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0 EVARISTO V. FERNANDES CÉREBRO RACIONAL E CÉREBRO SÓCIO-EMOCIONAL NAS APRENDIZAGENS, NOS COMPORTAMENTOS E NA SAÚDE

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  • 0

    EVARISTO V. FERNANDES

    CREBRO RACIONAL

    E

    CREBRO SCIO-EMOCIONAL

    NAS APRENDIZAGENS, NOS COMPORTAMENTOS

    E NA SADE

  • 1

    NDICE

    CAPTULO I

    DINMICA DA INTERIORIDADE NOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM E DE

    ACO COMPORTAMENTAL

    3

    I O MECANISMO CEREBRAL NA ELABORAO DE AGNOSIAS 7

    II O CREBRO EM SEUS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM 13

    III CORPO E EMOO NO DESENVOLVER DO PENSAMENTO 20

    CAPTULO II

    ENIGMAS DO BIO-EMOCIONAL DO APARELHO NEUROPSQUICO 41

    I DINAMISMOS DAS EMOES E DO INCONSCIENTE NAS ACES

    COMPORTAMENTAIS E COGNITIVAS DOS INDIVDUOS

    45

    II INTERACTIVIDADES EMOCIONAIS E PROPEDUTICO PSQUICAS NOS

    DINAMISMOS DOS DESENVOLVIMENTOS BIONEUROPSICOLGICOS

    55

    CAPTULO III

    O CREBRO HUMANO EM SEUS INTERACTIVOS PROCESSOS E

    DINAMISMOS DE APRENDIZAGEM

    78

    I INTERACTIVIDADES: CREBRO EMOCIONAL-CREBRO RACIONAL 85

    II INTERACTIVIDADES FUNCIONAIS DAS REAS CEREBRAIS 93

    III COMPORTAMENTOS DO SER HUMANO COM LESES CEREBRAIS 99

    IV BIOFFEEDBACK COMO PROCESSO MOBILIZADOR DA TOTALIDADE DO

    EDUCANDO

    109

    V O APARELHO NEUROPSQUICO COMO CRIADOR DE IMAGENS E MAPAS

    MENTAIS

    113

    CAPTULO IV

    PROCESSOS E DINAMISMOS DE COGNIO DO SER HUMANO 123

    I DINAMISMOS ONTOGENTICOS E COGNITIVOS DAS APRENDIZAGENS

    HUMANAS

    135

    II DINAMISMOS NEUROPSQUICOS DO COMPORTAMENTO E DAS

    AQUISIES DO SABER

    140

    III DIMENSES COGNITIVO-EMOCIONAIS DO APARELHO NEUROPSQUICO

    149

    CAPTULO V

  • 2

    O RACIONAL E O SCIO-EMOCIONAL NOS DINAMISMOS E NAS

    ORGANIZAES DOS CONHECIMENTOS E DOS EQUILBRIOS PESSOAIS

    160

    I BIOSSOCIOPSQUICO NOS MECANISMOS DAS MUDANAS

    COMPORTAMENTAIS

    165

    II DINMICAS SOCIAIS NO COMPORTAMENTO CEREBRAL 172

    III SISTEMAS COMUNICACIONAIS DA CITADELA CEREBRAL 177

    IV O CREBRO NA CONSTRUTIVIDADE DA PESSOA 185

    V AS EMOES NOS DINAMISMOS DO CREBRO RACIONAL 194

    VI ACO DAS IDEOLOGIAS SOBRE O CREBRO EMOTIVO-RACIONAL 197

    VII EFEITOS DAS INTERACES: SISTEMA EMOCIONAL-SISTEMA

    IMUNOLGICO

    202

    ANEXO I

    REGIES ANATMICAS DOS HEMISFRIOS CEREBRAIS

    ANEXO II

    REAS DO CREBRO SEGUNDO BRODMAN

    ANEXO III

    MAPEAMENTO DA NEUROFISIOLOGIA DAS AGNOSIAS

    ANEXO IV

    SISTEMAS E INSTNCIAS DO APARELHO PSQUICO SEGUNDO A

    PSICANLISE

    ANEXO V

    FUNCIONALIDADE DO CREBRO

    ANEXO VI

    ACTIVAO DE REAS CEREBRAIS

    ANEXO VII

    MAPAS MENTAIS COMO AGENTES DA EFICINCIA COGNITIVA

    210

    211

    212

    217

    218

    219

    220

    BIBLIOGRAFIA 221

    CAPTULO I

    DINMICA DA INTERIORIDADE NOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM E DA

    ACO COMPORTAMENTAL

  • 3

    Crianas e adolescentes com dificuldades na aprendizagem escolar, sem concentrao

    difusa nem reteno especfica, integram uma elevada percentagem dos 27-30%, at ao 9

    ano de escolaridade, scio-pedagogicamente etiquetadas como crianas com necessidades

    educativas especiais e, psicologicamente, diagnosticadas como crianas ou adolescentes com

    dificuldades de aprendizagem. So crianas e adolescentes que, a nvel neuro-anatmico e

    neuro-fisiolgico no apresentam malformaes nem acentuadas leses de qualquer espcie

    ou natureza e, no entanto, manifestam dificuldades de aprendizagem e necessidades

    educativas especiais, de vrias formas, a vrios nveis e dimenses. So crianas e

    adolescentes agnsicos, isto , com dificuldades nos processos de aquisio dos

    conhecimentos ou de reconhecimentos comparativamente ao grupo maioritrio que no

    apresenta tais dificuldades.

    Um tal conjunto de dificuldades, sem acentuadas causalidades reveladas a nvel das

    sofisticadas tcnicas de imagiologia cerebral, encontra sua razo de ser a nvel da

    comunicao neuro-orgnica, neuro-psquica, neuro-emocional, neuro-afectiva e intra-

    sistmica do prprio indivduo. So dificuldades a nvel das activaes das funes

    integrativas, das capacidades, habilidades e destrezas perceptivas, geradoras de dificuldades,

    incapacidades, alteraes ou distores a nvel de identificaes das formas e de certos

    objectos. So dificuldades a nvel de associaes, de interpretaes e codificaes dos

    necessrios estmulos, circunstncias e meios para conhecimento ou reconhecimento do

    prprio real.

    Um tal conjunto de dfices, carncias ou ausncias estimulares possui sua origem em

    mltiplas e complexas dimenses sensrio-corporais, psico-orgnicas, neuro-funcionais, bio-

    emocionais e afectivo-cognitivas, encontrando-se um tal conjunto de causalidades

    caracterizado por seu denominador comum, isto , pela maior ou menor ausncia de

    interconectividade entre os subsistemas do indivduo, pelo conjunto de alteraes ou

    disfunes psico-sensoriais dificultadoras das comunicaes interiores e com origem nos

    sentidos e nos rgos dos sentidos, nas percepes e nas intercomunicaes efectuadas ou a

    efectuar entre sistema nervoso perifrico, sistema nervoso central e sistema autnomo,

    originando-se, ento, vrios tipos de agnosias, de entre as quais podemos citar agnosias de

    movimento, motoras, prxicas, tcteis, auditivas, visuais, perceptivas, associativas,

    simblicas, temporais, espaciais, grficas, lexicais, objectais, relacionais, psquicas,

    intelectuais, etc..

    Embora as recentes investigaes em neurocincias orientem as causalidades das

    somatoagnosias para a existncia de leses corticais situadas essencialmente a nvel dos

    lobos parietais, causadores de perturbaes ou de alteraes a nvel do esquema corporal, a

    existncia de leses a nvel dos lobos temporais para a existncia de agnosias auditivas e

    leses a nvel dos occipitais (reas associativas) para as agnosias visuais, aparece evidente, a

    nvel das tcnicas de imagiologia cerebral, que elevado nmero de sujeitos, psico-

    diagnosticados como agnsicos, no apresentam leses detectveis em qualquer zona das

    reas cerebrais, mas sim ausncia de efeitos das aces dos estmulos, maiores ou menores

    cargas ou descargas bioenergticas, mais ou menos difuses das energias, maiores ou

    menores expanses das foras ou energias bioneurocerebrais, envolvedoras, tanto em

    quantidade como em qualidade, de maiores ou menores reas do aparelho neuropsquico do

    indivduo, o que faz com que as intercomunicaes das energias de uns sejam mais

    expansivas que a de outros, que as de uns permaneam mais localizadas e as de outras sejam

    mais difusas, o que gera, partida, diferenas com efeitos de natureza acumulativa, tanto nos

    processos como nos dinamismos de cognio e codificao, de interiorizao e de

    exteriorizao, de simbolizao e aferncia, de organizao e de reorganizao dos estmulos,

  • 4

    das vitalidades e das comunicaes interiores, bem como de suas projeces verso o exterior,

    processos que originam diferentes formas de vivncias perceptivas, de captao das

    informaes e de organizao das comunicaes.

    O presente conjunto de tais diferenas, devido anlise de seus efeitos, leva-nos, de

    uma forma geral, a diagnosticar cinco tipologias essenciais de agnosias, isto : 1) agnosias

    tcteis, 2) agnosias integrativas, 3) agnosias associativas, 4) agnosias de representaes

    interiores, bem como a dita, 5) agnosia musical.

    Sendo a agnosia tctil resultante da incapacidade que um indivduo possui em

    reconhecer um objecto atravs da apalpao, em descrever as caractersticas ou qualidades

    dos objectos, a sua forma, peso ou resistncia, a sua matria ou contornos, no h dvidas

    que um tal indivduo possui dfices, carncias ou disfunes a nvel de sentidos e de seus

    respectivos processos de sensorizao, bem como a nvel de sua sensibilidade perceptiva

    elementar. O conjunto de tais dfices gera no indivduo dificuldades de reconhecimento no

    s das intensidades dos estmulos mas tambm de suas variaes e modalidades.

    Das investigaes de Semmes (1965) e de Renzii Scotti (1969) resultou o facto de tais

    indivduos possurem tambm dfices em sua orientao espacial. Da investigao

    sistemtica de Corkin e colaboradores (1970), efectuada com mais de sessenta sujeitos,

    possuam todos eles dfices em suas sensibilidades elementares. Caselli (1991) analisando as

    funes sensoriais elementares de indivduos, diagnosticados de agnsicos, com dfices no

    reconhecimento de objectos, constatou a existncia de sete indivduos com leses corticais

    esquerda e quatro com leses corticais direita. Encontram-se, no entanto, na parca literatura

    cientfica, agnosias tcteis no explicveis atravs de dfices de sensibilidades perceptveis.

    Hcaen (1945) encontrou na sua paciente uma leso na regio fronto-parietal esquerda. Endo

    e colaboradores (1992), descrevem um caso de agnosia tctil originada por leso do giro

    angular e desconexo das reas somatossensoriais da esquerda. Reed e Caselli (1994)

    descrevem outro caso de agnosia tctil atribuindo a sua causa existncia de uma desordem

    perceptiva de nvel superior manifestada atravs da incapacidade de efectuar representaes

    tcteis integradas nas formaes sensoriais de base. Endo e colaboradores (1992), descrevem

    agnosias (afsicas) com causas situadas no couro caloso do indivduo, visto as suas fibras

    transcalosas interromperem ou distorcerem a comunicao entre os hemisfrios cerebrais.

