontrou estirada na cama com um len+ocheio de sangue no rosto' 7a %ace esquerda, a mesma das contuses, ha#ia um talho muito%eio, de uns cinco cent!metros de com.rimento'- ; corte %oi %eito .elo anel dele  A condessa não res.ondeu' 0a.ia de#ia ter batido com a mão aberta, <onah re%letiu, .oisse o .unho esti#esse %echado o anel teria rasgado ainda mais' 0irou de sua maleta uma linhaencerada e uma agulha %ina' Antes da sutura, %e/ com que ela bebesse um trago deconhaque' A condessa, no entanto, encolheu-se e gemeu, mas ele não te#e .ressa e costuroucom .ontos .equenos' Ee.ois derramou um .ouco de #inho num .ano e encostou-o no%erimento'  uando acabou, a condessa come+ou a agradecer' Ee re.ente, .orém, recostou-se nacama tentando aba%ar os solu+os'-Condessa'''  Dsa#a uma camisola curta de seda que re#ela#a .raticamente todo o seu cor.o' <onahobrigou-se a des#iar os olhos quando ela se sentou, enugando os olhos com as costas dasmãos, como uma crian+a'  6le se lembrou do .adre 6s.ina di/endo que a condessa tinha um .ai muito rico e muito .oderoso em Badri'  - ?enora, acredito que seu marido morrer: em bre#e - disse numtom sua#e' - 7ão seria melhor encarar esta %atalidade e buscar a .rote-+ão de sua %am!lia- 0a.ia di/ que ir: atr:s de mim se eu tentar %ugir' 6 me matar:'<onah sus.irou' 0a.ia não .odia ser tão est*.ido' onderou quetal#e/ conseguisse argumentar racionalmente com o homem, ou tal#e/ .adre ?ebbo ou .adre 6s.ina .udessem %a/-lo ainda melhor que ele'  - &amos #er o que se .ode arranar - disse num tom constrangido'6ntão, .ara aumentar seu descon%orto, come+ou a ou#ir muito mais doque gostaria sobre 0a.ia e sobre a .r.ria condessa'  - A cul.a é minha - disse ela' - =: muito tem.o anda#a me atirando olhares' ara di/er a #erdade, eu não o desencoraei' )ostei, ao con-  -OON 7;A= );RE;7tr:rio, de alimentar o ar de ansiedade que #ia em seu rosto' ?entia-me com.letamentesegura, .orque 0a.ia tinha medo de meu senhor e nunca tentaria lhe roubar a es.osa' 6lacontinuouI  - Eaniel 0a.ia trabalhou muitos anos .ara meu marido como com .rador de rel!quias sagradas' ern:n tem conhecimentos nas comuni

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dades religiosas e estimula#a a #enda de uma boa .arte dos obetos que0a.ia com.ra#a'<onah ou#ia em silncio'  - uando meu marido adoeceu, senti-me desam.arada' ?ou umamulher que .recisa de consolo nos bra+os de alguém e, uma noite, .ro

curei 0a.ia'<onah continua#a calado, admirando sua sinceridade'  - Bas a coisa não %oi como eu es.era#a' 6le é um homem sel#agem, um homem que .retende se casar comigo assim que .oss!#el ;conde não tem outros herdeiros além de mim e quando eu morrer a .ro.riedade re#erter: à Coroa' Bas Eaniel 0a.ia sem d*#ida cuidar: .ara que eu tenha uma longa #ida' - 6ra amargo o tom da condessa' -6le quer o dinheiroA mulher %e/ uma .ausa e continuouI  - 6 h: mais um detalhe' 0a.ia acredita que ern:n escondeu alguma coisa aqui, algo etremamente #alioso' arece que %inalmente secon#enceu de que nada sei sobre isso, mas não esmorece um segundona busca'or um momento, <onah não se atre#eu a %alar'- ( uma rel!quia - .erguntou .or %im'  - 7ão sei' 6 es.ero que não acrescente um no#o interrogatrio ameu tormento, senor'6la se calou, tremendo, le#antando a mão .ara tocar o rosto'- &ai deiar marca  - ?im - disse <onah' - Dma cicatri/ .equena' A .rinc!.io #ermelha,clareando de.ois' ro#a#elmente acabar: %icando branca como a .ele'6le .egou a maleta e %oi cuidar do conde'

"

 CA0D; 44 YfR"BA&6RA 7aquele mesmo dia, de.ois que .adre ?ebbo tomou seu lugar à cabeceira do doente, <onah%oi de no#o dar uma busca no castelo' 0e#e então uma .ro#a de que sua recorda+ão dotrabalho do .ai não era %alha'  7um de.sito do .orão cheio de molduras em.oeiradas e cadeiras quebradas, encontrouuma .rateleira com duas %ileiras de .esados c:lices escuros'  uando .egou um deles e a.roimou-o da anela, #iu que era um c:lice %eito .elo .ai'?em a menor d*#ida' 6sta#a quase .reto .orque a .rata %icara muito manchada a.s anosde abandono, mas a marca =0 esta#a bem leg!#el no %undo da .e+a' ;nde %ora colocada .elas mãos do .ai'  6le eaminou cada c:lice na claridade da anela' 6ram .e+as sim.les, cuidadosamentetalhadas em .rata maci+a com bases de ouro branco' Eois c:lices esta#am amassados emuito arranhados' Como se ti#essem sido ogados no chão num momento de rai#a' <onahse lembra#a de que o conde %icara de#endo a seu .ai um total de do/e c:lices .ara #inho,mas embora ti#esse re#irado atentamente o de.sito, deslocando cadeiras e molduras,a.al.ando os cantos escuros, s encontrou de/'

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  7o dia seguinte, #oltou ao de.sito e .egou no#amente as .e+as' ueria sentir suasolide/, seu .eso nas mãos' Bas na terceira #e/ que %oi até l: esbarrou com Eaniel 0a.ia,sem d*#ida também .rocurando alguma coisa' =a#ia alguns obetos es.alhados no chão'- ; que #oc quer - .erguntou 0a.ia'  - 7ão quero nada, senor - disse <onah num tom descontra!do' -

6stou sim.lesmente admirando a bele/a do castelo .ara um diadescre#-la a meus %ilhos'- ; conde #ai morrer- Acredito que sim, senor'- uando<onah deu de ombros e %icou olhando .ara ele' Ee.ois do casamento, Adriana lhe contaraos maus-tratos que so%rera nas mãos do .rimeiro marido' Aos .oucos <onah %ora #endo a