    Do anteriormente analisado emerge, com clara evidencia, que as agnosias tcteis so

    factuais, mas as suas causas continuam discutveis, apesar de se tornar evidente que a sua

    causalidade imediata emana de perturbaes a nvel das sensibilidades perceptveis e estas

    interdependem das reas sensoriais e dos processos de sensorizao do indivduo, facto que

    origina subcategorias de agnosias tcteis como, por exemplo, agnosias pticas, aprxicas,

    afsicas, dislxicas, etc. .

    Por sua vez, denominando-se agnosias integrativas o conjunto de dfices que levam um

    indivduo a possuir dificuldades de identificar a forma, os contornos e os pormenores de um

    objecto e a integr-lo numa unidade perceptiva, o que sucede, por exemplo, quando o

    indivduo copia uma figura ou um objecto nas suas diversas perspectivas, mas esquece uma

    dimenso visvel ou um pormenor significativo, como sucede, no raras vezes, na reproduo

    das figuras ou das imagens de fundo, na reproduo de formas geomtricas ou de letras com

    lenta e prolongada demora, com reconhecimento de figuras ou imagens irreais em que, no

    raras vezes, os indivduos percepcionam formas sobrepostas sendo, ento, constatvel que

    certos indivduos distinguem melhor pormenores de imagens ou de figuras irreais que de

    figuras reais, e, isto tanto a nvel das dimenses dos objectos, das formas, como das imagens

    ou das cres.

    Esta agnosia de ausncia das permanncias das integridades perceptivas reside,

    fundamentalmente, na dificuldade de reconhecer a identidade estrutural de um objecto, coisa,

    figura, imagem ou pessoa e, se por um lado, Warrington e Taylor (1978) encontraram os

  • 5

    dfices da constncia perceptiva na sequncia de leses parietais do hemisfrio direito, o

    primeiro autor, em 1988, descreveu como exemplos de agnosias perceptivas o caso de trs

    dos seus pacientes com leses nos lobos occipitais, parietais e temporo-parietais direitos, os

    quais superavam os testes elementares da forma e fracassavam nas provas de categorizao

    perceptiva, factos que, segundo o autor, interrompem a elaborao perceptiva das

    informaes sensoriais.

    As dificuldades na elaborao das percepes das informaes sensoriais ou a

    incapacidade de organizar os inputs sensoriais de uma forma constante e impregnante

    originam agnosias da forma, isto , das figuras e das imagens de fundo, tornando-se incapaz

    de desenhar ou de copiar um desenho elementar ou de seguir com um lpis os contornos de

    uma figura, sentindo dificuldades, por exemplo, em discriminar um quadrado de um

    rectngulo, em copiar figuras iguais, em discriminar figuras com pormenores diferentes ou

    em identificar figuras sobrepostas ou figuras incompletas, o que leva os autores a

    diagnosticar que tais incapacidades emanam dos centros cerebrais que analisam direces e

    formas.

    Outros indivduos, porm, apresentam dificuldades de reconhecimento visveis, apesar

    de poderem possuir integridade em seus prprios processos perceptivos bem como

    representaes interiores da prpria forma do estmulo ou estmulos.

    A ausncia de uma ou vrias componentes caracterizadoras das capacidades

    associativas ou de algumas destas, conjugadas com dfices perceptivos, constituem a

    denominada agnosia associativa, facto evidenciador, na maioria dos casos de um tal tipo de

    agnosia, visto a experincia revelar, ao observador clnico, que desordens, perturbaes ou

    distrbios nos processos de associao apresentam, em simultneo, tambm, problemas a

    nvel de percepo, e, dificuldades a nvel perceptivo manifestam tambm incapacidades a

    nvel associativo, como sucede, por exemplo, quando um sujeito possui dificuldades em

    pronunciar o nome de um estmulo ou estmulos, pode-se, ento, com toda a legitimidade,

    suspeitar da presena de uma agnosia associativa. Elevada percentagem de tais dificuldades

    ou erros so de natureza semntica, de dificuldades de percepcionar as formas dos objectos,

    de categorizao dos objectos e das palavras, de discriminao das funes e dos contextos,

    de reconhecimento dos gestos e dos movimentos ou dos prprios rostos das pessoas

    (prosapagnosia).

    A presente tipologia de agnosias (agnosia associativa), segundo os estudos de

    neurofisiologia, possui suas causas elementares na existncia de leses ou disfunes nas

    reas das radiaes pticas, provocando, segundo tais estudos, cegueira cortical. Muitas de

    tais manifestaes, no entanto, causadas por dfices de percepo, revelam-se atravs de

    comportamentos amnsicos, por desorientaes espaciais, temporais ou por estados de

    confuso mental.

    As agnosias causadas por desordens de percepes de movimento, segundo estudos

    efectuados por Zihl e colaboradores (1991); Shipp e colaboradores (1994) possuem sua

    origem na existncia de leses nas superfcies laterais dos hemisfrios, mais concretamente

    nas reas 19 e 37, bem como na substncia branca que se encontra por baixo de tais reas. No

    entanto, outras reas cerebrais como a rea D3, o lobo parietal superior, a rea occipital e

    temporal inferior, correspondente ao giro fusiforme, participam activamente na viso do

    movimento. Os efeitos de tais leses, desordens ou disfunes de percepes do movimento

    apresentam-se, normalmente, como dfices ou desordens a nvel de percepes das formas,

    de dificuldades ou incapacidades no reconhecimento dos objectos e dos rostos das pessoas,

    da distncia dos objectos e da velocidade do movimento destes; da distncia e do movimento

    das pessoas, bem como do direccionamento tanto dos objectos como das pessoas.

    Constata-se, no entanto, a existncia de outros seres humanos que possuem desordens

    de percepo em relao s cres (discromatopsias), isto , a existncia de indivduos com

  • 6

    dfices, perturbaes ou alteraes no reconhecimento das cres e, segundo a

    neurofisiologia, tais dfices interdependem dos trs tipos de cones existentes na retina

    humana, visto o primeiro tipo contribuir para a percepo do azul, o segundo do verde e o

    terceiro do vermelho, e, a percepo das cres interdepende da interaco efectuada entre

    estes trs tipos de cones, os quais, efectuando funes de receptores, analisam tambm a

    mensagem de uma parte dos neurnios corticais, e, a existncia de leses ou disfunes em

    tais reas cerebrais pode comprometer o reconhecimento das cres, tanto a nvel da sua

    percepo como da seleco, tornando-se o indivduo incapaz de invocar o nome das cres

    (anomia) ou incapaz de representar a cr das coisas (amnsia das cres).

    As agnosias das cres ou acromatopsias podem apresentar-se de vrias formas e com

    vrias dimenses. Agnosias provocadas pela intensidade da luminosidade, pela saturao da

    cr base ou fundamental dos objectos ou pelos efeitos da luz que reflecte sobre o estmulo, o

    que, em interaco com as perturbaes perceptivas do indivduo, podem gerar neste uma

    espcie de filme desvirtuado da realidade exterior.

    O conjunto de perturbaes causadoras de agnosias associativas das cres podem,

    segundo a deficincia manifestada, receber eptetos de, por exemplo, anomia, amnsia, afasia

    ou , simplesmente, agnosia das cres. E isto segundo a anlise que se efectua em consonncia

    com a origem de tais perturbaes.

    que, na realidade, a gnese de tais perturbaes continua problemtica. Neadows, por

    exemplo, atribui a causalidade de uma tal deficincia existncia de leses nas reas sub-

    calcarinas do crtex occipital. Rizzo e colaboradores, (1992) ensaiam a demonstrao de que

    uma completa acromatopsia pode ser ocasionada por uma sensibilidade espacial e pela viso

    do movimento. Lueck e colaboradores (1989) colocam em evidncia a existncia de um

    aumento da circulao cerebral correspondente ao giro fusiforme. Outros, por exemplo,

    Damsio e colaboradores (1980b) falam-nos da existncia de acromatopsias aquando da

    existncia de leses em occipitais superiores unilaterais. Scotti Spinnler (1970) descreve-nos

    a existncia de discromatopsias ocasionadas pela existncia de leses unilaterais no nos

    occipitais, mas provocadas pela existncia de leses a nvel do hemisfrio esquerdo, apesar

    de reconhecer a superioridade do hemisfrio direito na discriminao cromtica e, por

    conseguinte, no reconhecimento das cres, o qual, projecta-as para o hemisfrio esquerdo.

    Por sua vez, Geschwind e Fusillo (1966) descrevem-nos um caso de anomia das cres devido

    existncia de disconexes visuo-verbais, isto , devido existncia de disconexes

    existentes entre os centros da viso direita, que percepcionam as cres, e os centros de viso

    da linguagem esquerdos, que devem atribuir o nome s cres. E isto apesar de, segundo os

    autores, a descodificao do nome das cres poder ser efectuada atravs do hemisfrio

    direito, o qual possui a capacidade de compreenso verbal.

    A existncia de multivariadas e hipercomplexas causalidades, difusas e incertas, gera

    inmeros problemas, no s a nvel de capacidades de aprendizagem mas tambm da sua

    respectiva eficincia, visto a existncia de tais dfices gerar problemas ou dificuldades a

    nvel de elaborao e de desenvolvimento de imagens mentais, pois tais deficincias ou

    perturbaes criam dificuldades ou incapacidades na evocao de associaes, na sua

    consolidao e na formao, no desenvolvimento e na criao de novas, o que gera,

    simultaneamente, dificuldades a nvel de desenvolvimento da linguagem expontnea,

    impedindo os sujeitos, umas vezes de tomarem conscincia das suas limitaes e, outras, de

    reconhecerem as suas deficincias ou erros, aparecendo, no raras vezes, tais dfices como

    sendo sintomas de assimbolias, de degradao da memria semntica, de dfices do

    pensamento conceptual ou de perda de atitudes abstractas.

    Um outro tipo de agnosias pode ser denominado, apropriadamente, de agnosias de

    representaes internas. Um tal tipo de agnosias resulta da dissociao ou disconexo

    efectuada entre o processo perceptivo e o processo associativo da realidade envolvente. E isto

  • 7

    porque, em tais situaes, a descrio das coisas, dos objectos e da realidade entra em

    dissonncia ou em conflito com as representaes interiores que o indivduo possui em

    relao a tais factos, como sucede, por exemplo, com a integridade das representaes da

    viso quando estas no se integram nas representaes interiores do indivduo, visto estas

    possurem dificuldades em seus processos de adaptao realidade exterior ou,

    simplesmente, aos objectos do mundo real, visto este ser captado pelo sujeito como algo

    privado de estmulos significativos e, por isso, tanto os esquemas mentais do sujeito como a

    descrio das formas da realidade dificilmente se adaptarem coisificao da realidade

    exterior, pois esta, no desencadeia, no indivduo estmulos suficientes para a apreenso do

    seu significado, e essncia e caracterstica essencial das representaes internas que as

    imagens interiores do indivduo correspondam essncia da realidade exterior.

    Existem, no entanto, situaes em que as representaes internas correspondem

    realidade, mas, uma tal realidade, no integrada, devido a problemas de agnosias ou

    cegueira de viso cortical, a qual gera problemas de incapacidade, de instabilidade ou

    conflito entre os mecanismos perceptivos de entrada das informaes e das representaes

    interiores, o que no s dificulta mas tambm degrada os prprios mecanismos da

    generatividade e de desenvolvimento das imagens mentais.

    No seio de uma tal hipercomplexa problemtica acerca das origens e dos

    desenvolvimentos das agnosias no h dvida que os problemas da motricidade, da relao

    psicocorporal, do eu corporal e dos processos de somatossensorizao esto sempre em

    causa. que, quando as agnosias so analisadas pelos neurofisiologistas ou homens das

    neurocincias as suas causas so relegadas para dimenses neurofisiolgicas do indivduo.

    Quando analisadas pelos psiclogos cognitivistas por falta de alicerarem a interiorizao

    do psiquismo no corpo e quando analisadas por psicanalistas por ausncia de uma funcional

    homeostasia entre crebro e corpo, psiquismo e mente. Porm, no interior da dinmica de um

    tal conjunto de problemticas, uma coisa certa: existem agnosias, disfasias, dislexias,

    anartrias ou discalculias devido ao facto de que um ou vrios dos processos de cognio do

    indivduo se desenvolveram de maneira anormal ou insuficiente, o que fez com que os

    processos cerebrais utilizassem, desenvolvessem ou compensassem certas reas cerebrais em

    vez de outras e, por isso, a actividade cerebral mostra um padro de actividade fora da

    norma, facto que pode ser identificado pela relativa comparao efectuada entre a actividade

    do crebro de um indivduo letrado e a de um indivduo iletrado, pois o crebro do indivduo

    letrado, graas aos processos de aprendizagem e aos exerccios intensivos de suas

    capacidades, revela alteraes da actividade cerebral, e isto tanto a nvel de suas dimenses

    anatmicas como cognitivas, funcionais como sociais.

    I O MECANISMO CEREBRAL NA ELABORAO DE AGNOSIAS

    O conjunto de alteraes, de incapacidades ou de insuficincias a nvel da actividade

    cerebral pode gerar no s a anterior nomenclatura de agnosias cognitivas mas tambm

    outros transtornos no s em relao ao prprio eu corporal mas tambm em relao

    necessria comunicao a efectuar, nomeadamente devido a problemas ou transtornos da

    linguagem, das articulaes das palavras, das alteraes fisiolgicas dos rgos

    articulatrios, da produo fonolgica, etc., ou mesmo dificuldades de conhecimento ou

    reconhecimento de pessoas, coisas ou objectos; formas, cres e movimentos; traos, letras,

    sons ou fonemas, sem existncia alguma de patologias, de leses ou mesmo de distores

    neurocerebrais.

  • 8

    facto assente, no entanto, que existe um complexo conjunto de disfunes, tanto a

    nvel de dinmica interna do indivduo como das relaes deste com os seus meios, contextos

    e circunstncias. que, seguindo de perto proeminentes investigadores de Paulo Alto,

    Gregori e Dateson, a aprendizagem, no seu primeiro nvel, implica a existncia de um

    potencial de modificabilidade, e, a noo de mudana, isto , pelo menos, a existncia de

    determinada reaco a um determinado estmulo necessria, mesmo sem a existncia de

    evoluo, facto que o autor denomina de nvel de aprendizagem zero. Um segundo nvel de

    aprendizagem opera-se quando, ao mesmo estmulo, o sujeito d uma resposta diferente,

    facto que implica mudana na aprendizagem zero, existncia de relaes objectais,

    comunicaes interior-exterior e existncia de atitudes e de comportamentos que, umas

    vezes, funcionam como estmulos, outras como reforos e outras como respostas.

    A operacional capacidade do sujeito de transpr as anteriores aprendizagens para

    outros, novos ou diferenciados contextos, generalizando, unificando ou mudando contextos

    aparentemente distintos, gerando, no indivduo, conscincia da capacidade de aprender a

    aprender, isto , de ser capaz de aplicar a outras situaes conhecimentos previamente

    adquiridos. Uma tal operacionalidade constitui o terceiro nvel de aprendizagem.

    O quarto nvel de aprendizagem proposto pelos investigadores da Escola de Paulo Alto

    assenta, essencialmente, no aprender como se aprende a aprender, isto , atravs de uma

    tomada de conscincia da sua prpria individualidade, dos modelos comportamentais que a

    regem e de suas potencialidades ou capacidades de os modificar, modificaes difceis de

    efectuar, no s pela existncia de padres neurocerebrais que o indivduo, que em tal estado

    de desenvolvimento j possui, mas tambm pela existncia de esquemas emocionais,

    psicolgicos e culturais j desenvolvidos, e, mais ou menos, estruturados no sujeito humano.

    Segundo os autores da Escola de Paulo Alto, os trs primeiros nveis de aprendizagem

    so largamente inconscientes a nvel individual e, ao quarto nvel de aprendizagem, no ,

    de forma alguma, alheia a aco do inconsciente colectivo.

    que, de facto, o inconsciente individual no s resultado dos efeitos das aces de

    recalcamento, das fixaes infantis, da sumula dos instintos ou o representante das pulses

    individuais, mas tambm o elaborador da maior parte dos processos de habituao, de

    desenvolvimento das percepes e de organizao, de dinamizao e reorganizao das

    estruturaes das experincias.

    De facto, inmeras observaes, constataes, anlises e diagnsticos revelam

    acentuada sintomatologia de agnosias sem confirmao da existncia de leses, distrbios ou

    perturbaes a nvel de viso, de tacto, de cres ou sons.

    Tais constataes evidenciam o facto de que as causas de agnosias no se encontram

    nica e exclusivamente na dinmica organizativa ou desorganizativa antomo-fisiolgica de

    seu portador. Frah (1990 b), um dos maiores investigadores nas reas das organizaes

    cerebrais dos processos de reconhecimento, constatou que, at uma tal data, os casos de

    agnosia de viso publicados no ultrapassavam uma centena e que os casos de agnosia tctil

    eram excepcionais, constataes confirmadoras do facto que as causas de agnosias no so de

    natureza unicamente neurofisiolgica, mas, sobretudo, de natureza neuropsquica,

    psicoemocional, sociocognitiva e psicomental, constituintes essenciais das dinmicas

    organizadoras no s dos processos neurocerebrais do conhecimento mas tambm do

    reconhecimento, de envolvimento e de aco, processos que implicam tanto a existncia de

    integrabilidades cognitivas como associativas.

    O prprio Antnio Damsio no seu livro O Sentimento de Si (1999, pgina 197-

    198), afirma que as leses bilaterais dos crtices auditivos conduzem aos mesmos

    resultados que as leses dos crtices visuais, isto , no comprometem a conscincia nuclear

    do indivduo; que os doentes com leses de certas reas auditivas corticais perdem a

    capacidade de invocar memrias especficas relativas, por exemplo, uma melodia familiar ou

  • 9

    a voz de uma certa pessoa; que as leses em crtices de associao ou nos crtices sensoriais

    tambm no comprometem tal nvel de conscincia. No caso da existncia de

    prosapagnosias, os estudos empricos de Damsio demonstraram que estas se devem

    existncia de leses bilaterais dos crtices visuais e de associao visual, localizados nos

    lobos occipital e temporal, nas reas 19 e 37, situadas na regio conhecida como

    circunvoluo fusiforme. Apesar da existncia de tais leses, a conscincia nuclear do

    indivduo encontra-se presente e, simultaneamente, disponvel para continuar a produzir

    padres neurais de aco, interaco e retroaco com o cognoscvel.

    O mesmo no acontece, porm, no caso da existncia de perturbaes perceptivas ou na

    ausncia de sinais sensoriais, como os da viso, do tacto ou da audio, visto tais

    perturbaes ou ausncia de sinais poderem impedir a formao da representao sensorial

    deste ou daquele objecto, como sucede, por exemplo, nos casos de cegueira adquirida ou de

    surdez, visto os objectos, devendo ser representados por determinados canais sensoriais,

    deixarem de o poder ser e, por isso, o organismo no se envolve em tal relao com o

    objecto, como se envolvia anteriormente, o que faz com que a conscincia dos novos

    objectos deixe de ser a mesma.

    que, sendo as agnosias, na sua expresso mais bsica e elementar, estudadas pela

    neurofisiologia como efeitos das incapacidades de evocar os necessrios tipos de

    conhecimento pertinentes a um dado objecto, enquanto esse objecto est a ser percebido, este

    encontra-se, pelo sujeito, despido do seu significado normal. Por isso, embora a neurologia

    continue a falar de agnosias tcteis, auditivas e visuais, as suas causas, de um modo geral,

    resultam de dfices associativos emanados, directamente, no s de perturbaes perceptveis

    mas tambm de inibies das funes, de bloqueamentos ou de distores das emoes e de

    conflitos intrapsquicos.

    Na base elementar de uma tal problemtica, a nvel do ser humano, encontra-se a

    hipercomplexa actividade de suas prprias percepes. Porm, as percepes, ao contrrio de

    outras actividades biolgicas, interdependem da excitao dos receptores sensoriais, os quais,

    por sua prpria natureza, activam o funcionamento de atraco ou rejeio dos objectos, isto

    , geram a actividade cognitiva e, simultaneamente, informacional, necessria no s a novos

    reconhecimentos e desenvolvimentos sensoriais e cognitivos mas tambm imprescindveis

    aquisio de novos dados, conhecimentos e reconhecimentos tanto de objectos como de

    modalidades sensrio-perceptivas, visto o conhecer no ser unicamente adquirir dados mas

    tambm transferi-los e modific-los.