VOU 7;A= );RE;7dor abandonar os olhos da es.osa, mas não .odia su.ortar a ideia de homens batendo emmulheres'  - Recentemente, ti#e de tratar da es.osa do conde &asca''' - disse .ausadamente' - 6s.ero que a condessa não so%ra outro %erimento'  ; olhar de 0a.ia re#ela#a a incredulidade de que o médico tomasse a liberdade de %alardaquele eito'  - As .essoas costumam se machucar, ninguém est: imune a isso -disse ele' - or eem.lo, no seu lugar eu não andaria so/inho .elo castelo' Alguém .ode con%undi-lo com um ladrão, sehor, e mat:-lo'  - ?eria uma .ena se alguém quisesse tentar, .ois h: muito a.rendia me de%ender de criminosos' - <onah se a%astou, tomando cuidado .ara andar de#agar' 7a realidade a amea+a ser#iu a.enas .ara estimul:-lo na re#ista do castelo' ;b#iamente0a.ia acredita#a que hou#esse alguma coisa muito #aliosa escondida e não queria que ela%osse encontrada .or outros' <onah deu uma busca diligente, ins.ecionando cada %resta de .arede' 0e#e es.eran+as de encontrar um nicho como aquele que, em sua %a/enda, escondiaos manuscritos hebreus' 7ada #iu, .orém, nos cantos escuros, sal#o um ninho decamundongos e um bom n*mero de teias de aranha' 6m .ouco tem.o, : bastante .rimodos a.osentos .or onde ha#ia come+ado a busca, .ara#a de no#o na %rente do grande ata*dede .edra'  6ra sem d*#ida uma urna digna de um .r!nci.e e, mais uma #e/, <onah eaminou ainscri+ão gra#ada na tam.a'C&B BA0R6 BA0R"? ?A&&?'  7ão sabia quase nada de latim, mas ao #oltar aos a.osentos do doente, .assou .elo .adre)u/m:n que su.er#isiona#a os trabalhadores em uma obra nas escadas do castelo'- adre )u/m:n - disse ele' - ; senhor conhece latim- Claro que sim - disse )u/m:n, com ar de im.ort3ncia'  - A inscri+ão no ata*de de .edra, Cum Batre Batris ?al#us, oque signi%ica  - ?igni%ica que, a.s a morte, .or toda a eternidade ele estar: coma &irgem Baria - disse o .adre' 7ão conseguiu dormir naquela noite'

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  7o in!cio da manhã seguinte, quando um aguaceiro de .rima#era tamborila#a contra o%ino alabastro do .ara.eito da anela, ele se le#antou da cama, tirou uma tocha de umsu.orte na .arede e %oi até o .orão, onde estudou o ata*de com a lu/ bruuleante'

"

; @0"B; DE6D VO9  elo meio da manhã, quando .adre ?ebbo a.areceu no quarto do doente, <onah oes.era#a ansioso'- adre, como #ai o seu latim  - 0i#e de re.elir a #ida inteira o orgulho que sinto dele - disse sor rindo o .adre ?ebbo'- Cum Batre Batris ?al#us'; sorriso do .adre desa.areceu'- 6 essa agora - disse bruscamente'- ; que signi%ica- Ee onde tirou essas .ala#ras tão''' .eculiares  - adre, é #erdade que não nos conhecemos h: muito tem.o, masa.osto que : .ercebeu que .ode con%iar em mim'adre ?ebbo encarou-o e sus.irou'  - Acho que .osso e tenho de con%iar' ?igni%icaI ?al#o com a Bãeda Bãe'<onah #iu que a sombra de irrita+ão tinha sumido do rosto do .adre'  - ?ei o que tem .rocurado h: tantos anos, .adre ?ebasti:n, e achoque encontrei'6aminaram cuidadosamente o ata*de' Aberta e encostada na .arede, a tam.a era uma .e+aslida e inteiri+a de .edra' ; mesmo se a.lica#a ao %undo da urna e a trs de seus lados'  - Bas #ea aqui - disse <onah' ; quarto lado era di%erente, maisgrosso que o lado que lhe era simétrico' ; entalhe com a inscri+ão emlatim %ora colocado no alto deste lado, ob#iamente .or %ora'  <onah deu .ancadinhas, mostrando ao .adre ?ebbo como o som era oco'- Aqui h: uma .laca que .ode ser remo#ida'; .adre concordou, mas aconselhou que ti#essem cuidado'  - 6sta c3mara %ica .erto demais dos quartos de dormir' 6 não muitolonge do salão de antar' A qualquer hora do dia alguém .ode entrar, e émuito %:cil chamar os soldados da guarda' &amos es.erar até que a aten+ão das .essoas que #i#em no castelo estea ocu.ada com alguma coisa' 7ão %oi .reciso es.erar muito, gra+as ao rumo dos acontecimentos' 7o dia seguinte, <onah%oi acordado bem cedo .or uma criada que .assara a noite na cabeceira de &asca' ; conde%ora acometido de um no#o ataque' A boca ca!ra de um modo ainda mais alarmante e osolhos : não se mantinham no mesmo .lano, %icando o olho esquerdo mais baio que odireito' A .ulsa+ão .arecia muito n!tida e r:.ida, enquanto a res.ira+ão era lenta, ruidosa'<onah ou#iu um no#o o%egar com ru!do de chocalho e identi%icou a nature/a do som'

VNG 7;A= );RE;7  - Corra, #: buscar a condessa e de.ois os .adres - <onah gritou .ara a mulher'

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  A condessa chegou ao mesmo tem.o que os .adres' &inha des.enteada, re/andosilenciosamente um ros:rio' ; .adre )u/m:n #estia a batina roa e a sobre.eli/, .aramentos da etrema-un+ão' arecia muito a%obado, com o .adre ?ebbo correndo atr:sdele .ara aeitar a esto-la em seu .esco+o'  Ee olhos esbugalhados, o conde esta#a nos arqueos %inais, e tudo corres.ondia à

descri+ão de morte iminente %eita .or =i.cratesI nari/ #ermelho5 tm.oras ca!das5 orelhas%rias, contra!das, com os lbulos distorcidos5 .ele do rosto dura, esticada e seca5 rosto .ardacento'  adre ?ebbo abriu a garra%inha dourada contendo os ?antos kleos' Bolhou o .olegardireito esticado de )u/m:n e o .adre ungiu os olhos, as orelhas, as mãos e os .és de &asca'; ar se encheu do aroma do %orte b:lsamo, quando o décimo quarto e derradeiro conde de0em-bleque res.irou .ela *ltima #e/, um sus.iro longo, aba%ado'  - oi absol#ido - disse o .adre )u/m:n - e neste momento : est:se encontrando com 7osso ?enhor'adre ?ebbo e <onah trocaram um longo olhar, .ois sabiam que o ata*de não demoraria aser colocado no %undo da terra'  - 0emos de in%ormar a criadagem e os soldados do .assamento deseu senhor e mestre - disse .adre ?ebbo ao .adre )u/m:n' - 6 de#emos re/ar, no .:tio, uma missa em memria'  - Acredita mesmo que sea .reciso - )u/m:n .erguntou %ran/indo a testa' - 0emos tantas .ro#idncias a tomar'  - A celebra+ão de#e #ir antes - disse com %irme/a o .adre mais#elho' - &ou aud:-lo, mas o senhor %ar: o sermão, .ois %ala muitomelhor que eu'  - Ah, não é #erdade - .adre )u/m:n disse num tom modesto e,nitidamente en#aidecido, concordou em %a/er o sermão'  - 6nquanto isso - .adre ?ebbo acrescentou -, o médico #ai la#ar o%inado e .re.ar:-lo .ara o se.ultamento'<onah abanou a cabe+a'  Arranando as coisas .ara o cor.o não estar .ronto quando a missa come+asse no .:tio,<onah es.erou o in!cio do ronco baio da #o/ do .adre ?ebasti:n, do timbre mais alto,cantante, do .adre )u/m:n e da res.osta sonora dos de#otos' Ee.ois correu .ara a c3marano .orão'  6m.regando uma sonda cir*rgica, come+ou a ras.ar a argamassa em #olta da .laca onde%ora gra#ada a inscri+ão' ?em d*#ida Banuel ; @0"B; DE6D VN1ierro amais teria imaginado que o instrumento que %i/era com tanto cuidado .udesseser#ir .ara aquilo, mas a sonda %uncionou muito bem' <onah tinha acabado de remo#er aargamassa dos dois lados da .laca quando ou#iu a #o/ atr:s dele'- ; que est: %a/endo, curandeiro;s olhos de Eaniel 0a.ia esta#am .ousados na .laca'- &eri%icando se est: tudo em ordem'  - ( claro que sim - disse 0a.ia' - 6 também acredita que eistaalguma coisa a!, não é 6s.ero que tenha ra/ão'  <onah .ercebeu de imediato que 0a.ia não esta#a interessado em gritar .ara chamar ossoldados, .ois logo desembainhou uma %aca e a#an+ou' retendia, sem d*#ida, acabar