    Por isso, percepcionar no apenas o resultado das informaes captadas pelos

    sentidos e seus respectivos rgos, mas sim efeito da totalidade das informaes

    anteriormente adquiridas, do envolvimento do organismo humano nos seus meios fsicos,

    ambientais, sociais e culturais; da aco das suas pulses , emoes e associaes, dos nveis

    de desenvolvimento, que interdependem no s da natureza e da actividade do genoma

    individual de cada um, mas tambm dos nveis de suas interaces com a maior ou menor

    riqueza dos meios, com sua aco psicomotora, verbal, sensitiva e emocional, actividades

    geradoras de cognies, memorizaes, simbolizaes, representaes e imagens, factos e

    fenmenos que, por sua vez, desenvolvem nveis de sensibilidade a nvel de receptores e, por

    conseguinte, tambm a nvel de recepo sensorial e perceptiva, fundamentos essenciais

    generatividade de graus e de estilos de conhecimento e de reconhecimento diferenciado entre

    os indivduos e, por conseguinte, tambm, geradoras de diferenciados estilos de apreenso e

    de cognio do real pelos indivduos, o que, em termos neurolgicos, constitui padres de

    conhecimento, apesar destes serem modificveis pela aco do emocional, do social, do

    cognitivo, do experiencial e do intelectual, graas aco do potencial das associaes, da

    conectividade dos subsistemas neurais e das recprocas e interactivas comunicaes

    intercelulares que organizam, desorganizam e reorganizam, estruturam, destruturam e

  • 10

    reestruturam as percepes, redimensionam, alargam ou encurtecem o seu universo, as suas

    dimenses, formas e nveis.

    que, por detrs de todo o universo de desenvolvimento encontra-se no s o

    biolgico e o sensorial mas tambm o psquico-fsico, a motricidade, o intrapsquico, o

    representacional, o cognitivo e o mental que, de formas mais ou menos conjugadas e

    harmoniosas e, interactivamente mais ou menos equilibradas, constituem associaes

    positivas, abertas integrao de novas associaes, disponveis sua mudana ou

    modificaes, em consonncia com os nveis de encontro ou de reencontro com a realidade

    tanto interior como exterior, ambiental como social, cognitiva como cultural. A elaborao

    de associaes desarmoniosas e desequilibradas, perturbadoras e negativas geram no

    indivduo mecanismos de fuga a si mesmo, aos meios, realidade, s mudanas, s inovaes

    e s modificabilidades e, por conseguinte, tambm retraces, inibies ou medos dos

    processos de desenvolvimento, da cognio, das assimilaes e das interiorizaes.

    Um tal conjunto de factos comportamentais demostra, sobejamente, que estmulos

    positivos, concretos, reais e operacionais, geradores de prazer, de bem-estar e de auto-

    satisfao motivam e desenvolvem os universos das percepes e, bem pelo contrrio,

    estmulos negativos, de desprazer e de mal-estar desestimulam, inibem, desorganizam ou

    destruturam a natureza das percepes, de suas associaes e combinaes, recombinaes,

    inovaes ou adaptaes.

    No entanto, da maior ou menor riqueza das propriedades perceptivas de um

    indivduo, de suas combinaes e recombinaes positivas ou negativas que interdepende a

    elaborao das primeiras categorias elementares de cognio do ser humano, atractoras ou

    rejeitadoras de novas realidades, filtradoras ou bloqueadoras de novas informaes e

    interpretadoras tanto do positivo como do negativo em funo da estrutura positiva ou

    negativa de tais categorias perceptivas, fenmenos que, psicofisiologicamente, geram

    activao e desenvolvimentos interactivos no s entre os neurnios, as dendrites e os

    axnios mas tambm funcionais e activas interactividades entre o sistema nervoso perifrico,

    o sistema nervoso central e o sistema autnomo. Pelo contrrio, categorias de percepes

    negativas geram inibies, descoordenaes e desregulaes, no s no aparelho

    neurofisiolgico, nos seus sistemas nervosos e no seu organismo mas tambm nos seus

    processos de cognio, tanto de reconhecimento dos objectos como de desenvolvimento e de

    aquisio dos conhecimentos, processos que implicam a existncia de mltiplas e recprocas

    inter e retroaces com as categorias das percepes, das emoes, dos estmulos e das

    motivaes; das conexes e das associaes; das configuraes, dos smbolos e das imagens;

    das representaes pessoais e interpessoais, das aces e envolvncias individuais.

    Apesar de uma tal complexidade, a percepo e suas derivadas categorias, tanto a

    primeira como as segundas so resultantes dos processos atravs dos quais o organismo toma

    conhecimento do mundo e de seu prprio meio atravs de informaes elaboradas atravs

    dos sentidos, de tais conhecimentos que emerge a elaborao de categorias perceptivas, as

    quais tendem a desenvolverem-se, expandirem-se ou combinarem-se em funo da natureza e

    origem do desenvolvimento de suas propriedades, capacidades e aptides.

    No entanto, o conjunto de propriedades e capacidades das percepes emerge no s do

    inato do indivduo mas tambm do seu adquirido, das suas experincias e vivncias, dos seus

    smbolos e representaes, das suas aprendizagens no s pessoais mas tambm sociais,

    culturais e ambientais, as quais, por sua vez, consoante a sua natureza, activam ou

    desactivam, estimulam ou inibem os processos de activao e desenvolvimento sensorial,

    perceptivo, emocional, representativo e cognitivo atravs da activao de suas

    funcionalidades ou gestao de disfuncionalidades, inibies ou de rupturas no s com o

    princpio da realidade e da envolvncia, mas tambm com o princpio do prazer e da

    continuidade, comportamentos que no s inibem e se afastam das necessrias respostas,

  • 11

    estmulos e motivaes s necessidades de desenvolvimento de integrados e harmoniosos

    universos cognitivos mas tambm mentais, afectivos e emocionais.

    De facto, sendo o ser humano uma realidade concreta, as suas necessidades

    elementares e bsicas tambm so concretas, reais e operacionais, e a partir da satisfao de

    tais necessidades que o real do ser humano tem necessidade de se desenvolver, construir e

    assumir, visto ser a partir da que as percepes se desenvolvem, a motricidade actua, as

    mensagens veiculam, o psquico-emocional reunifica e o cognitivo se torna flexvel e

    adaptvel.

    A funcionalidade de uma tal dinmica emerge, por isso, dos efeitos das aces, das

    interaces e retroaces do organismo com os meios circundantes e, de tais processos,

    emergem mecanismos de desenvolvimento perceptivo e motor, de acomodao e de

    assimilao, de interiorizao e de vivncia, de estimulaes e de envolvimentos tanto a nvel

    de comunicaes interiores como de captaes de mensagens vindas do exterior. O conjunto

    de tais mecanismos, oriundos dos processos do organismo humano, constitui o epicentro

    essencial das actividades cognitivas-elementares, visto estas emanarem das informaes

    sensoriais do sujeito.

    Ora, sendo o conhecimento resultado das aces dos sujeitos sobre os objectos, tais

    relaes implicam envolvncias relacionais dos primeiros sobre os segundos, e, aquelas so

    efectuadas por suas multifuncionais capacidades de adeso e envolvncia diversificadas tanto

    por seus modos de actuar como por nveis de competncias, por potencialidades de aco

    como de bioenergia individual, por seus potenciais de discriminao como de seleco,

    interdependentes no s da natureza bioneurocerebral do sujeito mas tambm da aco dos

    meios sobre este, inter e retroaces que gerem, no indivduo, nveis de sensaes, de

    percepes, de estmulos, de emoes e de cognies diferentes no s de indivduo para

    indivduo, mas, tambm, diferenciados individualmente em consonncia com os estados

    individuais e a positividade ou negatividade das aces dos meios. Conhecer implica, em

    resumo, no s envolvimento bioneurocerebral, emocional e psquico do indivduo, mas,

    tambm, estimulaes e dinamismos dos prprios meios.

    Uma tal complexa actividade do ser humano emerge, fundamentalmente, de suas

    aptides biopsquicas e orgnico-cerebrais, resultando a actividade cognitiva, em seu

    primeiro nvel, e mesmo antes da existncia da prpria conscincia, das recprocas

    interaces de tais aptides e capacidades, as quais so, essencialmente, de natureza sensitiva

    e instintiva, perceptiva e emocional, e estimulam no s a actividade dos neurnios do

    indivduo mas criam tambm canais de comunicao entre eles. Por isso o corpo individual

    apresenta-se como instrumento de aprendizagem, visto ser nele, e, atravs dele, que as

    sensaes, as pulses, as emoes e o prprio pensamento actuam, graas aco dos rgos

    dos sentidos, estruturadores e dinamizadores dos centros proprioceptivos, construtores da

    base do conhecimento.

    Um tal desenvolvimento e processamento da actividade cognitiva apresenta-se, ento,

    como efeito da actividade bioneurossocial do indivduo, isto , como resultado das

    hipercomplexas interaces efectuadas entre o biocerebral e o social, o histrico e o cultural,

    o lingustico e o lgico, o psquico e o ambiental, isto , como efeito das impregnncias dos

    meios e de suas atitudes e das aces do bioneurocerebral sobre esses prprios meios.

    Por isso, embora a prpria cognio individual possa transcender a aco dos meios,

    ela permanece, embora inconscientemente, orientada, condicionada ou mesmo mutilada por

    eles.

    A nvel biolgico irrefutvel a existncia de um programa gentico inscrito na

    estrutura molecular do ADN, facilitador ou inibidor da organizao, da aco e dinmica

    intercelular que, de per si, j possui, em si mesma, uma dimenso cognitiva e, por isso, o

    maior ou menor enraizamento vital de um indivduo em seu prprio meio, e tanto um como

  • 12

    outro, so factores constituintes dos processos vitais do conhecimento e da posterior

    organizao da vida. Por isso, cdigo gentico, activao intercelular e aces ecossistmicas

    constituem os pontos de partida de compreenso dos processos de cognio ou, por outras

    palavras, a actividade cognitiva interdepender das virtualidades interactivas do

    bioneurocerebral com o social, paradigma em permanentes reanelamentos e conjugaes de

    ascendncias e de descendncias, de horizontalidades e verticalidades, que possuem seus

    denominadores comuns na estrutura e dinmica do bioneurocerebral do sujeito e na fora

    activadora do seu prprio meio circundante, o qual, estando repleto de lcitos e ilcitos, de

    proibitivos e imperativos, de crenas e de esteretipos, de esquemas e de ideias, tanto

    estimulam ou motivam a actividade cognitiva como a inibem ou probem, gerando-se, assim,

    maiores ou menores iniciativas e criatividades, bloqueamentos ou desinibies, flexibilidades

    ou inflexibilidades, ambies ou proibies a nvel de cognio, de sua actividade e

    interdimensionalidades, o que faz com que tanto a actividade dos indivduos cognoscentes

    como a natureza e a dinmica de seus prprios conhecimentos estejam interdependentes dos

    princpios de autonomia-dependncia.

    Estes princpios, subjacentes organizao de todo o conhecimento humano, permitem

    a construo e dinmica da subjectividade da prpria objectividade, postulando-se, a partir

    da, tanto o subjectivo como objectivo e as respectivas inter-relaes humanas como um

    conjunto de inter-subjectividades activantes, o que faz com que o dito conhecimento

    resulte da interaco da actividade cognitiva com o real e do sujeito com o objecto,

    interaces efectuadas a partir dos nveis de sensibilidades, de percepes e de emoes do

    prprio sujeito-indivduo que, por sua vez, organizam e reorganizam no s as prprias vias

    do conhecimento mas tambm do maiores ou menores tonalidades aos factos e fenmenos

    do exterior.

    Da o facto de aparecer como algo de evidente que a aco e a actividade cognitiva de

    um indivduo resultam das anteriormente descritas interaces e que o desenvolvimento do

    conhecimento interdepende das experincias adquiridas e vividas ao longo da vida, visto o

    psiquismo interdepender no s de princpios de natureza bioneurocerebral mas tambm

    scio-psquica.

    Por isso, encontrando-se a gnese da aco psquica e da actividade cognitiva na

    natureza bioneurocerebral do indivduo e nas relaes desta com o exterior tanto este como

    aquela podem exercer efeitos de autoregulao ou de desregulao, de organizao ou de

    desorganizao, de estmulos ou de inibies, de motivaes ou de desinteresses, visto o

    fazer interagir interior com exterior, imaterial com material, subjectivo com objectivo ser

    extremamente hipercomplexo.

    A Neuropsicologia moderna, no entanto, no separa natureza ou substrato de suas

    funes, e a neurofisiologia possui alicerces bioqumicos, os quais, por sua vez, possuem

    substratos fsicos, o que explica a unidade e unicidade do ser humano, a sua

    indissociabilidade bioneuropsquica, bem como as suas potencialidades de

    autoconstrutividade e de desenvolvimento, de destrutividade e regresso, visto ser necessrio,

    para que o desenvolvimento harmonioso se efectue e a auto-construo se opere, que as

    necessidades e exigncias internas do sujeito-indivduo no s se manifestem mas tambm

    obtenham adequadas respostas, o que nem sempre acontece, umas vezes por causa da

    adequao ou da adaptao do sujeito ao meio, e, outras vezes por ausncia de motivaes e

    de respostas dos meios s necessidades do indivduo.

    II O CREBRO EM SEUS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM

  • 13

    A actividade cognitiva como a sua eficincia interdependem, acentuadamente, do grau

    de imerso do sujeito no universo dos estmulos bioneuropsicolgicos, das suas

    potencialidades adaptativas, de sua flexibilidade cognitiva, de sua integridade

    neurofisiolgica, maturao cerebral, desenvolvimento emocional e maturidade psico-

    afectiva, caractersticas essenciais expanso do potencial bioenergtico do indivduo e

    mobilizao de seus padres ou esquemas motores, facilitadores de suas interaces com os

    meios exteriores. A ausncia de vrios ou de alguns destes factores no s pode enfraquecer

    ou fragilizar os potenciais das estruturas cognitivas de um indivduo, mas, tambm,

    subdesenvolver, limitar ou distorcer o potencial de seu desenvolvimento cognitivo.

    Um tal enfraquecimento, distoro ou fragilidade no s diminui, pelo menos

    momentnea e transitoriamente, o desenvolvimento dos potenciais de interaces humanas,

    sociais e ambientais, mas, tambm, o potencial desenvolvimento das capacidades de

    impregnncia, de absoro e de scio-bio-diversidade, o que bloqueia ou inibe o

    desenvolvimento dos potenciais bio-genticos, inter-relacionais, psquicos, emocionais,

    afectivos e intelectuais, e faz com que tais sujeitos permaneam aqum dos ditos padres de

    normalizao tanto cognitiva como relacional e integrativa, desmotivados em relao aos

    necessrios intercmbios scio-relacionais, prejudicados em suas comunicaes interiores e

    diminudos em suas necessrias constelaes de estmulos, fazendo com que as percepes

    de uns permaneam mais subdesenvolvidas que as de outros, as aptides mais

    subdesabrochadas e as organizaes neurocerebrais no s inferiormente organizadas mas

    tambm unidimensionalmente desenvolvidas, o que limita as capacidades do conhecimento e,

    no raras vezes, sem conscincia de tais limitaes.

    Este conjunto de caractersticas constitui, a nvel scio-psicolgico, sndroma de

    insuficincias cognitivas, o qual , estatisticamente, muito superior ao sndroma de dfices

    neuropsquicos, apesar dos dois apresentarem-se, a nvel de psico-diagnsticos, com

    caractersticas e efeitos muito comuns, e isto apesar dos efeitos ou resultados das activaes

    neurocerebrais e das intervenes psicopedaggicas se revelarem mais eficientes e mais

    positivos no primeiro caso que no segundo, visto as causas das carncias, das dificuldades de

    absoro e de captao de estmulos serem diferentes, e, da, resultarem tambm as

    diferenas no s nas conservaes dos efeitos das actividades cognitivas, mas, tambm, nos

    potenciais de comunicao tanto interna como externa.

    Com efeito, sendo a aquisio do conhecimento resultante das actividades

    neurocerebrais do sujeito, em interaco com os factores dos seus meios envolventes, isto ,

    efeito da aco e das interaces do seu todo biolgico, neurocerebral e social, a eficincia da

    actividade cognitiva passa no s pela integridade dos rgos e dos processos neurocerebrais

    do sujeito cognoscente, mas, tambm, pela activao e desenvolvimento de seus potenciais

    de activao, envolvncia, percepo, captao, discriminao e seleco das caractersticas e

    qualidades dos universos materiais, afectivos, emocionais e psicolgicos, processos de inter e

    de retroaces que no s reorganizam e estimulam os dinamismos neurocerebrais do

    indivduo, mas, tambm, desenvolvem o seu potencial de cognio, de interaco, de

    linguagem, de socializao, de autoconscincia e de relao com os outros.

    Ora, sendo o conhecimento aquilo que se utiliza para conhecer os outros: pessoas,

    coisas, animais e objectos , simultaneamente, o que utilizado para se conhecer a si mesmo.

    Da o facto da cincia da cognio ser hipercomplexa e encontrar-se, ainda, em seus

    primeiros patamares de desenvolvimento, de organizao e institucionalizao, visto os seus

    domnios expandirem-se, horizontal, vertical e longitudinalmente desde as estruturas

    elementares da clula viva aos efeitos das maiores organizaes e complexos culturais.

    A nvel de sujeito-indivduo, o conhecimento apresenta-se no s como efeito de suas

    estruturas orgnico-bioneurocerebrais mas tambm interdependente da natureza, intensidade

    e da orientao de seus dinamismos e activaes.

  • 14

    Conhecer , por isso, um processo de efectuao de operaes de separao e de

    associao, com propriedades e caractersticas de diferenciao, de seleco e de excluso;

    de implicao, de incluso e de identificao, que fazem com que o conhecimento se traduza

    e transfira, se construa e organize em funo da realidade. Por isso, indivduo-concreto e

    realidade envolvente interpenetram-se, envolvem-se e autoreanelam-se numa dualidade de

    subjectividade-objectividade, emergindo de um tal processo o princpio cognitivo da auto-

    exo-referncia, que origina no s o acto do conhecimento, mas, tambm, seu respectivo

    desenvolvimento, organizao e dinmica no s a nvel bioqumico mas tambm psico-

    cognitivo e sociocultural. Da o facto de serem imensos os factores, as causas e as atribuies

    que originam no s as insuficincias, as deficincias ou as dificuldades de aprendizagem,

    bem como as suas eficincias e dinmicas positivas e envolventes.

    A nvel do sujeito cognoscente, o acto de conhecer interdepende da sua aco e,

    embora conhecimento seja uma actividade distinta da aco, o sujeito possui intrnseca

    necessidade de recorrer s suas capacidades e potencialidades motricas e sensoriais,

    neurocerebrais e relacionais para desenvolvimento das suas sensibilidades, percepes,

    emoes, pulses, afectos e potenciais de cognio para que, ntegra e harmoniosamente,

    possa associar ou dissociar, discriminar e seleccionar, interiorizar ou rejeitar as

    caractersticas dos outros, das coisas ou dos objectos bem como de si mesmo.

    Conhecer , por consequncia, no s adquirir saber ou saber fazer mas, tambm, saber

    adquirir o saber, facto que implica no s disponibilidade mas tambm maleabilidade ou

    plasticidade bioneurocerebral, bem como implicao e envolvimento nos estmulos do meio,

    da aco e dos comportamentos para que o desconhecido se una, reunifique, integre e se

    reorganize no conhecido.

    Sentidos e rgos dos sentidos tornam-se, por isso, no s estruturas dinamizadoras de

    estmulos interiores, mas, tambm, factores de desenvolvimento e de aco envolvente, tanto

    das percepes que da emergem como dos fluxos bioenergticos da relao consigo mesmo

    e com os outros, com o universo interior e exterior, com o prprio psiquismo e a prpria

    corporeidade. A flexibilidade dos neurotransmissores do indivduo interdepende, em grande

    parte, de tais dinamismos, e, tanto a natureza como a dinmica destes, orientam, de forma

    acentuada, o comportamento do indivduo para se envolver no seu todo, isto , na sua gnese,

    histria, evoluo e desenvolvimento, o que origina e activa no s novos nveis

    quantitativos de percepes mas tambm qualitativos, processos geradores de smbolos,

    organizadores de imagens e reorganizadores de novas atitudes e comportamentos,

    nomeadamente a nvel de esquemas e de vivncia corporal, pilar referencial e epicentro de

    atraces-rejeies, introjeces-projeces, caractersticas essenciais no s dos

    desenvolvimentos mas tambm das orientaes dos desenvolvimentos do aparelho

    neuropsquico do indivduo.

    Estas recprocas, intrnsecas, retro e interactivas multidimenses constituem partes

    integrantes da indissocivel unidade psico-corporal do sujeito humano. Por isso, para o bem

    ou para o mal, o psiquismo opera sempre no corpo e o corpo opera sempre no psiquismo.

    Tudo o que existe ou est dentro ou fora do indivduo e torna-se, ento, agente activo ou

    passivo de aco, de atraco ou rejeio, de positividade ou negatividade para o sujeito,

    consoante suas hierarquias de valores, de desenvolvimentos e de formaes; de

    interpretaes ou de solicitaes, de flexibilidades adaptativas ou de quadros referenciais.

    Em tal contexto, bvio que as experincias e vivncias do passado, as hierarquias de

    estmulos interiores e os nveis de percepo influenciam, acentuadamente, no s a dinmica

    e a aco do eu corporal do sujeito mas tambm suas necessrias expanses verso o

    relacional, verso as relaes interpessoais, bem como objectais, o que no s interajuda, mas,

    tambm, facilita, de forma acentuada e expansiva, novos e diferenciados

    interdesenvolvimentos sensoriais, perceptivos, emocionais, sentimentais, afectivos, psquicos

  • 15

    e intelectuais tanto em suas dimenses empricas como processuais, concretas como

    abstractas.