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so/inho o trabalho' 6ra tão alto quanto <onah e muito mais .esado5 ob#iamente ulga#a-secom.etente .ara resol#er o .roblema de um médico desarmado' <onah %e/ um mo#imentode ataque com a diminuta sonda e .ulou .ara o lado enquanto a %aca da#a uma am.la#arredura .ara rasg:-lo'  assou .erto5 seu cor.o esca.ou .or um %io da l3mina' A .onta .egou o tecido de sua

t*nica, cortando-o, mas encontrando o bre#e momento de resistncia que .ermitiu que<onah agarrasse o bra+o que esta#a .or tr:s da %aca'  uando ele .uou, mais .or re%leo que .or inten+ão, 0a.ia .erdeu o equil!brio e seestatelou .ara a %rente sobre o ata*de aberto' 6ra r:.ido .ara um sueito .esadão e aindasegura#a a %aca, mas <onah agarrou instinti#amente a tam.a da urna a.oiada na .arede' 6ramuito .esada e ele .recisou de toda sua %or+a .ara mo#-la, mas %inalmente o alto da tam.ado ata*de de .edra soltou-se da .arede e #eio carregada .ara baio .elo seu .r.rio .eso'0a.ia tinha come+ado a se le#antar, mas a tam.a maci+a caiu sobre ele como uma ratoeira'; cor.o aba%ou a maior .arte do barulho5 em #e/ do eco de .edra contra .edra hou#e um baque surdo'  Ainda assim, o som %oi bastante alto e <onah %icou .aralisado, atento' Bas as #o/escontinuaram res.ondendo sem .ausa às ora+es do .adre'  A mão de 0a.ia ainda esta#a agarrada à %aca, que <onah te#e de arrancar de seus dedos'Ee.ois le#antou cuidadosamente a tam.a de .edra, embora não hou#esse mais necessidadede delicade/a'- 0a.ia 7ão eistia mais res.ira+ão'- Ah, não, in%erno&iu que o homem quebrara a es.inha e esta#a morto, mas não tinha

VN2 7;A= );RE;7tem.o .ara lamenta+es' Carregou 0a.ia .ara o quarto ao lado do seu e colocou-o na cama'Ee.ois tirou-lhe as rou.as e %echou-lhe os olhos' Mateu a .orta quando saiu'  Agora, ao #oltar ao .orão, esta#a deses.eradamente a.ressado, .ois sabia que a missaesta#a no %im' A #o/ %anhosa do .adre )u/m:n ealta#a a #ida de ern:n &asca'  Acabando de remo#er a *ltima camada de cimento, <onah conseguiu soltar a .laca de .edra' =a#ia um es.a+o atr:s'  0rémulo, estendeu a mão e sentiu um ninho %eito com .anos' rotegido no ninho, comoo#o .recioso e grande, ha#ia um embrulho de linho e, no meio do linho, uma bolsa de seda bordada' <onah estremeceu quando .uou a bolsa' : dentro, encontrou o %ragmento deosso e o relic:rio que ha#iam tra/ido morte e destrui+ão .ara sua %am!lia' 7aquela tarde, a condessa Baria dei Bar entrou no quarto de 0a.ia e o encontrou morto' ;médico e os .adres %oram con#ocados de imediato' <onah : causara duas mortes antesdessa' Ee.ois de lutar muito tem.o com os demnios de sua conscincia, concluiu que era usto .roteger-se quando alguém tenta#a mat:-lo' Bas agora o médico .assa#a .eladesagrad:#el e.erincia de ter de atestar a morte de alguém que ele .r.rio liquidara' 6raconstrangedor usar a .ro%issão de modo tão indigno, de um modo que não teria coragem dee.or diante de 7uno ierro'  - 0e#e morte imediata - disse ele, o que era #erdade5 acrescentandoI - Eurante o sono - o que era mentira'  - 7ão ser: alguma .estilncia que .ossa a%etar a todos ns - .er guntou temeroso o .adre )u/m:n' <onah res.ondeu que não, que %ora

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a.enas uma coincidncia 0a.ia ter morrido no mesmo dia que &asca'0e#e conscincia do rosto .:lido da condessa concentrado nele'  - Eaniel 0a.ia não tinha .arentes #i#os - disse ela, que conseguira ra.idamente se controlar a.s o choque da descoberta' - ?eu %uneral não de#e inter%erir com o do conde - disse %irmemente'

  Assim, 0a.ia %oi en#olto no cobertor e le#ado .ara o cam.o, onde ca#aram uma se.ulturae %i/eram ra.idamente o enterro sob as .reces do .adre ?ebasti:n' <onah acom.anhou acerimnia di/endo todos os améns e a co#a %oi coberta de terra .elos mesmos guardas que atinham aberto'  6nquanto isso, o castelo continuara em mo#imento' 7o .`r-do-sol, .ara al!#io dacondessa, o cor.o de &asca : %ora colocado no grande salão, onde %icaria a noite inteiracercado .or uma .ro%usão de #elas e um gru.o de mulheres da criadagem que, sentadas,con#ersariam num tom aba%ado até a lu/ do dia de#ol#er a #ida àaueles a.osentos' ; @0"B; DE6D VNV  7o meio da manhã, o esqui%e %oi erguido .or do/e guardas %ortes e le#ado .ara o centrodo .:tio' Ee imediato uma lenta %ileira de criados e soldados come+ou a des%ilar diante domorto' ?e mãos curiosas tateassem ao redor da inscri+ão latina, encontrariam as beiradas da .laca bem encaiadas' ara o trabalho, <onah tinha misturado res!duos da #elha argamassacom uma %ina camada de unguento .ara os olhos, mistura que %ora a.licada da %orma maiscom.acta .oss!#el e ra.idamente alisada'  7inguém, .orém, re.arou nesses detalhes, .ois todas as aten+es esta#am #oltadas .ara a%igura dentro do sarc%ago' Com as mãos de soldado dobradas .ara descansar em .a/,ern:n &asca, conde de 0embleque, a/ia em ca#aleiresca glria, #estindo todo o es.lendorde sua armadura' A bela es.ada %eita .or a+o armiento esta#a de um lado, o elmo dooutro' ; sol do meio-dia, que .arecia incendiar o a+o .olido, trans%orma#a o conde numsanto adormecido entre as chamas'  Contudo, os dias do in!cio da .rima#era esta#am muito quentes e a armadura absor#iacalor como uma .anela no %ogão' 6r#as arom:ticas tinham sido ogadas nas laotas do .:tioe eram esmagadas .elos .és das .essoas, mas o cheiro da morte come+a#a a se es.alhar'Baria dei Bar .laneara deiar o cor.o em e.osi+ão no .:tio .or #:rios dias' ueria que o.o#o mi*do dos cam.os da região ti#esse o.ortunidade de dar um *ltimo adeus'6#identemente, logo .ercebeu que seria im.oss!#el'  ; t*mulo %ora ca#ado num canto do .:tio, .erto das se.ulturas dos trs .rimeiros condesdo distrito, e um .equeno eército de homens le#ou o ata*de até a beira da co#a' 7omomento, .orém, em que o caião de .edra ia ser %echado, a condessa Baria dei Barinstruiu em #o/ baia os soldados a es.erar'  6ntrou correndo no castelo e #oltou .ouco de.ois com uma rosa solit:ria, de caulecom.rido, que colocou entre as mãos do marido morto'  <onah encontra#a-se a oito .assos de dist3ncia' uando os soldados .egaram a tam.a doata*de e come+ara a arri:-la, ele continuou de olhos cra#ados na %lor'arecia ser a.enas uma rosa' 0al#e/ a mais bela rosa que : #ira'  <onah não .`de resistir ao im.ulso de dar um .asso na dire+ão do esqui%e, mas numinstante, num relance muito bre#e, a .esada tam.a de .edra %echou-se sobre a inscri+ãolatina, o ca#aleiro morto e a rosa de ouro com o caule de .rata' CA0D; 4O AR0"EA?

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Ee manhã, Baria dei Bar Cano a.roimou-se quando <onah esta#a arrumando os al%ores'&inha de luto, usando uma t*nica .reta grossa, .ois ia #iaar' ; #éu do cha.éu .retoescondia a .equena cicatri/ no rosto, de onde <onah remo#era os .ontos alguns dias atr:s'  - &ou .ara casa' Beu .ai mandar: alguém .ara tratar dos assuntosrelati#os à .ro.riedade e à heran+a' 7ão quer ir até Badri comigo,

doutor  - 7ão é .oss!#el, condessa' Binha es.osa es.era .or mim em?arago+a'  - Ah - disse ela num tom de lamento, mas sorrindo' - &: me #isitar um dia se .recisar mudar de ares' Beu .ai #ai querer recom.ens:-lo generosamente' Eaniel 0a.ia .odia ter me causado um grande mal'  <onah demorou um instante .ara .erceber que a condessa acha#a que ele matara umhomem .ara %a#orec-la'- 6st: %a/endo con%usão sobre o que aconteceu'6la ergueu o #éu e se inclinou .ara a %rente'  - 7ão estou %a/endo con%usão e não deie de me .rocurar emBadri' 6u também saberei recom.ens:-lo muito bem'  Meiou-o na boca e .artiu, deiando-o de.rimido, irritado' ?em d*#ida o .ai - ou qualquer outra .essoa que a ou#isse contar a histria - ia .resumir que o médico de ?arago+a tinhausado seus #enenos .ara matar' 6 <onah não queria #er rumores desse ti.o se es.alhando'  Bana dei Bar Cano era no#a' Besmo, no entanto, quando %icasse #elha, ainda seria umatenta+ão' A .resen+a dela em Badri basta#a .ara garantir que <onah amais .oria os .és l:'  uando acabou de arrumar as coisas, : esta#a mais bem-humo-rado' ;lhou .ela anela e#iu a condessa de 0embleque atra#essando o .ortão da %rente' Ei#ertido, notou que estaria bem .rotegida no caminho .ara Badri, .ois encontrara um membro da guarda %orte e o#em .ara lhe %a/er com.anhia' ; @0"B; DE6D VNOEes.ediu-se dos .adres no .:tio' adre ?ebbo tinha a mochila nas costas e um caado muitocom.rido na mão'- uanto aos meus honor:rios - disse <onah ao .adre )u/m:n'  - Ah, os honor:rios' 6les não .odem ser .agos, é claro, até oin#ent:rio da .ro.riedade %icar de%inido' A quantia lhe ser: en#iada'  - &i de/ c:lices de .rata entre as .osses do conde' Acho que .oderiam ser os meus honor:rios'; .adre .areceu interessado e logo em seguida chocado'  - Ee/ c:lices de .rata #alem muito mais que honor:rios .or um .aciente que morre' egue quatro se quiser'&oc não conser#ou a #ida dele, re.etiram os olhos do .adre'  - rei rancisco Ri#era de "a 6s.ina disse que eu seria bem remunerado'  adre )u/m:n sabia .or e.erincia .r.ria que era melhor não deiar os .roblemasca!rem nas mãos dos intrometidos %uncion:rios diocesanos'- ?eis, então - disse ele, negociando duro'  - &ou aceit:-los se .uder com.rar os outros quatro' Eois estãodani%icados'

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  ; .adre esti.ulou um .re+o desleal, mas os c:lices #aliam mais que dinheiro .ara <onah'?imulando uma .equena relut3ncia, ele ra.idamente concordou'  adre ?ebbo acom.anhara a negocia+ão com um sorriso discreto' ouco de.ois di/iaadeus, erguia a mão numa *ltima bn+ão .ara os guardas e cru/a#a o .ortão como umhomem cuo destino é o .r.rio mundo'

  Ea! a uma hora, quando chegou a #e/ de <onah atra#essar o mesmo .ortão, %oi detido'  - Eescul.e, senor, mas %omos instru!dos .ara ins.ecionar seus .ertences - disse o sargento da guarda .ara ele'  Beeram em tudo que ele arrumara com tanto cuidado, mas a e.ressão de <onah não sealterou'- 0enho um recibo .ara os c:lices - disse'  inalmente %oi liberado .elo sargento com um aceno de cabe+a e, tirando =ermana docaminho, come+ou a embalar outra #e/ suas coisas' ouco de.ois tornou a montar e, com ar satis%eito, deiou .ara tr:s o castelo de 0embleque'6ncontraram-se em 0oledo, na %rente do .rédio diocesano'- 7enhum .roblema

VNN 7;A= );RE;7  - 7ão - disse o .adre ?ebbo' - assou um cocheiro conhecido meue #im de carona na carruagem #a/ia' &iaei como um .a.a'  ;s dois entraram no .rédio, deram os nomes e sentaram-se em silncio num banco' or%im, um %rade anunciou que o .adre 6s.ina ia receb-los em .articular e %e/ sinal .ara oacom.anharem'6s.ina, sem d*#ida, %icou con%uso ao #er os dois untos'  - &ou lhe contar uma histria - disse o .adre ?ebasti:n Al#are/ aose instalar numa cadeira ao lado de <onah'- 6stou ou#indo'  ; .adre de cabelos brancos %alou de um .adre mais mo+o, cheio de ambi+ão e de bonscontatos %amiliares' ; homem lutara .ara conseguir uma rel!quia que o trans%ormasse noabade de um grande monastério' Bas hou#e intrigas e, .or %im, assassinato e %urto' aloutambém de um médico de 0oledo, alguém que o.tara .ela %é cristã e que .erdera a #ida na%ogueira .orque atendera ao .edido de auda de um .adre'- 6ra seu .ai, .adre 6s.ina'  ?ebbo disse também que, atra#és dos anos, onde quer que esti#esse, .ergunta#a sem.re .elas rel!quias roubadas'  - A maioria das .essoas sim.lesmente encolhia os ombros' 6radi%!cil obter alguma in%orma+ão, mas untando uma .ala#ra aqui, outraacol:, acabei tendo um ind!cio que me le#a#a ao conde ern:n &asca'6ntão comecei a ir a 0embleque com a maior %requncia .oss!#el, atéque as .essoas do castelo se acostumaram a me #er' ?em.re, é claro,manti#e olhos e ou#idos abertos, mas s neste ano Eeus ulgou acertado tra/er-me a auda do médico Callic, .elo que %iquei etremamenteagradecido'  A aten+ão com que .adre 6s.ina ou#ira a histria se trans%ormou em assombro quando?ebbo tirou um obeto de seu al%ore e desembrulhou-o com grande cuidado';s trs homens contem.laram em silncio o relic:rio'