    Os efeitos dos presentes movimentos e processos empricos, e, conaturais natureza do

    indivduo, geram conscincia de capacidades de maiores e melhores aces, de hierarquias de

    mais positivas atitudes e de mais positivos conceitos, no s em relao a si mesmo como em

    relao aos outros e ao mundo exterior, o que, por sua vez, influencia, refora e dinamiza as

    estruturas e dinmicas dos estmulos interiores do indivduo, das suas percepes,

    sensibilidades, emoes e afectos envolventes, tanto em relao a si mesmo como em relao

    aos outros ou ao mundo exterior, factores essenciais no s prpria dinamizao

    psicocorporal do indivduo, mas, tambm, s suas inter-relaes pessoais, sociais, cognitivas,

    culturais e intelectuais, o que no s activa e dinamiza a conscincia elementar do indivduo,

    mas, tambm, facilita os seus processos de ascenso a nveis superiores, bem como os de

    interaces e retroaces reanelantes no s entre os vrios nveis de conscincia, mas,

    tambm, entre todas as dimenses sensoriais e perceptivas, emocionais, afectivas,

    psicolgicas, cognitivas e intelectuais, no s estimuladoras da aco do corpo, mas,

    tambm, do desenvolvimento e da aco do esprito, graas aco da dimenso pensante do

    ser humano emanada da hipercomplexa dinmica estrutural do corpo-crebro humano.

    Parece bvio, por isso, que tanto uma leso como uma distoro no crebro, uma

    insuficincia, fragilidade ou deficincia, tanto no sistema nervoso central como no perifrico

    ou no autnomo podem prejudicar, desta ou daquela forma ou maneira, no s as funes da

    cognio ou da mente, mas, tambm, no s os processos bsicos como os processos

    superiores de aprendizagem humana. o que acontece, por exemplo, com as denominadas

    agnosias que, consoante a relao, a deficincia de percepo em relao a este ou aquele

    objecto, pessoa ou coisa, alm da nomenclatura de agnosias anteriormente analisadas,

    podero ser tambm agnosias de movimento ou apraxias, de dificuldades da fala ou disfasias,

    da leitura ou dislexias, da escrita ou disortografias, bem como de correlao entre a ideia e o

    movimento ou ideo-apraxias.

    Apesar disso, e dos grandes avanos tecnolgicos nos domnios do estudo do crebro

    humano, efectuados atravs das tcnicas de imagiologia, tanto a neurofisiologia como a

    Neuropsicologia explicam a existncia dos dfices cognitivos atravs da existncia de leses,

    distores ou anomalias cerebrais. facto evidente, no entanto, que existe vasta e complexa

    gama de crianas, de adolescentes e de adultos com dificuldades e comportamentos idnticos

    aos descritos pela neurofisiologia e Neuropsicologia como agnsicos, sem possurem leses,

    distores ou anomalias estritamente neurocerebrais. Isto porque, de facto, vasta e complexa

    gama de disfunes cerebrais e alteraes funcionais interdependem de estruturas ainda mais

    complexas que as estruturas cerebrais, isto , de estruturas e dinmicas inconscientes,

    emocionais, sentimentais, relacionais, simblicas, afectivas, mentais, etc..

    Por isso, compreender os processos de cognio, de aquisio e de desenvolvimento

    dos saberes humanos, de reconhecimento das pessoas, das coisas e dos objectos, implica

    conhecer as estruturas neurocerebrais do indivduo, bem como suas instncias e dinamismos

    conscientes e inconscientes.

    O no-consciente ou inconsciente constitui parte integrante e inseparvel da realidade

    individual de cada ser humano. constitudo por estruturas e dinamismos que ainda no

    encontraram portas de acesso ao consciente. E tanto as estruturas como os dinamismos de

    uma tal instncia so sede desencadeadora de desejos, de pulses, de percepes, de

    emoes, de sentimentos e de afectos. Tanto orientam um tal potencial humano para a

    realidade como o desinveste, desgasta, anula ou desperdia na criao de universos

    fantasmagricos, consoante os contedos constituintes de uma tal instncia, isto , em funo

    da sua dinmica actuante, a qual est interdependente da interpretao efectuada em relao

    ao seu prprio princpio do prazer e do desprazer, do bem-estar e do mal-estar, o que faz com

  • 16

    que a realidade, os factos e os acontecimentos; as sensaes, as representaes e as imagens

    sejam interpretados em funes de tais referenciais. Por isso, Sigmung Freud (1900), em

    Interpretao dos Sonhos, escreveu: os processos mais complicados e mais perfeitos

    podem desenvolver-se sem excitar a conscincia. Em tal perspectiva so os fenmenos

    psquicos conscientes que constituem a mais pequena parte da vida psquica sem ser

    independente do inconsciente. Ora, significando isto que a maioria dos processos psquicos

    e de seus dinamismos interdependem das aces interrelacionais inconsciente-consciente e

    que tanto os estmulos interiores como exteriores, o movimento, a aco e a motricidade; as

    emoes, as sensaes, as percepes e os afectos; a memria, as associaes, as

    discriminaes e as seleces interdependem dos maiores ou menores dinamismos das

    constelaes interrelacionais efectuadas entre inconsciente-consciente.

    Analisando a fora, o poder, a aco e a dinmica do inconsciente, J. Lacan escreveu:

    o inconsciente estruturado como uma linguagem. No entanto, a estrutura do inconsciente

    tanto se abre como imediatamente se fecha, o que faz com que a sua aco possua tempos,

    espaos e modalidades de maiores ou menores descontinuidades, deslocando-se,

    condensando-se ou transferindo-se. Da o facto das novas correntes e orientaes da

    psicanlise actual centralizarem no inconsciente acentuada causalidade das dificuldades da

    aprendizagem.

    O psiquiatra e psicanalista francs, Roger Miss (1989), analisando o funcionamento

    intelectual deficitrio, afirmou que uma perturbao durante muito tempo reversvel tende a

    fixar-se, caso no existam processos globais de organizao da pessoa nem movimentos

    organizadores das funes cognitivas. De facto, ausncias de dinmicas e de evolues

    psicolgicas, bem como a presena de atitudes ou de comportamentos mrbidos geram,

    geralmente, personalidades desarmnicas a nvel comportamental e insuficincias

    intelectuais a nvel dos processos e das dinmicas de cognio. Seguindo a mesma linha de

    reflexo e de anlise, o psicanalista Matte-Blanco, entende que compreender a problemtica

    das dificuldades da aprendizagem dos indivduos implica, em primeiro lugar, conhecer o

    funcionamento inerente aos seus processos mentais e a maneira como eles organizam o seu

    pensamento, isto , possuir um comportamento que ultrapasse, pela profundidade, a mera

    descrio das atitudes e dos comportamentos dos indivduos, ou seja, conhecimento e anlise

    do Inconsciente, imprescindvel para a compreenso dos processos do pensamento humano.

    Por isso, estudando a lgica do inconsciente, constata que ela diferente da lgica

    Aristotlica, Cartesiana e Kantiana. E isto, fundamentalmente, porque a lgica habitual

    funciona no sentido de distinguir coisas (assimtrica) e a lgica do sistema inconsciente

    unifica coisas (lgica simtrica).

    Pretendendo combinar a lgica clssica (assimtrica) com a lgica simtrica do

    inconsciente, Matte-Blanco valoriza mais do que nenhum outro autor, at ento, a aco das

    sensaes, das emoes e das percepes no desenvolvimento e na eficincia dos processos

    cognitivos e, por isso, tambm nos processos e mecanismos de aprendizagem, visto tanto as

    sensaes como as emoes, as percepes como os afectos criarem, constantemente, o

    material inconsciente e oferecem-no ao pensamento racional, o qual ser ou no capaz de

    tirar desse material inconsciente (simtrico) seres ou entidades assimtricas: atributos dos

    objectos e qualidades ou caractersticas das pessoas para se poder formar classes, reconhecer

    atributos e discriminar ou seleccionar atitudes e comportamentos.

    A existncia de uma tal bi-lgica domina tanto os comportamentos sociais como os

    individuais. Tanto os processos do pensamento como os mecanismos de aprendizagem

    contm, em maior ou menor escala, elementos dessas duas lgicas, que no se excluem, e, ,

    atravs do jogo dessas duas lgicas, que se vo caracterizar as vrias maneiras de pensar, do

    reconhecer, do identificar e do aprender.

  • 17

    O pensamento dito normal inclui a presena e dinmica das duas lgicas, e, sem a

    presena da simtrica (lgica do inconsciente), no haver jogo, imaginao, criatividade,

    espontaneidade nem criao de hipteses.

    Por isso, a assimetria do acto de pensar tradicional ou clssico extrai significado do

    inconsciente atravs da descoberta da existncia de relaes assimtricas na experincia

    simtrica.

    Por tal razo, nos estratos e dinamismos do pensamento tradicional podem ocorrer

    vrias perturbaes desde que no se acentue a utilizao da lgica necessria, ou seja,

    quando numa relao que exige o uso da lgica simtrica se utiliza a lgica assimtrica e vice

    versa, o que origina no s disfuncionamentos a nvel de pensamento, de reconhecimento e

    de envolvimento cognitivo mas tambm pode originar comportamentos psicopatolgicos.

    Tudo isto porque o desenvolvimento psicolgico do ser humano assenta,

    fundamentalmente, na utilizao progressiva de categorias de discriminao e na aceitao de

    substitutos simblicos de crescentes nveis de abstraco, o que leva o pensamento, por um

    lado, a poder identificar novos e diferentes objectos e, por outro, a encontrar afinidades entre

    coisas radicalmente diferentes (lgica simtrica), o que, a nvel de necessrio pragmatismo,

    faz com que se imponha a necessidade de identificar os factores e os tipos de condies

    geradores de dinamismos cognitivos, emocionais e afectivos, factores esses que encontram

    suas matrizes essenciais nas facilidades ou dificuldades que um indivduo tem em relao

    simbolizao da sua experincia interior e suas respectivas comunicaes, nas relaes entre

    as diferentes dimenses, aspectos ou perspectivas de si mesmo, isto , em seus conflitos

    intrapsquicos e nas relaes pacficas ou conflituosas existentes entre si e os outros.