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  A .rata tinha manchas negras, mas a cor do ouro era .ura' Besmo sob as manchas, as%iguras sagradas e os rele#os decorati#os de %rutas e .lantas %ascina#am o olhar'- Eeus mo#eu as mãos do art!%ice - disse .adre 6s.ina'  - ?im - concordou .adre ?ebbo, tirando a tam.a do cibrio .araque todos .udessem #er o %ragmento de osso no seu interior'

;s dois .adres %i/eram o sinal-da-cru/'  - 6ncham seus olhos - disse o .adre ?ebbo' - A rel!quia e o relic:rio de ?anta Ana de#em ser en#iados o mais de.ressa .oss!#el aRoma' 7ossos amigos da c*ria .a.al são notoriamente lentos quando ; @0"B; DE6D VNQse trata de rea%irmar a autenticidade de uma rel!quia recu.erada' ode mesmo nemacontecer em nosso tem.o de #ida'  - =: de acontecer mais cedo ou mais tarde - disse .adre 6s.ina' -6 gra+as ao senhores' A lenda da rel!quia de ?anta Ana roubada em0oledo é conhecida .or toda .arte, e tenho certe/a de que #ão celebr:-los como os heris da descoberta'  - ; senhor me disse, não h: muito tem.o, que se eu .recisasse dealguma coisa era s lhe .edir' ( o que estou %a/endo agora, .adre' or %a#or, não quero que meu nome sea relacionado de modo algum a esteassunto'  adre 6s.ina %icou im.ressionado .ela ines.erada inter#en+ão de <onah e obser#ousilenciosamente o médico'- ; que .ensa do .edido do senor Callic, .adre ?ebasti:n  - 0em todo o meu a.oio - disse o #elho .adre' - iquei a .ar dagenerosidade deste homem' 6m tem.os estranhos e di%!ceis, o anonimato .ode ser uma #erdadeira bn+ão, mesmo .ara um homem bom'adre 6s.ina abanou a cabe+a %inalmente'  - ?ei que antigamente meu .r.rio .ai de#e ter %eito um .edidosemelhante' Bas seam quais %orem as ra/es do sehor Callic, eu nãolhe causarei .roblemas' ?e hou#er mais alguma coisa em que .ossa ser *til'''- 7ão, .adre' ;brigado'6s.ina se #irou .ara o .adre ?ebasti:n Al#are/'  - elo menos o senhor, como .adre, de#e estar dis.on!#el .ara testemunhar sobre o que aconteceu no castelo de 0embleque, .adre?ebasti:n' uem sabe não .osso lhe conseguir um trabalho mais %:cilque caminhar entre os .obres, tendo de mendigar .or cada re%ei+ão  Bas .adre ?ebbo desea#a agora continuar #i#endo como mendicante'  - ?anta Ana trans%ormou minha #ida e minha #oca+ão, condu/indo-me a um ti.o de sacerdcio que nunca imaginei desem.enhar' e+oque tome o cuidado de s mencionar o meu nome quando estritamentenecess:rio, .ara que eu .ossa continuar minha #ida como ela est:'adre 6s.ina assentiu'  - ? .recisa %a/er um relatrio e.licando como a rel!quia %oirecu.erada' ; bis.o 6nrique ?agasta me conhece e con%ia em mim'6le #ai en#iar o .recioso obeto a Roma e tenho certe/a de que .osso

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con#enc-lo a declarar que o osso %oi encontrado no castelo de 0em bleque .ela sé de 0oledo, atra#és de nosso )abinete .ara a é Religio- VNU 7;A=);RE;7sa' ?eria, sem d*#ida, a.enas natural que esti#esse no castelo e .udesse ser locali/ado a.s

a morte do conde ern:n &asca, que sabidamente negocia#a com rel!quias'  A antiga bas!lica de Constantino em Roma %oi demolida e uma grande igrea ser: erguidasobre a tumba de ?ão edro' ; bis.o ?agasta desea ser trans%erido .ara o &aticano e euquero ir com ele' ? audar: a re.uta+ão do bis.o, como historiador da "grea que : é,receber um crédito adicional .ela recu.era+ão da rel!quia de ?anta Ana e de um relic:riocomo esse' 7a rua, .arados na %rente do .rédio da diocese, <onah e o .adre ?ebasti:n olha#am um .arao outro'- ; senhor sabe quem sou eu; .adre .`s a mão caleada na boca de <onah'  - 7ão quero saber de nomes' : tinha re.arado que é .arecido comalguém que um dia conheci, um timo homem, um artesão de etrema .er!cia e arte'- Adeus, .adre - disse <onah com um sorriso';s dois se abra+aram'- &: com Eeus, meu %ilho'  ; médico %icou um instante .arado #endo ?ebasti:n Al#are/ se a%astar, a cabe+a comcabelos brancos, o caado com.rido de mendicante balan+ando na mo#imentada rua dacidade'<onah 0oledano seguiu .ara a .eri%eria de 0oledo, onde %ica#a o cam.o que %ora umcemitério udeu' Certamente nem cabras nem o#elhas teriam andado recentemente .or l:, .ois a rel#a crescia #erde sobre os ossos' <onah deiou a égua .astar um .ouco e saltou .ara re/ar o >adish .ela mãe, .or Beir e .or todos ali enterrados' Ee.ois .ulou no#amentena sela e guiou o animal de #olta .ara 0oledo, .ara as ruas onde .assara os mais %eli/es emais inocentes dias de sua #ida, .ara a estrada do rochedo que da#a .ara o rio'A sinagoga, .elo menos naquele momento, .arecia ter #irado um de.sito de lenha, .oisha#ia toras de madeira amontoadas ou simetricamente em.ilhadas nos degraus e .or toda a%rente do .rédio'  <onah .uou as rédeas da égua quando chegou à antiga casa e o%icina da %am!lia0oledano'Ainda udeu, abba, clamou em silncio'A :r#ore que ha#ia sobre o t*mulo do .ai tinha crescido bastante'

; D0"B; DE6D VN9Atr:s da casa, os ramos de %olhas largas .endiam sobre o telhado baio, dando sombra, balan+ando na brisa'?entiu a %orte .resen+a do .ai'  Real ou imagin:ria, deiou-o muito %eli/ e ele contou mentalmente tudo que acontecera' 7ão ha#ia como enganar os mortos' ; caso do relic:rio com.letara seu c!rculo e esta#aencerrado' 7ão era mais .oss!#el recu.erar o que se .erdera nos acidentes de .ercurso'  Contem.lando a casa onde a mãe morrera, da#a .ancadinhas na égua'

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  ?ebasti:n Al#are/ acha#a que ele se .arecia com o .ai' 6 seu irmão ?er: que 6lea/artambém era .arecido com o .ai 0eria 6lea/ar 0oledano algum tra+o de %am!lia .ara serreconhecido na rua, entre uma multidão de rostos  ara todo lugar que olha#a, <onah imagina#a estar #endo um garoto magrela com umagrande cabe+a'

<onah, #amos até o rio<onah, não .osso ir com #oc  oi tra/ido .ara o .resente .or uma s*bita e agu+ada .erce.+ão de mau cheiro5 o curtumede couro ainda %unciona#a'Amo #oc, abba  Ao .assar .ela .ro.riedade #i/inha de Barcelo 0roca, #iu o homem ainda #i#o, cuidandode sua ro+a, .ondo o cabresto no %ocinho de um burro'  - ;l: Dm bom dia, senor 0roca - <onah gritou, batendo com os calcanhares na égua'  Barcelo 0roca .arou com a mão no .esco+o do burro e, intrigado com o ca#aleiro naégua .reta, %icou olhando .ara os dois até eles sa!rem de #ista' CA0D; 4N; )Aj;6le e o lugar combina#am muito bem' ; .eda+o retangular de terra, na realidade a.enas ummorro com.rido e baio com um .equeno crrego atra#essando a encosta, não era o (den,nem tinha uma casa-sede que .udesse se com.arar com o castelo, mas os cam.os e a casase austa#am .er%eitamente a <onah'  7aquele ano a .rima#era tinha chegado cedo a ?arago+a' As :r#ores %rut!%eras que os doistinham .odado e adubado esta#am cheias de brotos quando ele entrou em casa' Adrianarecebeu-o com l:grimas e risos, como se o marido ti#esse retornado do mundo dos mortos'  6la a.reciou com re#erncia os c:lices de .rata que o sogro tinha %eito' As manchas .retas eram .iores do que .areciam e não queriam sair, mas <onah coletou o esterco que seacumulara no chão do galinheiro durante o in#erno e untou cada c:lice do :cido que sa!a datitica *mida de galinha5 de.ois, usando um .ano macio, es%regou-os demoradamente comuma dose etra da terr!#el .asta' A.s uma boa la#agem com sabão e mais uma es%rega+ãocom .anos secos, cada c:lice %icou brilhando como a armadura do conde' Adriana arrumou-os numa mesinha situada de modo a ca.tar os re%leos ondulantes do %ogo e #irou .ara a .arede as .artes amassadas e arranhadas de dois c:lices'  7o bosque, .erto do alto do morro, as :r#ores logo %icaram carregadas de .equenasa/eitonas muito #erdes' Animada com aquilo, Adriana .lanea#a tirar o a/eite no momentodo .er%eito amadurecimento' 0inha com.rado algumas cabras durante a ausncia de <onah, .ois .ensa#a em %ormar um .equeno rebanho' 6mbora o #endedor garantisse que trscabras ha#iam cru/ado, s uma delas deu sinais de estar realmente .renha' Adriana,contudo, não se deiou .erturbar .or aborrecimentos desse ti.o, .orque na *ltima semanado #erão tornou-se e#idente que ela mesma esta#a gr:#ida' <onah %icou radiante e Adrianaentrou numa es.écie de tase controlado'?em d*#ida a crian+a que esta#a a caminho %aria muita di%eren+a'

; @0"B; DE6D VQ1  7o come+o do outono, ReJna e Fl#aro #ieram %a/er-lhes uma #isita e, enquanto asmulheres toma#am um co.o de #inho, os homens %oram até o alto do morro e calcularam asdimenses de um gal.ão'

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Fl#aro co+ou a cabe+a quando .ercebeu o que <onah queria'- &ai .recisar mesmo de um gal.ão tão com.rido, Ramn<onah balan+ou a cabe+a e sorriu'- : que resol#emos construir, #amos %a/er direito'  Fl#aro tinha constru!do muitas casas e <onah contratou-o .ara le#antar as .aredes

eternas de um gal.ão com telhado de telhas, .ara combinar com a casa-sede' Eurante todoo outono e todo o in#erno, Fl#aro e o.e, o ra.a/ que trabalha#a com ele, carregaram .edras .ara a crista do morro num carro de boi'Adriana deu à lu/ em mar+o' ; .arto ocu.ou uma longa noite tem.estuosa e a crian+anasceu na %ria lu/ da manhã' <onah .egou a crian+a nos bra+os e sentiu o *ltimo resto desolidão se dissol#er quando o menino abriu a boca e come+ou a chorar'  - &amos cham:-lo =el>ias Callic - disse Adriana' Ao receber orecém-nascido dos bra+os do marido, ela .ronunciou o nome que nunca di/ia, mesmo nos momentos de maior intimidade dos dois' - ; %ilhode <onah 0oledano' 7a .rima#era seguinte, Fl#aro e o.e ca#aram uma #ala rasa, con%orme as es.eci%ica+esde <onah, e lan+aram as %unda+es' uando o trabalho chegou aos muros, <onah .assou ausar cada momento li#re no atendimento dos .acientes .ara audar os .edreiros' A.rendeu aselecionar, a encaiar cuidadosamente as .edras, a aust:-las umas sobre as outras com a .recisão necess:ria .ara garantir a resistncia de uma .arede' 0ambém quis a.render a%a/er a massa, misturando cascalho muito %ino com barro, areia, calc:rio e :gua .ara %a/erum cimento %orte' Fl#aro se di#ertia com suas .erguntas e sua dis.osi+ão'  - A.osto que #ai largar a medicina .ara trabalhar conosco - di/ia,#endo como <onah esta#a gostando da e.erincia de trabalhar naobra'  ; gal.ão %icou .ronto na .rimeira semana de unho' Ee.ois que Fl#aro e o.e %oram .agos e se des.ediram, <onah come+ou a trabalhar so/inho nos .er!odos mais %rescos dodia, carregando o material de manhã cedo e .ouco antes do anoitecer' or todo o %inal do#erão e in!cio do outono, carregou .edras no carrinho de mão .ara o interior do gal.ão' VQ2 7;A=);RE;7  ? em no#embro .`de come+ar a trabalhar com as .edras' Barcou um sulco que isola#auma %aia estreita do es.a+o interno do gal.ão e come+ou a construir uma .arede di#isriade .edra, que du.lica#a a .arede eterna dos %undos'  7o canto mais escuro, abriu na no#a .arede uma entrada baia e estreita' Eiante dessaentrada construiu um de.sito de toras de .inho' ; de.sito era di#idido' 7a %rente, <onah .`s lenha cortada e, na .arte colada à .arede, instalou um al+a.ão' ; al+a.ão le#a#a aoa.osento secreto e, sem.re que não esti#esse sendo usado, %icaria oculto .or toras de lenhaem.ilhadas sobre ele'  7o com.rido e estreito es.a+o entre as .aredes colocou uma mesa, duas cadeiras e cadas!mbolo material de sua %idelidade udaicaI a ta+a do >iddush, as #elas do ?habat, os doisli#ros médicos em hebraico e algumas .:ginas com as .reces, as bn+ãos e as narrati#as deque .odia se lembrar'  7o %inal da tarde da .rimeira seta-%eira de.ois do gal.ão estar .ronto, %oi com Adrianaaté o alto do morro e .arou .erto do t*mulo de 7uno' Adriana le#a#a o %ilho nos bra+os'untos, #iram o céu escurecer até conseguirem identi%icar o brilho esbranqui+ado das .rimeiras trs estrelas'

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  0inha deiado aceso um candeeiro no gal.ão .ara não ter de %a/-lo a.s o ?habat tercome+ado' oi sob sua lu/ que remo#eu as toras de lenha e abriu o al+a.ão' 6ntrou na%rente e recebeu o bebé das mãos de Adriana, abaiando-se .ara carregar a crian+a .ela .equena .orta e .enetrar com ela no es.a+o escuro do a.osento secreto' Adriana, .orém,logo se reuniria a eles le#ando o candeeiro'