    Um tal conjunto de disfunes, tanto intrapsquicas como interpessoais, interrelacionais

    como comunicacionais dificultam no s os processos de memorizao mas tambm os

    prprios dinamismos de auto-aceitao, de reconhecimento e de aprendizagem, factos

    evidenciados, por exemplo, em situaes de agnosias ideativas, em que um indivduo, por

    exemplo, incapaz de acender uma vela apesar de possuir fsforos na mo, possuir

    dificuldades na organizao da sequncia dos movimentos que os levaro execuo de tal

    objectivo e, apesar de ele saber quais as sequncias de movimento a efectuar, fracassa ento,

    no momento em que deveria transformar seu projecto ideativo numa srie de execues

    adequadas. Das longas e aturadas investigaes de De Renzi e seus colaboradores (1968b)

    resulta evidente que tais comportamentos podem emanar de indivduos com leses cerebrais

    no hemisfrio esquerdo mas tambm de indivduos sem alguma leso visto, segundo os

    autores, as apraxias ideativas dependerem das agnosias e estas possurem seus dfices no s

    num canal sensorial, como pretendia conceber o tradicional conceito de agnosia, mas

    interdependerem da aco e interaco de mltiplos e complexificados canais de

    comunicao de natureza neurofisiolgica, psquica, emocional e afectiva, o que levou os

    ditos autores a conclurem que os dfices aprxicos ideativos eram, a maioria das vezes,

    resultado de amnsias e, como parece bvio, estas resultam no s de processos

    neurofisiolgicos e neuropsquicos, mas, tambm, de processos e dinamismos funcionais,

    sensitivos, emocionais e afectivos, o que explica a existncia de um elevado aumento de

    crianas, adolescentes e jovens diagnosticados de agnsicos pois, apesar da existncia de

    melhores condies de vida, tais sujeitos suportam, mais que nunca, os custos psicossociais e

    socio-afectivos da sociedade moderna manifestados em inseguranas sociais e individuais,

    em receios, medos e apatias, em passividades e agressividades, em inquietude e

    hiperagitaes, em recalcamentos emocionais e bloqueios afectivos, geradores de ausncias

    de entusiasmos e de envolvimentos, em faltas de concentrao e em desmotivaes, em

    distrbios nas actividades escolares, perturbaes comportamentais e desvios sociais. Uma

    tal orientao psicopedaggica, didctica e cognitiva no s inibe mas tambm atrofia,

  • 18

    desmotiva e recalca a expresso da inteligncia, as possibilidades de aprender, bem como a

    descoberta e orientao dos interesses individuais de cada um.

    As anlises das realidades anteriores no encontram plena justificao sem recurso

    psicanlise. que, sendo esta a cincia do psiquismo, este encontra-se alicerado no s na

    hipercomplexa realidade bioantropossocial mas tambm nas relaes crebro-esprito, visto o

    aprender dever ser entendido como processo de descoberta de propriedades e qualidades

    inerentes ao prprio sujeito, aos outros, s coisas e aos objectos, descoberta entre pessoas,

    coisas, factos e acontecimentos ou de sua ausncia, descoberta de saber fazer, de processos

    de sua aquisio, meios e instrumentos, o que passa pela concretizao de um conjunto de

    objectivos e de processos que envolvem o todo do ser humano e a aco da sua totalidade em

    suas dimenses inatas e adquiridas, bioqumicas e sociais, neurocerebrais e psquicas,

    emocionais e afectivas, o que dever organizar e reorganizar, sucessivamente, o sujeito em

    suas dimenses de plasticidade e maleabilidade, flexibilidade e cognio.

    Um tal sujeito, no entanto, no apenas portador de propriedades bioneurocerebrais e

    de capacidades psico-intelectuais mas tambm , simultaneamente, proprietrio e portador de

    instintos e de pulses, de desejos e expectativas, de medos e de fantasmas que se infiltram

    nas estruturas neuropsquicas e bloqueiam-as, inibem-as, estimulam-as ou motivam-as em

    paralelo com as percepes individuais de cada um, suas perspectivas e vises do mundo,

    suas experincias do passado e suas constelaes de relacionamento da infncia, factos e

    fenmenos que, apesar de condicionarem as aces das estruturas e dinamismos

    neurocerebrais do indivduo, no necessariamente os determinam, visto existirem tanto

    dentro como fora de cada indivduo potenciais de descondicionamento, de transformao, de

    modificao e superao de tais condicionalismos, graas s intrnsecas e enraizadas

    necessidades de curiosidade e de expanso, de conhecimento e de compreenso em relao a

    si mesmo, aos outros e aos meios que cada indivduo trs dentro de si. No dar variadas

    respostas a tais intrnsecas necessidades, o que implica motricidade, emoo, cognio e

    aco, apesar de todas as incertezas, no valorizar o todo de si mesmo, no aceitar a aco

    totalizante de todas as potencialidades nem se disponibilizar para que o novo penetre no

    conhecido visto o apreender implicar uma certa osmose do conhecido e do desconhecido.

    que, na realidade, o aparelho neuropsquico do ser humano, qual espcie de

    gigantesco megacomputador, computa as computaes de toda a sua natureza

    bioneurocerebral, instintiva e pulsional, emocional, afectiva, psquica e intelectual,

    englobando, uma tal megacomputao, as computaes das reas e sub-reas cerebrais, dos

    sistemas e sub-sistemas afectivos e emocionais e, tanto as primeiras como os segundos,

    possuem como seus alicerces bsicos e fundamentais as clulas e os neurnios que, por sua

    natureza, possuem existncia e vida no s interactiva mas tambm intercomunicacional,

    elementos interactivos, factores, propriedades e qualidades que devero ser respeitados em

    suas prprias intencionalidades, dinamismos e aces de codificao e de reorganizao, de

    conhecimento e de reconhecimento, de expanso e de afirmao, de busca de solues e

    resolues progressivamente investidas em relao a si e aos meios, o que gera qualidade de

    associao, de simplificao e de complexificao, de anlise e de sntese, de aco e de

    conhecimento, caractersticas essenciais da inteligncia humana. Fugir aos naturais

    mecanismos de tais processos no s gerar desvios na ordem do natural mas tambm criar

    patologias nos processos e dinamismos da cognio humana.

    Ora, sendo mltiplas e variadas as causas de tais desvios normalidade dos processos

    cognitivos, elas podem estar situadas a nvel de reas ou de sub-reas das prprias regies

    neurocerebrais, a nvel da aco das emoes e dos afectos, dos meios e dos seus efeitos, das

    circunstncias e das contingncias vitais.

    De facto, no esquecendo o enorme e, ainda hoje, na sua totalidade indescritvel

    potencial do crebro humano, com seus mecanismos e processos de aco e de

  • 19

    modificabilidade, de adaptao e de sublimao, de compensao e de referncia, com leses

    ou disfunes, inibies ou recalcamentos em qualquer rea ou sub-sistemas do aparelho

    neuropsquico, estas geram seus efeitos negativos no s a nvel de conhecimento, mas,

    tambm, a nvel de conexes e de inter-relaes cognitivas, sociais e comportamentais. que

    no s tudo que seja inerente natureza do indivduo mas tambm tudo o que lhe pertena ou

    diga respeito influencia positiva ou negativamente em seus processos de conhecimento, de

    desenvolvimento e aco, isto , desde a sua prpria aco intercelular, sensorial e motora at

    os seus contactos fsicos, as suas relaes familiares, sociais, escolares e ambientais.

    que, na realidade, apesar da essncia basilar dos processos de aprendizagem se

    encontrar na estrutura e dinmica bioqumica de cada um, a qual interdepende no s de

    factores genticos e hereditrios, mas, tambm, de uma equilibrada e sadia alimentao, da

    qualidade dos sistemas envolventes e da aco neuronal de cada um, nomeadamente da

    desencadeada pelo movimento individual e relacional, pela motricidade e pela comunicao

    interior e exterior.

    Com efeito, as aces e os pensamentos elaborados pelo neocrtice interdependem, de

    forma acentuada, da aco do crtice pr-motor e motor e a aco e desenvolvimentos deste

    implicam movimento fsico e motricidade integrada e equilibradamente desenvolvida, o que

    no s se transforma em agentes de desenvolvimento dos sistemas perceptivos: cinestsicos,

    visuais, auditivos, gustativos e olfactivos, mas, tambm, em sistemas de orientao das

    prprias percepes, tanto em relao a si mesmo como em relao aos outros, s coisas

    como aos objectos, s aces como aos lugares, s recepes como s transies. E, sendo o

    hipocampo estimulado pelos mais variados processos perceptivos, a sua aco movimenta a

    aco da amgdala, emergindo de tais aces no s mais e melhores potencialidades de

    reconhecimento de propriedades e de qualidades das pessoas, das coisas e dos objectos, mas,

    tambm, maiores e melhores memorizaes de contextos, de smbolos, de reconhecimento de

    significados, de atraces e rejeies.

    No entanto, um to vasto e poderoso meio de enriquecimento e de desenvolvimento

    dos conhecimentos passa pela aco dos neuroreceptores sensoriais e estes so extremamente

    sensveis aos estmulos biolgicos, fsicos, emocionais, afectivos e psquicos, registando as

    variaes e as semelhanas, as constncias e as diferenas e, a partir de tais registos,

    elaboram, codificam e sistematizam novos estmulos, novas semelhanas e novas diferenas

    que, por sua vez, as enviam a diferentes reas do crebro, sendo a trabalhadas em funo das

    suas estruturas e dinamismos polilogiciais at originarem, quase em simultneo, a

    representao e a configurao, a imagem e a ideia, a palavra e a aco, emergindo de suas

    estabilidades e constncias no s a elaborao de esquemas mentais mas tambm

    comportamentais bem como a abertura e flexibilidade para reenquadramento e mudana no

    s dos esquemas mas tambm dos comportamentos que, por sus vez, originam novas e mais

    diferenciadas percepes, representaes, imagens e configuraes e, tais elaboraes, no s

    interactivam os circuitos interneuronais mas tambm os modificam, o que gera, no indivduo,

    novas e diferenciadas representaes de si mesmo, dos outros e da realidade, bem como

    novos e diferentes potenciais tanto a nvel do conhecimento como dos reconhecimentos, e

    cuja eficincia ou ineficincia interdependero, enormemente, da aco e do

    desenvolvimento do princpio do prazer ou do princpio do desprazer inerentes a tais

    processos.

    A natureza, captao, interiorizao e vivncia de um ou de outro princpio estimulam,

    motivam ou condicionam os indivduos s estimulaes e motivaes ou aos seus

    encerramentos sobre si mesmo, fuga da realidade e da vivncia, ao seu desenvolvimento e

    expanso.

    Uma tal diferenciao deve-se ao facto de que o indivduo envolvido e dinamizado pelo

    princpio do prazer envolve-se na realidade e na expanso, no desenvolvimento e na aco, e,

  • 20

    o condicionado pelo princpio do desprazer refugia-se, inibe-se e recalca-se, deteriorando no

    s a sua percepo do real mas tambm desviando-se das suas necessrias intercomunicaes

    sociais; privando-se, por tais processos de fuga e de envolvncia com a realidade, de

    desenvolver a vasta e intercomplexa gama de estmulos e de motivaes necessrios

    existncia e ao desenvolvimento dos potenciais de suas mltiplas e conaturais inteligncias.

    O envolvimento em tal princpio de prazer, de bem-estar, do desenvolvimento e da

    aco, factor essencial no s das estimulaes motoras, sensoriais e psquicas, mas,

    tambm, de reforo e de integrao das estruturas neurocerebrais e psicoemocionais de

    flexibilidade, adaptabilidade e integrao, dimenses psicocomportamentais essenciais

    aco, mudana, organizao e reorganizao, originando-se, por tais processuais

    mecanismos, pulses, activaes, jogos, emoes, originalidades, autenticidades e

    criatividades, emanadas das aces interfuncionais e equilibradas e resultantes da aco ou

    aces neurocerebrais, emocionais, afectivas e sociais, fazendo, ento, com que a

    aprendizagem e sua respectiva eficincia resulte de um processo racional e criativo,

    emocional e afectivo. Caso alguma destas dimenses permaneam desintegradas, os

    processos de aprendizagem permanecem, pelo mnimo, insuficientes.

    III CORPO E EMOO NO DESENVOLVER DO PENSAMENTO

    Os anteriores processos neuropsquicos, em seu maior ou menor equilbrio, do origem

    a certos nveis de estados de esprito e estes influenciam o indivduo em suas maiores ou

    menores, pelo menos transitrias, dinmicas de percepo da realidade. No h dvida que os

    estados vivenciados em experincias anteriores influenciam ou originam aco das

    percepes com a realidade exterior, relao de interactividade da qual emerge no s o

    bem-estar fsico mas tambm emocional, psquico e cognitivo. Da interdependncia de tais

    estados emanam estados de maior ou menor continuidade psico-cognitiva, de disfunes

    psico-cerebrais ou de dissociaes comportamentais.

    a partir de tais estados que os processos de cognio trabalham os sinais, os signos,

    os smbolos e as imagens que constituiro as representaes, os contedos da linguagem, as

    ideias e os discursos, o que faz com que o conhecimento deva ser entendido como o resultado

    ou efeito de organizaes cognitivas com slidas bases nos processos sensoriais e perceptivos

    e cujas aces de seus receptores se encontram interdependentes dos impulsos fsicos,

    bioelctricos, pulsionais, emocionais, afectivos e psquicos, exteriorizados ou no na forma

    de representaes, noes, conceitos e ideias que, por sua vez, interagem com o social e o

    cultural, o biolgico e o neurocerebral, o antropolgico e o cognitivo.

    De facto, tanto o psico-intelectual como o scio-antropolgico, o emocional e o

    afectivo, agem, interagem e retroagem sobre as estruturas e os dinamismos neurocerebrais e,

    a partir dos efeitos de tais interaces, emergem novas capacidades e novas aptides, novas

    perspectivas e novas propriedades, novos conhecimentos e novas atitudes e comportamentos.

    Todas estas capacidades, mudanas e aces interdependem de um corpo e de seu respectivo

    aparelho neuropsquico e em referencia a estes que todas as intencionalidades individuais

    se desenvolvem, a experincia se efectua e novos universos psico-mentais se recriam.

    No entanto, caso estejam ausentes certos nveis de emoes, tanto o potencial de

    recriaes como o de reorganizaes permanece semi-esttico, os nveis e desenvolvimentos

    das percepes entorpecem, as memrias esvaziam-se, os processos de aprendizagem

    permanecem bloqueados e o prprio organismo bio-neurocerebral permanece como que

    adormecido, significando isto que os processos de desenvolvimento, de harmonizao, de

    aprendizagem e de maturidade passam pelo envolvimento de todo o organismo, e, que, tanto

    a pele de um indivduo como as vsceras, bem como certas doses de comportamento emotivo

  • 21

    e de aco emocional so essenciais no s eficincia da aprendizagem mas tambm

    dinmica do equilbrio homeosttico e auto regulador do ser humano.

    que, de facto, interdependendo a aco e a eficincia de tais processos do todo do

    indivduo e de seus nveis quantitativos e qualitativos de funcionalidade, torna-se evidente

    que toda a aco corporal influencia a aco do psiquismo e toda a aco do psiquismo

    influencia e repercute-se sobre o prprio corpo. Por isso, sensaes, sensorizaes, emoes

    e pulses no s so de capital importncia para o desenvolvimento e a activao dos

    processos de aprendizagem mas tambm para activao de seus processos e dinamismos

    associativos e mudanas de estado do prprio organismo pois, tanto a existncia de

    sensibilidades como de sensaes, de emoes como de afectos doseados qualitativamente,

    so essenciais no s para mudana de estados corporais mas tambm para equilbrio e

    desenvolvimento do psicossomtico. E isto porque o crebro capta as pulses, as emoes, os

    sentimentos e os afectos e, por tal aco, estes introduzem modificaes naquele, o qual, por

    sua vez, reenvia-os ao organismo de forma modificada tanto em quantidade como em

    qualidade, tanto positiva como negativa e, assim, sucessivamente, predispondo tanto o corpo

    como o crebro para captao e desenvolvimento de novas percepes, estmulos, emoes,

    motivaes, necessidades, desejos e expectativas, o que redimensiona no s a interioridade

    do prprio indivduo mas tambm seus potenciais de exterioridade, de recepes, de

    informaes e comunicaes.

    Um tal conjunto de comportamentos no s modifica a actividade neuronal, mas,

    tambm, faz com que os neurnios estabeleam novas e diferenciadas conexes uns com os

    outros e formem, assim, elementos constituintes de novas operaes, perspectivas, vivncias,

    emoes, sentimentos e afectos.

    Um tal entranhado processo de interactividade, pr-actividade e retroactividade

    estabelece e reorganiza comunicaes entre o consciente e o inconsciente, entre o emocional

    e o cerebral, entre o somatossensorial e o cognitivo, como sucede, por exemplo, com a

    vontade, as emoes e as percepes que, de uma forma geral, so mais inconscientes que

    conscientes e, tanto umas como outras constituem contedos essenciais da aco e do

    pensamento, das atitudes e dos comportamentos, apesar de um tal potencial nem sempre ser

    compreendido e nem aceite pelo prprio raciocnio ou razo.

    De facto, a estrutura, a dinmica e a organizao do Inconsciente Colectivo das nossas

    sociedades no se encontra predisposto aceitao nem ao desenvolvimento tanto do

    potencial do inconsciente como do pensamento simblico, por associar este ao mito, magia,

    fantasmagorizao ou ao infantilismo.

    No entanto, o pensamento simblico universal e, na interioridade do indivduo,

    vivido como verdade, a partir da qual ele passa a representar, a percepcionar, a exteriorizar e

    a captar a presena das realidades exteriores, com suas propriedades, caractersticas e

    qualidades, o que faz com que o psiquismo se alimente de interioridade e de exterioridade, de

    smbolos, representaes e imagens; de linguagem, de aces, de influncias e reciprocidades

    dos meios exteriores, hipercomplexo conjunto de interaces e de retroaces que no s

    facilita os processos de rememorizao, mas, tambm, constituiem valiosssimos

    componentes de desenvolvimento da imaginao e da criatividade, da integrao e actividade

    neurocerebral; de dinamizao e facilitao dos processos de descoberta, de memorizao e

    de aprendizagem, o que, por sua vez, faz com que no s as emoes, mas, tambm, as

    percepes se desenvolvam, se encadeiem e se auto-reforcem, o que no s aumenta, mas,

    tambm, estimula os mecanismos e a aco dos neuroreceptores os quais, por sua vez,

    influenciam na aco e nas reorganizaes das actividades cognitivas, aps influncia

    orientadora dos sentidos e das emoes, dos afectos, das percepes e dos sentimentos.

    A activao dos processos de tais dinamismos, colectiva ou isoladamente, como se

    demonstra atravs das tcnicas de electroencefalografia ou de imagiologia, activam as ondas

  • 22

    cerebrais, distribuem maiores ou menores fluxos de sangue e de oxignio pelas vrias reas

    do crebro e este reconhece tais processos como partes integrantes do em si mesmo, isto ,

    reconhece as emoes, os sentimentos e os afectos, as sensaes e as percepes, o

    inconsciente e o consciente como partes integrantes, dinamizadoras ou bloqueadoras, da sua

    prpria aco, funcionalidade e integridade, fazendo com que o indivduo sinta que pulses,

    emoes, sentimentos, afectos e sensibilidades so parte integrante e indissocivel do seu

    todo e coordenados pelo crebro, visto estarem identificados com ele.

    Face a uma tal realidade, a da integrabilidade da totalidade individual, exceptuando as

    situaes de anatomopatologias e da existncia de maiores ou menores leses cerebrais,

    diversificadas quantitativa e qualitativamente pelas diversas reas do crebro, poderamos

    afirmar, quase categoricamente, que, 98% das dificuldades da aprendizagem ou de

    insuficincias cognitivas, tm suas razes causais nos processos e dinamismos das emoes,

    dos afectos e dos sentimentos dos indivduos.

    De facto, a maioria absoluta das crianas e adolescentes com necessidades educativas

    especiais, manifesta tais necessidades, a nvel scio-familiar, como sendo emanadas de meios

    sociais e culturais baixos, de instabilidade familiar, da existncia de desemprego e alcoolismo

    na famlia, do desinteresse pela vida escolar dos educandos etc.. Em suas dimenses

    comportamentais face escola so incumpridores das regras estabelecidas, criam problemas

    disciplinares, distrbios nas aulas, so ruidosos, no respeitam tanto os professores como os

    colegas. Do ponto de vista psicolgico manifestam desmotivao pelas aprendizagens, baixos

    nveis de socializao, baixas expectativas relativamente ao futuro, carncias afectivas, baixa

    auto-estima, comportamentos de auto e de hetero-agressividade e destrutividade, dificuldades

    nos relacionamentos tanto pessoais como interpessoais, dificuldades de concentrao,

    absentismo escolar, ausncia de hbitos de estudo, de leitura e de escrita; fraca aquisio de

    vocabulrio, incapacidade de anlise e interpretao de textos, etc..

    Um tal conjunto de comportamentos resulta, fundamentalmente, dos efeitos das

    interaces dos indivduos com os meios e dos meios com os indivduos, e no,

    essencialmente, de suas caractersticas genotpicas, visto todo o ser humano possuir, na

    essncia de sua prpria matriz, um conjunto de dispositivos e potencialidades criadores e

    desenvolvedores de hierarquias de intencionalidades, de esquemas de aco, de envolvncia,

    de desenvolvimento e de progresso, de socializao, insero e modificabilidade.

    As ausncias ou rupturas de tais dinamismos e funcionalidades devem-se, a maioria das

    vezes, existncia de bloqueamentos e de recalcamentos das prprias emoes, sentimentos

    e afectos dos indivduos que, por sua vez, bloqueiam as operacionalizaes das aces

    concretas, inibem a funcionalidade de seus potenciais bioenergticos, geram processos de

    disfuncionalidade e de resistncia s mudanas, permanecendo, ento, o indivduo despido de

    suas necessrias comunicaes interiores e alienado face s positivas comunicaes

    interpessoais, com atitudes fbicas, comportamentos ansiosos e depressivos.

    A evidncia de tais efeitos comportamentais patenteia-se no facto de sabermos que

    emoes disfuncionais geram esquemas comportamentais desadaptados. Pelo contrrio,

    emoes adaptadas, ainda que sejam de tristeza, luto ou dr, geram esquemas de aco e de

    envolvimento, de informao e de comunicao, resultando, da, mais emoes positivas,

    mais expectativas, mais comportamentos repletos de significado e de inten