  6ra um culto sim.les' Adriana acendeu as #elas e disseram untos a .rece, saudando oad#ento do ?habat' 6ntão <onah entoou o shem:I ;u#e, "srael, o ?enhor é o nosso Eeus,o ?enhor é @nico'oi tudo que ti#eram de liturgia'- Dm bom ?habat - disse ele, beiando a es.osa'- Dm bom ?habat, Ramn'icaram sentados no silncio'- 6st: #endo a chama do candeeiro - <onah disse ao seu %ilho'6le não era Abraão e o menino não era "saac' 7ão se trans%ormariaem um m:rtir num .oste da "nquisi+ão .ara ser o%erecido a Eeus em holocausto'  Aquela era a *nica #e/ que =el>ias ia #er o a.osento secreto antes de .oder .ensar comohomem'; uda!smo de <onah #i#eria em sua alma, onde não .odia ser 

; @0"B; DE6D VQVmolestado' ?em.re, no entanto, que %osse seguro, ele iria até aquele a.osento .ara #isitar osobetos que ha#ia l:' 6 se sua #ida %osse longa o bastante .ara #er os %ilhos atingirem aidade da ra/ão, le#aria cada um àquele lugar secreto'  Acenderia as #elas, entoaria .reces desconhecidas e tentaria audar a gera+ão seguinte da%am!lia Callic a com.reender como era antes' Contaria as %:bulas, as histrias de tios ea#s que a crian+a nunca ia conhecer, %alaria de magn!%icos obetos sagrados, de umhomem cuas mãos e cérebro tira#am mara#ilhas do metal e de uma rosa de ouro com caulede .rata' =istrias de um tem.o que %ora melhor e de uma %am!lia que não eistia mais, deum mundo que desa.arecera' Ee.ois disso, ele e Adriana concorda#am, %ica#a tudo nasmãos de Eeus' A)RAE6C"B670;?Ee#o a muita gente a .ossibilidade de escre#er este li#ro' ?e hou#e erros na inter.reta+ãoda in%orma+ão que recebi das .essoas citadas abaio, eles são de minha eclusi#ares.onsabilidade'  or res.onder às minhas .erguntas no cam.o da medicina, agrade+o a BJra Ru%o, h'E',catedr:tica no Ee.artamento de Anatomia e Miologia Celular da 0u%ts Bedicai ?chool5ared A' )ollob, doutor em medicina, #ice-diretor do rograma de 0era.ia Miolgica doMeth "srael =os.ital e .ro%essor-assistente da =ar#ard Bedicai ?chool5 &in-cent atalano,doutor em medicina, o%talmologista da Bassachusetts 6Je and 6ar "n%irmarJ e .ro%essor-assistente na =ar#ard Bedicai ?chool5 e à equi.e do Centers %or Eisease Control, emAtlanta, )er-gia' ouis Ca.lan, doutor em medicina, diretor da unidade de urgncia doMeth "srael Eeaconess Bedicai Center e .ro%essor de neurologia na =ar#ard Bedicai?chool, res.ondeu a #:rias .erguntas e te#e a gentile/a de ler o manuscrito da edi+ãoamericana'  7a 6s.anha, o historiador Carlos Menarroch te#e a gentile/a de .assear comigo no #elho bairro udeu de Marcelona, dando-me no+es sobre a #ida dos udeus es.anhis na é.oca

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medie#al' Agrade+o às demonstra+es de a.re+o de ordi Baestre e ose. 0arrés, em)irona' Euas %am!lias de )irona me receberam em suas casas .ara que eu .udesse %a/eruma ideia de como certos udeus tinham #i#ido na 6s.anha, centenas de anos atr:s' ose.h&icens " Cubarsi e Baria Collel a.orta Casademont mostraram-me uma admir:#elestrutura de .edra que inclu!a um %ogão embutido na .arede' ora achada no subsolo da

interessante casa dos dois, quando esca#aram o .iso de terra do .orão' 6 a %am!lia CollsabaJen condu/iu-me .ela sim.:tica residncia onde, no século $""", morara o rabinoBoses ben 7ahman, o grande 7ahmanides' 6m 0oledo, %ui gentilmente recebido .orRu%ino Biranda e .elos %uncion:rios do museu ?e%ardi na sinagoga dei 0r3nsito'  7o museu Bar!timo em Marcelona, 6nrique )arcia e e. ?a#all, con#ersando com meu%ilho, Bichael )ordon, que esta#a me re.resen- VQN 7;A=);RE;7 .aquete do século $&" .odia ter %eito em .ortos es.anhis' uis ?intes Rita e ere lorens&ila, le#ando-me a bordo do ?ol 7ascente """, o barco de uis, mostraram-me algumas:guas ao longo da costa de Benor-ca' Com eles também #isitei as instala+es de uma ilharetirada onde, antigamente, %uncionara um hos.ital .ara .acientes com doen+as in%ecciosase que agora era uma colnia de %érias .ara os médicos do ser#i+o nacional de sa*de da6s.anha' Agrade+o ao diretor, Carlos )utierre/ dei ino e ao gerente, olicar.o ?intes, .elahos.italidade e .or me mostrarem a cole+ão ali e.osta de antigos equi.amentos médicos'  Agrade+o ao American eSish Congress e a A#i Camchi, seu erudito e .rinci.alconselheiro, que me .ossibilitaram .artici.ar de uma ecursão a .ontos im.ortantes dahistria dos udeus na 6s.anha, inclusi#e com a liberdade de me a%astar #:rios dias e meunir de no#o à ecursão5 e agrade+o a um mara#ilhoso gru.o de .essoas do Canad: e dos6stados Dnidos .or deiarem re.etidamente um escritor a trabalho em.urr:-las .araa.roimar o gra#ador de cada e.ositor'  7a América, .or res.onder às minhas .erguntas, agrade+o ao rabino B' Bitchell Cerels,h'E', e-diretor de estudos se%arditas na Dni#ersidade <eshi#a5 =oSard B' ?achar, h'E', .ro%essor de histria na Dni#ersidade )eorge Kashington5 e 0homas ' )lic>, h'E',diretor do "nstituto de =istria Bedie#al da Dni#ersidade de Moston'  ; .adre ames ield, diretor do escritrio .ara o culto na arquidiocese de Moston e o .adre Richard ennon, reitor do ?t' ohnWs ?emi-narJ em Mrighton, Bassachusetts,res.onderam .acientemente às .erguntas de um udeu americano sobre a "grea Catlica eestou grato, também, à gentile/a do de.artamento de latim do College o% the =olJ Cross,em Korcester, Bassachusetts'  ; rabino Eonald olloc>, assim como Charles Rit/, audaram-me a encontrar datas de%estas udaicas na "dade Bédia' Charlie Rit/, meu #elho amigo, .ermitiu-me usarli#remente sua biblioteca .essoal sobre assuntos udaicos' )ilda Angel, es.osa do rabinoBarc Angel da ?inagoga ortuguesa e 6s.anhola de 7o#a <or>, con#ersou comigo sobreas ceias de :scoa dos udeus se%arditas'  ; n*cleo da Dni#ersidade de Bassachusetts em Amherst concedeu-me autori/a+ão .araconsultar a Eu Mois ibrarJ, da K'6'M', como um de seus membros, o que ali:s : #enho%a/endo h: alguns anos' 6stou .articularmente grato a )ordon retSell, diretor-assistentedessa biblioteca5 a MettJ Mrace, che%e dos ser#i+os de a.oio ao usu:rio5 e a 6dla =olm, queche%ia#a a se+ão de em.réstimos' Agrade+o também a cortesia da Bugar Bemorial ibrarJe da Miblioteca de Cincia e 6n- mater' a Dni#ersidade de Moston, bem como

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; @0"B; DE6D VQQda CountSaJ Bedicai ibrarJ e da Kidener ibrarJ da Dni#ersidade de =ar#ard, da

 biblioteca do =ebreS College, da Mroo>line ublic ibrarJ e da Moston ublic ibrarJ'  Eescobri que os trabalhos de histria o%erecem di%erentes estimati#as da .o.ula+ão de udeus es.anhis no %im do século $& e às #e/es descre#em os e#entos desse .er!odo dedi%erentes .ontos de #ista' uando isso ocorria eu me sentia li#re .ara escolher a #ersãoque me .arecia mais lgica e .ro#:#el'  Dma .ala#ra de ad#ertncia' Maseei minhas descri+es de remédios à base de er#as emmaterial encontrado nos escritos de A#icena, )aleno e outros médicos antigos' oucacincia, no entanto, era usada na .re.ara+ão dos medicamentos .or esses .rimeiros médicose botic:rios, e sua e%ic:cia nunca %oi .ro#ada' ?eria, .ara qualquer um, atitudeirres.ons:#el testar os remédios descritos neste li#ro, .ois eles .odem ser .erigosos oucolocar em risco a .r.ria #ida'  Eesde o in!cio do cristianismo, tem ha#ido um ati#o mercado .ara o roubo e a #enda derel!quias religiosas, algumas es.*rias, e ainda hoe a coisa continua' Rel!quias de ?antaAna, re#erenciada .elos catlicos como a mãe da &irgem Baria, costumam ser encontradasem muitas igreas e em di%erentes .artes do globo' Maseei a histria %iccional de minharel!quia de ?anta Ana, até o .er!odo de Carlos Bagno, inclusi#e, em e#entos que .odem ser encontrados em histrias catlicas dos santos'  ;s acontecimentos en#ol#endo a rel!quia a.s a era de Carlos Bagno são %ict!cios, assimcomo o Bosteiro da Assun+ão, em 0oledo, e o #ale e a aldeia de radogrande' 0odos osmonarcas e bis.os mencionados, com ece+ão de 6nrique ?agasta e )uillermo Ramero, sãohistricos'  uero agradecer ao caloroso a.oio e ami/ade de meu editor alemão, dr' Xarl =' Mlessing,da Xarl Mlessing &erlag5 de meu agente americano, 6ugene =' Kinic>, da Bclntosh ~ ;tis,"nc'5 e de minha agente internacional, ?ara isher, da agncia liter:ria A'B' =eath, emondres'  Binha casa editorial na 6s.anha, 6diciones M, %oi-me etremamente *til emdeterminados casos e agrade+o à sua diretora, Mlanca Rosa Roca, e a 6nrique de =éri/,diretor-editorial'  Bandei o manuscrito .ara a Alemanha e a 6s.anha em segmentos, .or isso as tradu+es .uderam come+ar em cada um desses .a!ses enquanto eu ainda esta#a escre#endo' ;historiador e ornalista osé Baria erce#al esquadrinhou minhas .:ginas, o%ereceuconselhos e .rocurou garantir que os nomes de meus .ersonagens estariam coerentes 

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com a linguagem e a cultura das regies es.anholas onde a a+ão te#e lugar' A di%!cil tare%a, .ela qual lhe estou grato, trans%ormou as re#ises nesta necessidade que agora se a.resenta,e agrade+o .articularmente à .acincia e habilidade de udith ?chSaab, da Xarl Mlessing&erlag, em Bunique, e de Cristina =ern:nde/ ohansson, das 6diciones M, em Marcelona'Eurante boa .arte da elabora+ão de meu romance, des%rutei do luo de ter =erman )ollob

como um editor sem.re ao meu alcance, até ele .artir .ara a "nglaterra .ara .esquisar umli#ro que tinha rela+ão com ?ha>es.eare' ( um grande editor que gosta do que os escritores .rodu/em5 este romance é muito melhor do que teria sido sem ele' Beu editor americano,0homas Eunne, da ?t' BartinWs ress, %e/ di#ersas sugestes #aliosas que tornaram esteli#ro melhor, e estou agradecido .ela auda e cortesia demonstradas .or eter Kol#erton,editor associado, e CarolJn Eun>leJ, assistente editorial'  Binha %ilha amie Meth )ordon este#e sem.re atenta a qualquer li#ro que .a.ai .udesseachar interessante e sem.re me sinto acarinhado e re#igorado quando leio um dos .equenos bilhetes que ela deia em meu caminho' Binha %ilha, ise )ordon, %onte in%al!#elde bons li#ros a ler .or interesse cultural e .ra/er, minha mais se#era e mais a%etuosacolaboradora, leu .arte da .rimeira #ersão e .re.arou os originais de todo o teto %inal'Beu genro, Roger Keiss, atendeu a inumer:#eis gritos de socorro quando meu com.utadorengolia se+es inteiras de .rosa arduamente .rodu/ida e não queria mais solt:-las5 elesem.re me sal#a#a o dia' Binha nora, Baria alma Castilln, tradu/iu, inter.retou, leu as .ro#as da edi+ão es.anhola e, quando est:#amos no mesmo .a!s, enchia-nos de timacomida catalã' Beu %ilho Bichael ?eaJ )ordon este#e sem.re .resente com suainteligncia, seus recortes de ornais, tele%onemas, conselhos e a.oio' 6ntre#istou .essoasem meu nome e %oi uma ecelente com.anhia em #:rias de minhas #iagens à 6s.anha'  ; a.oio que recebi de orraine )ordon, sem.re a .er%eita es.osa de escritor, %oi de talordem que não tentarei coloc:-lo em .ala#ras' 6la me trans%orma re.etidamente noa.aionado que, : h: muitos e muitos anos, eu tenho sido'Mroo>line, Bassachusetts 9 de %e#ereiro de 2GGG

so, no dia em que o .ai é #!tima de um derradeiro .ogrom, <onah não consegue %ugir e %icasolto nos cam.os da 6s.anha, #agando num burro que ele chama secretamente de Boisés'  <onah 0oledano ser: o %io condutor de uma histria ambientada h: quinhentos anos no sulda 6s.anha e no reino de Ara-gão, quando os autos-de-%é queima#am oito mil .essoas esoberanos catlicos substitu!am os in%iéis no .al:cio do Alhambra, em )ranada' 6le #aitrabalhar na terra como .eão, num calabou+o como ser#ente, ser: .astor de o#elhas nasmontanhas desertas da Andala/ia, maruo, a.rendi/ de armeiro, médico, cirurgião, .olidorde armaduras e tradutor de teto hebraico .roibido'  Adquire, assim, a e.erincia e a ca.acidade de de%esa que o manti#eram #i#o até o %inalda histria' &i#o e não-con#er-tido' 0orcendo .or uma #ida su%icientemente longa .arale#ar os %ilhos adultos aos lugares secretos, acender as #elas do sbabat, entoar as .reces nasl!nguas desconhecidas e deiar o resto, como di/ o autor, nas mãos de Eeus'

 \ 'o ano de 1492, a "nquisi+ão domina a 6s.anha com mãos de %erro' Centenas demilhares de udeussão e.ulsos e obrigados a %ugir .ara não seremqueimados na %ogueira' ; terror e a dela+ão estão na ordemdo dia e as mortes são ine#it:#eis' 7este clima de .3nico,<onah 0oledano, um garoto de tre/e anos, %ilho de um

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ouri#es udeu assassinado, se recusa à con#ersão e %oge .elo interior da 6s.anha .ara não ser morto'